O DOM DO DISCERNIMENTO DOS ESPÍRITOS

1 Coríntios 12.7-10

Ao falar de dons, a primeira coisa que devemos desmistificar, é que os dons são tão espirituais e inacessíveis que só podem ser usados por uma classe de cristãos que não existe nessa época. Uma conversa que mais me influenciou, negativamente, no inicio do meu ministério, a respeito dos dons, foi a que o presbítero Ademir, da Assembléia de Deus do Jardim Carumbé, pregou certa vez, dizendo que o dom de mestre, não é para qualquer um e para alguém chegar no cargo de mestre, ele deve ser ultra-super-espiritual. Essa pregação me influenciou negativamente em mais de uma década. Se o dom de mestre era inacessível para hoje, então os outros também o eram.

Repito, precisamos desmistificar essa ultra-super-mega-espiritualidade inacessível para crentes de uma categoria que não existe. Nós somos isso ai que você está vendo. Nós cristãos estamos em reforma.

BATISMO NAS ÁGUAS

Um fato que me chama muito a atenção é que o Batizando nas Águas, precisa ser livre de pecados. Mas observe que o Batismo é um rito inicial, onde a pessoa é nova convertida. Em geral a pessoa que aceita a Cristo, é batizada no primeiro batismo, ou coisa de três meses após adentrar à igreja. Como um novo convertido vai estar sem pecado em três meses, se o pecado é algo a ser trabalhado a vida toda na vida da pessoa? Ficamos num dilema, pois não podemos batizar pessoas que estão praticando o pecado, ou, o pecado que estamos vendo, mas e se a pessoa não está praticando nenhum pecado externo, mas interno? Como saber o que vai no coração de alguém, sabendo que é a nossa alma o maior campo de batalha nessa guerra espiritual? Enfim, não podemos batizar nas águas alguém que esteja praticando algum tipo de pecado visível, externo, do lado de fora da sua pessoa. Não podemos batizar alguém que está bebendo, fumando, amigado, ou algo externo. Mas não podemos batizar também se identificarmos o pecado interno, como ira, raiva, ódio, racismo, ou outra coisa ruim do tipo.

O pecado é algo a ser trabalhado a vida toda, pelo Espírito Santo em nós, com a nossa ajuda. É ele operando, mas eu tenho a minha parte. Portanto, os dons são dados a pessoas em fase de restauração. O dom é perfeito, pois vem de Deus, mas os vasos a serem usados, nós, não o somos.

Dia desses falei na igreja que todos estamos vigiando uns aos outros, para que ninguém se ache superior aos outros. O pastor colocou algumas regras de liturgia, que dizem respeito a horários na igreja. Eu sou presbítero e não aconselho a ninguém fazer isso. Na nossa escola de quinta feira, eu tentei dizer educadamente, que o pastor tem que seguir as regras do pastor, pois, no caso dele, foi o pastor o primeiro a quebrar as suas regras. Viu-se imediatamente que ele não gostou. Mas era necessário dizer.

ORDEM NO CULTO

E o que o pastor menos gostou foi ser corrigido na frente de todos. Mas não era bem na frente de todos. Era na nossa escola bíblica, onde só tinha os crentes engajados na obra. Não havia ninguém que não era nosso e dos que ali estavam, metade participou da reunião. Mas é necessário dizer que a igreja é publica. O que uma pessoa faz na hora do culto, na frente de todo mundo, é publico. Mudar a liturgia, que ele mesmo impôs, principalmente identificando que os cultos não acabam no horário, ultrapassando em média uma meia-hora, num dia de semana, não acredito que seja coisa para se falar escondido, se é publico e todo mundo está sentindo. O problema é que as pessoas não gostam de serem corrigidas. Mas entenda que o que é feito publicamente, tem que ser falado publicamente. Para que não ocorram abusos, então a igreja vigia a igreja, para que a igreja não deixe de ser igreja e comece a sair do prumo. O pastor não deveria nem ter ficado irritado, ou tentado defender a sua honra, pois não estávamos o afrontando, mas apenas corrigindo, na escola dominical, um fato que o próprio pastor mandou a igreja fazer. Na verdade, acredito que estava seguindo a direção do pastor.

CORRIGINDO CORRETAMENTE A IGREJA

Uma coisa que sigo é que ao falar alguma coisa, fale bem falado, bem explicado, com todos os pingos devidamente nos seus respectivos is. Fale sem medo, bem explicado, em detalhes, mas fale uma vez só. Você ouviu,escutou, agora faça, ou não faça, mas que fique registrado que você ouviu e tem mais opiniões que não são só suas, talvez arbitrárias e unilaterais. Me lembro que estava na igreja Batista, onde era membro e um dia numa reunião, o pastor propôs ao conselho, que fossem feitas células. A igreja deveria ter três meses para pensar nisso e ela seguiria ou não o que o conselho escolhesse. Então, o conselho tem três meses para pensar se vai liberar células nessa igreja ou não. Eu fui contra, pois havia um culto de uma hora na quarta feira e um culto de uma hora e meia no domingo e o resto da semana a igreja ficava ociosa. Eu disse que quando houvessem cultos todos os dias, talvez mais de um culto por dia, então ai se justificava a célula, caso contrário não. Pois bem, vamos esperar três meses. Entretanto o pastor inciou em alguns dias uma célula na casa de uma irmã, que nem pode dizer nem não nem sim. E essa irmã era do conselho da igreja. Ela ficou num dilema: Sigo o pastor ou sigo o conselho? Se o conselho da igreja já é colocado na igreja Batista, é para segui-lo e não deixar que situações arbitrárias aconteçam. O pastor errou feio e eu disse isso a ele. Eu não gostei da atitude dele. Mas ai ele armou mais uma segunda célula e decidi sair da igreja. O único que pode impor regras na igreja é o pastor, o nosso papel é fazer se cumprir o que ele propôs, mesmo que para isso tenhamos que falar que ele está quebrando as suas regras.

A MANUTENÇÃO DOS DONS NA IGREJA – OS EXTASES NOS CULTOS

Tudo o que foi dito anteriormente, está intrinsecamente relacionado com o Dom de Discernimento dos Espíritos. Corintios é a típica igreja de novos convertidos. Se um cristão maduro, de vez em quando se enrola com os dons, imagine crianças em Cristo. Como era emergente, Deus deu todos os dons possíveis e necessários para eles naqueles dias.

Talvez não seja perfeitamente percebível, mas o pastor John MacArthur, alertou no seu comentário sobre 1 Coríntios 12.1-3, que haviam excessos absurdos acontecendo nos cultos.

“Irmãos, quanto aos dons espirituais, não quero que vocês sejam ignorantes. Vocês sabem que, quando eram pagãos, de uma forma ou de outra eram fortemente atraídos e levados para os ídolos mudos. Por isso, eu lhes afirmo que ninguém que fala pelo Espírito de Deus diz: "Jesus seja amaldiçoado"; e ninguém pode dizer: "Jesus é Senhor", a não ser pelo Espírito Santo.” 1 Coríntios 12:1-3

O cânon, que é o ajuntamento e reconhecimento dos verdadeiros livros que deveriam fazer parte da Bíblia, não estava ainda pronto nessa época, pois alguns livros nem haviam sido escritos ainda. A palavra de sabedoria, que é um tipo de estudo da Bíblia, ou um tipo de pregar com base em Estudos Bíblicos, e a Palavra de Conhecimento que é revelação pela Palavra, deveriam dirigir todos os dons. Mas se haviam livros que não foram escritos e não havia o evangelho completo, erros aconteceriam mesmo. Principalmente um bando de novos convertidos cheios de dons.

O pastor MacArthur aponta que os cultos eram uma mistura de paganismo, com loucura. Um bando de gente falando em línguas e profetizando ao mesmo tempo, enquanto outros estavam dançando, rodando ou ficando doidos mesmo. Os cultos nessa época eram assustadores. Pensa num culto bem dói, bem Penteca, daqueles Pentecão, com profeta correndo no meio da igreja, entregando profecia na hora da palavra, ou gente falando uma línguas estranhas, muito estranhos, outro fiando endemoniado e de um lado havia os que estavam expulsando demônio, no meio um bando de gente rodando, numa dnacinha parecida com macumba, e pastores loucos avivalistas daqueles bem xaropes.

Paulo viu um culto desses e identificou um outro perigo ainda maior: houve quem no culto amaldiçoou Jesus, imaginando que estava fazendo algo correto. Como ele disse, Ninguém diga que Jesus seja amaldiçoado, se você fala pelo Espírito Santo. De onde veio essa loucura de amaldiçoar Jesus? Da Bíblia. Mais propriamente retirado daquela passagem onde a serpente seria levantada e quem olhasse para a maldição, seria curado. Olha a loucura desses cultos Penteca - pois não posso chamar isso de Pentecostal, pois difere muito do que a Bíblia ensina o que é um culto. Imagine alguém no culto dizendo: “Jesus é amaldiçoado, Jesus é amaldiçoado”. Por mais absurdo que você possa pensar, era isso que estava acontecendo.

Dia desses ouvi dizer de um irmão que num culto Penteca, subiu na coluna da igreja. Na internet temos vídeos de gente que se diz cheia do Espírito Santo, latindo como cachorro. Vocês acham que isso é Deus? Mas como saber? Ai entra o Dom de Discernimento dos Espíritos, que age como árbitro ao dizer o que é e o que não é de Deus.

O DOM DE DISCERNIMENTO NOS DIAS ATUAIS

A Bíblia está completa hoje em dia, além de que o evangelho está devidamente estudado, prova disso são os milhares de livros escritos – agora só basta ler.

Para os crentes de Corinto, por exemplo, o dom de discernimento de espíritos seria muito útil na edificação da comunidade cristã como um todo; pois fazendo uso desse dom as supostas manifestações espirituais que ocorriam ali poderiam ser validadas ou reprovadas. Os crentes coríntios que tinham o dom de discernimento de espíritos seriam capazes de avaliar se realmente era pelo Espírito Santo que determinadas pessoas falavam em línguas, profetizavam, e até operavam sinais.

Discernimento de espíritos é um dos dons que o Espírito Santo concede aos crentes. O dom de discernimento espiritual é fundamental na vida da Igreja, pois protege a comunidade cristã do perigo do engano.

A palavra “discernimento” é usada para traduzir o termo grego diakrisis, que significa “julgamento”, “discernimento”, “distinção”. Originalmente esse termo é usado somente em duas outras passagens bíblicas no Novo Testamento (Romanos 14:1; Hebreus 5:14).

O dom de discernimento de espíritos aparece na lista de dons do Espírito Santo registrada por Paulo aos escrever aos crentes de Corinto. O texto bíblico diz: “Porque a um é dada, mediante o Espírito, a palavra de sabedoria; e a outro, segundo o mesmo Espírito, a palavra do conhecimento; a outro, no mesmo Espírito, a fé; e a outro, no mesmo Espírito, dons de curar; a outro, operações de milagres; a outro, profecia; a outro, discernimento de espíritos; a um, variedade de línguas; e a outro, capacidade para interpretá-las” (1 Coríntios 12:8-10).

No contexto de 1 Coríntios 12:10, o uso do dom de discernimento espiritual significa justamente a habilidade concedida pelo Espírito de Deus através da qual o crente é capaz de julgar se alguém fala ou age pelo Espírito Santo ou por um espírito falso e enganador.

O apóstolo João exorta o cristão a não acreditar em qualquer espírito, mas examinar e provar os espíritos para saber se eles procedem de Deus. Isto é necessário porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo (1 João 4:1).

O DOM PELA PALAVRA - O escritor de Hebreus escreve que é pelo conhecimento das Escrituras, e seu exercício constante, que o crente maduro torna-se apto para discernir tanto o bem quanto o mal (Hebreus 5:14). Então nesse sentido, todo cristão verdadeiro deve ter discernimento espiritual pelo estudo da Palavra de Deus.

Mas com base no texto de 1 Coríntios 12:10, também parece que algumas pessoas ainda recebem uma habilidade mais específica da parte do Espírito Santo para discernir os espíritos. Essas pessoas possuem uma capacitação especial dada pelo Senhor para reconhecer os espíritos mentirosos e apontar as doutrinas enganosas que tentam destruir a Igreja.

Além disso, em certos aspectos o uso do dom de discernimento de espíritos mudou desde o tempo dos apóstolos. Isso porque o contexto naquela época era outro. As Escrituras ainda estavam sendo produzidas, e os crentes tinham que saber identificar se uma nova profecia era inspirada por Deus e deveria ser identificada como Escritura.

Hoje, a Palavra de Deus já foi completamente revelada; mas o dom de discernimento de espíritos continua sendo importante para a saúde da doutrina da Igreja. J. MacArthur diz que essas pessoas são as sentinelas que protegem a comunidade cristã das mentiras demoníacas, falsas doutrinas, cultos pervertidos e manifestações carnais.

Mas engana-se quem pensa que essas pessoas agem como um tipo de sensor de detecção de espíritos mentirosos. O juízo que essas pessoas fazem é fundamento na Palavra de Deus. Elas são pessoas tão experimentadas nas Escrituras que imediatamente conseguem avaliar se algo vem da parte do Espírito de Deus ou não. As pessoas que possuem o dom de discernimento de espíritos expõem a verdade da Palavra para desmascarar a mentira.

Observe que Paulo identifica o dom de discernimento imediatamente depois da profecia. Naquela época as profecias eram levadas ao pé da letra. Hoje a profecia e o profeta está esculhambado. São tanta bobeira nas profecias que quando ouvimos uma verdadeira a gente nem sabe se é de Deus mais ou não.

O QUE É O DOM DE DISCERNIMENTO DOS ESPÍRITOS

É a capacidade de discernir, compreender, saber, entender, se a profecia, ou a palavra, ou as manifestações espirituais, ou aquela pessoa, ou fato ou ato, é vindo de Deus ou não. Isso faz muito sentido pois o mesmo Paulo diz que as profecias têm que ser cuidadosamente examinadas, para seguirmos ou não (1 Cor 14.29). E é razoável ter um dom que auxilie nesta tarefa.

Por que Paulo usa a expressão discernimento de espíritos? O

apóstolo parece falar do espírito humano como o elemento ou meio pelo qual o Espírito fala. Hoje o Espírito Santo em contato com o nosso espírito reativado, religado, nos indica se aquilo que estamos vendo ou ouvindo vem de Deus ou não.

Sabe aquela sensação que temos, de algo, que parece ser bom, mas cogitamos como ruim? Sabe aquele pregador na TV, que a gente ouve, mas ficamos com um pé atrás, ou aquele governante, ou aquela pessoa? Tem pessoas que a gente conhece que não nos cheira bem. Isso é o Espírito santo falando conosco, alertando.

Exercemos o dom de discernimento todos os dias de culto ao ouvirmos uma pregação, que definimos como correta ou não. Eu identifico várias de heresias sendo ditas em muitos cultos. (Heresia: doutrina ou sistema religioso identificado como falso pela igreja) Quando entrei para a igreja identificava montões de heresias sendo ditas em todo culto, várias vezes por culto. Com um ano ensinando a igreja, hoje identifico menos, mas ainda tem alguns, como a insistência em querer acreditar, de forma não bíblica que a igreja não vai passar pela Tribulação, ou que o Espírito Santo vai ser retirado da Terra, ou que o sinal do Batismo da Igreja (Batismo do crente é outra coisa), é falar em línguas. O sinal do Batismo (inicio) da igreja é que chegou o ministério escatológico do Espírito Santo. Aliás, a Teologia do Novo Testamento de G. K. Beale, mostra que o ministério do Espírito veio inaugurar a era escatológica.

O dom do Discernimento dos Espíritos é mais uma capacidade, dada por Deus, de a igreja se auto-vigiar.

Amém

Fique na paz.