Descer da montanha e descruzar os braços
Padre Geovane Saraiva*
Jesus, o filho amado do Pai, ao revelar na montanha sagrada o esplendor de sua glória, na sua própria transfiguração, pede que tenhamos fé e compromisso em seu projeto divino. Ele conta com seus seguidores, credenciados e habilitados, para se transfigurarem no seu projeto de amor. Ele doa a vida pela humanidade, na sua fidelidade ao Pai, por aqueles que se encontram descartados, desfigurados e despojados de sua dignidade, como assegura Dom Helder: “No mais que comum dos dias, olhei o mais que pude os rostos dos pobres, gastos pela fome, esmagados pelas humilhações, e neles descobri teu rosto, Cristo Ressuscitado!".
No caminho a percorrer, decorrente de nossos ideais, e na escuta da voz do filho amado, o ambiente é favorável a Jesus naquela montanha sagrada, numa claridade radiante, antevendo-se seu corpo glorificado. Que Deus nos dê a graça de andar pelos mesmos caminhos, sólidos e seguros, numa luminosidade de verdadeira esperança, ao acolher a vida em comunhão com Ele, que está sempre pronto para ouvir nossa súplica, compassivo, escutando o lamento da humanidade. Ele não leva em conta suas faltas.
Na mais elevada obediência do filho de Deus, Pedro, Tiago e João são seus três amigos íntimos, testemunhando antecipadamente a glória do Senhor ressuscitado, sendo também eles presenças vivas na sua agonia do Getsêmani, revelando glória e paixão como aspectos inseparáveis, num só mistério: o da redenção da humanidade e do mundo. A transfiguração nos revela que ela é essencial à vida, precípua a qualquer encantamento ilusório, a partir do que é seguro e perene, ancorando-se no que é verdadeiro, na busca da paz e da justiça.
Que o sentimento maior e mais profundo de Deus, ao ecoar no coração da humanidade e do mundo, no seu todo, seja o do amor solidário aos olhos da fé. Quando ficamos diante das pessoas doloridas e angustiadas, pelo consequente peso da pandemia, do mais íntimo do íntimo, acreditamos que esta humanidade haverá de se reinventar, numa atenta proximidade dos fragilizados e dos empobrecidos de toda sorte.
Que possamos perceber a realidade misteriosa da transfiguração como sinal antecipado da ressurreição de Jesus de Nazaré, de modo inequívoco, diante dos pesadelos vividos pela criatura humana. A referida realidade nos propõe que descruzemos os braços, longe de conflitos e interesses pessoais desafiados: “Quando os problemas se tornam absurdos, os desafios se tornam apaixonantes”. Assim seja!
*Pároco de Santo Afonso, blogueiro, escritor e integrante da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza (AMLEF).