COERÊNCIA DOUTRINÁRIA NA CASA ESPÍRITA

O movimento espírita está crescendo em número de adeptos, a cada dia adentram em suas instituições pessoas vindas das mais variadas doutrinas e filosofias, trazendo consigo hábitos e preconceitos herdados de suas antigas religiões e levando um tempo mais ou menos longo para se adaptar a nova filosofia religiosa que resolveram abraçar.

Muito compreensivo que isto aconteça, visto que não se pode modificar radicalmente um costume ou uma crença de um dia para o outro. Até porque, muitos procuram a casa espírita pela dor, buscando no tratamento da obsessão, no atendimento fraterno ou na cura de enfermidades físicas o lenitivo e a esperança para os seus males. Grande parte desses irmãos e irmãs, após a solução de seus problemas retornam as suas religiões de origem embora continuem simpatizantes da Doutrina Espírita. Outros resolvem permanecer nos Centros e tornam-se responsáveis trabalhadores e divulgadores da doutrina, elegendo o Espiritismo como sua religião e praticando de modo coerente seus postulados.

Todavia, existe uma pequena porcentagem de espíritas que, embora sinceros trabalhadores e dirigentes, ainda não se despojaram de velhos dogmas e crendices das religiões tradicionais. Ainda creem na eficácia do batismo, na necessidade do rito cerimonial do casamento religioso, na veneração de imagens e quadros (substituindo muitas vezes a imagem ou o quadro dos antigos santos, por personalidades espirituais conhecidas do movimento espírita como Bezerra de Menezes e Emmanuel, em puro processo de sincretismo).

Enquanto permanecem com seus misticismos e superstições para si aparentemente não há nada de mal, é necessário respeitar o modo de pensar de cada individuo, como afirmamos anteriormente, a compreensão da doutrina não é uniforme para todos, levando um período que depende do interesse no estudo e da evolução individual.

Entretanto, quando desejam impor em suas casas de oração práticas estranhas ao Espiritismo como, além dos descritos acima, a exigência do dízimo, médiuns uniformizados como se fossem uma classe sacerdotal, a proibição de pés ou mãos cruzados dentro do centro em franca superstição irracional, passes barulhentos; bustos de seus patronos ou fundadores, onde são feitas filas para beijar e tocar à moda do catolicismo, e muitas vezes, considerando-se até donos do Centro espírita com mandatos vitalícios para presidente… Impondo também ensinamentos de certas entidades espirituais de viés orientalista com preceitos claramente contrários à codificação Kardequiana, e uma série de outras práticas estranhas. Deve-se conversar e tentar mostrar pela razão que essas condutas, não se coadunam com o movimento Espírita.

Nossa intenção não é criticar religião ou filosofia alguma, cada segmento religioso tem as suas particularidades que devem ser respeitadas e praticadas dentro de suas próprias organizações. Justamente por isso, deve-se preservar o modus operandi próprio do Espiritismo cuja base doutrinária está em Allan Kardec.

Mas, não é o caso desses irmãos equivocados quanto à prática da sua religião. Leem Kardec e não compreendem o objetivo e o alcance moral do Espiritismo: libertar do homem e não tornar a escravizar as mentes, reformar o homem intimamente e não criar grilhões desnecessários, aliviar os fardos do sofrimento e não aumentar-lhes o formalismo sem valor.

Que o verdadeiro espírita fique atento e lute pela coerência dentro de suas instituições, caso contrário o Espiritismo poderá se tornar mais um Ismo religioso deturpado e cheio de enxertos, é responsabilidade de cada espírita o rumo que a doutrina tomará no futuro.