O SERTANEJO NORDESTINO É, "ANTES, DURANTE E DEPOIS DOS CONCÍLIOS", UM TEÓLOGO
O SERTANEJO NORDESTINO É, "ANTES, DURANTE E DEPOIS DOS CONCÍLIOS", UM TEÓLOGO
Manoel Belarmino
Os romeiros do Padim Ciço, o povo do Beato Pedro Batista da Santa Brígida, os devotos de Frei Damião, Dona Zefa da Guia e seu povo, os Vito e suas novenas, são homens e mulheres que têm uma vivência num mundo bíblico e cristão, com raízes fincadas no chão nordestino, e enriquecido com os valores dos povos africanos e indígenas.
Esse povo nordestino é herdeiro de uma longa e bonita tradição teológica, sendo ele mesmo teólogo. Povo pobre, sofrido, de mãos e pés calejados, de poucas letras, mas teólogo. Mesmo não acostumado ao mundo das letras, constrói poesias, literatura de cordel, textos ricos de conteúdos. Textos ricos de sabedoria, vivência de teoria e prática e de construção coletiva, são escritos. A sabedoria produzida no sofrimento e na esperança é a base teológica do povo nordestino.
O nordestino canoniza os seus próprios santos. Frei Damião, Pedro Batista, Madinha Dodõ, Padre Cícero.
O sertanejo-teólogo da terra busca compreender o sentido mais profundo das coisas. A fé e a violência aprofundam o sentimento, o sentido e a leitura teológica dos fatos que presencia, não separando o racional do emocional. O sertanejo na vivência comunitária, na comunhão, experimenta e sonha. É um curioso das coisas de Deus em busca do sentido último. A teologia do sertanejo é mística, mas também é escatológica.
As rezas, as festas, os símbolos, a devoção, a dor, a solidariedade e a fé, marcam a vivência comunitária de Fé, numa relação com a terra, com a diversidade de vida e com o divino. Câmara Cascudo escreveu que o sertanejo é teólogo "antes, durante e depois dos concílios ecumênicos e dos Santos Padres”.