Expiação: Resgate e Purificação

“Porque a vida da carne está no sangue; pelo que vo-lo tenho dado sobre o altar, para fazer expiação pelas vossas almas; porquanto é o sangue que fará expiação pela alma.” – Levítico 17.11

Conforme Benjamin Kedar-Kopfstein, falando sobre o termo hebraico traduzido como “sangue” nessa passagem, o texto bíblico afirma que o sangue de uma criatura é a “essência” dela, é o que a torna algo vivo, é a “alma” do homem ou animal – no hebraico, vida e alma são a mesma palavra. Por isso o sangue é sagrado, e deve ser manuseado com reverência. O sangue faz expiação pela vida/alma de uma pessoa porque a vida/alma do animal sacrificado está no sangue dele (SPENCER, 2002).

Esse é um princípio tão importante que o mesmo capítulo ensina que aquele que manuseia de modo impróprio o sangue de um animal é considerado culpado porque “derramou sangue” (v.4). E se alguém é culpado por derramar sangue de um animal, quanto mais de uma pessoa inocente? Um assassino não pode ter outro destino, portanto, além da pena de morte. “Assim não profanareis a terra em que estais; porque o sangue faz profanar a terra; e nenhuma expiação se fará pela terra por causa do sangue que nela se derramar, senão com o sangue daquele que o derramou” (Números 35.33). O sangue derramado em uma terra que não for expiado com o sangue do assassino traz maldição sobre aquele lugar (HAMILTON, 2013).

Esse princípio deve nos levar a clamar pela nossa nação. Muito sangue inocente é derramado em nossa terra, de tal maneira que não há gado que suficiente para tanta expiação que necessitamos. Só Jesus Cristo pode trazer perdão e purificação sobre nós. Seu sangue foi “derramado por muitos” para que nós tivéssemos Sua vida e, portanto, a “remissão dos pecados” (Mateus 26.28). Foi para isso mesmo que Ele veio, “para servir, e para dar a sua vida [ou seja, o seu sangue] em resgate de muitos” (Mt 20.28).

Conforme Robert Jamieson (2014), a expiação a que Levítico 17.11 se refere – e que ecoa na expiação promovida pela morte de Jesus – é caracterizada pela noção de resgate. Seu argumento é que a expressão exata traduzida como “fazer expiação pelas vossas almas” aparece na Bíblia Hebraica em apenas duas ocasiões: Êxodo 30.15-16 e Números 31.50. Em ambos os casos, refere-se a uma oferta monetária paga pelos hebreus ao Senhor em troca de suas próprias vidas.

Note que em Levítico não existe a ideia de um animal sendo morto em favor de uma pessoa como um tipo de punição sofrida no lugar dela. A ideia desse livro é de que o sangue do animal era oferecido como um resgate pelo sangue do homem. Pode parecer uma diferença sutil, mas necessária para se aprofundar na doutrina da expiação ao longo das Escrituras.

HAMILTON, Catherine Marie Sider. Innocent Blood Traditions in Early Judaism and the Death of Jesus in Matthew. 2013. Tese de Doutorado. Disponível em: <https://tspace.library.utoronto.ca/bitstream/1807/43419/1/Hamilton_Catherine_MS_201311_PhD_thesis.pdf>.

JAMIESON, Robert Bruce. Purging God's People and Place: Levitical Sacrifice as a Prolegomenon to Hebrews. 2014. Disponível em: <https://digital.library.sbts.edu/bitstream/handle/10392/4611/Jamieson_sbts_0207N_10203.pdf?seque>.

KEDAR-KOPFSTEIN, B. ‘d&#257;m’. In BOTTERWECK, G. Johannes; RINGGREN, Helmer (Ed.). Theological dictionary of the Old Testament. Wm. B. Eerdmans Publishing, 1977.

SPENCER, John R. A Point of Contention: The Scriptural Basis for the Jehovah's Witnesses’ Refusal of Blood Transfusions. Christian bioethics, v. 8, n. 1, p. 63-90, 2002.

VARKEY, Mothy. Salvation in continuity: Reconsidering Matthew's soteriology. Fortress Press, 2017. Disponível em: <https://researchrepository.murdoch.edu.au/id/eprint/23803/1/Thesis-Mothy_Varkey.pdf>.