Lado vulnerável e desprotegido
Padre Geovane Saraiva*
Em um mundo dilacerado, machucado e bombardeado por todos os lados, contemplemos Jesus de Nazaré, que chegou ao Rio Jordão vindo da Galileia, dos pagãos, e lá pediu o batismo a João Batista, dizendo que se conviria cumprir toda a justiça. Uma vez batizado, eis algo de maravilhoso e deslumbrante: os céus se abriram e ele viu o Espírito de Deus descendo em forma de pomba e pousando sobre ele (cf. Mt 3, 13ss). É o céu que se abre à verdade e à justiça, no Reino implantado sobre a terra pelo Mestre da Galileia.
Logo que li uma matéria, no domtotal.com, sobre Dom Alberto Taveira, fiz o seguinte comentário nesse site: “Que a verdade e a justiça prevaleçam”. O referido arcebispo disse que foi acusado de “crimes” de ordem moral, mas não ficaram claros esses crimes. Muito triste, sendo ele o maior referencial da Igreja da Amazônia, já tão sofrida, de quem só se esperavam coisas edificantes, tendo que sair em sua própria defesa. Lembro-me, vivamente, do nosso saudoso bispo, Dom Aloísio Lorscheider, ao se dirigir aos padres novos: “De vocês, padres, o povo só espera o que é bom e edificante”. Torço para que não seja mais “fogo” a queimar a bela região amazônica, muito querida por Deus.
Infelizmente, encontra-se o outro lado, vulnerável e desprotegido: jovens na sua inocência, com prejuízo e marcas indeléveis, vindas de quem só se esperava o que era elevado e construtivo. Não se pode jamais esperar de um arcebispo, num discernimento vocacional, ensinamentos que causassem dúvidas, destruindo-lhes o excelso imaginário, já no seu íntimo sagrado. Acho uma prática abominável também o uso de seu poder de arquiepiscopal para se defender, com todo o seu aparato, mantido pelo povo de Deus. Dois pesos e duas medidas. Em sendo verdade, que venha a justiça divina, mas num processo paritário, segundo o mesmo Evangelho que o Senhor arcebispo se esqueceu de citar: “E, se alguém escandalizar um destes pequeninos que creem, melhor seria que fosse jogado no mar com uma pedra de moinho amarrada ao pescoço” (cf. Mc 9, 42).
Na condição de pessoa exemplar e referencial, com raízes no que asseverou Santo Agostinho: “Para vós sou bispo, convosco, sou cristão”, o bispo deve ser visto como um irmão solícito e afável, que, ao se encantar com o projeto de Jesus de Nazaré, sendo seu seguidor ardoroso, mas na benfazeja aventura de instaurar o Reino na diocese, uma porção do Povo de Deus. Cabe ao bispo, de um modo coerente, o encargo de ensinar como mestre na fé, governar como pastor e santificar como sacerdote, no esforço constante de viver unido e não se afastar do sonho de Jesus, o bom pastor, no alegre e esperançoso anúncio do bem supremo: a salvação. Assim seja!
*Pároco de Santo Afonso, blogueiro, escritor e integrante da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza (AMLEF).