No dogma da maternidade de Maria
Padre Geovane Saraiva*
Na Solenidade da Santíssima Mãe de Deus, na sua maternidade divina, dogma solenemente proclamado pelo Concílio de Éfeso (431 d.C.), voltemo-nos para Deus com toda honra e glória, ele que é Senhor do tempo e da eternidade, pela chegada de sua promessa salvífica. Que seja irrecusável para todos a acolhida da proposta de Deus, de se pensar no verbo que se fez carne, mas a partir do coração contemplativo de Maria; esse mesmo coração quer dos cristãos o mais elevado sentimento, pela presença do bom Deus entre nós, presenteando-nos com a graça do testemunho, mas numa admiração e apreço reflexivos, comprometidos como bons educadores de fé e esperança.
Maria, verdadeira Mãe de Deus, no contexto maior de sua Virgindade Perpétua, Conceição e Assunção, a despeito de seu Filho, visivelmente pobre, está presente na vida dos seres humanos e configurado na própria história humana, incontestavelmente nossa maior fonte de bênçãos e patrimônio, indicando-nos com todas as letras, entre os diversos caminhos, o verdadeiro caminho. Que Deus nos proporcione, em 2021, a graça da liberdade de sermos seus filhos queridos, como caminheiros no bom caminho, longe de toda e qualquer escravidão, usando bem os bens perecíveis, mas vigilantes, sem fechar os olhos diante do abismo frontal da vaidade e do apego aos bens materiais, tão presentes, mesmo na Igreja hierárquica.
O Papa Francisco encerrou o ano de 2020, afirmando que “o mundo precisa de esperança”, numa catequese onde refletiu sobre “a oração de ação de graças”. Esperança, amigo leitor, na confiança e plenamente agradecidos, identificados pelo grande amor de Deus por nós, pelo bom Senhor, que nos quer destemidos e com disposição interior, recordando-nos o ano que passou, mas que a vida consiste em passado, presente e futuro (cf. Hb 13, 8), não nos esquecendo de que temos que colocar o futuro, do ponto de vista da fé, nas mãos de Deus como algo profundo, misterioso e inescrutável, na persistente obstinação da esperança que não burla nem confunde, mas faz viver.
Que a Santa Mãe do Príncipe da Paz, Maria, nos coloque bem no eixo central da nossa vida, em meio ao mistério, no contexto da própria exclusão da família de Nazaré, mas numa dinâmica de quem quer aprender e crescer, como nas palavras do Livro Sagrado: “Jesus crescia em sabedoria, estatura e graça, diante de Deus e dos homens” (Lc 2, 25). Que o Filho de Deus, que viveu a nossa mesma condição, de gente e criatura humana, dando aqueles mesmos passos, próprios da vida humana, na espera do tempo apropriado à missão, nos ensine que a missão, de acordo com Dom Helder, é partir, caminhar, deixar tudo, sair de si, quebrar a crosta do egoísmo que nos fecha no nosso eu. Assim seja!
*Pároco de Santo Afonso, blogueiro, escritor e integrante da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza (AMLEF).