A MÁ NOVA DO CRISTIANISMO

A palavra “evangelho” (no grego, “evangelion”) significa simplesmente “boas novas” ou “boas notícias”. Sim, foi exatamente assim que os discípulos de Cristo entenderam a mensagem crística, como uma boa notícia em meio à um mundo malígno, desigual, trágico, corrupto e sangrento. Entenderam e receberam uma mensagem nova de esperança, contrastando a com a Velha e, há muito já caduca, Religiosidade Judaica. Por isso pregaram naqueles dias e anos do "pós morte -ressureição" do Nazareno com tanto afínco e destemor. Nesse pensamento, construíam aldeias, vilas e lugarejos "cristãos". Reuniam-se nas casas para juntos festejarem a chegada deste "Novo Tempo" de harmonia, paz, dadivosidade e Reino. Eram irmãos. Era uma só fé, uma só esperança, um só credo, e o mais importante: Uma SÓ Família, diziam eles unidos pela graça de terem recebido o Cristo, aquele que veio anunciando a chegada desta "nova era".

Era uma multidão de Pedro's, Tiago's, Bartolomeu's, Paulo's, Filipe's, Maria's, Mirian's, Rute's, que acreditando fazer parte deste Projeto, morriam e eram mortos em plena certeza da "Salvação" mediante o Sacrifício VICÁRIO do Messias. E quanto mais a perseguição à este ideal recrudescia, mais a multidão aumentava, "louvando a Deus e caindo na graça de todo o povo. E todos os dias acrescentava o Senhor à igreja aqueles que se haviam de salvar." Atos 2.47.

A princípio, a organização eclesiástica era apenas e tão somente a Revelação "teocêntrica", baseada naquilo que eles, os discípulos oculares, haviam visto, ouvido e aprendido com o Mestre. Tais discípulos, preocupados com possíveis acréscimos ou retiradas daquilo que foi passado pelo Cristo, escreveram algumas Cartas-Testamento, chamados de Evangelhos. Precisamos entender que o cristianismo herda do judaísmo duas características que são incomuns no mundo greco-romano: o monoteísmo e seu caráter de Religião do Livro. Lembrando que o Judaísmo foi a primeira religião do livro da civilização ocidental. Os livros quase não tinham função nas religiões politeístas do antigo mundo. Essas religiões dedicavam-se quase que exclusivamente a honrar os seus deuses por meio de atos rituais de sacrifícios, não havendo um conjunto de regras, doutrinas ou mesmo um código de ética escrita a seguir.

A importância dos livros para o cristianismo primitivo não significa que todos os cristãos pudessem ler. Bem ao contrário, a maioria dos cristãos, assim como a maior parte da população do Império (incluindo os judeus), era analfabeta. O primeiro livro, ou o primeiro Evangelho, Marcos; foi escrito 40 anos depois da morte de Jesus, ou seja, por volta do ano 70. João e Mateus, talvez, sejam os mais "valorizados" e os mais lidos entre os canonizados, pois foram apóstolos do Mestre. Marcos, segundo a tradição, foi discípulo de Paulo e Lucas. Estes e outros Evangelhos serão a base daquilo que mais tarde seria chamado de "Cristandade" - comunidade cristã no mundo inteiro, ou seja, composta de todos os povos e países tidos como cristãos.

Com o passar dos anos o Império deixa de ser o principal adversário do cristianismo, pois ele se tornou a religião oficial Romana no ano 380 por ordem do imperador Teodósio I, que tomou a medida numa lei conhecida como Édito de Tessalônica. Era necessário então, organizar a Igreja (ou as igrejas) e seus membros a partir de Roma - Santa Sé e de uma ideia romana de religare, de conversão e de obediência à uma "única" ortodoxia. Para isso, cria- se a figura do Papa, que para a igreja católica, é o representante direto de São Pedro, apóstolo que, de acordo com a fé católica, foi nomeado por Jesus Cristo como sendo o “pastor” e a “pedra” da instituição. Com base nesse contexto, a figura do papa surgiu para ser um sucessor de Pedro, enquanto os bispos simbolizam os apóstolos. Também é nesse contexto que surgirão algumas reuniões com nome de Concílio. O primeiro dos 21 concílios foi o concílio de Niceia, realizado entre 20 de maio e 25 de julho de 325 d.C., na cidade de Niceia da Bitínia, atual cidade Iznik (Turquia), província de Anatólia (Ásia Menor), localizada próxima à Constantinopla.

O combate às heresias (palavra que provém da expressão grega haíresis, significando ‘escolha’, ou seja, escolher uma postura diferente da assumida por uma doutrina oficial, negando os seus principais dogmas), talvez tenha sido o principal objetivo dessas reuniões. Como combater as heresias em um território tão vasto e em terras tão longínquas? Variadas foram as tentativas de se exterminar de vez com as práticas dos hereges. Algumas destas tentativas foram bastante violentas, resultando em milhares de feridos, mortos e mais, levou ao cisma da Igreja. Veja o caso da Quarta Cruzada (1202-1204) ou “Cruzada de Veneza” que resultou no saque e na tomada da cidade de Constantinopla (atual Istambul) e na instauração do Império Latino, levando o mundo cristão da época a ter três impérios: além do Latino, o Sacro Império Romano-Germânico e o Império Bizantino.

Bem, a verdade é que a igreja, como a maior representatividade de Cristo na terra e a principal responsável pela anunciação do seu Reino entre os homens, é viva, é imortal, é transcendente e estará para além de qualquer tentativa de institucionalização da fé. É esta que milita e que prega a única Boa Nova possível do Evangelho; a saber, Jesus. Toda e qualquer tentativa de pregação fora de Jesus, é anátema, é mortal, tornando-se uma "Má Nova", um desevangelho, uma antítese daquilo que o Nazareno ensinou. O Evangelho de Jesus é cheio de Graça e é de graça. Não oprime as pessoas; ao contrário, liberta. Não exige sacrifícios materiais, pois o maior de todos os sacrifícios já foi realizado na cruz.

A maior derrota da igreja foi ter esquecido a sua principal função que era a de ser a guardiã e propagadora do Evangelho de Jesus, ou seja, esqueceu de anunciar a Boa Nova. A igreja tornou-se insuportavelmente chata, sem graça, juíza condenatória. Infiltrou-se nas mais variadas questões mundanas. Fez acordos e alianças nefastas. A igreja sucumbiu diante dos apelos políticos e comerciais. Vendeu-se e no lugar do Evangelho da Graça, surgiu alguma coisa mesquinha, feia, atrofiada que só serve para servir de escárnio, lamentação e vergonha. Foi um processo de longa duração que resultou nisto que presenciamos hoje.

A igreja precisa urgentemente entender que é indispensável o retorno a Cristo. A igreja precisa muito mais da graça divina que das riquezas mundanas. Precisa viver o evangelho que viver do evangelho. Precisa apresentar ao mundo, que encontra - se mergulhado em tristezas e dores, a Boa Nova de Salvação. Salvação do mal humano. A igreja precisa lutar para salvar os homens dos seus interesses puramente individuais. Precisa mostrar que é possível libertar-se do machismo, do racismo, da desigualdade social que nos leva à violência. A igreja precisa revelar ao mundo que existe algo BOM e NOVO que é o Evangelho de Jesus. E se ela não fizer isso, AS PEDRAS CONTINUARÃO A CLAMAR!

Professor Moises.

filoliveira
Enviado por filoliveira em 28/12/2020
Código do texto: T7145854
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