Nosso destino em Deus
Padre Geovane Saraiva*
Quero homenagear Dom Aloísio, Cardeal Lorscheider, que partiu na véspera do Natal, há 13 anos. Sua vida, bem como a vida da humanidade, é um mistério de amor, a partir de Deus, que, por sua vontade soberana, quis que a criatura humana existisse. Por isso nada mais está envolvido em contingências do que a existência humana, mas no gesto sublime da inclinação de Deus Pai, no dia da criação: “O Senhor Deus formou, pois, o homem do barro da terra, e inspirou-lhe nas narinas o sopro da vida, e o homem se tornou um ser vivente” (Gn 2, 7). No mistério da vida humana, a dominar as demais vidas, o Senhor Deus vem ao nosso encontro e, ao se encarnar, assumiu a condição humana das pessoas, como nas palavras de Maria: “O Todo-poderoso fez grandes coisas em meu favor”. Temos, assim, uma condição humilde concretamente visível no descarte e abandono da manjedoura, antagônico despropósito, mas querendo dignificar e exaltar os que vivem em condições infra-humanas, os humilhados e aniquilados do mundo.
Não nos esqueçamos, neste Natal de 2020, de Dom Aloísio Lorscheider, na sua gentileza e doçura em pessoa, ele que tinha um espírito vivamente presente entre nós cearenses. Que aprendamos – nós, que vivemos em Deus, nos movemos por ele e somos nele – sempre mais a caminhar com Deus, pelo dom misterioso de sua dupla chegada, sem decepcioná-lo, na convicção mais absoluta de colocar o nosso destino no destino de Deus, pelos sinais de esperança, presentes na barca da vida humana, no nosso peregrinar em meio às ondas, nos fluxos e refluxos da história. Quanta riqueza, com o nascimento do Deus menino, dom e graça para o mundo pelas mãos e o ventre de Maria! Como nosso Deus é diferente! Ele nasce durante a noite, na escuridão, mas na condição de luz do mundo, luz no meio das trevas.
Dom Aloísio, ao partir há 13 anos, dentro do contexto do Natal do Senhor (23/12/2007), ensinou o projeto salvífico de Deus, presente e cada vez mais aclarado no mistério da criança de Belém, visível aos nossos olhos, no convite que nos é feito, de perscrutar ou auscultar sua luminosa revelação. Ele vem como rei pacífico, conselheiro admirável, Deus forte, pai dos tempos futuros, príncipe da paz (Is 9, 5). Que possamos voltar, no sentido mais elevado, para a casa do pão: Belém! Lá vamos encontrar a “novidade” por excelência, o menino humilde e frágil vivendo nas piores condições humanas, pobre no meio dos pobres, num ambiente literalmente paradoxal.
Quanta paz e quanta ternura daquele que nasceu da Virgem! Na periferia de Belém, ele, que, segundo Santo Afonso Maria de Ligório, nasceu misteriosamente das estrelas como verdadeiro e autêntico benfeitor do mundo e do gênero humano, a nos pasmar e a nos exaltar com amor infinito, mistério a dominar o mundo. Feliz Natal!
*Pároco de Santo Afonso, blogueiro, escritor e integrante da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza (AMLEF).