Publicado em 1954, é o terceiro livro na ordem cronológica da série As Crônicas de Nárnia. A história ocorre na mesma época em que os irmãos Pevensie reinam em Nárnia. Mas os quatro irmãos Pervensie não são os personagens principais em O Cavalo e seu Menino, pois aparecem somente como auxiliares no enredo, os personagens principais são Shasta, Aravis, Bri e Huin. 
     A história conta como o jovem escravo Shasta, junto com o cavalo narniano Bri, fogem da Calormânia, país vizinho e rival de Nárnia, em uma viagem para livrá-los da condição de escravos. No caminho, juntam-se a eles a menina Aravis e sua égua Huin, que também estão em fuga. Aravis não aceita o seu casamento arranjado com um oficial calormano. Antes de chegarem ao destino final, precisam atravessar a capital calormana, chamada de Tashbaan, algumas tumbas assombradas e um grande deserto. E, como se não bastasse todo esse caminho, Aravis descobre acidentalmente um plano dos calormanos para invadir Nárnia e Arquelândia, e em conjunto com seus amigos procura avisar aos narnianos a tempo de se prepararem para a tentativa de invasão.  

A Providência Divina 

     A providência divina é o agir divino por trás dos acontecimentos. Nos dias atuais, a crença na providência divina caiu em certo descrédito. Sendo muitas vezes influenciados pelo deísmo e pelo ateísmo tão crescente hoje em dia. 
     E aqui temos um questionamento importante, como vamos lidar com o sofrimento dos dias complicados que vivemos hoje, se não acreditamos que Deus está no controle de tudo? Como o próprio Lewis disse “O sofrimento é o megafone de Deus para um mundo ensurdecido”, e passar pelo sofrimento implica em entender que Deus tem a mão que controla todo o universo, o contrário a isso é crer que tudo o que vivemos é uma mera consequência do acaso. O fato de muitos acreditarem que as situações da vida são um mero acaso, levam muitos a incompreensão e ao despreparo para situações que são intrínsecas a vida humana. 
     Alguns autores defendem que Santo Agostinho e Tolkien foram os grandes influenciadores de Lewis. Santo Agostinho, em seu livro “Confissões”, expressa que Deus era quem governava os acontecimentos da sua vida, Tolkien escreveu em várias de suas cartas que muitos acontecimentos da terra média eram frutos da providência divina. Lewis cria na providência divina, e ele expressou em alguns de seus livros essa crença, e isso fica muito evidente em “O cavalo e o seu menino”. 

O Cavalo e o Seu menino e a Providência Divina 

     O Cavalo e o seu menino é a terceira crônica na ordem cronológica das crônicas de Nárnia, a história se passa durante o reinado dos irmãos Pevensie. Nessa crônica temos pela primeira vez a inserção de outros povos nas histórias, são eles: Calormanos (retratados como pagãos) e os povos da Arquelandia (Aliados de Nárnia). 
     Conta-se a história de Shasta, um garoto escravo que encontrou em Bri, um cavalo falante de Nárnia, seu companheiro ideal na busca da liberdade. Durante sua fuga, várias coisas acontecem, a primeira delas é o ataque de um leão. Porém, durante o ataque, eles encontram um cavaleiro fugindo do leão, ao findar a perseguição, eles acabam descobrindo que na verdade não era um cavaleiro, mas sim uma amazona. Seu nome era Aravis, filha de um nobre calormano, junto dela estava Huin, uma égua narniana. Após um tempo de conversa chega-se ao consenso de que todos deviam ir juntos a Nárnia, pois lá era onde eles deviam estar. 
     Durante a jornada até Nárnia, vários perigos são encontrados, os chacais, o deserto, a traição dos Calormanos. Algo a destacar é que durante toda a jornada, as amizades entre os personagens foram se estreitando e a opinião de um sobre o outro foi mudando. Paralelo a isso, os personagens amadureceram se tornando pessoas melhores. 
     Meu trecho preferido do livro ilustra muito bem a providência divina na vida de Shasta, nele o contexto é que, depois de Shasta e seus companheiros fugirem do ataque de um leão, ele fica incumbido de avisar o rei da Arquelandia sobre o ataque Calormano. Shasta consegue o contato com o rei, porém, em parte do percurso ele recebe a companhia de uma criatura: 

“Devo ser o cara mais desgraçado de todo o mundo, pensou. Tudo dá certo com os outros, comigo nunca. Os nobres e as damas de Nárnia conseguiram fugir de Tashbaan; eu fiquei lá. Aravis, Bri e Huin estão no bem-bom com o velho eremita; fui o único a ter de sair. O rei Luna e sua gente estão a salvo no castelo, com os portões bem fechados, mas eu fiquei de fora. 

Teve tanta pena de si mesmo que as lágrimas começaram a deslizar por seu rosto.Um susto interrompeu os seus tristes pensamentos. Alguém ou alguma coisa caminhava a seu lado. Nas trevas não podia ver nada. E a coisa (ou pessoa) ia tão silenciosamente que ele mal podia ouvir suas pisadas. Ouvia, sim, uma respiração: o invisível companheiro de fato respirava com vontade; devia ser uma criatura enorme. Foi um grande choque. 

Relampejou na sua cabeça uma lembrança: ouvira dizer que existiam gigantes nos países do Norte. Mordeu os lábios, apavorado. Mas, agora que tinha um motivo real para chorar, parou de chorar. 

A coisa (se é que não era uma pessoa) ia tão silenciosa que talvez fosse mera imaginação. Já estava certo disso, quando ouviu ao seu lado um suspiro grande e profundo. Não era imaginação! O fato é que sentiu o hálito quente desse longo suspiro na mão direita. 

Se o cavalo fosse mesmo bom – ou se ele soubesse como fazer o cavalo tornar-se bom – teria arriscado tudo numa corrida desabalada. Como isso não era possível, seguiu a passo, com o companheiro invisível caminhando e respirando a seu lado. Acabou não aguentando mais: 

– Quem é você? – Murmurou baixinho. 

– Alguém que esperava por sua voz – respondeu a coisa. O tom não era alto, mas amplo e profundo. 

– Você é… um gigante? 

– Pode me chamar de gigante – disse a grande voz. – Mas não me pareço com as criaturas que você chama de gigantes. 

– Não consigo vê-lo – falou Shasta, depois de muito tentar. Uma coisa terrível lhe passou pela cabeça. Com a voz quase trêmula de choro, perguntou: 

– Você não é… não é uma coisa morta… é? Vá embora, por favor. Nunca lhe fiz mal. Ó, sou o sujeito mais desgraçado do mundo! 

Sentiu novamente o hálito quente da coisa no rosto e na mão.- Morto não respira assim. Pode me contar as suas tristezas, rapaz. 

O hálito deu a Shasta um pouco mais de confiança. Contou então que jamais conhecera pai e mãe, que fora criado por um pescador muito severo. Contou sobre como fugira, sobre os leões que os perseguiram, os perigos em Tashbaan, a noite entre os túmulos, as feras que uivavam no deserto, o calor e a sede durante a caminhada, e o outro leão que surgiu quando estavam quase chegando, Aravis ferida…contou, por fim, que estava com fome, pois não comia nada havia muito tempo. 

– Não acho que seja um desgraçado – disse a grande voz. 

– Mas não foi falta de sorte ter encontrado tantos leões? 

– Só há um leão – respondeu a voz. 

– Não estou entendendo nada. Havia pelo menos dois naquela noite… 

– Só há um leão, mas tem o pé ligeiro. 

– Como sabe disso? 

– Eu sou o leão. 

Fui eu o leão que o forçou a encontrar-se com Aravis. Fui eu o gato que o consolou na casa dos mortos. Fui eu o leão que espantou os chacais para que você dormisse. Fui eu o leão que assustou os cavalos a fim de que chegassem a tempo de avisar o rei Luna. E fui eu o leão que empurrou para a praia a canoa em que você dormia, uma criança quase morta, para que um homem, acordado à meia-noite, o acolhesse." 

Aslam estava por trás de todos os acontecimentos da vida de Shasta. Aqui temos um ponto importante, Aslam estava por trás também das situações ruins que aconteciam. As feridas dos personagens foram retratadas como causadas por Aslam ou permitidas por ele (Romanos 8:28). Inclusive, até mesmo a morte de Aslam serviu para um propósito muito maior que imaginávamos. 

Eu, Você e a Providência Divina 

     Caminhando para o final, devemos compreender os momentos da nossa vida. Independente do momento que você vive, Deus está no controle. O nosso dever é apenas obedecer e confiar em Deus. Devemos sempre lembrar de nossa missão na terra, parafraseando Lewis em Cristianismo Puro e Simples, fomos recrutados para o exército de Cristo, e fazer parte do exército de Cristo consiste em carregar as marcas de Cristo, lutar contra o mal e o pecado e levar a mensagem de Cristo, e essa condição claramente vai nos fazer passar por caminhos escuros de sofrimento e agonia. 
     Portanto, seja na noite escura e solitária, na floresta fugindo dos perigos da noite, em meio aos pagãos correndo risco de vida, quando você está sozinho em meio aos chacais, quando você e seus amigos estão cansados e com sede no deserto e, também, quando você está sozinho e com medo, à beira de um precipício correndo risco de morrer...lembre-se: Deus está no controle!
Abra a Porta e Júnior Azeredo
Enviado por Abra a Porta em 23/12/2020
Código do texto: T7142129
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