DOGMAS, O QUE SÃO, POR QUE EXISTEM E PARA QUE SERVEM?

Os dogmas são algumas verdades que a comunidade-Igreja carrega consigo, quando dialoga com os povos e as culturas. Essas convicções têm uma parte central, a que ela não renuncia e outros elementos que evoluem com o tempo.

Os grandes dogmas da Igreja surgiram nos primeiros séculos, para resolver problemas de interpretação da fé, incapazes de serem respondidos só pela Sagrada Escritura. Por exemplo, a Bíblia afirma que Deus é um só, o único criador de todas as coisas. Mas, ao mesmo tempo, diz que Jesus é Filho de Deus. Há momentos em que Jesus afirma, no Evangelho de João: "Eu e o Pai somos um". Em outros, ele ora ao Pai, mostrando que o Pai é diferente dele. O mesmo se pode dizer do Espírito Santo, que não é Jesus, mas vem do Pai. Como é possível entender que Deus seja um só, mas que também exista o Pai, o Filho e o Espírito Santo ?

Foram necessárias muitas discussões e alguns concílios até a Igreja formular a doutrina que hoje conhecemos como "Santíssima Trindade"...

Os principais dogmas do cristianismo católico foram formulados nos cinco primeiros séculos, por meio de concílios. Na Idade Média, também foram definidos em sínodos e concílios. E, a partir do século passado, somente pelos Papas, após consultar os bispos.

Nestes últimos 400 anos, os católicos reforçaram, cada vez mais, os dogmas e a tradição; por conta disso, a Bíblia ficou esquecida, guardada no armário, se valorizando muito a doutrina cristã, baseada nos dogmas.

Veio então o Concílio Vaticano II, que nos ajudou a compreender melhor o lugar e a função dos dogmas, colocando a Bíblia como fonte para a teologia e a liturgia, nos mostrando como a Tradição legítima da Igreja interpreta a Escritura e fornece os elementos necessários para a vivência da fé, reconhecendo que nem todos os dogmas têm o mesmo valor.

Vamos entender como surgiram os dogmas:

"Era uma vez um lindo santuário no alto de uma montanha. Para lá acorriam muitas pessoas, de diferentes povos, culturas e nações. Com o passar dos anos, dos séculos, multidões de peregrinos foram pisando o chão da trilha que levava ao santuário. Tiraram o mato e abriram outros trechos, e a trilha foi se transformando numa estrada, pois os peregrinos descobriram que tão importante quanto a meta é o caminho que conduz a ela.

O caminho até o santuário era muito bonito. Embora houvesse espinhos, poeira, lama e buracos, se podia ver a beleza do sol no meio da serra, respirar o ar puro das plantas, deixar-se penetrar pelo verde intenso das copas das árvores e sentir os cheiros das flores silvestres. Porém, ao lado daquele caminho, tortuoso e belo, havia também precipícios e abismos.

Como alguns peregrinos já tinham se acidentado na caminhada, os encarregados do santuário colocaram placas, sinais luminosos à noite e outros apetrechos de segurança, pois a estrada era perigosa e alguns poderiam errar o caminho e despencar no abismo.

Os séculos foram passando, vieram os carros e ônibus. Ficou difícil caminhar naquela estrada. Ela perdeu a beleza e a praticidade. Os novos povos que por lá passavam não entendiam as antigas placas. Então, veio gente especializada em interpretar as placas e tornou o caminho mais pesado ainda.

Muitos passaram a se preocupar com os muros de proteção, as placas, os sinais luminosos e as explicações, esquecendo-se de caminhar, ficando pelo caminho. Perderam de vista a estrada que levava ao Santuário, lugar de encontro de Deus conosco.

Então, alguns homens e mulheres iluminados perceberam o equivoco e tiraram tudo aquilo que atrapalhava a estrada, deixando só o que ajudava os romeiros na sua caminhada. As pessoas voltaram a descobrir a beleza da estrada e a rezar pelo caminho. Mais pessoas chegavam ao Santuário, e de lá voltava com o coração alegre e renovado."

"Os dogmas são como placas que indicam o caminho da nossa fé. Foram criados para ajudar a gente a se manter no rumo do Santuário vivo, que é Jesus".

Houve um tempo em que foram valorizados demais; caímos no exagero do dogmatismo, ou seja, muitas placas e pouco caminho. Mas depois do Concílio Vaticano II, a Igreja tirou muita coisa que atrapalhava e enfeava a estrada que nos leva a Jesus. Valorizou-se mais a Palavra de Deus e a experiência de vida dos cristãos. E hoje estamos redescobrindo a utilidade dos dogmas.