Em qualquer lugar neste mundo

“Ter uma religião, ter fé em deus ou ser frequente em uma igreja não são sinônimos de moralidade”

Bispo Ferreira

Em qualquer lugar neste mundo, em todo grupo social, encontraremos pessoas de bom ou mau caráter. O caráter da pessoa não depende essencialmente da sua renda, do lugar onde nasceu ou vive, profissão que exerce, nacionalidade ou de acreditar ou não em uma divindade. Mesmo assim, costuma-se associar a fé em um Ser supremo como prova de caráter, como se a integridade, honestidade e bondade dependessem apenas de acreditar em alguma entidade. Consequentemente, pessoas ateias e agnósticas enfrentam muito preconceito social e são vistas com bastante reserva. Muitos são os ateus que se queixam que são rechaçados pelas famílias e pesquisas indicam que se desconfia de ateus como se desconfia de estupradores e criminosos.

Dá-se demasiado valor às pessoas que frequentam igrejas ou templos evangélicos, rezam e cumprem outros compromissos relacionados à religião que professam, como guardar os dias santos, comungar, fazer jejum e outras coisas porque se entende, segundo a nossa educação e cultura, que elas buscam contato íntimo com Deus e é comum que ouçamos expressões do tipo:” Ele é um verdadeiro homem de Deus”, para dizer que tal pessoa é um bom caráter e segue princípios morais e religiosos. Entretanto, quando apontamos uma pessoa ateia ou agnóstica de bom caráter, logo ouvimos: “Mas essa pessoa não tem Deus no coração. Não adianta uma pessoa ser boa e não ter Deus no coração.”

Quando ouvimos isso, ficamos com a impressão de que nas igrejas só existe gente de bom caráter, íntegra e acima de vaidades e valores superficiais. Porém, tanto na igreja católica quanto em templos evangélicos encontramos pessoas superficiais, materialistas e hipócritas, o que desmente a afirmação de muitas pessoas que dizem que a bondade do ateu não é suficiente porque lhe faltam os princípios morais básicos do cristianismo, como o amor e a fé. Se os princípios morais de uma religião fossem suficientes para formar o caráter de uma pessoa, não veríamos padres e pastores pedófilos abusando de crianças nem envolvidos em crimes. Além disso, quantos religiosos não são altamente materialistas, incapazes de abdicar das riquezas que possuem?

Eu ainda lembro do tempo em que frequentava a igreja evangélica e uma pessoa veio até a mim dizendo: “Puxa, que bom, você se converteu.” O que essas palavras dão a entender? Que a pessoa que se converte muda de repente da água para o vinho? Eu não senti nenhuma grande mudança interna. E pude reparar que, contrariando o que ouvimos nos testemunhos dados por pessoas que sempre diziam que a conversão, o “aceitar Jesus”, tinha sido um divisor de águas nas suas vidas, restaurando-as internamente, na prática, as pessoas que frequentavam os templos continuavam as mesmas, com os mesmos defeitos, dúvidas e problemas. E que muitas dessas pessoas eram tão superficiais, invejosas, egoístas e maldosas quanto qualquer outra pessoa fora do ambiente religioso.

Talvez alguém venha dizer que me faltou ter um “encontro pessoal com Deus” ou que eu não busquei a Deus como realmente deveria ter buscado. Mas isso leva a uma pergunta: como é realmente ter um encontro pessoal com Deus? Como é buscar Deus de verdade? Essas pessoas saberiam responder? Fui aconselhada a ler a Bíblia e, quando respondi que foi a leitura da Bíblia que reforçou minha descrença, muita gente ficou verdadeiramente escandalizada. Houve quem dissesse que eu tinha sido enganada por Satanás, que não havia lido com a sabedoria do Espírito Santo e que precisava mesmo da ajuda de algum “irmão da igreja” para entender a palavra de Deus.

Muitos são os que afirmam que o crescimento do ateísmo se deve a um suposto plano do Anticristo, visto que afirmam que o trunfo maior do diabo seria as pessoas não acreditarem nele. Mas o que vemos é que deixar de acreditar em Deus ou passar a duvidar de Sua existência, na prática, deve-se apenas a uma mudança na forma de enxergar o mundo e compreender a realidade da vida.