DEIXA QUE OS MORTOS ENTERREM SEUS MORTOS

“E disse a outro: Segue-me. Mas ele respondeu: Senhor deixa que primeiro eu vá enterrar meu pai. – Mas Jesus lhe observou: Deixa aos mortos o enterrar os seus mortos; porém tu vai e anuncia o Reino de Deus.” (Lucas 9: 59-60)¹

As palavras de Jesus parecem à primeira vista bastante duras, Ele que sempre respeitou as tradições legítimas de seu povo, não se oporia a que um filho fosse enterrar o corpo do próprio pai. Muito menos restringiria os nossos deveres para com nossos familiares.

No entanto, o divino mestre aproveitava todas as oportunidades que se apresentavam para, através de palavras fortes, impressionar e despertar a atenção dos seus ouvintes, com o propósito de transmitir ensinamentos de grande importância espiritual.

Dizendo: “Deixa aos mortos o enterrar os seus mortos”, Jesus procurou primeiramente demonstrar a prevalência do espírito sobre a matéria. Não somos apenas uma estrutura de carne, um amontoado de células, somos principalmente e essencialmente seres espirituais habitando temporariamente um corpo físico. A alma ou espírito é o nosso verdadeiro Eu.

Quando reencarnamos nossas percepções se apequenam, pressionados pela matéria densa, esquecemos o passado e deixamos muitos conhecimentos em estado latente, nas partes mais profundas do nosso inconsciente. As boas resoluções que tomamos transformam-se em intuição, nossa consciência, que nos adverte nos momentos das mais importantes decisões.

No entanto, apesar de nossas percepções espirituais estarem restritas, as boas ações e os bons pensamentos nos ligam às esferas superiores nos mantendo vivos espiritualmente. Porém, se nos deixarmos arrastar exclusivamente pelas preocupações materiais, tornando-nos distantes das verdades do espírito, apegados demasiadamente às riquezas, aos prazeres e empregando a violência em vez de cultivar a paz, tornamo-nos espiritualmente mortos.

Se ainda persistirmos nesse estado de consciência, mesmo depois do desencarne o espírito permanecerá cativo de si próprio, ansiando por continuar nas inquietações do plano físico, mesmo após a decomposição do corpo biológico, não conseguindo ascender aos planos espirituais mais elevados.

Aquele homem é chamado pelo Mestre divino ao despertamento espiritual, Jesus que conhece os corações, sabia das suas necessidades morais e o estimula ao desapego, incitando-o a pregar sobre o Reino divino: chamar os homens violentos a mansuetude, os intolerantes a tolerância, a levar esperança aos aflitos, a disseminar a luz do evangelho àqueles que estão nas trevas.

Assim, deixando um ensinamento para todas as épocas, o Cristo demonstra que, enquanto muitos homens se preocupavam com o pó, nossas atenções devem se voltar primeiramente para a alma.

A reforma interior e a prática do bem eleva nossa condição espiritual, nos capacitando ao despertamento, a sermos trabalhadores do Senhor, saindo da condição de mortos segundo a carne para a condição de vivos segundo Cristo. (Efésios 5:14)

Referências:

[1] Bíblia Sagrada. João Ferreira de Almeida. Ed. 1995 São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 2005.