Argumentos ridículos
“Se não houver justiça humana, nenhuma justiça haverá.”
Kennedy Litaiff
Se nós nos propusermos a analisar bem, as explicações dadas pelas religiões não nos dão nenhuma luz para entendermos os problemas do mundo e o sofrimento humano, apenas nos mantêm em um casulo de ilusão que nos impede de refletir com mais clareza acerca da vida. Os religiosos sempre irão usar mil e uma desculpas para que aceitemos que tudo que ocorre na nossa vida é com um propósito divino mas, se os forçarmos a refletir, eles, não conseguindo dar uma resposta satisfatória, irão recorrer a argumentos ridículos que são derrubados com a menor reflexão.
Um argumento muito ridículo foi um usado por uma mulher católica ao conversar com uma moça sobre os acontecimentos da vida e sabendo o que ela, a mãe e os irmãos tinham sofrido nas mãos do pai tirano e opressor, argumentou que tudo ocorria na vida com um propósito. A moça então retrucou: “E qual o propósito em uma criança de cinco anos ser sexualmente abusada?” Vejamos bem a resposta da mulher: “Mas isso não foi Deus, é porque há gente ruim no mundo.” Como vemos, uma resposta dessas não explica nada, apenas aumenta a confusão e entra em contradição com a resposta anterior.
De que maneira podemos saber se o que nos acontece é algo permitido por Deus com algum suposto propósito divino ou fruto apenas da ação humana? Ao refletirmos, vemos que realmente não é possível chegar a uma resposta completa e satisfatória. Mas os religiosos, geralmente, não refletem. Apenas se valem de frases de efeito para que nos conformemos, pensemos que o que nos ocorreu foi com algum propósito divino. Pois bem, essa mesma moça, citada no parágrafo anterior, perdeu a mãe para um câncer. Ainda no velório, ela ouviu da mulher de um primo(evangélica), que ela ainda tinha o pai e os irmãos. Então, ela balançou negativamente a cabeça e disse que sonhava sair de junto do pai desde os dez anos de idade. A esposa do primo disse:” Quem sabe não foi Deus que arrumou para que você e seu pai finalmente se entendam? O que isso significa? Que Deus matou a mãe para que ela se reconciliasse com o pai?
A tal moça, que frequentou a igreja evangélica – foi empurrada pela mãe – ouviu muitas promessas que nunca se concretizaram, ouviu outras que não lhe causaram nada mais que perturbação mental e ela hoje diz que, se não houvesse saído da religião, teria enlouquecido. Toda vez que ela falava que orava a Deus para que a ajudasse a encontrar um emprego para ter a independência financeira e sair de junto do pai, a mãe e outras pessoas da igreja diziam: ”Minha filha, será que isso é o que Deus quer para você? Será essa a vontade de Deus? Quem sabe Deus não quer que você se reconcilie com seu pai?” A mãe dela também falava que Deus provavelmente a queria solteira para que ela não sofresse com um marido e filhos ruins.
Analisemos bem o que foi dito no parágrafo acima. Por que Deus não iria querer que essa pessoa saísse de junto de um pai cruel? Além disso, ao dizer que Deus poderia ter uma vontade diversa da dela, essas pessoas na verdade criaram um Deus com características humanas, um Deus que quer impor sua vontade sobre as vidas das pessoas, como um tirano opressor. E vejamos também a realidade da vida. Deus queria manter essa moça solteira para ela não sofrer com um mau casamento? Vejamos os casos de relacionamentos abusivos, de mulheres mortas por seus companheiros ou ex -companheiros. Ou de crianças abusadas por aqueles que deveriam cuidar delas. Que Deus é esse? Um Deus que faz acepção de pessoas? Fazer acepção de pessoas é uma atitude humana. Não combina com a imagem que formamos de Deus, que seria um Ser totalmente benevolente e acima de falhas humanas.
Uma vez, eu perguntei a uma pessoa evangélica: “Se Deus interfere na minha vida pessoal, por que então Ele não impede ninguém de se tornar traficante ou chefe de grupo criminoso ou não impede um maluco de entrar atirando numa escola? É porque já estava nos planos Dele?”? A resposta foi esta: “Mas Deus não interfere no livre-arbítrio de ninguém.” Então, perguntemo-nos. Dá para os planos de Deus coexistirem com o livre-arbítrio? Ou temos livre-arbítrio ou já nascemos com um plano. Só que os religiosos sempre irão usar todos as explanações para se esquivar de nossas perguntas.
A que conclusão podemos chegar? De que Deus não existe? Não, porém podemos e devemos admitir que as religiões existentes não oferecem de fato nenhuma explicação para os mistérios da existência humana. Todas as explicações que os religiosos dão para nos convencer de que há um mistério divino por trás de tudo que ocorre podem ser verdadeiras armadilhas para nos manter presos num sistema que nos impede de ver a verdade e, com frequência, de tomar atitudes adequadas para resolver nossos problemas. Quantas pessoas, que já foram religiosas e hoje são ateias ou agnósticas não afirmam que a religião as fez perder tempo, mantendo-as presas sob uma redoma de cristal que as impedia de enxergar a realidade da vida?