O copo meio vazio. Os planos pendentes. O mais ou menos feito. Os quases. Os deverias. Os critérios ditatoriais da minha mente lançados ao vento. O que ainda falta. O estado constante de incompletude e insatisfação do ser humano para consigo mesmo é sem dúvidas um grande espinho na carne. Um sentimento desesperador e incômodo à nossa existência, seja em que momento, grau e modo experimentemos. Em algum momento todos nós provaremos algum tipo de falta.              Um dia desses pela madrugada eu estava pensando antes de dormir, e  me veio a pergunta: A quanto tempo eu não choro? Tentei lembrar do último dia. Não consegui. Eu não sentia a necessidade de chorar naquele momento, mesmo tendo motivos. Parei pra pensar e não se tratava disso. Depois de minutos de mergulho existencial e epifania arrebatadora, eu entendi. Entre todos os insights, um. Me vi autosabotando-me. Me percebi mimando um bichinho dentro de mim. O bichinho atemporal da incompletude, da insatisfação, da angústia e por fim do descontentamento. Eu apenas senti a necessidade de estar sentindo alguma falta, de alguma ordem, de alguma e qualquer origem. Me faltava a falta naquele momento, e eu senti. Eu precisava estar "necessitada de". Precisava estar insatisfeita com algum retalho da minha existência. Não me faltava nada, além da falta. 
     Senti a miséria humana. A insatisfação que mora dentro dos meus ossos e permeia a minha pele. Não posso me livrar dela. Em mim mesma existe um vazio, um vazio onde se lançam todas as expectativas humanas. Um vazio que é preenchido pelo tempo e afazeres, que de vez em outra sempre fala mais alto. Senti que em mim mesma não há plenitude e satisfação. Em mim e comigo moram todas as leis de vulnerabilidade e fracasso humanos. Eu não chegarei a lugar algum sendo a pior versão de mim mesma, eu não chegarei a lugar algum sendo a melhor.
     De nada vale às vezes olhar para dentro, as respostas nem sempre estão lá. Mais uma vez percebo que minha maior necessidade é o Senhor, talvez seja por isso que a falta nunca vai embora. Porque Ele é eterno e grande. É sempre presente e infinito. Somente Ele pode preencher o meu grande abismo. E é nesse profundo e eterno abismo de angústias existenciais que se revela O abismo profundo e eterno de satisfação e contentamento. O abismo da minha alma está entrelaçado com o abismo sempiterno que é o meu Senhor. Que se lançou na minha escuridão, e a abraçou com violento amor e ternura. E por fim, a acalmou e completou.
     Meu corpo e alma sempre sofrerão uma ondulação constante de sentimentos e estados diversos. Tão desconexos às vezes com a realidade. Tão imprevisíveis e desafiadores. Feliz de mim se não confiar em mim. Em mim nada há de bom, em mim há um grande abismo que é do Seu tamanho, Pai. Graças dou pela falta, pela minha decadência. Elas são espaço teu. Teu território. Teu perfeito esconderijo.
 
 
Escrito por Jael Brena.
Insta: @jaelmartins__
 
Abra a Porta e Jael Brena
Enviado por Abra a Porta em 11/12/2020
Reeditado em 11/12/2020
Código do texto: T7132790
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