Quantas vezes você diz ‘eu’ em um dia? Quando se encontra com um conhecido, um amigo, no diálogo de vocês, quantas vezes um e outro dizem ‘eu’? Sim, porque sempre os ‘meus’ problemas são maiores, a ‘minha’ vida é mais difícil, porque o ‘meu’ jeito é o certo. Nossas conversas geralmente são uma competição, ou de gente velha, que tenta ver quem está mais à beira da morte pelo número de males; ou de gente nova, que quer apontar os méritos através do nível de dificuldade que enfrenta. Basicamente, o mundo está em guerra, um verdadeiro conflito de egos. Em um mundo onde todos querem aparecer demais, onde todos querem impor suas opiniões como as únicas corretas, onde a lei é cumprida porque está no papel, onde o eixo do homem é o próprio umbigo – não há espaço para ‘nós’, e, por conseguinte, não há espaço para ser humano. Na sede, no anseio de se afirmar, de se dizer sujeito, ‘dono de si’, o homem vem se perdendo de si mesmo. Onde foi que erramos? Por que à medida que fazemos o que queremos não nos satisfazemos? Conquistamos nossa independência, porque estamos cada dia mais desesperados?
O fato é este: esquecemos de ser ‘nós’! Para nascer, dependemos de alguém; para nos alimentar também, até mesmo para morrer, precisamos de alguém. O individualismo crescente gera a falsa sensação de que liberdade significa não se relacionar com ninguém, pois qualquer relação entre sujeitos cairia na dependência, na prisão. Engana-se, porém, quem nutre o individualismo visando a liberdade. A verdadeira condenação e prisão está em viver sem relações, e não em tê-las. A tentativa de viver apenas por si, e sem ter um ‘próximo’ a quem se dirigir, no fim, tira qualquer sentido da vida. A vida se nutre de sentido e força quando uma pessoa encontra outra que vê o mesmo horizonte, que se coloca a caminho junto. Caminhar sozinho é perder-se em si, caminhar acompanhado em encontrar-se no outro, e assim, encontrar-se com Deus. (cf Mt 25, 31-46).
Porém, como caminhar nesse mundo arriscando-se ao estabelecer relações? Como, neste mundo perverso, marcado pelo interesse maldoso, pela instrumentalização da vida, pode-se confiar? Sejamos sinceros: há bem pouco visível aos olhos que estimula o amor, que incentiva a mútua entrega, que desperta um desejo de comunhão, que nos leva a dizer ‘nós’ ao invés de ‘eu’. No entanto, a marca de amor que Deus deixou em toda a criação é um caminho, árduo, complexo, mas um caminho verdadeiro.
Deus mesmo se constitui como primeiro exemplo da necessidade de comunhão. Nós cristãos, que cremos em um Deus uno e trino, para além da complexidade dos estudos sobre a Trindade, podemos experimentar a comunhão que existe em Deus, e fazer dela um modelo para a nossa vida.
Tomemos apenas o relato da criação como base fundante para a comunhão que supera o duelo de egos. “No princípio, Deus criou os céus e a terra. A terra estava informe e vazia; as trevas cobriam o abismo e o Espírito de Deus pairava sobre as águas. Deus disse: ‘Faça-se a luz!’ E a luz foi feita.” (Gn 1,1-3). Nesse pequeno trecho, pode-se perceber a comunhão que existe em Deus. Atribuímos o ato criador a Deus Pai, no entanto, a comunhão que existe na Trindade nos mostra como o Verbo, o Filho eterno e o Espírito tomam parte no processo criador. O Espírito é a expressão dinâmica de Deus, biblicamente associado aos elementos do fogo, da água e do vento, porque são os elementos do movimento. Porém, sem a articulação necessária, um elemento não cria, é aí que o Verbo entre. O Verbo é a articulação do Espírito, do sopro divino. O que o Pai diz pelo Verbo na força do Espírito, acontece! Esta é a comunhão perfeita que foge a todo egocentrismo. Não há um conflito entre as pessoas e relações na Trindade, e esta é a lição fundamental que a humanidade pode aprender ao experimentar o amor de Deus.
É preciso coragem para vencer o conflito de egos, coragem de sair de si, tirar-se do centro, e quando enfim, Deus for o centro, poderemos estabelecer comunhão, poderemos olhar uns para os outros como pessoas, como imagem e semelhança de Deus. A radicalidade do amor de Deus o impeliu a mergulhar na humanidade, e assim, o Verbo se fez carne elevando nossa condição, e nos deu o seu Espírito, para que cheios de Deus, façamos comunhão. Nesse mundo dilacerado pela discórdia, pelo egocentrismo, que o nosso encontro com Deus seja testemunho de que a humanidade ainda pode se encher de esperança, pode perceber a presença de Deus.
O fato é este: esquecemos de ser ‘nós’! Para nascer, dependemos de alguém; para nos alimentar também, até mesmo para morrer, precisamos de alguém. O individualismo crescente gera a falsa sensação de que liberdade significa não se relacionar com ninguém, pois qualquer relação entre sujeitos cairia na dependência, na prisão. Engana-se, porém, quem nutre o individualismo visando a liberdade. A verdadeira condenação e prisão está em viver sem relações, e não em tê-las. A tentativa de viver apenas por si, e sem ter um ‘próximo’ a quem se dirigir, no fim, tira qualquer sentido da vida. A vida se nutre de sentido e força quando uma pessoa encontra outra que vê o mesmo horizonte, que se coloca a caminho junto. Caminhar sozinho é perder-se em si, caminhar acompanhado em encontrar-se no outro, e assim, encontrar-se com Deus. (cf Mt 25, 31-46).
Porém, como caminhar nesse mundo arriscando-se ao estabelecer relações? Como, neste mundo perverso, marcado pelo interesse maldoso, pela instrumentalização da vida, pode-se confiar? Sejamos sinceros: há bem pouco visível aos olhos que estimula o amor, que incentiva a mútua entrega, que desperta um desejo de comunhão, que nos leva a dizer ‘nós’ ao invés de ‘eu’. No entanto, a marca de amor que Deus deixou em toda a criação é um caminho, árduo, complexo, mas um caminho verdadeiro.
Deus mesmo se constitui como primeiro exemplo da necessidade de comunhão. Nós cristãos, que cremos em um Deus uno e trino, para além da complexidade dos estudos sobre a Trindade, podemos experimentar a comunhão que existe em Deus, e fazer dela um modelo para a nossa vida.
Tomemos apenas o relato da criação como base fundante para a comunhão que supera o duelo de egos. “No princípio, Deus criou os céus e a terra. A terra estava informe e vazia; as trevas cobriam o abismo e o Espírito de Deus pairava sobre as águas. Deus disse: ‘Faça-se a luz!’ E a luz foi feita.” (Gn 1,1-3). Nesse pequeno trecho, pode-se perceber a comunhão que existe em Deus. Atribuímos o ato criador a Deus Pai, no entanto, a comunhão que existe na Trindade nos mostra como o Verbo, o Filho eterno e o Espírito tomam parte no processo criador. O Espírito é a expressão dinâmica de Deus, biblicamente associado aos elementos do fogo, da água e do vento, porque são os elementos do movimento. Porém, sem a articulação necessária, um elemento não cria, é aí que o Verbo entre. O Verbo é a articulação do Espírito, do sopro divino. O que o Pai diz pelo Verbo na força do Espírito, acontece! Esta é a comunhão perfeita que foge a todo egocentrismo. Não há um conflito entre as pessoas e relações na Trindade, e esta é a lição fundamental que a humanidade pode aprender ao experimentar o amor de Deus.
É preciso coragem para vencer o conflito de egos, coragem de sair de si, tirar-se do centro, e quando enfim, Deus for o centro, poderemos estabelecer comunhão, poderemos olhar uns para os outros como pessoas, como imagem e semelhança de Deus. A radicalidade do amor de Deus o impeliu a mergulhar na humanidade, e assim, o Verbo se fez carne elevando nossa condição, e nos deu o seu Espírito, para que cheios de Deus, façamos comunhão. Nesse mundo dilacerado pela discórdia, pelo egocentrismo, que o nosso encontro com Deus seja testemunho de que a humanidade ainda pode se encher de esperança, pode perceber a presença de Deus.