É muito fácil dizer: ‘Eu tenho fé!’ No discurso tudo é mais fácil, apenas articulamos algumas palavras, proferimos sentenças, emitimos juízos. Mas, na realidade, por quanto tempo esse discurso se sustenta? Quantas situações são necessárias para que você se revolte contra Deus? A experiência de fé, aquela verdadeira, que se constitui em um encontro pessoal com Cristo, não comporta ‘pirraças’ de pessoas mimadas que acham que Deus tem a obrigação de atendê-las. Muito ao contrário, a experiência de fé tem a força única de dar sentido à tudo aquilo que vivemos. Será que nossa experiência de fé tem sido autêntica, ou estamos nos debatendo como crianças que querem brincar com uma guilhotina? Permita-me peneirar a sua fé, se você passar pelos três crivos da peneira, então sua experiência é a mais autêntica.
Tomemos o texto do Evangelho de Lucas, o episódio do centurião romano cujo servo estava doente. Nesse trecho encontramos um raro momento em que Jesus se admira da fé de um personagem. Tomemos este homem para descobrir aquilo que é necessário para a experiência de fé. “Ora, um centurião tinha um servo a quem prezava e que estava doente, à morte; Tendo ouvido falar de Jesus, enviou-lhes alguns dos anciãos dos judeus para pedir-lhe que fosse salvar seu servo.” (Lc 7, 2-3). A primeira peneira é a da CARIDADE. O oficial romano era uma autoridade, tinha servos, pessoas que, pela leitura da época, tinham que lhe ser úteis. Geralmente, nesse tipo de relação o senhor faz do servo um objeto, enquanto este trabalha bem, produz muito, tem algum valor, se adoece ou envelhece, é descartado. A atitude do oficial de se preocupar com o servo revela a sua caridade, mesmo em posição de autoridade ele não se relaciona com um objeto, ele reconhece no servo um sujeito, uma pessoa que passa por sofrimentos, tem sentimentos, mais do que isso, alguém igual a ele mesmo. Falta-nos caridade, é fato. Hoje, mais do que nunca vivemos relações sujeito-objeto. Em casa, no trabalho, em qualquer lugar que estejamos, o valor das pessoas está ligado à sua utilidade. O interesse rege nossas relações, estamos cegos, não conseguimos ver o irmão à nossa frente. Talvez pela primeira peneira muitos já tenham ficado presos no filtro, mas se alguém passou, vamos à segunda.
A segunda peneira é a da HUMILDADE. “Não estava longe da casa, quando o centurião mandou alguns amigos lhe dizerem: ‘Senhor, não te incomodes, porque não sou digno de que entres em minha casa, nem mesmo me achei digno de ir ao teu encontro’.” (Lc 7, 6b-7a). O centurião, mesmo não sendo judeu, mesmo não professando a mesma fé ou acreditando no mesmo Deus que aquele povo, reconhece a autoridade de Jesus. Aquele homem sabe-se indigno e não tem medo de dizer, é humilde para reconhecer seus próprios limites. Sabe que não tem poder para curar seu servo, por mais que seja uma autoridade romana, percebe a necessidade de um outro poder, e mesmo pagão, acredita nesse poder. E você? Tem sido humilde no seu encontro com Deus? Nossa hipocrisia começa quando só procuramos a Deus quando precisamos, quando estamos passando por dificuldade, Ele é como que a última alternativa a quem recorremos. E pior ainda, quando chegamos diante dEle, para obter seu favor trazemos todas as nossas glórias como moeda de troca. Na verdade, o que muitos de nós buscamos no encontro com Deus é uma barganha, trazemos nossos feitos: obras de caridade, bom comportamento, horas de oração – em troca de algum bem, espiritual ou mesmo, para os mais hipócritas, material. Caso alguém ainda tenha sobrevivido à segunda peneira, seja caridoso e humilde, podemos então ir para a terceira.
A terceira peneira é a da ESPERANÇA. “ ‘Dize, porém, uma palavra, para que o meu criado seja curado’. [...] Ao ouvir estas palavras, Jesus ficou admirado e, voltando-se para a multidão que o seguia, disse: ‘Eu vos digo que nem mesmo em Israel encontrei tamanha fé’.” (Lc 7, 7b. 9). Dessa peneira ninguém passa. Quantos de nós temos tanta esperança em Deus? Aquele oficial faz uma profissão de fé extrema, radical, única. Reconhece, na palavra de Jesus um poder, uma autoridade que não atribui a ninguém mais. O centurião deposita em Jesus toda a sua esperança, confia de tal modo que causa admiração. E nós? Pelo menos com palavras costumamos dizer que confiamos e esperamos no Senhor. Apenas palavras, pois cada oração que fazemos a Deus vem com uma data de validade: pedimos, mas pedimos no nosso tempo: ‘Senhor, preciso disso... mas tem que ser para ontem’, ‘Senhor, me concede tal graça... mas é pra agora’. Ou seja, não temos esperança em Deus, temos expectativa, limitamos a graça ao nosso tempo, ao nosso desejo. A esperança em Deus não traça mapas, caminhos, não limita a presença dEle em nossa vida, ao contrário: esperança é entrega, é colocar nas mãos de Deus a própria vida. Quando não esperamos em Deus é porque não nos sentimos amados. Só quem se sabe amado é capaz de se entregar nas mãos do Amante. Como creio que ninguém passou pelas três peneiras, acho que precisamos de uma proposta, um meio de autenticar nossa experiência de fé.
Tomemos o nosso maior exemplo, Aquele que nos amou primeiro, para que, em sua escola, possamos aprender a amar: “Tende em vós o mesmo sentimento de Cristo Jesus: Ele, estando na forma de Deus não usou de seu direito de ser tratado como Deus, mas se despojou, tomando a forma de escravo. Tornando-se semelhante aos homens e reconhecido em seu aspecto como um homem.” (Fl 2, 5-7). Temos aqui a síntese da fé, modelo para nós. Ao se fazer homem, Ele nos tornou irmãos, isso é CARIDADE. Ao se humilhar, tomar sobre si todos os nossos pecados, ao esvaziar-se, nos ensinou obediência, isso é HUMILDADE. Ao morrer por nós na cruz, ao entregar sua vida por amor de nós, nos salvou, nos deu a vida eterna, isso é ESPERANÇA. Caríssimos, não são as peneiras que tem filtros finos demais, talvez seja o nosso ego que esteja por demais inflado. Tem, pois, coragem de se aproximar de Deus, sinta-se amado por Ele, confia a Ele a sua vida, permanece com Ele, e Ele mesmo sustentará a sua fé.
REFERÊNCIA
BÍBLIA DE JERUSALÉM. 1ª Ed. 9ª reimpressão. São Paulo: Paulus, 2002.
Tomemos o texto do Evangelho de Lucas, o episódio do centurião romano cujo servo estava doente. Nesse trecho encontramos um raro momento em que Jesus se admira da fé de um personagem. Tomemos este homem para descobrir aquilo que é necessário para a experiência de fé. “Ora, um centurião tinha um servo a quem prezava e que estava doente, à morte; Tendo ouvido falar de Jesus, enviou-lhes alguns dos anciãos dos judeus para pedir-lhe que fosse salvar seu servo.” (Lc 7, 2-3). A primeira peneira é a da CARIDADE. O oficial romano era uma autoridade, tinha servos, pessoas que, pela leitura da época, tinham que lhe ser úteis. Geralmente, nesse tipo de relação o senhor faz do servo um objeto, enquanto este trabalha bem, produz muito, tem algum valor, se adoece ou envelhece, é descartado. A atitude do oficial de se preocupar com o servo revela a sua caridade, mesmo em posição de autoridade ele não se relaciona com um objeto, ele reconhece no servo um sujeito, uma pessoa que passa por sofrimentos, tem sentimentos, mais do que isso, alguém igual a ele mesmo. Falta-nos caridade, é fato. Hoje, mais do que nunca vivemos relações sujeito-objeto. Em casa, no trabalho, em qualquer lugar que estejamos, o valor das pessoas está ligado à sua utilidade. O interesse rege nossas relações, estamos cegos, não conseguimos ver o irmão à nossa frente. Talvez pela primeira peneira muitos já tenham ficado presos no filtro, mas se alguém passou, vamos à segunda.
A segunda peneira é a da HUMILDADE. “Não estava longe da casa, quando o centurião mandou alguns amigos lhe dizerem: ‘Senhor, não te incomodes, porque não sou digno de que entres em minha casa, nem mesmo me achei digno de ir ao teu encontro’.” (Lc 7, 6b-7a). O centurião, mesmo não sendo judeu, mesmo não professando a mesma fé ou acreditando no mesmo Deus que aquele povo, reconhece a autoridade de Jesus. Aquele homem sabe-se indigno e não tem medo de dizer, é humilde para reconhecer seus próprios limites. Sabe que não tem poder para curar seu servo, por mais que seja uma autoridade romana, percebe a necessidade de um outro poder, e mesmo pagão, acredita nesse poder. E você? Tem sido humilde no seu encontro com Deus? Nossa hipocrisia começa quando só procuramos a Deus quando precisamos, quando estamos passando por dificuldade, Ele é como que a última alternativa a quem recorremos. E pior ainda, quando chegamos diante dEle, para obter seu favor trazemos todas as nossas glórias como moeda de troca. Na verdade, o que muitos de nós buscamos no encontro com Deus é uma barganha, trazemos nossos feitos: obras de caridade, bom comportamento, horas de oração – em troca de algum bem, espiritual ou mesmo, para os mais hipócritas, material. Caso alguém ainda tenha sobrevivido à segunda peneira, seja caridoso e humilde, podemos então ir para a terceira.
A terceira peneira é a da ESPERANÇA. “ ‘Dize, porém, uma palavra, para que o meu criado seja curado’. [...] Ao ouvir estas palavras, Jesus ficou admirado e, voltando-se para a multidão que o seguia, disse: ‘Eu vos digo que nem mesmo em Israel encontrei tamanha fé’.” (Lc 7, 7b. 9). Dessa peneira ninguém passa. Quantos de nós temos tanta esperança em Deus? Aquele oficial faz uma profissão de fé extrema, radical, única. Reconhece, na palavra de Jesus um poder, uma autoridade que não atribui a ninguém mais. O centurião deposita em Jesus toda a sua esperança, confia de tal modo que causa admiração. E nós? Pelo menos com palavras costumamos dizer que confiamos e esperamos no Senhor. Apenas palavras, pois cada oração que fazemos a Deus vem com uma data de validade: pedimos, mas pedimos no nosso tempo: ‘Senhor, preciso disso... mas tem que ser para ontem’, ‘Senhor, me concede tal graça... mas é pra agora’. Ou seja, não temos esperança em Deus, temos expectativa, limitamos a graça ao nosso tempo, ao nosso desejo. A esperança em Deus não traça mapas, caminhos, não limita a presença dEle em nossa vida, ao contrário: esperança é entrega, é colocar nas mãos de Deus a própria vida. Quando não esperamos em Deus é porque não nos sentimos amados. Só quem se sabe amado é capaz de se entregar nas mãos do Amante. Como creio que ninguém passou pelas três peneiras, acho que precisamos de uma proposta, um meio de autenticar nossa experiência de fé.
Tomemos o nosso maior exemplo, Aquele que nos amou primeiro, para que, em sua escola, possamos aprender a amar: “Tende em vós o mesmo sentimento de Cristo Jesus: Ele, estando na forma de Deus não usou de seu direito de ser tratado como Deus, mas se despojou, tomando a forma de escravo. Tornando-se semelhante aos homens e reconhecido em seu aspecto como um homem.” (Fl 2, 5-7). Temos aqui a síntese da fé, modelo para nós. Ao se fazer homem, Ele nos tornou irmãos, isso é CARIDADE. Ao se humilhar, tomar sobre si todos os nossos pecados, ao esvaziar-se, nos ensinou obediência, isso é HUMILDADE. Ao morrer por nós na cruz, ao entregar sua vida por amor de nós, nos salvou, nos deu a vida eterna, isso é ESPERANÇA. Caríssimos, não são as peneiras que tem filtros finos demais, talvez seja o nosso ego que esteja por demais inflado. Tem, pois, coragem de se aproximar de Deus, sinta-se amado por Ele, confia a Ele a sua vida, permanece com Ele, e Ele mesmo sustentará a sua fé.
REFERÊNCIA
BÍBLIA DE JERUSALÉM. 1ª Ed. 9ª reimpressão. São Paulo: Paulus, 2002.