Lázaro e o Rico, seria Caifás o rico?

por Rayan Gomes,

Nota:Este artigo não está vinculado a nenhuma religião ou instituição religiosa ou acadêmica, mas é um produto de profundas pesquisas independentes, embasadas em sites e livros, cito aqui apenas algumas referências que dão suporte a essa pesquisa, toda reprodução deve ter a expressa anuência do autor, contate-me em rayangomes64@gmail.com.

A Palestina da época de Jesus Cristo era um lugar de acentuadas desigualdades sociais, opulência e luxo de um lado; pobreza e miséria de outro, alguns tinham mais do que precisavam e viviam como verdadeiros reis.

Caifás, o sumo sacerdote era um dos homens mais ricos de Jerusalém, muitos romanos e o partido dos saduceus gozavam de uma vida cheia de opulência e luxo, muitos dos fariseus também eram homens ricos, mas os saduceus era uma aristocracia poderosa e riquíssima se comparados aos populares fariseus.

Jesus contou uma parábola em que

havia um homem rico,que vestia-se de púrpura, um tecido muito caro, vermelho-arroxeado e que indicava uma alta posição social, e também eram as cores usadas por sacerdotes conforme o capítulo 28 de Êxodo ( ver também Êxodo 26:31; Apocalipse 18:12) e vestia-se de linho finíssimo, o linho era um tecido muito resistente e de grande durabilidade, que os egípcios antigos apreciavam e que para eles simbolizava pureza, os israelitas também apreciavam o linho, sendo que as cortinas do Tabernáculo eram feitas com esse tecido vegetal, as roupas do sumo sacerdote também eram compostas de linho, quando o Faraó quis honrar José, ele deu roupas de linho ( Gênesis 41:42) , esse rico cujo nome não é identificado, vivia todos os dias de modo esplendoroso e se regalava na sua fartura, ele se banqueteava, algo que não era comum para a maioria das pessoas de seu tempo, que só banqueteavam com fartura em certos períodos do ano nas festividades religiosas e ele fazia isso diariamente, mostrando assim sua opulência e vaidade em que vivia.

Muitos argumentam que essa parábola, pode não ser de fato uma alegoria, mas uma história real, já que em nenhuma outra parábola Cristo dá nome a personagens, entretanto, no texto em Lucas há um bloco reservado às parábolas em que encontramos esse ensinamento, há aqueles que acreditam que o rico não denominado possa até mesmo ser Caifás, que compartilha algumas características em comum com o personagem da parábola, Caifás era rico, vestia-se de púrpura e linho fino (suas vestes sacerdotais tinham essas cores e também o azul), no apócrifo de Siraque ,e em Antiguidades escrito por Flávio Josefo, esse,quando estava na presença de Alexandre descreveu que as vestes do sumo sacerdote eram compostas de cor púrpura escarlate e os sumos sacerdotes usavam também linho fino.

Caifás era cercado de luxos já que era riquíssimo, a riqueza de Caifás era proveniente do aluguel de grandes propriedades de Jerusalém. Anás e Caifás eram provavelmente do poderoso partido dos saduceus que alicerçavam sua fé no Pentateuco e não acreditavam nos profetas, espíritos ou anjos e muito menos na ressurreição, por isso, isso explicaria por que ele se “desesperou” quando Jesus ressuscitou o Lázaro de Betânia ( João 11:47-48), e passaram a tramar como matá-lo de vez.

Lucas autor do evangelho homônimo relaciona Anás e Caifás como sendo do partido dos saduceus em Atos 5:17 já que ele também escreveu esse outro livro a Teófilo, era de conhecimento dele que Caifás era saduceu; inicialmente o sacerdócio era vitalício, mas quando Herodes, O Grande começou a reinar era ele que destituía e escolhia os sumos sacerdotes, por isso vemos Anás e Caifás com o título de sumos sacerdotes ao mesmo tempo,(embora só um fosse de fato sumo sacerdote) a relação de Caifás com seu sogro Anás confirmava e assegurava alianças político-religiosas.

O historiador Flávio Josefo fornece um relato sobre ele em Antiguidades Judaicas e em Guerras Judaicas.Caifás e Anás eram sumos sacerdotes ( Lucas 3:2), assim muitos veem os cinco irmãos ao que o Rico da parábola se refere como sendo os outros sumos sacerdotes, que serviram nos anos que estão entre parênteses: Eleazar ( 16-17 d.C), Jonatã ( 36-37 d.C), Teófilo ( 37-41 d.C), Matias ( 41-43 d.C) e Anás, o jovem( 62 d.C) . Em Atos dos Apóstolos 4:6 lemos: “E Anás, o sumo sacerdote, e Caifás, e João, e Alexandre, e todos quantos havia da linhagem do sumo sacerdote”, é provável que João seja Jonatã e Alexandre seja Eleazar em uma versão alternativa mais helenizada de seus nomes.

Lázaro também estava à porta do lado de fora, numa perfeita analogia ao portão do Templo, em Atos 3: 1-2 lemos que Pedro e João curam um mendigo que jazia à porta do templo: “E Pedro e João subiam juntos ao templo à hora da oração, a nona.

E era trazido um homem que desde o ventre de sua mãe era coxo, o qual todos os dias punham à porta do templo, chamada Formosa, para pedir esmola aos que entravam”.

Jesus contou que havia certo mendigo, chamado Lázaro ( uma forma latinizada de Eleazar que significa "Deus é a minha ajuda" em hebraico), que jazia cheio de chagas à porta daquele, tanto Deuteronômio quanto Levíticos estipulam ações para evitar a mendicância, através de obras de caridade, entretanto, o pobre Lázaro é desprezado por toda a sociedade, sendo um homem "invisível", pobre e leproso, excluído do convívio social e religioso e que não desperta a caridade do Rico, e o pobre Lázaro desejava alimentar-se com as migalhas que caíam da mesa do rico como um cachorro ( animal associado à impureza na perspectiva judaica), tal qual como nos rogos da mulher estrangeira que disse a Jesus que até os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa de seus donos ( Mateus 15:21-39), Lázaro é equiparado a um animal aos olhos daquela sociedade hipócrita e iníqua, e o texto ainda acrescenta que os próprios cães vinham lamber-lhe as chagas, um detalhe que mostra a sua pobreza e miséria.

E aconteceu que o mendigo morreu e seu espírito foi levado pelos anjos para o seio de Abraão; e morreu também o rico e foi sepultado, há um contraste aqui na hora da morte, sendo que não é informado que Lázaro foi sepultado, seu corpo pode ter permanecido insepulto por algum tempo até ser removido pelos transeuntes não por se compadecerem dele, mas não informa que ele foi sepultado, mas os anjos levam o seu espírito aos céus.

Jesus que na ocasião falava aos fariseus usou elementos que eles conheciam e acreditavam, o livro apócrifo Apocalipse de Sofonias escrito no 1 século da Era Comum (um pseudo-epígrafe atribuído a Sofonias), fornece descrição similar à parábola do Rico e Lázaro no tocante ao além, neste apócrifo Sofonias vê o destino das almas após a morte, Sofonias é guiado por um anjo que dirige um barco num rio imenso, quando ele chega ao Hades, vê miríades de almas sendo atiradas em um mar de fogo, ouve gritos angustiosos, vê o sofrimento das almas e o desespero delas, a visão foi tão aterradora que Sofonias não aguentou ser espectador dos sofrimentos do Hades, o Sofonias do pseudográfico também viu uma cidade celeste e a intercessão dos patriarcas Abraão, Isaque e Jacó que continuamente intercedem em favor dos ímpios, esse livro não foi considerado canônico, pois o Sofonias bíblico viveu meio milênio antes da cópia mais antiga do Apocalipse de Sofonias, escrito primeiramente em copta no Egito, por ter sido escrito em um idioma que não era hebraico foi rejeitado como parte do cânone, muitos judeus e cristãos viram uma influência grega e egípcia muito forte em todo o livro, mas ele é interessante para compreender a crença dos fariseus contemporâneos de Jesus no tocante à vida após a morte.

Outro apócrifo que fornece chaves para a compreensão da parábola é o livro IV Macabeus, escrito em egípcio, nele Abraão recebe à semelhança de “Pedro” no imaginário popular do Brasil os que passam para o além.

O Rico da Parábola se vê em tormentos, no Hades, o Rico ergueu os olhos, estando em tormentos, e viu ao longe Abraão e Lázaro, no seu seio, estar com Abraão é deveras simbólico, porque estando com ele, ambos estavam com o povo santo como está escrito em Gênesis 25:8: “E Abraão expirou, morrendo em boa velhice, velho e farto de dias; e foi congregado ao seu povo”. E Lázaro lá estava em uma posição honrosa (João 13:23).

Lázaro não foi salvo por sua pobreza, mas por sua fé em Deus, o rico não foi condenado por suas riquezas, mas as riquezas foram uma armadilha que sufocou qualquer ato de misericórdia e generosidade daquele homem, não é à toa que Jesus declara: “É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha, do que entrar um rico no reino de Deus”. (Marcos 10: 25), o Rico foi como que semeado entre os espinhos como Jesus disse: “E o que foi semeado entre espinhos é o que ouve a palavra, mas os cuidados deste mundo, e a sedução das riquezas sufocam a palavra, e fica infrutífera”. (Mateus 13:22), o Rico não fez nenhum ato de violência com Lázaro, mas o desprezou, os pecados por negligência tem um grande peso espiritual na Ressurreição para a condenação, Jesus disse que quando separar os piedosos dos ímpios assim acontecerá:

"Então dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos;Porque tive fome, e não me destes de comer; tive sede, e não me destes de beber;Sendo estrangeiro, não me recolhestes; estando nu, não me vestistes; e enfermo, e na prisão, não me visitastes.Então eles também lhe responderão, dizendo: Senhor, quando te vimos com fome, ou com sede, ou estrangeiro, ou nu, ou enfermo, ou na prisão, e não te servimos?Então lhes responderá, dizendo: Em verdade vos digo que, quando a um destes pequeninos o não fizestes, não o fizestes a mim.E irão estes para o tormento eterno, mas os justos para a vida eterna". (Mateus 25: 41-46)

E, o Rico clamando, disse: Abraão, meu pai, tem misericórdia de mim e manda a Lázaro que molhe na água a ponta do seu dedo e me refresque a língua, porque estou atormentado nesta chama. Jesus ensinou: “E não presumais, de vós mesmos, dizendo: Temos por pai a Abraão; porque eu vos digo que, mesmo destas pedras, Deus pode suscitar filhos a Abraão”. (Mateus 3:9), o que fez Abraão ser abençoado e honrado foi sua fé e não sua raça, ou seja, não foi sua carne, o Rico estava apelando pelo fato de ser um judeu e agora quem reclamava migalhas era ele, ele queria nem que fosse um dedo molhado, o jogo virou por completo.

Disse, porém, Abraão: "Filho, lembra-te de que recebeste os teus bens em tua vida, e Lázaro, somente males; e, agora, este é consolado, e tu, atormentado.E, além disso, está posto um grande abismo entre nós e vós, de sorte que os que quisessem passar daqui para vós não poderiam, nem tampouco os de lá, passar para cá.E disse ele: Rogo-te, pois, ó pai, que o mandes à casa de meu pai,pois tenho cinco irmãos, para que lhes dê testemunho, a fim de que não venham também para este lugar de tormento.Disse-lhe Abraão: Eles têm Moisés e os Profetas; ouçam-nos.E disse ele: Não, Abraão, meu pai; mas, se algum dos mortos fosse ter com eles, arrepender-se-iam.Porém Abraão lhe disse: Se não ouvem a Moisés e aos Profetas, tampouco acreditarão, ainda que algum dos mortos ressuscite.(Lucas 16:19-31)

Essa parábola é indubitavelmente uma das mais famosas parábolas de Jesus Cristo, onde há três personagens: O rico que não é denominado, Lázaro que é o único personagem de uma parábola identificado com nome e o patriarca Abraão.

O Rico e Lázaro são personagens antagônicos, a época de Cristo era marcada por uma acentuada desigualdade social como já tratado, onde o poder estava concentrado na mão de poucos, o Rico tinha em abundância, fartava-se com banquetes, as migalhas da mesa do Rico caíam no chão, e assim como o Filho Pródigo desejava comer a lavagem dos porcos, Lázaro queria ao menos aquelas migalhas que caíam da mesa do Rico, Lázaro era um homem pobre, mendigo, não tinha um lar, ao que tudo indica não tinha ninguém, era miserável como Jó quando caiu em desgraça, coberto de feridas abertas e lambido por cães vira-latas, Lázaro nem sequer tinha a comunhão dos santos de Israel, pois era doente e mendigo, um homem de dores cuja vida foi trilhada por um caminho estreito e apertado, cheio de aflições e de sofrimento.

Um dia Lázaro morreu e os anjos o levaram para o seio de Abraão, para o paraíso; o Rico morreu e foi levado para o Sheol, foi sepultado, o Sheol era no judaísmo antigo um lugar de espera, onde o Messias libertaria todos lá presos. O Rico estava preso em tormentos e viu Lázaro junto de Abraão.

O rico que julgava estar salvo por ser descendente de Abraão apelou pela ancestralidade e tradição carnal rogando a Abraão, pois já que era alguém circuncidado na carne, sendo assim, ele achava que ainda havia esperança mesmo ali no “inferno”, por isso ele chamou Abraão de pai, e em seguida, com sua arrogância terrena ele quis dar ordens em Lázaro através de Abraão, pedindo que Lázaro molhasse ao menos a ponta do dedo em água para refrescá-lo daquele calor infernal, daquele tormento da alma.

Sabemos que esse dedo molhado nada refrescaria quando se está em um calor de chamas, mas foi uma ilustração para designar o quão terrível era o tormento do Rico, que até um "dedo molhado do mundo celestial" representava um alívio.

Mas, o Rico é refrescado pela memória por Abraão, ele lembra ao Rico que ele teve tudo o que um homem pode desejar em vida; Lázaro teve tudo o que desejamos evitar em vida como o abandono do lar, o fato de não ter moradia, a tristeza da impiedade quando não se há misericórdia, o preconceito social, pois Lázaro doente vivia excomungado das práticas sociais e religiosas, ele passava muita fome tanto que até as migalhas da mesa do Rico eram desejadas por ele, migalhas não fartam ninguém do mesmo modo que um dedo molhado não mata a sede de ninguém, a fome de Lázaro que era tanta foi saciada depois que ele morreu; a sede do rico jamais foi saciada, pois ele não teve direito nem sequer a esse dedo molhado, a fome de Lázaro foi enquanto sua penosa vida durou; a sede do Rico é eterna.

Abraão também fala sobre o abismo que os separa, que mesmo que fosse possível Lázaro tentar descer até o inferno com o dedo molhado havia um abismo profundo, um limite intransponível, na Terra era um abismo social que os separava; no outro lado da vida era um abismo espiritual, de modo que nem as luzes se misturam com as trevas, nem vice-versa.

O Rico preocupado com seus irmãos apelou ainda mais uma vez para Abraão, e de novo quer ser senhor de Lázaro, sugerindo que Abraão dê ordem a Lázaro para que esse vá avisar a seus irmãos do quão terrível é o tormento no “inferno”, se ele disse isso, supomos que seus cinco irmãos seguiam a mesma trilha pelo caminho amplo e espaçoso, através do caminho da impiedade, e ele sabia que dentro de pouco tempo receberia sua família no inferno.

Abraão responde enfatizando que na Terra os homens têm a Bíblia, ou em outras palavras Moisés e os Profetas, ou seja, a lei e os profetas e que a oportunidade de ouvir a voz de Deus já estava ao alcance deles há muito tempo.

Mas o Rico diz que se um espírito for enviado à Terra e falar aos seus cinco irmãos eles irão crer pela pregação deste espírito; mas Abraão disse se eles não ouvem Moisés e os Profetas, tampouco acreditarão que Lázaro tenha ressuscitado dentre os mortos.

Algumas pessoas acreditam que essa parábola dirige-se aos fariseus, mas eu acredito que é uma parábola dirigida a toda a Israel, mas o Rico da parábola é claramente um saduceu e não fariseu, isso porque os saduceus eram os mais poderosos líderes, os mais ricos, não que todo rico fosse saduceu, mas há outras características que apontam para um saduceu, essa seita não acreditava em espírito, anjos e na ressurreição, e essa parábola tem espírito, anjo e ressurreição, a crença dos saduceus estava alicerçada no Pentateuco e esses cinco livros de Moisés nada falam sobre uma vida após a morte, não acreditavam nas palavras dos profetas e por conseguinte não acreditavam nos espíritos, anjos e na ressurreição.

Lucas registra em Atos dos Apóstolos quando Paulo estava diante de fariseus e saduceus pontos doutrinários comuns a essa doutrina assim ( Atos 23:8) : “Porque os saduceus dizem que não há ressurreição, nem anjo, nem espírito; mas os fariseus reconhecem uma e outra coisa.”

Essa parábola tem anjos, pois são os anjos que levam Lázaro para o Seio de Abraão, tem a ressurreição dos mortos, pois Lázaro e o Rico são ressuscitados e depois cada um recebe conforme suas obras, Lázaro ressuscitou para a vida e o Rico ressuscitou para a condenação, João registrou em seu evangelho em João 5:29: “E os que fizeram o bem sairão para a ressurreição da vida; e os que fizeram o mal para a ressurreição da condenação.”

Grande foi o espanto do Rico nos tormentos que ele não acreditava e que estava testemunhando da pior forma, ele viu Abraão e ao lado dele Lázaro, aquele que na terra ele desprezava e ignorava e que para ele era como uma sombra que esmorecia à porta de sua casa, ignorando as chagas de Lázaro e a suas necessidades estampada nos olhos famintos, o seu espírito e consciência oportunista prevaleciam no “inferno”, e ele arrogando para si uma ajuda, primeiro apela para Abraão, pois já que era circuncidado e descendente de Abraão ele achava que nessa parentela podia encontrar uma salvação de seu suplício, depois tenta indiretamente dar ordens à Lázaro, fazendo-se em seu espírito senhor de Lázaro, com sua jactância terrena que prevalecia em seu espírito mesmo depois de morto, e o Rico apela até mesmo pro espiritismo, doutrina fortemente reprovada pela Bíblia, conforme vemos no trecho a seguir:

"Entre ti não se achará quem faça passar pelo fogo a seu filho ou a sua filha, nem adivinhador, nem prognosticador, nem agoureiro, nem feiticeiro; Nem encantador, nem quem consulte a um espírito adivinhador, nem mágico, nem quem consulte os mortos; Pois todo aquele que faz tal coisa é abominação ao Senhor; e por estas abominações o Senhor teu Deus os lança fora de diante de ti". (Deuteronômio 18:10-12)

Jesus disse que um espírito não tem carne e ossos (Lucas 24:39), Elifaz de Temã no livro de Jó disse que um espírito passou por ele diante de seu rosto e sussurrou se poderia algum mortal ser justo perante Deus, aí o vulto continuou a murmurar mentiras de que Deus não confia nos próprios anjos, numa perfeita alusão à rebeldia satânica, já que Satanás foi expulso dos céus, pois é claro que Deus confia nos anjos, eles são seus servos, e o espírito murmurou a Elifaz de Temã que se Deus não confia nos anjos, muito menos confiará em pessoas feitas de barro, uma alusão à Adão que veio do barro, por Elifaz ter ouvido esse espírito impuro que andava circulando pela terra, observando o que acontecia ( Jó 1:7), ele formou um juízo injusto sobre Jó e intentando ajudá-lo, o atrapalhou.

O Rico queria que Abraão, o pai da fé violasse os mandamentos para agir com parcialidade em seu favor, mandando que Lázaro aparecesse a seus irmãos saduceus para convencê-los de que o tormento é detestável, eles precisam se arrepender, pois Deus sendo reto juiz agirá com imparcialidade.

Essas sugestões vazias de um néscio são rechaçadas por Abraão que diz que eles já têm um testemunho superior do que as palavras de um espírito, eles têm a palavra do próprio Deus através de seus servos os profetas, mas sendo os saduceus descrentes nos profetas, tampouco conseguiriam também acreditar na ressurreição dos mortos que era uma outra doutrina que eles também não criam. Mas, o ponto aqui não é um ataque aos saduceus ou aos fariseus, e sim uma admoestação dos perigos das riquezas e da impiedade.

"E quando o Filho do homem vier em sua glória, e todos os santos anjos com ele, então se assentará no trono da sua glória;E todas as nações serão reunidas diante dele, e apartará uns dos outros, como o pastor aparta dos bodes as ovelhas;E porá as ovelhas à sua direita, mas os bodes à esquerda.Então dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo;Porque tive fome, e destes-me de comer; tive sede, e destes-me de beber; era estrangeiro, e hospedastes-me;Estava nu, e vestistes-me; adoeci, e visitastes-me; estive na prisão, e foste me ver.Então os justos lhe responderão, dizendo: Senhor, quando te vimos com fome, e te demos de comer? ou com sede, e te demos de beber?E quando te vimos estrangeiro, e te hospedamos? ou nu, e te vestimos?E quando te vimos enfermo, ou na prisão, e fomos ver-te?E, respondendo o Rei, lhes dirá: Em verdade vos digo que quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes.Então dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos;Porque tive fome, e não me destes de comer; tive sede, e não me destes de beber;Sendo estrangeiro, não me recolhestes; estando nu, não me vestistes; e enfermo, e na prisão, não me visitastes.Então eles também lhe responderão, dizendo: Senhor, quando te vimos com fome, ou com sede, ou estrangeiro, ou nu, ou enfermo, ou na prisão, e não te servimos?Então lhes responderá, dizendo: Em verdade vos digo que, quando a um destes pequeninos o não fizestes, não o fizestes a mim".(Mateus 25:29-46)

O Julgamento de Deus será uma sentença precisa e a mais justa possível, pois Dele mesmo é a justiça e retidão, Ele agirá com imparcialidade separando os bons dos maus, e os justos dos injustos, aqueles que têm fé ressuscitarão para a vida; os maus para a ressurreição da condenação.

É provável que o Rico da parábola fosse Caifás, mas também é provável que não fosse, mas como a parábola se dirige a todos os ricos em geral, sejam eles saduceus, fariseus, romanos, e os ricos cristãos que surgiriam posteriormente Jesus preferiu usar esse termo genérico, que só podia ser decifrado com um exame minucioso e simbólico dos elementos que formam a alegoria construída por ele, assim ele ensinou a fariseus, saduceus, o povo em geral através de uma parábola aparentemente simples, mas que está repleta de elementos simbólicos enigmáticos que exigem um estudo minucioso para a sua compreensão.

REFERÊNCIAS

Bíblia Sagrada, Almeida Revista e Corrigida. 1994.

DAHN. The Gospel of St. Luke. The Rich Man and Lazarus. Disponível em:http://ltdahn-stluke.blogspot.com/2006/11/rich-man-and-lazarus.html. Acesso em 03/11/2020.

Josephus, Flavius. The Antiquities of the Jews. Translator: William Whinston. 2009

MARSHALL,Taylor. The Rich Man and Lazarus- The Rich Man is Caiaphas the High Priest. Disponível em: https://taylormarshall.com/2008/08/rich-man-and-lazarus-rich-man-is.html. Acesso em 03/11/2020.

WINTERMUTE, O.S. “Apocalypse of Zephaniah” in OTP 498-515.