DOUTRINA

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1. INTRODUÇÃO À DOUTRINA, USOS, COSTUMES E PRÁTICAS

1 Co 10.31- 32 , 1 Co 6.20 —Tt 2.10 —

A natureza controversa do assunto em foco requer uma definição, mesmo sumária, da diferença básica entre doutrina bíblica, e costumes, usos, práticas e tradições humanas.

Doutrina, estritamente falando, é o ensino bíblico normativo, terminante, final, derivado das Sagradas Escrituras, como regra de fé e prática de vida, para a Igreja através de seus membros.

Tt 2.10 — O crente como "ornamento da doutrina”.

A doutrina bíblica, como vista na Bíblia

Sagrada, carece de expressão prática na vida do crente, e isso inclui as práticas, usos e costumes.

As doutrinas da Bíblia são santas, divinas, universais e imutáveis. Os costumes em si são sociais, humanos, regionais e temporais, porque ocorrem na esfera humana, sendo inúmeros deles gerados e influenciados pelas etnias, tradições, religião, crendice, individualismo, humanismo, estrangeirismo, fanatismo e ignorância. Bons e maus costumes

1 Co 15.3 — bons costumes”. At 13.18 — [maus] costumes.

Costume é uma forma de expressão do porte, postura e comportamento social da pessoa ou congregação, confirmando ou comprometendo a doutrina bíblica, a moral e a ética cristãs.

Os padrões de porte, postura e comportamento social do mundo são todos antibíblicos.

O mundo jamais se portará para agradar a Deus, uma vez que ele “está no malig no” (I Jo 5.19).

Igrejas há que têm um grande número de bons costumes (e às vezes maus costumes), mas pouco de doutrina bíblica.

Isto é muito perigoso para seus membros, os quais, em virtude disso, naufragam na fé com facilidade, por não terem o necessário lastro espiritual da Palavra de Deus.

A doutrina cristã como a temos na Bíblia, uma vez ensinada e vivida na prática, pela congregação, origina nela santos e bons costumes, que por sua vez confirmam a doutrina bíblica (Tt 2.10).

Disse o Dr. Don E. Demaray, grande erudito da Bíblia dos tempos modernos, conservador, autor do famoso livro Fontes do Estudo Bíblico:

“A Bíblia é a suprema autoridade em matéria de fé (isto é, de doutrina), e de prática (isto é, conduta moral, costumes, usos e práticas). A Bíblia como O Livro do Senhor, tem um duplo objetivo: conduzir o povo a Deus, pela fé, e ensinar esse mesmo povo como deve ele viver para Deus, para o próximo, e para nós mesmos.”

Na Igreja do Senhor, os costumes devem ser diferentes dos do mundo, porque a Igreja de Cristo deve ser um povo diferente, em tudo, do mundo.

Dt 7.6 — “Porque povo santo és ao Senhor teu Deus; o Senhor teu Deus te escolheu para que lhe fosses o seu povo próprio, de todos os povos que sobre a terra há.” A expressão "povo santo” significa um povo separado para posse e uso exclusivos de Deus; um povo que pertence a Deus; um povo que vive de modo diferente do mundo, e, isso inclui os costumes desse povo.

Tt 2.14 — " um povo seu especial,

zeloso de boas obras.” “Especial” eqüivale a diferente.

1 Pe 1.15 — “ sede vós também santos

em toda a vossa maneira de viver.”

Portanto, a Palavra de Deus escrita deve transformar-se na Palavra de Deus viva, dentro e fora de nós, pelo Espírito Santo, inclusive em nosso testemunho, o que inclui os costumes.

2. A IGREJA E OS COSTUMES

Na Igreja do Senhor, os costumes deverão ser diferentes, porque a Igreja do Senhor é um povo diferente, em tudo, do mundo infenso a Deus.

Ora, se a Igreja foi chamada por Deus, para deixar o mundo e pertencer a Ele, como será ela um povo diferente para Deus tendo os mesmos costumes e práticas do mundo, de onde ela saiu? Logo se vê que há muito crente enganado por aí!

Era a Igreja que devia influenciar nos padrões de vida e costumes do mundo, porque ela é “o sal da terra” e “a luz do mundo” (Mt 5.13,14), mas o que vem ocorrendo é exatamente o contrário. Tudo indica que está se cumprindo a sombria profecia de Jesus, em Mateus 13.3: “O Reino dos céus é semelhante ao fermento que uma mulher toma e introduz em três medidas de farinha, até que tudo esteja levedado” .

Um povo santo deve ter costumes bons e santos, como vemos principalmente no livro de Levítico, nos Evangelhos e nas Epístolas. O povo de Deus deve ser um povo diferente do mundo, no sentido espiritual, moral e social.

O caso da Igreja é bem diferente do de Israel, no sentido terreno:

Humanamente falando, a Igreja é um grupo social, dentro de um contexto social maior, chamado sociedade, repleto de padrões antibíblicos, onde quer que a Igreja se encontre.

Israel era um povo vivendo em sua própria e exclusiva terra. A Igreja é o povo de Deus, porém, vivendo aqui como “peregrinos e forasteiros” dentre todas as nações, a caminho da sua pátria celestial (1 Pe 2.1).

O peregrino e forasteiro vem de outro povo, de outra nação. Tudo do forasteiro é diferente: fala, costumes, porte, práticas, hábitos, etc.

Há multidões de incrédulos que a única “Bíblia” que eles lêem é a vida do crente. E esta vida do crente, quer ele saiba, quer não, é uma série diuturna de hábitos, práticas, procedimentos e costumes.

Há constantes ocasiões e situações na vida do crente, em que a melhor maneira (às vezes é a única) de falar de Cristo é através da vida, do caráter, dos atos e do porte, ao invés de falar, cantar, orar, etc.

Como é atestada a fé cristã experimentai

Perante Deus: pela fé para com Ele (Ef 2.8; Cl 2.20).

Perante O PRÓPRIO CRENTE: pelo testemunho do Espírito em seu interior (Rm 8.16).

Perante O MUNDO: pelo nosso testemunho, pelas obras praticadas (Tg 2.17,24,26).

Sabemos que a simples observação de usos e costumes na Igreja, de modo legalista, sem o lastro e a prática da doutrina bíblica, leva o crente ao farisaísmo, ao legalismo da salvação pelas obras, ao fanatismo e à falsa santidade.

Por outro lado, o conhecimento e o ensino da doutrina bíblica na igreja, sem a sua prática através da vida santa do crente, do seu testemunho cristão, dos bons costumes, da conduta irrepreensível e da honestidade, é inoperante, é infrutífero, é contraditório, é um tropeço perante o mundo.

Quatro tipos de coisas, a propósito:

1 - Há coisas que em si mesmas não são pecado, mas são inconvenientes. 1 Co 6.12 — “Nem todas as coisas me convêm.”

2 - Há coisas que em si mesmas não são pecado, mas são moldadoras, dominadoras, controladoras.

I Co 6.12 —“Não me deixarei dominar por nenhuma.”

3 - Há coisas que em si mesmas não são pecado, mas são embaraçosas. Hb 12.2 — “Deixemos todo o embaraço, e o pecado que...”

4 - Há coisas que em si mesmas não são pecado, mas dão a aparência de pecado.

1 Ts 5.2 — “Abstende-vos de toda a aparência do mal.”

Essas coisas louvam a Deus? Exaltam o Evangelho?

Se essas coisas não forem largadas a tempo, elas por fim conduzirão a diferentes formas de pecado.

Textos para consideração, tendo em vista porte, usos e costumes: Dt 2.5 — “Não haverá traje de homem na mulher.” 2 Cr 9.4 — Os bons costumes dos servos de Salomão e a boa influência que isso causou na rainha de Sabá. SI 103.1 — “Tudo o que há em mim bendiga o seu santo nome.” Mt 5.13,14,16 — “Vós sois o sal da terra.”

“Vós sois a luz do mundo.” “Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus.”

Rm 12.2 — “E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento.” 1 Co 6.20 — “Glorificai, pois, a Deus no vosso corpo, e no vosso espírito.”

1 Co 10.31 —“Ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para a glória de Deus.” 1 Co 10.32 — “ Portai-vos de modo que não deis escândalos nem aos judeus, nem aos gregos, nem à igreja de Deus.”

2 Co 1.3 — “A simplicidade que há em Cristo.”

2 Co 5.10 — “Porque todos devemos comparecer ante o tribunal de Cristo para que cada um receba segundo o que tiver feito por meio do corpo, ou bem, ou mal.”

Ef 2.10 — “Fomos criados em Cristo Jesus para as boas obras.” Ef 5.8 — “Agora sois a luz no Senhor; andai como filhos da luz.”

(Ora, a luz não se mistura. Mesmo que ela venha iluminar um monte de lixo e cenas horríveis, ela não se mistura.) Fp 1.27 — “Somente deveis portar- vos dignamente conforme o evangelho de Cristo.” (E o testemunho, no caso aqui, pelo porte cristão.)

2 Ts 3.6 — “Segundo a tradição que de nós recebeu.”

“Tradição”, aqui, é no original “paradosis”. e tem a ver com os bons costumes recebidos dos antepassados na fé. O mesmo termo aparece no sentido bom, também em 1 Co 1.2; 2 Ts 2.15; 3.6.

No sentido mau, o termo aparece em

1 Tm 2.9 — “Se ataviem em traje honesto, com pudor e modéstia.”

Hb 5.14 - Os sentidos espirituais do crente devem estar exercitados para discernirem aquilo que é bom (para o crente fazer) e aquilo que é ruim (para o crente evitar).

Tg 2.12 - Um dos aspectos do julgamento do crente perante o tribunal de Cristo é que ele será julgado pela “lei da liberdade”. Isso deve ser motivo para nossa solene e séria meditação.

Hb 10.25 - O mau costume de abandonar a nossa congregação.

1 Pe 3.1-7 - Nesta rica passagem bíblica, temos doutrina, juntamente com bons costumes.

3. ISRAEL COMO POVO DE DEUS E OS COSTUMES

Israel foi chamado por Deus, dentre as demais nações, para ser um povo diferente dos demais e melhor em qualidade, e isso incluiu os costumes.

Êx 19.6 — “E vós me sereis povo santo.

“Povo santo” significa um povo separado dos demais povos, para Deus. Um povo pertencente a Deus; um povo separado do mundo, e isso inclui os costumes desse povo.

Dt 7.6 — “Porque povo santo és ao Senhor teu Deus; o Senhor teu Deus te escolheu para que lhe fosses o seu povo próprio, de todos os povos que sobre a terra há.”

O povo de Israel, mais tarde, habitando em Canaã, por fraqueza e negligência, adotou em cheio os costumes mundanos dos povos ímpios ao seu redor e incorreu no desagrado divino. Os resultados funestos disso sobre o povo de Israel estão descritos na Bíblia.

Foi quando Israel resolveu ser “como as demais nações” que se deu mal como no caso do reino desastroso de Saul (1 Sm 8.20). Mas a lição amarga do caso de Saul parece que pouco lhes serviu, porque logo adiante tiveram problemas sérios ao se misturarem com os povos ímpios ao seu redor. 2 Rs 17.8 ARA — “E andaram nos estatutos das nações que o Senhor lançara fora de diante dos filhos de Israel, e nos costumes estabelecidos pelos reis de Israel.”

Os profetas de Israel, como mensageiros de Deus, protestaram em vão contra esse tipo de desobediência de Israel.

Is 3.16-24 — Aqui vemos as mulheres de Israel, nos tempos do pré-cativeiro, adotando em cheio os costumes e usos das nações ímpias vizinhas, inclusive costumes do culto idólatra dessas nações pagãs (como é o caso do cinto do v. 24).

V 16 — “diz ainda mais o Senhor”; cf v. 16-24. Como é que alguém vem dizer que Deus e a Igreja nada têm com costumes??? Só um desviado!

Sf 1.8 — “Vestiduras estranhas”, aqui, são vestes mundanas, pagãs.

Em At 13.18 está declarado que Deus “suportou” os maus costumes de Israel, no deserto, por espaço de quase quarenta anos.

Isso significa costumes ímpios que eles aprenderam quando viveram no Egito, e certamente outros que surgiram durante a jornada no deserto.

As propostas de Satanós a Israel no passado.

São as mesmas propostas que ele continua fazendo hoje à Igreja.

Quando Moisés insistiu com Faraó para que este deixasse o povo de Israel sair do

Egito para Canaã, a proposta satânica através de Faraó foi: “Sacrificai ao vosso Deus nesta terra” (Ex 8.25).

Isto significava servir a Deus juntamente com o mundo. Isto é, Israel seria um só povo com os egípcios, tendo os mesmos costumes.

O ecumenismo parte deste princípio maligno.

Moisés insistiu mais uma vez para que o seu povo partisse.

Agora Faraó deixou, mas com uma condição: “Somente que indo, não vades longe” (Êx 8.28).

Isto significa separação incompleta do mundo; separação parcial.

Jesus ensinava a doutrina bíblica, e observava os bons costumes.

Mt 7.28 — “E aconteceu que concluindo Jesus este discurso, a multidão se admirou da sua doutrina.”

Jesus observava os bons costumes.

Lc. 4.16 — O costume de freqüentar a casa de Deus.

Lc. 2.42 — O costume de observar as festas sagradas.

Lc 2.39 — O costume de orar em reclusão.

Mc 10.1 — O costume ou hábito de ensinar o povo.

O sinal da traição de Judas

Mt 26.48 — “E o que o traía tinha-lhes dado um sinal, dizendo: O que eu beijar é esse; prendei-O.”

Jesus vestia-se tão bem que Judas, para traí-lo, teve que dar um sinal, que não foi sobre roupa!

Pelo seu traje, você quer ser identificado como um servo (ou serva) de Deus, ou como um incrédulo, isto é, uma pessoa que não conhece a Deus?

4. CONCLUSÃO SOBRE COSTUMES, USOS E PRÁTICAS NA IGREJA

Chamar costumes e usos, de doutrina

É um erro com conseqüências nocivas sob todos os ângulos.

Assim fizeram os fariseus nos dias de

Cristo, os quais ensinavam “doutrinas” que eram preceitos de homens (Mt 15.9).

Legalismo na igreja

É sabido por todos nós que em muitas igrejas nossas têm havido distorções, exageros e extravagâncias, principalmente na área dos costumes, com abuso, intolerância e inversão de valores, por parte de quem, por não ter o devido embasamento bíblico e ministerial, criou por si mesmo um sistema de costumes, chamando-os de “doutrina”, quando na realidade, pelo modo como esses obreiros os aplicam, é uma transformação de costume em “lei”.

Bons costumes e práticas devem ser fruto da nossa santificação a Deus, e não meio de santificação.

A salvação. Muita gente pensa que a salvação consiste em Deus manter numa balança, nossas obras boas e más. Se as boas obras pesarem mais, estaremos salvos; se pesarem menos, estaremos perdidos.

Isto é total engano. Deus repele terminantemente tal coisa.

A salvação não é pelas obras; é pela fé em Deus somente (Ef 2.8; Is 64.6)

Ensinar bons costumes na igreja, sem antes ensinar (mesmo) a doutrina bíblica na unção do Espírito Santo, leva o crente ao farisaísmo; ao legalismo da salvação pelas obras; ao fanatismo religioso; à mera religiosidade; à falsa santidade.

Tal pessoa e tal igreja julgam-se mais santas do que os outros, por causa dos seus costumes, práticas e usos, chegando mesmo a pensar e dizer “sou mais santo do que tu, porque faço isto e aquilo, ou porque deixo de fazer isto e aquilo”.

É o caso de se ler Mt 7.3-5; Lc 20.46a.

Hipocrisia na igreja

Por outro lado, ensinar a doutrina bíblica na igreja, e abolir ou ignorar os bons e santos costumes que adornam a referida doutrina, é contradição, é paradoxo, pois a doutrina sem a sua prática através da vida santa do crente, do seu testemunho, dos bons costumes e práticas, da conduta irrepreensível, da honestidade, é uma contradição, é conflitante, é mistificação. Seria uma salvação anômala, sem renúncia, sem testemunho prático; enfim, um tropeço perante o mundo.

Redenção 10 de setembro de 2020

Pr. Raimundo Nonato de Castro