E SE DEUS NÃO EXISTIR?

Dostoiévski, filósofo e escritor russo do século XIX , disse certa vez que: "Se Deus não existe, tudo era permitido." Com essa célebre frase ele deixou muitos céticos e até mesmo religiosos com uma digamos pulga atrás da orelha. Como assim, se Deus não existe tudo é permitido? Bem, essa é uma discussão bem filosófica e teológica, ambas no qual não domino nem 5%, mas tentarei escrever o que entendi. Vejamos: Richard Dawkins, famoso biólogo americano e considerado um dos "quatro cavalheiros do ateismo, luta há anos incansavelmente para combater todas as religiões do mundo, em especial a cristã. Há vários livros e artigos dele defendendo isso. Extremamente beligerante, o referido biólogo (que não é filósofo) diz que às religiões são como nas palavras de Karl Marx, o ópio do povo, ou seja, alienação, fulga de consciências, responsabilidades e causadoras de discórdia na humanidade, por Isso, precisam ser definitivamente extirpadas da face da terra. Dawkins é declaradamente um materialista no sentido de que os seres humanos não passam de matérias e de um amontoado conjunto de células que ao morrerem acaba tudo não havendo nada pós túmulo. Com isso, recusa veementemente todo e qualquer tipo de experiência mística e transcendental com Deus, deuses ou algo do gênero. No entanto, há dois problemas em suas críticas ao mundo espiritual. A primeira é em relação a sua própria fala. Se é verdade que não passamos de células e neurônios, como acreditar nessa sua afirmação? Ele não poderia estar sendo enganado pelos seus sentidos cognitivos (mente, memória, olhos, ouvidos)? A segunda é no que tange a justificação e pratica de certos princípios e valores que não podem ser provados em laboratórios científicos. Exemplos: A ética, paz, solidariedade, o amor, perdão, etc. Como prova-los? Qual seria então a diferença entre a vida e o legado de Madre Tereza de Calcutá que mesmo sendo imperfeita dedicou quase toda ela em prol dos mais pobres e vulneráveis, com as vidas e "legados" de Adolf Hitler, Mussolini e Stalin, genocidas implacáveis? Oras, por que ela deveria se sacrificar se ao final, a semelhança deles, irá morrer, desaparecer e a ninguém mais prestará contas de seus atos? O pragmatismo poderia explicar isso? Poderia, mas ainda assim seria uma explicação frágil. Dizem que Steve Jobes ao contemplar a própria morte, confessou que sentia como "é estranho pensar que você acumulou toda experiência...e ela simplesmente acaba. Sendo assim, quero acreditar que alguma coisa sobrevive, que talvez nossa consciência permaneça." Para ele, seria desleal a vida ser apenas um liga e desliga. Friedrich Nietzsche, outro conhecido filósofo do século XIX, e também um ferrenho crítico das religiões, dizia que "se você afirma não crer em Deus, mas acredita que todos tem direitos e também crê na necessidade de cuidar dos mais fracos e pobres, então continua apegado a crenças cristãs quer reconheça ou não. Afinal (palavras minhas agora) se não passamos de células, por que uma pessoa não poderia ser egoísta, corrupta, trapaceira ou uma espécie de Hitler ou Stalin ? Nesse caso, o "darwinismo social" faria todo sentido. Alguém poderia perguntar: "Mas oras, quem disse que para ser uma boa pessoa é preciso acreditar em Deus?" É verdade. É perfeitamente possível ser solidário, amoroso, pacífico, etc, sem crer nele. A questão é: Se ele não existe sendo nada mais e nada menos que uma invenção humana, e não houver nada para além do plano material, poderíamos exigir uns dos outros atitudes altruístas, justas e defender, por exemplo, os direitos humanos para um monte de células sem propósitos e sentido?

Danilo D
Enviado por Danilo D em 31/10/2020
Reeditado em 31/10/2020
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