O QUE ACONTECE DEPOIS DA MORTE DOS ÍMPIOS?
O debate sobre o destino final dos ímpios depois da morte tem sido assunto de muita discussão por diversos líderes religiosos. A polêmica gira em torno das diferentes visões sobre a eternidade, e o inferno, mas nem sempre essas ideias são extraídas da Bíblia. É o caso, por exemplo, de muitos pregadores famosos e desconhecidos, afirmando que: “um Deus amoroso jamais sentenciaria seres humanos para o sofrimento eterno – no inferno”. É muito comum “pregadores contemporâneos” tolerantes as heresias, negar a existência da eternidade dos ímpios e do inferno. O objetivo de tal mensagem é sempre o mesmo, negar a autoridade da Escritura e produzir o “bem-estar” dos ouvintes. Sem nenhum amparo bíblico, tais pregadores ensinam que um Deus de amor seria incapaz de condenar alguém eternamente no inferno. Afirmam ainda que, um Deus que lança o homem no inferno, não seria um Deus que ama, mas, sim “um Deus sádico”. Para estes o inferno não é real, e não passa de uma figura mitológica, porém a Bíblia diz que o inferno é um lugar real, de sofrimento eterno onde o fogo jamais se apagará e os vermes devoradores não morrem.
Os ímpios são pessoas deliberadamente e persistentemente perversas - a mentalidade deles é contrária aos padrões de fé e moral estabelecidos por Deus nas Escrituras. Mas, afinal, depois da morte os ímpios? Eles serão absolvidos; aniquilados; ou condenados eternamente no inferno?
Nosso propósito é responder a essa pergunta respeitando as regras de hermenêutica na interpretação das Escrituras – não querendo impor nossas ideias [eisegese] ao texto bíblico, mas receber e respeitar nossas ideais [exegese] da Bíblia. Nas próximas linhas, ainda que de maneira resumida, abordaremos apenas três visões sobre o que acontece com a alma do ímpio depois da morte.
A Doutrina do Purgatório.
De acordo com a Igreja Católica, os que morrem na graça e na amizade de Deus, mas não estão completamente purificados embora tenham garantida sua salvação eterna, passam, após sua morte, por uma purificação, a fim de obter a santidade necessária para entrar na alegria do Céu. A Igreja Católica, denomina [purgatório] esta purificação final dos eleitos, que é completamente distinta do castigo dos condenados. Catecismo da Igreja Católica, pág. 290, Edições Loyola, Reimpressão de 2004.
De acordo com esse pensamento os sofrimentos do purgatório são dados por Deus em substituição à punição dos pecados que as almas deveriam ter recebido nesta vida, mas não receberam. Segundo a Igreja Católica Romana, existe um estado intermediário chamado Purgatório, para o qual vão os “cristãos” que não são tão “bons” que possa ir direto ao Céu, nem tão maus que possam ir para o inferno. Ainda de acordo com essa doutrina, qualquer pessoa que morra com pecado mortal vai diretamente para o inferno depois da morte. O pecado venal, entretanto, pode ser eliminado pelas torturas do purgatório.
Refutação Bíblica.
A Bíblia não ensina em nenhum lugar sobre a Doutrina do Purgatório. Por esse motivo, a fé cristã protestante e denominada evangélica discorda completamente da necessidade de uma purificação das almas salvas, além daquilo que Deus já estabeleceu nas Escrituras. Essa ideia humanista, de que as almas “que já foram salvas” precisam passar ainda, por uma espécie de purificação extra a fim de serem santos o suficiente para entrarem no Céu, não foi tirada da Bíblia. A Igreja Católica Romana retirou essa tese das páginas de um dos livros apócrifos. Trata-se de (2 Macabeus 12.42-45). É digno de nota, lembrar que os livros apócrifos não fazem parte das Escrituras canônicas, não foram inspirados por Deus, não devem ser considerados como fonte de doutrina cheia de autoridade igual à Escritura, nem tampouco devem ser aceitos como regra de fé e prática de vida cristã. No livro de Atos, capítulo 26, versículos 17 e 18, o apóstolo Paulo, ouviu do próprio Senhor Jesus as seguintes palavras: “Irei livrar-te deste povo [os judeus] e dos gentios para os quais te envio, para lhes abrir os olhos e os converteres das trevas para a luz, e do poder de Satanás para Deus, a fim de que recebam o perdão dos pecados e herança entre os que são SANTIFICADOS PELA FÉ em mim” [JESUS]. Não obstante o testemunho inerrante e infalível da Bíblia, a crença Católica Romana contra-argumenta a passagem acima dizendo que é Jesus que santifica o salvo, mas gradativamente, parte aqui na terra, e, o restante no Purgatório.
De fato, todo cristão que crê na Bíblia, não pode negar que a santificação, como um processo, é eminentemente progressiva; mesmo que, muitas vezes, a sua trajetória seja lenta, ela está sempre se desenvolvendo, enfrentando em sua caminhada um combate que traz consigo necessariamente, a ideia de graus de santidade nos crentes. Todavia, isso não significa que existem pessoas mais regeneradas, justificadas, ou perdoadas do que outras. Conforme as Sagradas Escrituras, a regeneração, a justificação e o perdão do indivíduo ocorrem uma única vez, definitiva e completamente em Cristo. Além disso, a Bíblia ensina santificação enquanto estivermos vivos, não depois de mortos (Rm 6.19; 15.16; 1Co 1.2; 6.11).
Quanto ao ensino do purgatório sobre o pecado, a Bíblia ensina de maneira muito clara que todo pecado será perdoado por Jesus Cristo, exceto um: “a blasfêmia contra o Espírito Santo” (Mt 12.31,32; Mc 3.29). A Bíblia refuta qualquer ideia de pecado venial, todos os pecados são mortais porque todos os pecadores são merecedores do inferno, todavia Cristo por meio de sua graça e infinita misericórdia irá perdoar todos os pecados daqueles que se arrependerem e confiarem nele.
“Os corpos dos homens, depois da morte, convertem-se em pó e vêm a corrupção; mas as suas almas (que nem morrem nem dormem), tendo uma substância imortal, voltam imediatamente para Deus que as deu. As almas dos justos, sendo então aperfeiçoadas na santidade, são recebidas no mais alto dos céus onde vêm a face de Deus em luz e glória, esperando a plena redenção dos seus corpos; e as almas dos ímpios são lançadas no inferno, onde ficarão, em tormentos e em trevas espessas, reservadas para o juízo do grande dia final. Além destes dois lugares destinados às almas separadas de seus respectivos corpos as Escrituras não reconhecem nenhum outro lugar”. [Confissão de Fé de Westminster - 33.1].
O Aniquilacionismo.
O Aniquilacionismo é uma crença anti-bíblica. Segundo os adeptos desse pensamento aqueles que vão para o inferno não sofrerão o castigo eterno, mas um dia deixarão de existir. Tanto os Adventistas do Sétimo Dia, como as Testemunhas de Jeová ensinam a aniquilação final dos ímpios, negam que estes irão sofrer eternamente e que não existe um lugar de tormento eterno – chamado inferno. Diante de tal doutrina, a pergunta que nos cabe é a seguinte: O Aniquilacionismo é Bíblico? As almas dos ímpios sofrerão eternamente, ou chegará um dia que serão aniquilados? Segundo aqueles que defendem essa visão – sim!
As pessoas que ensinam o Aniquilacionismo, afirmam que todos os perdidos condenados ao inferno, em algum momento (não se sabe quando), após terem pago a pena por seus pecados, serão completamente exterminados [extintos]. Com objetivo de sustentar essa visão os adeptos do Aniquilacionismo apresentam seus argumentos, dentre os quais iremos destacar apenas os principais.
O Aniquilacionismo em seus desdobramentos (1.1)
Em primeiro lugar, dizem que o fogo do inferno mencionado na Bíblia é apenas simbólico, e não literal. Afirmam também que o propósito do fogo é consumir e (exterminar), e assim será no lago que arde com fogo e enxofre onde os ímpios serão lançados (Ap 19.20; 20.10,14,15; 21.8). Dessa maneira, segundo os aniquilacionistas, os ímpios serão completamente queimados e deixarão de existir.
Refutação Bíblica.
A imagem do fogo mencionado na Bíblia em relação ao inferno, refere-se à dor incomparável, castigo e sofrimento eterno dos ímpios. O fogo do inferno fala de grande angústia, não de extinção. Um exemplo muito claro disso, encontra-se na parábola do rico e o Lázaro, onde o próprio Senhor Jesus descreve o inferno como um lugar de “muito sofrimento em meio as chamas” (Lc 16.24), envolvendo estar literalmente em “terrível tormento” (Lc 16.28).
O Aniquilacionismo em seus desdobramentos (1.2)
Em segundo lugar, os aniquilacionistas entendem que as palavras bíblicas “perecer e destruição” possuem um sentido estritamente literal (Jo 3.16; 2Ts 1.9).
Refutação Bíblica.
Os textos da Bíblia que falam sobre perecer e destruição, não se referem em nenhum momento a extinção das almas dos perdidos, mas de uma eterna existência miserável, arruinada, e separada de Deus. Na segunda epístola de Paulo aos Tessalonicenses (1.8), o apóstolo fala que “Deus punirá todos aqueles que não o conhecem e os que não são submissos ao Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo”. No livro do profeta Daniel, está escrito: “Multidões e multidões que dormem no pó da terra ressuscitarão, uns para vida eterna, outros para vergonha e desprezo eterno” (12.2). Os ímpios serão ressuscitados e estarão “eternamente afastados da presença de Deus”. Cristo disse que os perdidos ressuscitarão “para condenação” (Jo 5.2,29), onde “haverá pranto e ranger de dentes” (Mt 22.13). Tais castigos só podem ocorrer em corpos vivos.
O Aniquilacionismo em seus desdobramentos (1.3)
Em terceiro lugar, o significado da palavra “eterno” relacionada ao inferno. Os aquilacionistas, entendem que seria algo contra a justiça de Deus castigar pessoas no inferno eternamente.
Refutação Bíblica.
Em (Mt 25.46), Jesus fala que “os bodes – expressão usada para se referir aos [ímpios], irão para o castigo eterno, porém as ovelhas, ou seja, os [justos], para a vida eterna. Uma breve análise desse texto, nos permite observar que a palavra grega αἰώνιος aiônios, “eterno”, significa: interminável, sem fim, para nunca cessar. Agostinho, em A Cidade de Deus, 1001-2 (21.23), escreveu: “Visto que ambos destinos são ditos ser eternos, segue-se necessariamente que ambos devem ser tomados ou como um lugar de longa duração mais finito, ou ambos como um lugar sem fim e perpétuo. As frases [sofrimento eterno] e [vida eterna], são paralelas e seria um absurdo usá-las numa e mesma sentença para significar: ‘Vida eterna dos [justos] será infinita, enquanto sofrimento eterno dos [ímpios] terá um fim’. Por conseguinte, porque a vida eterna dos santos será sem fim, o sofrimento eterno dos ímpios também.
Com isso, entendemos que tanto a penalidade dos ímpios no inferno, como o gozo dos justos no Céu são infindáveis. Se os ímpios fossem realmente extintos, então, a justiça de Deus não seria completa. Eles não receberiam o castigo que merecem, pela culpa do pecado e por terem se atrevido a afrontar Deus e desobedecê-lo. Se não há condenação eterna para os ímpios, então que motivação haveria neles para se arrependerem de seus pecados, reconhecer o sacrifício de Cristo, abster-se do mundo, dos prazeres da carne, e negar-se a si mesmo, se eles fossem simplesmente exterminados depois da morte, e não castigados eternamente? Se isso fosse verdade, então por que no Novo Testamento, Jesus advertiu tantas vezes sobre o inferno com um lugar de tormento eterno? Jesus não advertiu em nenhum lugar da Escritura, sobre a aniquilação dos perdidos que recusam o Seu chamado. A verdade é que à luz da Bíblia e da História da Igreja como registrada nas Confissões, a posição do cristianismo tem sido de que os ímpios sofrerão eternamente no inferno. A morte não é o fim da existência do ser, mas a ponte para a eternidade. Todos os seres humanos não-salvos de maneira nenhuma serão exterminados, mas sofrerão eternamente (Ap 20.14,15).
O ensino da Bíblia sobre o Inferno.
Apesar dos esforços dos universalistas que acreditam que no fim das contas, Deus salvará todos os seres humanos, como no caso dos adeptos da doutrina do Purgatório, e do Aniquilacionismo, a Bíblia não ensina isso em lugar algum. O que a Bíblia ensina é que só escaparão de ir para o inferno aqueles que creram em Jesus Cristo como único e suficiente Salvador, o Filho de Deus que veio ao mundo morrer por nossos pecados. Nem mesmo aqueles que nunca ouviram falar de Cristo irão escapar do inferno eterno, pois não há pessoas inocentes diante de Deus, conforme a Bíblia ensina em Romanos, capítulos 1 e 2.
Concordo com Vincent Cheung, quando ele diz que o inferno é um lugar sobre o qual Deus adverte na Escritura, e sobre o qual Cristo pregou em Seu ministério na terra; portanto, é certo e bom para os crentes pregar sobre o inferno, e pregar sobre a única forma de evita-lo, que é a fé em Jesus Cristo, soberanamente concedida por Deus àqueles que Ele escolheu para salvação.
O inferno é um lugar real.
A palavra inferno do grego γέεννα geenna, é traduzida do hebraico gê hinnom, significando literalmente “vale de Hinnom” (um nome próprio); localizado ao sul da antiga cidade de Jerusalém que por diversas vezes serviu de palco para sacrifícios infantis, onde crianças eram queimadas vivas em sacrifício ao deus moloque. Mais tarde Josias profanou aquele lugar de abominações repugnantes (2Rs 23.10-14) que desde então tornou-se depósito de lixo, onde ardia um fogo incessante queimando as imundices, como carcaças de animais, corpos de criminosos e todo lixo da cidade. O “vale de Hinnom” onde o lixo sempre era incinerado é apenas uma metáfora do inferno espiritual, local de punição para os ímpios de todas as épocas onde seu fogo ardente nunca se apaga, como declara o profeta Isaías, capítulo 66, versículo 24. O Salmos 116, versículo 3, fala do inferno ardente, como um lugar de profunda angústia e tristeza. É para este lugar de suplício horrível que vão as almas dos ímpios depois da morte.
“Ouvistes que foi dito aos antigos: Não matarás; mas quem assassinar estará sujeito a juízo. Eu, porém, vos digo que qualquer que se irar contra se irmão estará sujeito a juízo. Também qualquer que disser a seu irmão: Racá, será levado ao tribunal. E qualquer que o chamar de idiota estará sujeito ao fogo do inferno” (Mt 5.21,22). “Ai de vós, doutores da Lei e fariseus, hipócritas! Porque viajais por mares e terras para fazer de alguém um prosélito. No entanto, uma vez convertido, o tornais duas vezes mais filho do inferno do que vós. Cobras venenosas, ninho de víboras! Como escapareis da condenação do inferno? (Mt 23.15,33). Negar a existência do inferno, como um lugar real de condenação dos perdidos, é o mesmo que rejeitar a autoridade do ensino de Jesus.
O inferno é um lugar de consciência.
“Se a tua mão te escandalizar, corta-a. Melhor é entrares na vida aleijado do que, tendo as duas mãos, ires para o inferno, para o fogo que nunca se apaga. E, se o teu pé de escandalizar, corta-o. Melhor é entrares na Vida aleijado do que, tendo dois pés, seres lançado no inferno. E, se o teu olho te levar a pecar, arranca-o. Melhor é entrares no Reino de Deus com um só olho do que, tendo dois olhos, seres lançado no fogo do inferno” (Mc 9.43,45,47). Note que as expressões de Jesus “melhor é isso do que aquilo”, revela que aqueles que vão para o inferno estão conscientes de suas escolhas, pois poderiam ter escolhido não escandalizar, ou seja [pecar] e entrar no Reino de Deus, mas preferiram ser atormentados no fogo (Mc 9.49).
Outro caso semelhante, de castigo consciente no inferno, é a parábola do rico e o Lázaro. “No inferno, estando em tormentos, ergueu os olhos e viu ao longe a Abraão e Lázaro ao seu lado. Diante disso suplicou: Pai, então eu te imploro que mandes Lázaro à casa de meu pai, pois tenho cinco irmãos. Permite que ele os avise, a fim de que eles também não venham para este terrível lugar de tormento” (Lc 16.23,27,28).
O inferno é um lugar de sofrimento eterno.
O texto bíblico mais claro para expressar a doutrina do inferno como sendo um lugar de sofrimento eterno, é sem dúvidas, Mateus 25.46: “Sendo assim, estes [os ímpios] irão para o sofrimento eterno, porém os justos, para a vida eterna”. Além deste versículo, Jesus fala repetidas vezes que os perdidos serão atormentados eternamente no inferno. “Naquele lugar, [no inferno], os teus vermes devoradores não morrem, e as chamas nunca se apagam” (Mc 9.48). O fogo necessita de três fatores: combustível, comburente e calor. Quando o fogo consome o material para combustão, ele desaparece [apaga]. Contudo, Jesus asseverou que as chamas do inferno nunca desaparecerão, porque nunca faltará material [humano] para combustão. “E lançarão os maus na fornalha ardente; e ali haverá grande choro e ranger de dentes” (Mt 13.50). O choro κλαυθμός klauthmos, aqui nessa passagem indica lamentação – tristeza amarga que surge do sentimento de total desesperança, geralmente acompanhados por gritos, provocados por dor emocional (psicológica) incontrolável. O livro do Apocalipse, revela o terrível cálice da ira de Deus que será derramado sobre os ímpios, eles serão atormentados com “enxofre incandescente” diante dos santos anjos do Cordeiro, dia e noite sem cessar (Ap 14.9-11).
Robert Peterson resume o assunto quando ele diz que as imagens do inferno “chocam nossas sensibilidades”. Elas apresentam um destino envolvendo absoluta ruína e perda, eterna ira de Deus (castigo), indizível aflição e dor (pranto e ranger de dentes), terrível sofrimento (fogo), e rejeição por Deus e exclusão de Sua bendita presença (trevas e separação).
O argumento emocional daqueles veem o amor de Deus como algo que elimina a possibilidade de seus entes queridos e amigos serem condenados eternamente no inferno, estão ignorando a justiça de Deus e o fato fundamental de que Ele “não tem por inocente o culpado”.
JESUS FAZ A DIFERENÇA