A MORTE DE MOISÉS E A SOBREVIVÊNCIA DA ALMA

“Morrerás sobre esta montanha em que vais subir, e serás reunido aos teus, como o teu irmão Aarão morreu sobre o monte Hor, e foi reunido aos seus.” (Deuteronômio 32:50)*

Na passagem bíblica em tela, relativa à morte de Moisés no Monte Nebo, encontra-se explícita a crença do grande legislador hebreu na imortalidade da alma e na sua consciência no mundo espiritual.

As palavras de Deus à Moisés: “serás reunido aos teus”, significam que ele deveria se reunir à comunidade dos hebreus e aos parentes que morreram antes dele e que esperavam reencontra-lo no mundo espiritual. Desse modo, a frase propõe uma reunião especifica, guardando nas entrelinhas a esperança e a consolação de um futuro reencontro entre seres conscientes e saudosos.

Alguns podem alegar, que para muitas sociedades antigas e também remanescentes atuais, os cemitérios sempre foram solos sagrados de seus antepassados e que essas pessoas até hoje fazem questão de serem enterrados no mesmo terreno em que estão os despojos de seus ancestrais. Esse argumento na visão de um materialista ou mortalista [1], até poderia explicar a passagem acima. Todavia, é preciso lembrar que o texto não se refere a algum cemitério hebreu, em que Moisés poderia ter sido enterrado junto dos seus, pois os hebreus estavam errantes no seu caminho para Canaã [2]. Além do mais, o transpasse ocorreu num monte, próximo das planícies moabitas de onde Moisés vislumbrou a terra prometida sem poder entrar nela. Por isso, a leitura de apenas uma descida à sepultura dos ancestrais não encontra respaldo no texto.

Assim sendo, essa passagem Deuteronômica fica ininteligível, quando não utilizamos a chave interpretativa da imortalidade da alma. Entretanto, sob o viés imortalista tudo se explica, e podemos utilizar como referencial mais abalizado sobre essa ideia a opinião do próprio Anjo do Senhor.

Quando Moisés no período inicial de sua missão, foi informado pelo mensageiro de Deus na sarça ardente que seria o libertador dos hebreus da escravidão egípcia [3], ouviu a seguinte frase: “Eu sou o Deus de teus pais, o Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó”. O Anjo não disse ‘Eu Fui’ ou ‘o Deus que Abraão adorou enquanto vivia’, mas, asseverou apenas: “Eu Sou”. Em outras palavras, o Senhor continuava sendo o Deus dos três patriarcas, que permaneciam vivos e conscientes no mundo espiritual. O Eterno não é Deus de mortos mais de vivos [4].

A Lei de afinidade é universal, e os espíritos desencarnados como os encarnados geralmente procuram aqueles com quem mantêm relações de amizade ou vínculos culturais.

Por isso, séculos mais tarde, durante o fenômeno da transfiguração o espírito de Moisés ao lado de Elias apareceu diante de Jesus. Sancionando definitivamente a continuidade da vida no mundo espiritual e a comunicação entre esses dois mundos [5].

Na pergunta 160 de “O Livro dos Espíritos” [6] encontramos o seguinte questionamento de Allan Kardec aos espíritos superiores:“O Espírito reencontra imediatamente aqueles que ele conheceu sobre a Terra e que morreram antes dele?” - E a espiritualidade respondeu: “Sim, segundo a afeição que lhes tinha e a que tinham por ele. Frequentemente, eles o vêm receber em sua volta ao mundo dos Espíritos, e ajudam a libertá-lo das faixas da matéria; reencontra também, a muitos que havia perdido de vista em sua permanência sobre a terra. Vê aqueles que estão na erraticidade, aqueles que estão encarnados, e os vai visitar.”

As afinidades regem as relações humanas nos dois planos da vida. Harmonizando as três revelações de Deus: O Judaísmo, o Cristianismo e o Espiritismo

* Bíblia Sagrada – Tradução dos originais mediante a versão dos monges de Maredsous (Bélgica) pelo Centro Bíblico Católico 42ª Edição. Editora AVE MARIA 1982

[1] Religiosos que acreditam que a alma morre junto com o corpo.

[2] Números cap. 14

[3] Êxodo 3:6

[4] Lucas 20: 37

[5] Ver o nosso artigo: “Jesus conversou com o espírito de Moisés”.

[6] Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos; tradução de Salvador Gentile, revisão de Elias Barbosa. Araras, SP, IDE, 172ª edição, 2007.

.