Combate ao suicídio
Padre Geovane Saraiva*
Alegoria maior, a de São Francisco de Assis, ao desmontar do fogoso cavalo do orgulho e da autossuficiência, querendo ser a menor de todas as criaturas, foi chamar a atenção para o valor indizível da vida como um todo. Com seu espírito aberto ao mistério do absoluto, ele quer fertilizar o deserto interior da humanidade, falando-nos, ao coração, da vida como dom e graça, como condição, em última palavra, para participarmos da fraternidade universal, com todos os que buscam o misterioso sonho da vida sem ocaso. À medida que a pessoa humana entende que é necessário palmilhar, com mais elevada disposição, o seu percurso natural, interiormente, cresce e se realiza como irmão entre irmãos.
O dia de combate ao suicídio, 10 de setembro, nos ajuda a pensar numa reflexão solidária neste "setembro amarelo", a partir das pessoas que sofrem e que carregam consigo uma enorme angústia, aquela precisamente de sair de circulação, de suprimir e de se desfazer da própria vida. Não é fácil para muitos superarem a dor, nas suas contingências de seres humanos: ânsia, ansiedade, aflição, tristeza. O que fazer quando pessoas pensam em tomar medidas drásticas, no que diz respeito à própria vida, quando planejam sair de circulação?
Como surgiu o setembro amarelo? Foi em 1994, quando Mike Emme, um jovem de 17 anos, residindo com seus pais em Westminster, cidade no Colorado, nos Estados Unidos, caiu na sua própria ruína, dentro de seu Ford Mustang 1968. O veículo reformado e pintado de amarelo por Mike, segundo seus amigos, era seu principal passatempo. Daí a inciativa, por ocasião da homenagem fúnebre ao muchacho, seus pais e amigos distribuírem cartões amarrados em fitas amarelas, com frases de apoio às pessoas que estivessem enfrentando tribulação, desgosto e aflições.
Na estrada do suicídio, diversas são as circunstâncias de ventos e forças contrárias. Como encontrar energias para atravessar essas marés e tempestades inerentes à própria existência? Hoje é muito comum o suicídio, mesmo dentro da Igreja Católica. Há dois meses um colega ligou para mim, a fim de informar-me que um sacerdote se suicidou com chumbinho, aquele veneno de rato. Na estrada da vida, dom de Deus que se revela no Livro Sagrado e na Eucaristia, o que nos falta? Que a sede e a fome que as pessoas sentem de Deus, no seu projeto de amor, sejam um desejo de beber da água verdadeira e do alimento que não se extingue, realização do sonho do Pai, concreto em Jesus de Nazaré, seu Filho.
Nossa missão, decorrente do batismo, é para que sejamos pessoas marcadas pela graça de Deus, no anúncio e no testemunho, com a tarefa de transformar a realidade, marcada pelo pecado e por todo tipo de contradição, no dever de fermentá-la e transformá-la numa nova civilização. A realidade do suicídio, em tempos de pandemia, está mais presente no nosso mundo, exigindo, de nós cristãos, encontrar meios para enfrentar o fardo, ou a carga, desse desafio.
É também dever solidário de cada cristão, diante da problemática do mundo hodierno, em suas dores e angústias de toda natureza, pedir indulgência, clemência e complacência. Pode-se pedir sábia compaixão, de comungar sempre mais com a exigente missão, de apresentar concretos sinais de solidária esperança, com a vida acima de tudo. Assim seja!
*Pároco de Santo Afonso, blogueiro, escritor e integrante da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza (AMLEF).