Fé Antifragil e a Covid-19

"Sabendo que a prova da vossa fé opera a paciência." - Tiago 1.3

Esse texto antecipa o conceito que Taleb chamou de "antifragilidade", ou seja, a noção de que algumas coisas, como a verdadeira fé, se beneficiam de algum grau de volatilidade, aleatoriedade, desordem, risco, imprevisibilidade e incerteza. Algo frágil se quebra quando sofre pressão, mas a verdadeira fé fica mais forte - é o que significa "paciência" nesse texto: o termo, no grego, vem de hupomoné, que significa resistência, firmeza, perseverança.

Antifragilidade não é o mesmo que robustez. Uma fé antifrágil é aquela que não apenas permanece e suporta as adversidades, mas que se fortalece com as adversidades. Ela busca a dificuldade, a luta, a batalha. Quando vem uma doença, a fé frágil racha e se quebra. A fé robusta resiste e suporta o sofrimento. A fé antifrágil, a fé bíblica, por sua vez, reage à doença, batalha contra ela em oração, se torna mais ativa pela tribulação: "E a oração da fé salvará o doente, e o Senhor o levantará; e, se houver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados" (Tg 5.15).

Isso é diferente de simplesmente se tornar mais religioso quando acontecem dificuldades. A fé verdadeira existe antes da tribulação - porque se não existisse, a tribulação não seria prova da fé, conforme o texto acima -, se fortalece com a tentação e, depois que a dificuldade passa, permanece nesse patamar superior ao que estava antes. Aquelas pessoas que buscam a Deus quando os problemas vêm e depois se afastam quando as coisas melhoram nunca experimentaram essa fé de que a Bíblia fala.

A maneira como muitos crentes e muitas igrejas lidaram com a crise do Covid-19 é uma perfeita ilustração da necessidade de uma fé antifrágil. Muitas pessoas e organizações, religiosas ou não, simplesmente não puderam suportar as consequências sociais e econômicas da doença. Não houve avisos, o mal atingiu todo o mundo subitamente, e quem não estava minimamente preparado para uma situação dessas, seja em termos materiais, seja na estabilidade emocional, seja na fé, se viu em desespero. Nas palavras de Jäggi (2020), precisamos estar cada vez mais preparados para os eventos raros, imprevisíveis e drásticos que abalam nossos sistemas, individuais e coletivos. A questão não é estar preparado para outra pandemia: o próximo desafio global será completamente diferente e afetará a humanidade despreparada de formas nunca antes imaginadas.

Fé antifrágil, ou seja, fé que se fortalece com as tentações, é essencial para enfrentar os desafios futuros, seja em nossas vidas individuais, seja como Igreja ou comunidade mundial. Essa fé nos permite reagir positivamente às mudanças abruptas e moldar essas situações a novo favor e em direção a uma demonstração mais intensa, mais clara, mais bela, mais sábia da glória de Deus na terra.

JÄGGI, David. Short Context Analysis of Swiss Society. 2020.

MARSH, Leslie. Diachronic Identity: Intimations, Perturbations, Antifragility and Toleration. Cosmos+ Taxis, v. 6, n. 3, p. 4, 2019.