EXCOMUNGUEM-ME! EU VOU PARA O INFERNO NO LUGAR DAQUELA MENINA DE 10 ANOS
A igreja que mais condena o aborto com veemência sob o pretexto de que a vida humana é o mais importante de tudo, é por acaso aquela que coordenou a Santa Inquisição matando milhares de pessoas, inclusive queimando algumas vivas?
Peço desculpas aos bons religiosos, mas a verdade é algo da qual não consigo me desapegar nem sob o risco eminente de ir para o inferno!
Fiquei alguns dias pensando se escreveria algo sobre aquela menina de 10 anos que engravidou do tio no Estado do Espírito Santo! Por ironia do destino, justamente o "Espírito Santo". Eu não pretendia escrever, mas depois de tantas sandices que vi nas redes sociais, resolvi emitir a minha opinião e colocar a minha cabeça também na guilhotina comandada pelos senhores defensores dos bons costumes e justiceiros de plantão das redes sociais.
É bom que se analise também, além das concepções religiosas, que aquela criança corria iminente risco de morte juntamente com o feto se levassem adiante aquela gestação. Como condenar uma criança de 10 anos a ter que preservar uma gestação até as últimas consequências sem que ela tenha em nada concorrido para isso?
Para mim, o assunto não é algo novo. Novo mesmo é só o meio em que estou publicando. Em 2009, quando eu escrevi um artigo de opinião discorrendo sobre o caso de uma menina de 9 anos que estava grávida de gêmeos na cidade de Recife e que também precisou interromper a gravidez, mantive exatamente o mesmo posicionamento. Ela havia sido estuprada pelo seu padastro e um bispo da Igreja Católica disse que excomungaria a vítima, o médico e todos os parentes que concordassem com a interrupção da gravidez.
Assim como naquele caso da menina de 9 anos, eu peço novamente para que a Igreja, e quem julgar que tem poderes para tanto, que me excomunguem. E peço ainda mais ao Deus que eles acreditam que condene-me ao inferno no lugar destas meninas, uma vez que elas já foram condenadas as mais terríveis torturas, sofrimentos e julgamentos humanos aqui na Terra.
Como alguém, especialmente que se acha temente a um Deus e aos ensinamentos de Jesus Cristo, tem a ousadia de chamar uma menina de 10 de assassina por ela não conseguir aceitar em seu ventre o fruto de inúmeros estupros que começaram quando ela tinha apenas 6 aninhos de idade? Que tipo de seres vocês são? Será que se a gravidez fosse uma dádiva dos machos, haveria tanta perseguição?
Não seria o monstro que a violentou o responsável por toda essa história, portanto, não seria ele o único que deveria pagar essa conta no tribunal divino?
E antes que me atirem todas as pedras, aviso que também sou contra o aborto nos casos em que a lei brasileira não o permite. Aliás, alguns que estarão lendo esse texto já praticaram o aborto, incentivaram ou o financiaram, mas tudo longe dos nossos olhos, mas agora aparecem nas redes sociais defendendo a vida!
Algumas mulheres, inclusive amigas e ex-alunas, que terão acesso a este texto sabem na prática que eu evitei que algumas delas abortassem, hora dando opinião contrária a interrupção, hora auxiliando financeiramente com enxovais e exames médicos. O fato é que eu, sendo um ser sem nenhuma religião, jamais contribuí para um aborto até hoje. Bem ao contrário de alguns religiosos e santos que atiram-me pedras ou que a esta altura estão zombando das meninas de 9 e 10 anos que foram estupradas em suas próprias casas!
Para ser sincero, não espero nada diferente dos seres humanos. Minha empolgação com esse mundo acabou faz tempo. A verdade é que o instinto de sobrevivência tem me trazido até aqui e a mania de expor o que penso, de forma muito sincera e verdadeira, talvez seja o principal álibi que me conduzirá à condenação.
É só uma reflexão!
Ao invés das crenças, pratiquemos o amor e deixemos que cada um cuide da sua vida, sem a necessidade de julgamentos.
Ivan Lopes