Eu sempre me surpreendo e me encanto quando, ao ler os evangelhos, vejo a sagacidade, a inteligência e a sensibilidade de Cristo ao conversar com as pessoas. Um dos momentos que muito me chama a atenção nesse aspecto é a história da mulher que foi pega em adultério. É comum que nos atentemos para o modo como ele foi misericordioso para com ela, salvando-lhe de tão dolorosa morte por apedrejamento, costume daquele tempo. Entretanto, vejo misericórdia ainda mais surpreendente, por parte de nosso mestre, para com os acusadores: ele os fez enxergar seus próprios pecados.
Temos, normalmente, o estereótipo de um miserável como o de um mendigo. Alguém que perdera seus bens, sua família, sua saúde, seu trabalho e até mesmo sua dignidade. Nessas pessoas vemos evidenciado aquilo que podemos caracterizar como a verdadeira desgraça. Era em estado semelhante a esse que a mulher do texto citado se encontrava: envergonhada, perdida, humilhada e condenada à morte. Entretanto, em Apocalipse 3:17, É descrito outro tipo de desgraça, a de não conhecer a própria miséria: “Como dizes: Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta; e não sabes que és um desgraçado, e miserável, e pobre, e cego, e nu”. A ilusão da autossuficiência, de bondade, de grande santidade, e do controle sobre própria vida, que faz com que se arrogue fácil a luta contra o pecado e que se tome para si um mérito que é apenas de Cristo: o de salvar-nos. Tal é a miséria da ignorância do próprio mal.
C.S. lewis, em sua caminhada do ateísmo ao cristianismo, em sua autobiografia “surpreendido pela alegria”, descreve o início do necessário processo de autoconsciência: “Pela primeira vez examinei-me a mim mesmo com um propósito seriamente prático. E ali encontrei o que me assustou; um bestiário de luxúrias, um hospício de ambições, um canteiro de medos, um harém de ódios mimados. Meu nome era legião.” Este processo é também muito bem descrito no livro Crime e castigo, de Dostoievski. Nele (spoiler alert), o personagem principal, Raskolnikov, comete um terrível crime, mas com inteligentes argumentos busca justificá-lo. Contudo, nesse conflito entre inteligência auto justificadora e acusação da consciência, o personagem é interiormente consumido pela culpa, de modo a ficar adoecido por conta dela. O autor magistralmente nos leva a sentir junto a miséria interior do personagem ao longo de suas páginas, que dia a dia agoniza consumido por seu mal.
A sabedoria e sagacidade de Jesus no caso da mulher que seria apedrejada não serviu apenas para salvá-la, mas também para dar àqueles homens que a acusavam a oportunidade nesse caminho da consciência do próprio mal. Cada pedra que caiu de suas mãos era uma confissão: “meu pecado é como o adultério”, “eu sou ainda pior do que ela”, “eu mereço a mesma morte”, “eu deveria também estar ali”. Virando o jogo, nem aos homens, nem à mulher, Jesus deu o que lhes era merecido. Ao contrário, a eles, a ela, e a todos nós ofereceu e oferece o perdão do qual tão desesperadamente precisamos, mas nem sempre compreendemos. Redimindo-nos na cruz, pagando o preço que não podemos pagar, ele nos diz: “nem eu te condeno, vá e não peques mais”.
Temos, normalmente, o estereótipo de um miserável como o de um mendigo. Alguém que perdera seus bens, sua família, sua saúde, seu trabalho e até mesmo sua dignidade. Nessas pessoas vemos evidenciado aquilo que podemos caracterizar como a verdadeira desgraça. Era em estado semelhante a esse que a mulher do texto citado se encontrava: envergonhada, perdida, humilhada e condenada à morte. Entretanto, em Apocalipse 3:17, É descrito outro tipo de desgraça, a de não conhecer a própria miséria: “Como dizes: Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta; e não sabes que és um desgraçado, e miserável, e pobre, e cego, e nu”. A ilusão da autossuficiência, de bondade, de grande santidade, e do controle sobre própria vida, que faz com que se arrogue fácil a luta contra o pecado e que se tome para si um mérito que é apenas de Cristo: o de salvar-nos. Tal é a miséria da ignorância do próprio mal.
C.S. lewis, em sua caminhada do ateísmo ao cristianismo, em sua autobiografia “surpreendido pela alegria”, descreve o início do necessário processo de autoconsciência: “Pela primeira vez examinei-me a mim mesmo com um propósito seriamente prático. E ali encontrei o que me assustou; um bestiário de luxúrias, um hospício de ambições, um canteiro de medos, um harém de ódios mimados. Meu nome era legião.” Este processo é também muito bem descrito no livro Crime e castigo, de Dostoievski. Nele (spoiler alert), o personagem principal, Raskolnikov, comete um terrível crime, mas com inteligentes argumentos busca justificá-lo. Contudo, nesse conflito entre inteligência auto justificadora e acusação da consciência, o personagem é interiormente consumido pela culpa, de modo a ficar adoecido por conta dela. O autor magistralmente nos leva a sentir junto a miséria interior do personagem ao longo de suas páginas, que dia a dia agoniza consumido por seu mal.
A sabedoria e sagacidade de Jesus no caso da mulher que seria apedrejada não serviu apenas para salvá-la, mas também para dar àqueles homens que a acusavam a oportunidade nesse caminho da consciência do próprio mal. Cada pedra que caiu de suas mãos era uma confissão: “meu pecado é como o adultério”, “eu sou ainda pior do que ela”, “eu mereço a mesma morte”, “eu deveria também estar ali”. Virando o jogo, nem aos homens, nem à mulher, Jesus deu o que lhes era merecido. Ao contrário, a eles, a ela, e a todos nós ofereceu e oferece o perdão do qual tão desesperadamente precisamos, mas nem sempre compreendemos. Redimindo-nos na cruz, pagando o preço que não podemos pagar, ele nos diz: “nem eu te condeno, vá e não peques mais”.