Vocação. Do latim, vocare, chamado! Toda a nossa relação com Deus está diretamente ligada aos chamados que Ele tem para cada um. Todo cristão é convidado, incessantemente e por amor, a responder ao chamado de Deus, sabendo que se trata de um convite de amor, um convite à plenitude da vida. Nosso primeiro chamado é à vida, e essa vida depende inteiramente de Deus e de sua infinita bondade, que por amor, nos criou. “Então o Senhor Deus modelou o homem com a argila do solo, insuflou em suas narinas um hálito de vida e o homem se tornou um ser vivente.” (Gn 2,7). Somos parte do projeto, o ápice e centro da obra criadora. Aí está a primeira prova de amor de Deus para conosco. Ele não nos faz escravos, mas coloca em nós, pelo sopro de Seu Espírito, a marca, o signo divino. Chamando-nos à vida, Ele também nos convida à plenitude – justamente por termos em nós a marca do Espírito de Deus, somos convidados a dar testemunho com nossa vida de todo o amor que transborda do coração de Deus, assim Ele nos chama a ser cristãos: “Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-me. Pois aquele que quiser salvar a sua vida, a perderá, mas o que perder sua vida por causa de mim, a encontrará.” (Mt 16, 25b-25). Por fim, Deus nos chama a um serviço específico, de modo que toda a nossa existência possa se tornar testemunho do caminho que leva a Deus – assim, surgem as vocações específicas, ao matrimônio, à vida consagrada, ao sacerdócio – mas todas têm em comum a inteira e livre vontade de servir a Deus, pois a sede que todos temos dEle nos impulsiona a voltar para Ele.
O chamado de Deus manifesta, em última instância a nossa eleição, a forma única como Deus ama a cada um dos seus. “Antes mesmo de te modelar no ventre materno, eu te conheci; antes que saísses do seio, eu te consagrei. Eu te constituí profeta para as nações.” (Jr 1,5). É Ele quem chama, porque Ele mesmo nos concedeu tudo o que somos capazes de fazer, todos os dons provêm dEle, e da glória dEle dão testemunho. O chamado, muitas vezes gera medo, diante da imensidão de Deus e da própria vocação, nos percebemos frágeis, incapazes, limitados, como de fato somos. “Jesus, porém disse a Simão: ‘Não tenhas medo! Doravante serás pescador de homens’. Então, reconduzindo os barcos à terra e deixando tudo, eles o seguiram.” (Lc 5, 10b-11). Toda vocação brota do coração de Deus, e nos leva até a presença dEle, mas a vocação só pode se manter, dar frutos se nós PERMANECERMOS com Ele. Há uma tentação muito grande de ‘emancipar-se’ de Cristo depois que se percebe qual o chamado dEle para a nossa vida, queremos como que provar que podemos ‘dar orgulho’ a Ele. Nenhuma vocação se sustenta longe do coração de Deus, porque é de lá, que continuamente brota a força necessária para que o “SIM” vocacional possa ser renovado, confirmado, vivenciado. No entanto, toda vocação exige renúncias, e cada um, da forma como experimenta o amor de Deus, é convidado de maneira radical a viver esse amor, anunciar ao mundo, dar testemunho da verdade. “Disse-lhes: ‘Segui-me, e eu farei de vós pescadores de homens. Eles, deixando imediatamente as redes, o seguiram.” (Mt 4, 19-20).
Deus não nos obriga a nada, não impõe sua vontade sobre a nossa liberdade. Uma vocação vivida na obrigação além de não ser fecunda, se torna um veneno que não permite a experiência do amor. Deus chama a todos, para que em sua presença, possamos dar plenitude aos dons que recebemos desde que fomos criados, é preciso, portanto, que a chama do Espírito, colocada em nós desde o princípio de nossa existência, arda, de forma que nos atraia a Ele. “Depois subiu à montanha, e chamou a si os que ele queria, e eles foram até ele.” (Mc 3, 13). Na proximidade com Jesus, aprendendo de seu ministério, nos configurando a Ele, nos tornamos participantes de sua Vida, de sua missão. Toda vocação se realiza, portanto, na vivência de tudo aquilo que Ele nos ensinou com seus próprios gestos. Assim, na inteira dependência e intimidade com o Mestre, poderemos dizer, com Ele: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou pela unção para evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar a libertação aos presos e aos cegos a recuperação da vista, para restituir a liberdade aos oprimidos e para proclamar um ano de graça do Senhor.” (Lc 4, 18-19). O Espírito que o Batismo nos confere, a unção da qual nos tornamos partícipes, é a garantia de nossa PERMANÊNCIA junto dAquele que nos criou, nos amou, nos chamou, nos salvou, Aquele que nos quis para si.
Nosso mundo cada vez mais acelerado, cada vez mais relativista, tende a escutar cada vez menos a voz de Deus, seu chamado. Ele continua incessantemente a chamar, a apontar um caminho de vida plena, mas a humanidade parece cada vez mais insensível a essa vocação, desacreditada do amor. É preciso um salto de fé, coragem de lançar-se nos braços de Deus, permitir que Ele nos molde novamente, que Ele nos renove sempre, é preciso docilidade ao chamado, conversão quotidiana, para que assim, encontrando e permanecendo com Ele, possamos ouvir seu apelo: “Em seguida ouvi a voz do Senhor que dizia: ‘Quem hei de enviar? Quem irá por nós?’.”(Is 6,8a)  e que possamos dar, de prontidão e com a mor a mesma resposta que deu o profeta Isaías: “ao que respondi: ‘Eis-me aqui, envia-me a mim’.” (Is 6, 8). O papa Bento XVI, em um discurso aos jovens, salientou: “Queridos jovens, deixai-vos conduzir pela força do amor de Deus, deixai que este amor vença a tendência de fechar-se no próprio mundo, nos próprios problemas, nos próprios hábitos; tende a coragem de “sair” de vós mesmos para “ir” ao encontro dos outros e guiá-los ao encontro de Deus.” Tenhamos também nós essa coragem, pois, permanecendo no amor de Deus, Ele nos sustentará.
 
Abra a Porta e Hiago Fonte Boa
Enviado por Abra a Porta em 07/08/2020
Reeditado em 07/08/2020
Código do texto: T7028933
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2020. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.