O Peso da Paz

O Peso da Paz

E. Alyson Ribeiro

Qual é o preço de seguir a Cristo? Vale a pena seguir as ordenanças e os mandamentos de Deus? Por qual motivo os cristãos não podem fazer todas as coisas que o mundo oferece?

É comum ouvirmos a seguinte expressão: “Ser crente é chato, pois não pode fazer nada!”. Aos que pensam assim, eu pergunto: “Realmente isso é verdade?” Se e a resposta for sim, pergunto “Quem disse isso?”, “Baseado em que ou quem você afirma algo assim?”

Muitas pessoas têm o hábito de colocar empecilhos para não se aproximar de Jesus. As famosas “desculpas”. Existem pessoas, mesmo às que já frequentam aos cultos a Deus, que se aproveitam de situações para justificarem seus erros diante do Senhor. Elas não assumem suas responsabilidades pelo erro. Pelo contrário, elas erram e colocam a culpa em outra coisa. Por que fazer isso? Se até as nossas atitudes nos acusam, imagine um julgamento fundamentado?

Qual é a sua opinião sobre as coisas que acontecem no mundo?

Vamos imaginar uma situação muito subjetiva: Se antes de você nascer, Deus chegasse a você e dissesse: “Meu filho, olhe para o mundo, perceba que há fome, guerras, traições, pandemias, dores. Você gostaria de ir para lá?” Qual seria a sua resposta a Deus? Seria “Sim!” ou “Não”?

Pois bem, volto a pergunta “Qual é a sua opinião sobre as coisas que acontecem no mundo?” Bom, eu não sei o que você respondeu, mas eu quero lhe fazer outras perguntas: “Se o mundo não nos traz descanso e alívio, por que ainda o escolhemos? Por qual motivo ainda temos dúvidas entre escolher as coisas de Deus ou as coisas do mundo?”.

Vamos meditar na passagem bíblica no evangelho segundo Mateus, capítulo 11, do versículo 25 ao versículo 30:

“Naquele tempo, respondendo Jesus, disse: Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, que ocultaste estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelaste aos pequeninos. Sim, ó Pai, porque assim te aprouve. Todas as coisas me foram entregues por meu Pai, e ninguém conhece o Filho, senão o Pai; e ninguém conhece o Pai, senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar. Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve.”

Jesus tinha designado setenta discípulos, dividindo-os de dois em dois, para realizarem missões em outras cidades. O objetivo desses discípulos eram anunciar a chegada do Reino de Deus e curar os enfermos. E quando tais discípulos voltaram, trouxeram uma notícia boa, afirmaram a Jesus que, por meio do nome Santo do Senhor, até os demônios se sujeitaram a eles. Jesus, no entanto, advertiu-os afirmando que não era para eles se alegrarem no fato dos espíritos se sujeitarem a eles, mas sim, no fato de que o nome daqueles setenta discípulos estava escrito nos céus (Lucas 10).

E após dizer essas orientações aos discípulos, Jesus disse:

“Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, que ocultaste estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelaste aos pequeninos” (Mateus 10:25).

Quem são os “sábios” e “entendidos”? E quem são os “pequeninos”?

Veja o que está escrito na Carta aos Hebreus 5:12-14:

“Apesar de que, a essa altura, já devêsseis ser mestres, ainda estais precisando de que alguém vos instrua mais uma vez quanto aos princípios elementares da Palavra de Deus. Voltastes a necessitar de leite, quando já devíeis estar recebendo alimento sólido! Ora, quem precisa alimentar-se de leite ainda é criança, e não tem experiência no ensino da justiça. No entanto, o alimento sólido é para os adultos, os quais, pelo exercício constante da fé, tornaram-se capazes de discernir tanto o bem quanto o mal.”

Podemos entender que aqueles que precisam de alguém para instruir os princípios elementares da Palavra de Deus são como crianças. Desse modo, por essa passagem, concluímos que os pequeninos, os quais Jesus mencionava, eram aqueles que não tinham uma amplo conhecimento das Escrituras. Já os sábios e os instruídos se dividiam entre aqueles que tinham o conhecimento das Escrituras, mas não aplicavam corretamente (Mateus 23:13-15) e os que detinham do conhecimento científico isto é, os sábios “segundo os padrões desta era” (1 Coríntios 3:18-20).

Pequeninos são aqueles que até conhecem a Bíblia, mas não a conhece profundamente como os sábios.

Jesus se alegrou porque a verdade estava sendo revelada àqueles que ainda não tinham um conhecimento pleno da Palavra de Deus. Os discípulos trouxeram notícias boas a Jesus, mostrando que vivenciaram o poder do nome do Senhor. Eles perceberam a grandeza de Cristo.

Será que nós, cristãos, estamos ensinando a Bíblia corretamente? O que será que os pequeninos no conhecimento bíblico estão aprendendo?

Muitos perecem porque lhes faltam o conhecimento (Oséias 4:6) e o que estamos fazendo por esses que perecem?

Perceba algo muito importante, muitas pessoas interpretam erroneamente as coisas de Deus, porque aqueles que deveriam ensinar estão em silêncio! Aqueles que deveriam ser exemplo, não são. Aqueles que deveriam viver o evangelho, não vive!

“Todas as coisas me foram entregues por meu Pai, e ninguém conhece o Filho, senão o Pai; e ninguém conhece o Pai, senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar (Mateus 11:27).

Deus nos permite conhecê-Lo. Pergunto, por que é importante conhecermos a Deus?

Veja o que está escrito no evangelho segundo João, capítulo 17, versículo três:

“E a vida eterna é esta: que te conheçam a Ti, o Único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste.”

Conhecer a Deus é reproduzir na terra aquilo que faremos no céu. A vida eterna é conhecer ao Pai e ao Filho. Então, se você não valoriza o aprendizado das coisas de Deus, por que você desejar ir para o céu? A Palavra de Deus é a testificação de Jesus (João 5:39).

Muitas pessoas que se intitulam cristãs não estão valorizando o aprendizado bíblico e, como consequência, têm atitudes contrárias à Palavra de Deus e, assim, tornam-se maus exemplos aos que ainda são pequeninos na fé. E esses pequeninos, ao observarem o péssimo exemplo de muitos cristãos, adquirem um ideia errada do evangelho de Cristo. E muitas pessoas, estão morrendo por não ter escutado e visto um verdadeiro evangelho.

Por isso, devemos ser cuidadosos. Devemos aprender a Palavra de Deus, pois isso é reproduzir na terra aquilo que faremos no céu. Devemos difundir o evangelho verdadeiro, devemos ser uma igreja bíblica.

"Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei” (Mateus 11:28).

Estar com Jesus é um alívio. Sabe por quê? Por vários motivos, mas um deles é porque a paz de Deus, a qual excede todo o entendimento, guardará o nosso coração e a nossa mente. Bastando apenas colocarmos diante de Deus, por meio das orações e súplicas, tudo aquilo que nos deixa ansiosos (Filipenses 4:6-7). Lembre-se, esse é apenas um dos motivos. Vejamos os versículos 29 e 30 do evangelho de Mateus:

“Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve.”

Será que o julgo e o fardo são a mesma coisa? Por que o nosso Senhor Jesus usou esses dois termos?

Conforme o Dicionário Bíblico Strong e o Houaiss, julgo é uma peça de madeira usada para prender uma junta de boi, o qual possibilita o transporte conjunto de uma carga. Já o fardo, conforme os mesmos dicionários, é um conjunto de objetos mais volumosos e pesados que se destinam ao transporte; é um embrulho, um pacote; uma carga. Mas, então, qual é a diferença entre julgo e fardo, sendo que ambos significam uma carga a ser transportada?

Ao lermos a Carta de Paulo aos Gálatas, capítulo seis, concluímos que o julgo pode ser compartilhado (Gálatas 6:2), já o fardo é uma carga individual e intransferível (Gálatas 6:5). Portanto, quando uma carga é compartilhada ela se torna um julgo, já uma carga individual é um fardo.

Todos sabemos que a Bíblia não foi escrita primariamente em Língua Portuguesa. O Antigo Testamento, por exemplo, foi escrito praticamente em Hebraico e o Novo Testamento em Grego (GRUDEM, 2019). Mas, e daí? Bom, assim como uma palavra em nosso idioma pode apresentar distintos significados, assim ocorre com os demais idiomas. É interessante que a palavra grega para “suave” é “Chrestos”, que também significa “próprio para o uso”, “virtuoso”, “bom”, “útil” e “fácil de carregar”. Então, o julgo que o Senhor nos põe é “fácil de carregar”, pois é algo compartilhado por todos aqueles que aceitaram a Jesus.

Apesar disso, mesmo compartilhando do mesmo julgo, ainda temos que levar o nosso fardo. Veja bem, temos que compartilhar de uma carga e, ainda sim, levar a nossa. Mas que carga seria essa?

Lembre-se “Tomai sobre vós o meu julgo, e aprendei de mim... (Mateus 11:28)”. Então, pegue o julgo e aprenda!

Na Primeira Carta de João, capítulo cinco, versículo três nos diz “Porque este é o amor de Deus: que guardemos os seus mandamentos; e os mandamentos não são pesados”.

Portanto, juntos, como IGREJA, devemos zelar pela Palavra de Deus e, individualmente, devemos ser responsáveis por cumprir as determinações do nosso Deus.

“Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda este é o que me ama, e será amado por meu pai e eu o amarei e me revelarei a ele” (João 14:21)

Só ama a Deus quem conhece os mandamentos e os guarda. Os mandamentos aqui não só os famosos “Dez mandamentos”, mas são todas as determinações de Jesus para a nossa vida. Juntos devemos, como IGREJA, amar a Deus cuidando dessas determinações, divulgando-as, aplicando-as em nossa comunidade, convencendo mais pessoas a compartilhar conosco esse julgo. E ao mesmo tempo, devemos carregar o nosso fardo.

O nosso fardo pode ser definido na Carta Universal de Tiago 1:22, a qual nos diz “Sejam praticantes da palavra, e não apenas ouvintes, enganando vocês mesmos”. Desse modo, considerando que a nossa carga é os mandamentos, o nosso fardo é praticar verdadeiramente a Palavra de Deus, isto é, conforme a carta do apóstolo Paulo aos Colossenses 3:17 “E tudo quanto fizerdes, seja por meio de palavras ou ações, fazei em o Nome do Senhor Jesus, oferecendo por intermédio dele graças a Deus Pai”.

O nosso fardo é que as nossas atitudes estejam alinhadas com a vontade de Deus e a vontade de Deus é conhecida na Bíblia.

Voltemos a porção da Palavra que diz “Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei” (Mateus 11:28).

Agora me responda uma coisa muito importante, como aquele que está cansado e oprimido será aliviado? Resposta: por meio de uma troca de carga. Antes de Jesus éramos culpados e, portanto, pecadores e deveríamos receber a morte (Romanos 6:23).

Vamos lá, imagine que em seu país tenha a pena de morte e você foi condenado. E daqui três dias você deverá pagar pelo erro. Eu lhe pergunto, como ficaria a sua mente nesses três dias? Você se sentiria leve? Agora imagine que alguém lhe diga que deseja morrer em seu lugar? E essa pessoa lhe faz a seguinte proposta: “Eu morro em seu lugar, mas eu desejo uma coisa, que você me conheça, que você aprenda sobre mim. Quero que você saiba quem eu sou e porque estou fazendo isso por você. Você topa?” Você, leitor ou leitora, toparia a troca? Antes o teu fardo era a morte, agora é conhecer o teu Salvador.

O nosso Senhor Jesus deseja que aprendamos Dele. E quando começarmos a fazer isso, perceberemos o tamanho de sua bondade, pois aprender do Senhor só nos trará benefícios, pois em 2 Timóteo 3:16-17 diz:

“Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a instrução na justiça, para que o homem de Deus seja apto e plenamente preparado para toda boa obra”.

Deus é tão bom que o julgo e o fardo que Ele nos concede só nos trarão benefícios. Então, será que agora você compreende porque se entregar a Cristo é aliviador? Porque ele nos tira uma carga que nos levaria a morte eterna e nos dá uma outra que nos ensinará, repreenderá, corrigirá, instruirá e nos preparará. Como não ter paz assim? Como não se sentir leve? Como a nossa alma não encontraria descanso?

Por fim, Jesus se alegrou quando viu que os pequeninos no entendimento começaram a vivenciar o evangelho. Cabe a nós o aprendizado e a difusão do verdadeiro evangelho para que as pessoas percebam os ensinamentos de Cristo. Desse modo, muitas pessoas serão aliviadas, tanto dos problemas atuais quanto do peso de culpa antes de aceitar a Cristo. Temos duas cargas a ser carregadas, uma junto com igreja e outra sozinho. Essa carga é a Palavra de Deus, que é suave e só nos traz benefícios.

Qual é o preço de seguir a Cristo? Resposta: ser obedientes à Palavra de Deus como igreja e como filho.

Vale a pena seguir as ordenanças e os mandamentos de Deus? Resposta: seguir as orientações de DEUS é suave e só nos traz benefícios.

Por qual motivo os cristãos não podem fazer todas as coisas que o mundo oferece? Resposta: porque o mundo está contaminado com aquilo que desagrada a Deus e, se desagrada o nosso Senhor, desagrada-nos também.

O verdadeiro descanso para a alma não são milagres, não são conquistas, não são sonhos realizados. A verdadeira paz é conhecer a Jesus.

Referências:

GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática: ao alcance de todos. Rio de Janeiro: Thomas Nelson, 2019.

HOUAISS, Antônio. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro, Ed. Objetiva, 2001.

STRONG, James. DICIONÁRIO BÍBLICO STRONG: léxico hebraico, aramaico e grego de Strong. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2002.