Em um mundo cada vez mais individualista, egoísta, em que o interesse pessoal não apenas se impõe mas atropela as relações é paradigmático que pensemos acerca do ‘próximo’, aquele lá dos mandamentos da lei de Deus, aquele com quem Jesus nos pede que amemos da mesma forma que Ele nos amou. Pois então, de quem você é próximo? Um risco muito grande é dar uma resposta generalizada que não implica o mínimo de responsabilidade ou conversão em nossa vida. A correria do nosso tempo, a urgência da realização pessoal a qualquer custo ou mesmo a apatia em relação às pessoas por já estar ocupado demais com a própria vida bloqueia a nossa visão sobre o ‘próximo’.
A parábola do Bom Samaritano pode nos ajudar a refletir um pouco sobre o tema da proximidade: “Levantou-se um doutor da Lei e, para pô-lo à prova, perguntou: ‘Mestre, que devo fazer para possuir a vida eterna? ’ Disse-lhe Jesus: ‘Que está escrito na Lei? Como é que lês?’” (Lc 10, 25-26). Todas as parábolas de Jesus não são palavras jogadas ao vento para cair em qualquer lugar, elas são direcionadas a pessoas e a suas realidades. Essa primeira marca de Jesus já denota como Ele é próximo. Embora o doutor da Lei quisesse colocar Jesus em dificuldade, este vai iniciar com Ele um caminho de conversão. E Jesus parte da própria Lei, mostrando que esta não precisa ser cancelada, mas vivida radicalmente e interpretada não pelo medo do castigo, mas pela vocação humana à vida. “Respondeu ele: ‘Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todas as tuas forças e de todo o teu pensamento; e a teu próximo como a ti mesmo. ’ Falou-lhe Jesus: ‘Respondeste bem; faze isto e viverás. ’ Mas ele, querendo justificar-se, perguntou a Jesus: ‘E quem é o meu próximo? ’” (Lc 10, 27-29). Para compreender a Lei da proximidade é preciso partir do amor a Deus – uma relação de entrega a Deus promove a realização humana em sua instância mais profunda. Fazer a experiência de amar a Deus é também sentir-se amado, amar a si mesmo. Enfim, todo que se sente amado por Deus se ama e por extensão, por vocação ama seu próximo. No entanto, o problema do doutor da Lei precisa ser radicalizado. Jesus, em todas as parábolas apresenta um elemento desconhecido para que seus interlocutores possam fazer um caminho de conversão. Para esta parábola o Senhor faz uma inversão para que o doutor da Lei descubra não o seu próximo, mas de quem ele se faz próximo.
Jesus então contou: ‘Um homem descia de Jerusalém a Jericó, e caiu nas mãos de ladrões, que o despojaram; e depois de o terem maltratado com muitos ferimentos, retiraram-se deixando-o meio morto. Por acaso desceu pelo mesmo caminho um sacerdote, viu-o e passou adiante. Igualmente um levita, chegando àquele lugar, viu-o e passou também adiante. ’ (Lc 10, 30-32). O relato da indiferença parece corriqueiro aqui, mas é preciso refletir sobre isso. Cada vez mais uma apatia, uma indiferença doentia que é fruto do não reconhecimento do outro toma conta de nós. Se eu reconheço o outro como pessoa e o encontro em situação de perigo, em dificuldade, posso simplesmente ignorar? O passar adiante não tem a ver com incapacidade de oferecer ajuda, e sim com o fato de que não enxergamos uma pessoa, mas um problema.
“Mas um samaritano que viajava, chegando àquele lugar, viu-o e moveu-se de compaixão. Aproximando-se, atou-lhe as feridas, deitando nelas azeite e vinho, colocou-o sobre a sua própria montaria e levou-o a uma hospedaria e tratou dele. No dia seguinte, tirou dois denários e deu-os ao hospedeiro, dizendo-lhe: trata dele e, quanto gastares a mais, na volta te pagarei.” (Lc 10, 33-35). O fato de Jesus colocar um samaritano ajudando o caído no caminho não é um mero acaso. Os judeus e samaritanos não se davam bem, e estes eram tidos como idólatras, impuros. O ensinamento desta parábola permanece: ainda hoje, é de onde menos se espera que brota uma atitude de misericórdia. A maioria das pessoas infelizmente acha possuir o dom da justiça e tem orgulho de um status, no entanto, toda justiça desprovida de misericórdia não tem valor, é apenas hipocrisia. A compaixão que move o samaritano é o sentimento mais próximo humanamente do sentimento que faz Deus romper os céus e se fazer carne.
A conclusão da parábola sempre interpela o destinatário, de modo que Jesus preserva a liberdade em acolher ou não seu ensinamento: “Qual destes três parece ter sido o próximo daquele que caiu nas mãos dos ladrões? Respondeu o doutor: ‘Aquele que usou de misericórdia para com ele’. Então Jesus lhe disse: ‘Vai, e faze tu o mesmo. ’” (Lc 10, 36-37). A forma como Jesus construiu a parábola não responde à pergunta ‘quem é o meu próximo?’, antes promove uma reflexão que coloca o centro da ação nos seus interlocutores: ‘de quem você se faz próximo?’. Em última análise: com quem eu me identifico? Quem eu reconheço como pessoa?
Falta-nos, muitas vezes, a sensibilidade de tomar a iniciativa, a coragem de nos fazermos próximos de alguém, não simplesmente em situações de dificuldade, mas por reconhecer uma vida humana, um dom de Deus diante de nós. Em uma sociedade onde a vida é quantificada pela força de trabalho, pelo lucro ou prejuízo que pode trazer, é preciso ter coragem de encontrar o próximo, como pessoa. É preciso vencer a atitude cômoda de esperar o próximo ou mesmo de escolher o quem será o próximo. Todos somos chamados a ser um espelho do amor que experimentamos em Deus, um canal para que a compaixão possa nos mover e que assim a misericórdia se manifeste no mundo. E você? De quem você é próximo?
A parábola do Bom Samaritano pode nos ajudar a refletir um pouco sobre o tema da proximidade: “Levantou-se um doutor da Lei e, para pô-lo à prova, perguntou: ‘Mestre, que devo fazer para possuir a vida eterna? ’ Disse-lhe Jesus: ‘Que está escrito na Lei? Como é que lês?’” (Lc 10, 25-26). Todas as parábolas de Jesus não são palavras jogadas ao vento para cair em qualquer lugar, elas são direcionadas a pessoas e a suas realidades. Essa primeira marca de Jesus já denota como Ele é próximo. Embora o doutor da Lei quisesse colocar Jesus em dificuldade, este vai iniciar com Ele um caminho de conversão. E Jesus parte da própria Lei, mostrando que esta não precisa ser cancelada, mas vivida radicalmente e interpretada não pelo medo do castigo, mas pela vocação humana à vida. “Respondeu ele: ‘Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todas as tuas forças e de todo o teu pensamento; e a teu próximo como a ti mesmo. ’ Falou-lhe Jesus: ‘Respondeste bem; faze isto e viverás. ’ Mas ele, querendo justificar-se, perguntou a Jesus: ‘E quem é o meu próximo? ’” (Lc 10, 27-29). Para compreender a Lei da proximidade é preciso partir do amor a Deus – uma relação de entrega a Deus promove a realização humana em sua instância mais profunda. Fazer a experiência de amar a Deus é também sentir-se amado, amar a si mesmo. Enfim, todo que se sente amado por Deus se ama e por extensão, por vocação ama seu próximo. No entanto, o problema do doutor da Lei precisa ser radicalizado. Jesus, em todas as parábolas apresenta um elemento desconhecido para que seus interlocutores possam fazer um caminho de conversão. Para esta parábola o Senhor faz uma inversão para que o doutor da Lei descubra não o seu próximo, mas de quem ele se faz próximo.
Jesus então contou: ‘Um homem descia de Jerusalém a Jericó, e caiu nas mãos de ladrões, que o despojaram; e depois de o terem maltratado com muitos ferimentos, retiraram-se deixando-o meio morto. Por acaso desceu pelo mesmo caminho um sacerdote, viu-o e passou adiante. Igualmente um levita, chegando àquele lugar, viu-o e passou também adiante. ’ (Lc 10, 30-32). O relato da indiferença parece corriqueiro aqui, mas é preciso refletir sobre isso. Cada vez mais uma apatia, uma indiferença doentia que é fruto do não reconhecimento do outro toma conta de nós. Se eu reconheço o outro como pessoa e o encontro em situação de perigo, em dificuldade, posso simplesmente ignorar? O passar adiante não tem a ver com incapacidade de oferecer ajuda, e sim com o fato de que não enxergamos uma pessoa, mas um problema.
“Mas um samaritano que viajava, chegando àquele lugar, viu-o e moveu-se de compaixão. Aproximando-se, atou-lhe as feridas, deitando nelas azeite e vinho, colocou-o sobre a sua própria montaria e levou-o a uma hospedaria e tratou dele. No dia seguinte, tirou dois denários e deu-os ao hospedeiro, dizendo-lhe: trata dele e, quanto gastares a mais, na volta te pagarei.” (Lc 10, 33-35). O fato de Jesus colocar um samaritano ajudando o caído no caminho não é um mero acaso. Os judeus e samaritanos não se davam bem, e estes eram tidos como idólatras, impuros. O ensinamento desta parábola permanece: ainda hoje, é de onde menos se espera que brota uma atitude de misericórdia. A maioria das pessoas infelizmente acha possuir o dom da justiça e tem orgulho de um status, no entanto, toda justiça desprovida de misericórdia não tem valor, é apenas hipocrisia. A compaixão que move o samaritano é o sentimento mais próximo humanamente do sentimento que faz Deus romper os céus e se fazer carne.
A conclusão da parábola sempre interpela o destinatário, de modo que Jesus preserva a liberdade em acolher ou não seu ensinamento: “Qual destes três parece ter sido o próximo daquele que caiu nas mãos dos ladrões? Respondeu o doutor: ‘Aquele que usou de misericórdia para com ele’. Então Jesus lhe disse: ‘Vai, e faze tu o mesmo. ’” (Lc 10, 36-37). A forma como Jesus construiu a parábola não responde à pergunta ‘quem é o meu próximo?’, antes promove uma reflexão que coloca o centro da ação nos seus interlocutores: ‘de quem você se faz próximo?’. Em última análise: com quem eu me identifico? Quem eu reconheço como pessoa?
Falta-nos, muitas vezes, a sensibilidade de tomar a iniciativa, a coragem de nos fazermos próximos de alguém, não simplesmente em situações de dificuldade, mas por reconhecer uma vida humana, um dom de Deus diante de nós. Em uma sociedade onde a vida é quantificada pela força de trabalho, pelo lucro ou prejuízo que pode trazer, é preciso ter coragem de encontrar o próximo, como pessoa. É preciso vencer a atitude cômoda de esperar o próximo ou mesmo de escolher o quem será o próximo. Todos somos chamados a ser um espelho do amor que experimentamos em Deus, um canal para que a compaixão possa nos mover e que assim a misericórdia se manifeste no mundo. E você? De quem você é próximo?