Esperança e humildade

Deus quase nunca me deu aquilo que eu realmente pedia, não que seja exatamente uma reclamação, já que depois de certo tempo você consegue enxergar uma beleza nisso, mas se Deus te dá tudo aquilo que você pede ou deseja, precisa ser reconsiderado se realmente está sendo Deus que está fazendo isso. Pode até se pensar que é inveja minha dizer isso a uma pessoa que recebe o que pede, porém, temos que pensar a nos mesmos como filhos primeiro, pequenos filhinhos aos olhos de Deus que precisam aprender muito sobre a vida, e puxando para um conhecimento geral de todos eu te pergunto; que filho aprende algo recebendo tudo o que pede? , E mais, que tipo de pessoa se torna aquele que recebe tudo o que quer. Como pai, Deus está proposto nos ensinar tudo aquilo que é necessário e não para nos dar tudo aquilo que é quisto, ganhar aquilo que queremos é saciar uma fome do instante e recebermos aquilo que não desejamos pode vir a ser saciar uma fome que nunca pensamos em ter. Um exemplo que eu posso dar, de uma experiência empírica que eu tive disso, é de um tempo onde eu não andava nos desígnios de Deus, abrindo espaços para se pensar se era ou não desígnio d’Ele naquele momento.

Nos semestres finais dos cursos de psicologia os alunos são submetidos a um estágio pratico de formação clínica, que é onde aprendemos a atender na prática, onde eu estudava tinha um centro clinico com diversas áreas de atendimento onde se poderia atender em pequenos consultórios particulares muito bem arrumados com cadeiras, mesa e um relógio que por muitas vezes parecia não funcionar. Nessa clínica escola havia uma imensa lista de espera para as diferentes especialidades que lá tinham. Nós alunos tínhamos pilhas e mais pilhas de fichas de inscrições com as mais diversas queixas. Porém, como seres em desenvolvimento e sem experiência para futuros psicólogos, aqueles que eram encarregados de nos ensinar também eram responsáveis por escolher aquelas pessoas a quem atenderíamos. Admito que era bastante frustrante não atender o público que gostaríamos, porém, sem sombras de dúvidas, foi muito mais enriquecedor atender saindo de nossa zona de conforto. Passei pelos mais diversos casos, até chegar naquele paciente que ficaria sobre meus cuidados até o final da minha graduação.

Por motivos óbvios de sigilo irei chamá-lo aqui de Rojin. Esse que seria meu paciente por quase um ano meio trouxe experiências muito únicas para mim, um jovem no começo da casa dos vinte atendendo um senhor que já terminava seus 70 anos. Uma fenda de mais de meio séculos separava nossas crenças, cultura e a maneira de enxergar o mundo, atendê-lo era o maior desafio que enfrentaria até aquele momento no meu curso. Mas tenho que ser justo com o outro lado dessa história, se aquelas sessões eram um desafio para mim, era um muito maior para o Sr. Rojin, Devido à idade avançada ele já não tinha tanta mobilidade quanto deveria ter em seus tempos áureos, uma de suas pernas já não respondia bem como a outro, porém isso não impedia de se locomover entre as estações e ônibus, um de seus olhos já não enxergava e o outro que lhe sobrara se esforçava para manter as funções, por fim, como se já fosse o bastante, agora não apenas um, mas os dois ouvidos lhe traziam dificuldade — O que fez meu trabalho na época ser muito mais difícil do que já era — onde um aparelho auditivo fazia — as vezes — o trabalho de lhe ajudar. Fora outros problemas comuns a idade, uma coisa que sempre era comum em Rojin era sua parcimônia de movimentos, mas curiosamente sempre constante, como um pequeno barco alheio as ondas do oceano e do vento, como se sua existência exalasse a frase “constante e sempre”.

Porém, se já não bastasse a deterioração do tempo que fosse submetido a ele, esse era o menor de seus problemas, da maneira que falo, pode se imaginar que o Sr. Rojin fosse algum arquétipo do bom velhinho, que com a idade trouxe a sabedoria. Por mais que eu desejasse aquilo para a

vida de meu cliente, essa não era sua realidade. Rojin já era um paciente na clínica escola antes de cair nas minhas mãos, e era desolador os relatos que tinham sido escritos nos relatórios de minha colega responsável anteriormente pelo seu caso Por muitos motivos, talvez pela frágil aparência daquele velhinho ou pela falta de experiência de sua psicoterapeuta anterior, os dois se entrelaçaram por mais de seis meses em uma narrativa de autopiedade e que mundo seria responsável pelos males que lhe ocorriam na época. Na primeira sessão com aquele senhor eu começara a perceber o que acontecera, o S.r., Rojin não nada mais do que as somas de todas as ações que ele mesmo tinha feito e fazia em sua vida. Algo que ele e minha colega anteriormente não haviam percebido.

Aquele homem, tinha mais problemas em seu entorno que faziam parecer mínimas seus problemas físicos, problemas com dinheiro e dívidas, problemas familiares e ainda mais com sua esposa, problemas onde morava e com seus vizinhos, fora que além de tudo, havia a necessidade dele ainda trabalhar, em resumo, tudo em sua volta lhe trazia preocupações e stress dos mais variados tipos. Vendo de longe pode realmente parecer que por trás de tudo havia um plano de algo maior contra sua vida, ou que era uma punição divina, mas era longe disso. Sr. Rojin era um homem que se colocava em situações complicadas e não enxergava, não era como se ele não planeja-se o dia de amanhã ou não tivesse bons planos, em uma parte de sua vida realmente foi de alguém próspero e com harmonia, porém ao longo de deveras decisões erradas e não saudáveis para sua vida como individuo, transformaram quem ele era e no que sua vida havia se tornado. Sr. Rojin não era um senhor sábio ou um exemplo a ser seguido onde não vislumbrava suas próprias ações na sua vida nem tinha trazido seu infortúnio, diferente de Jesus que caminhou conscientemente ao calvário Rojin não reparou que era seu próprio acusador, juiz e Judas. Apesar de tudo isso não quer dizer que por não ser alguém como um varão perfeito que não tenha algo que podemos aprender com ele.

Rojin tinha tudo a sua volta para se entregar as mazelas, desistir de tudo, pode-se pensar; “Por que tentar fazer a diferença agora?” ou “Já está no final da vida, não tem por que mudar agora”. Mas aquele senhor não via dessa maneira, havia virtudes naquela pessoa, e esperança parecia ser a que mais transparência. Mas tem outra que gostaria de denotar, se voltarmos ao começo do texto, vamos lembrar do distanciamento entre nossas idades, por maiores que fosse a dificuldade em correlacionar nossas idades, isso não parecia fazer diferença para ele, talvez isso nem passasse por sua cabeça. O Sr. Rojin usava outras especialidades daquela unidade, como fisioterapia e nutrição, ao observar de perto não se percebia qualquer incomodo daquele senhor em ser auxiliado, ele se entregava de corpo e alma para quem quisera lhe auxiliar. Sr. Rojin dotava de uma grande humildade. Ele não se enxergava como alguém detentor do saber, ele sabia que estava doente e que necessitava de amparo. Pode se parecer simples fazer essas coisas, mas de maneira nenhuma é, lembre se dá última vez que você teve que concordar que estava errado, ou necessitar de ajuda, pensando que era suficiente em algo. Isso era o que ele fazia todas as semanas, se despia de qualquer certeza e concordava que ele sozinha não era capaz de sustentar sua vida. Esperança e Humildade, aquilo essencial a vida de qualquer bom cristão, pois então, qual foi a última vez que nós as praticamos?

Rojin era vilão de sua própria história, porém não é a dessa, por mais que inconscientemente ele trazia em si as armas para vencer aquilo que lhe trazia a derrota, e o que pode ser o da nossa. Quando pensamos que já estamos tão sujos de iniquidades que o espaço para a melhora já não é disponível a nós, salvação já não é opção viável, entretanto temos que ter sempre a esperança como nossa aliada. Em Lucas 23: 39-43, há um ótimo exemplo com Dimas, aquele que na cruz nos seus últimos momentos, creu em Jesus e foi redimido e guardado seu lugar no céu, alguns

podem pensar que é fácil se arrepender de tudo no último momento e assim ser salvo, mas se esquecem do quanto é difícil se ter esperança quando se está em seu último momento de vida, pensar assim é o mesmo pensar que se pode ter fé sem esperança. E humildade você se pergunta, isso é simples se você tem esperança em cristo, também tem de ter humildade para entender que não somos senhores de nossas próprias vidas, não somos os únicos responsáveis pela nossa salvação, como em Lucas 19:10, Ele veios nos salvar aqueles que estavam perdidos, e em Efésios 2:8, não é pela nossa obra e sim pela Graça d’Ele, o que podemos fazer é sermos humildes o bastante para aceitarmos um mestre e entregar aquilo que nos é precioso em suas mãos.