A Igreja Católica

Muitos pensam que Jesus, ao subir aos céus, já deixou a Igreja Católica arrumadinha, São Pedro devidamente vestido de papa, coroado e sentado no trono. Mas como a coisa não foi bem assim, vamos tentar resumir aqui, como se formou o clero, o papado e mais propriamente a igreja romana.

Considerado fundador da Igreja Católica, e apesar da autoridade que tinha sobre os demais apóstolos, São Pedro, nunca sentou em trono algum, pelo contrário, ele nunca teve ambições temporais, pelo que sempre foi um discípulo tão simples como os outros. E quem sabe, por ser casado, não tivesse tanta liberdade para se destacar como grande pregador.

Além do mais, Cristo, não deixou uma igreja, nem uma religião, mas apenas uma Doutrina. “Dou-vos um novo mandamento, Amai-vos uns aos outros, João 13-34,35. Ide, e pregai isto a todos os povos”.Marcos 16-15. Dessa forma, os discípulos, apóstolos e os outros seguidores, também não tinham uma religião, tinham sim, a missão de divulgar o que Dele, aprenderam.

Mesmo reconhecendo os méritos e a autoridade de São Pedro, na verdade quem fundou não a Igreja, mas as igrejas, foi o apóstolo Paulo, que surge trinta e cinco anos depois das morte de Cristo, o qual de perseguidor dos cristãos, passou a pregador do cristianismo e conseqüentemente também a ser perseguido.

Em suas viagens apostólicas, Paulo, fundou igrejas na Síria, Chipre, Cilícia, Macedônia e Atenas. Essas, não eram propriamente igrejas, mas apenas comunidades cristãs que sem qualquer organização eclesial mesclavam os ensinamentos cristãos com os costumes e tradições das seitas judaicas, essênios, zoroastrismo, cananeias e de outras, agora denominados gnósticos ou gnosticismo.

Com o passar do tempo, foram sendo criadas outras comunidades iguais em vários outros locais e cidades como Corinto, Éfeso, Filipos, Galácia, Colossos etc.

Os primeiros séculos do cristianismo foram marcados por perseguições. Em Roma, como em todo o Império Romano, os cristãos fogem para lugares ermos ou se escondem em cavernas ou catacumbas, onde vivem em extrema penúria repartindo entre si o que possuem.

A reinante insegurança e a necessidade de um maior recolhimento, fez com que muitos beatos se refugiassem nos desertos e lugares distantes, onde podiam viver a espiritualidade longe dos atrativos e preocupações do mundo. No início apenas poucos eremitas ou anacoretas como eram chamados que viviam solitariamente em casebres ou grutas.

Por volta do ano 280 um anacoreta conhecido como Santo Antão Abade, que vivia no deserto, reúne alguns asseclas para uma vida em comum e funda uma das primeiras comunidades conhecidas como cenóbios. Esses cenóbios eram organizações rudimentares cujo grupo vivia sob a liderança de um eremita, mas sem qualquer regra básica espiritual.

Durante a época da perseguição aos cristãos, uma das manifestações religiosas mais importantes do Império Romano era o culto do Sol Invictus, ou sol invencível, uma mescla de crenças italiotas, egípcias, babilônicas e judias que era praticada pelos camponeses habitantes dos pagos e, por isso, eram conhecidos como pagãos.

No ano de 313, o imperador Constantino, através do Édito de Milão decreta a liberdade de culto e cessa a perseguição aos cristãos.

Diante dessa liberdade religiosa, os que escolheram seguir suas próprias crenças, fora do cristianismo, foram considerados “hereges”, pois herege em grego quer dizer escolha. Mas o notável crescimento do cristianismo começou a ocasionar constantes brigas entre pagãos e cristãos, que por serem habitantes das vilas eram chamados de vilões.

Apesar disso, e como os cristãos ainda eram poucos, os frequentes, mas, pequenos arranca-rabos entre pagãos e vilões não ocasionavam maiores consequências.

Mesmo assim, para manter a estabilidade social e contentar os litigantes o imperador promoveu em 321 uma espécie de reforma religiosa em que os discos solares dos pagãos se tornaram auréolas dos ídolos, o sábado, tradicional dia sagrado dos judeus, foi mudado para domingo ou dia do sol (Sun day) e a data de nascimento de Jesus que era 06 de janeiro passou para 25 de dezembro dia de nascimento de Mitra o deus do zoroastrismo, serenando assim os ânimos.

Com o passar dos anos os cenóbios se multiplicam e em alguns antigos e isolados refúgios, começam a serem edificadas construções maiores e mais sólidas conhecidas como mosteiros onde vivem comunidades mais organizadas.

Esses mosteiros, mais tarde, transformados em verdadeiros castelos passam ser a sede das ciências, letras, conhecimento e de poder político. São nesses centros culturais cristãos, que surgem as primeiras ordens religiosas.

Dessas ordens religiosas já estruturadas com regras monásticas austeras emergem estudiosos como, Anastácio, Basílio, Gregório, Cirilo e outros que mesmo sem nenhuma autoridade, nem título de bispo ou de papa, foram grandes líderes na organização, condução e consolidação da igreja nascente.

Inicialmente, os Mosteiros não tinham qualquer ligação com as igrejas muito menos deviam obediência a pretensa autoridade dos bispos. Somente a partir da criação das ordens religiosas é que as relações entre mosteiros e bispos começaram a se fortalecer.

Da mesma forma, todas as igrejas, até então existentes, como as primitivas fundadas pelo apóstolo Paulo e as de Constantinopla, Alexandria, Roma, Antioquia e Jerusalém eram totalmente independentes e autônomas com vida, administração e teologia própria.

Em outras palavras, cada igreja fazia o que bem entendia e não devia satisfação a ninguém, visto que cada uma seguia orientação própria do seu dirigente.

Com autonomia teológica, a filosofia e a cultura greco-romana orientavam as práticas religiosas das Igrejas. A igreja de Antioquia, na Síria, por exemplo, se pautava pela filosofia aristotélica do deus presente e da cultura física.

Já a igreja de Alexandria no Egito, seguia a orientação filosófica platônica contemplativa de deus e do desprezo pelo corpo. Aliás, é desse ramo de Alexandria, que a igreja católica herdou o costume da mortificação do corpo como penitência.

Essa orientação filosófica, nem sempre ordenada, fez com que cada uma dessas igrejas tivesse pensamento teológico divergente, o que ocasionou inclusive, acentuadas rivalidades entre elas.

Mais tarde, os lideres de cada igreja começaram a ser denominados bispos ou patriarcas e, como é natural, as igrejas mais ricas e poderosas passaram a se sobressair sobre as demais.

Roma, tendo sido durante muito tempo a capital do império romano, conferia ao bispo da sua igreja uma inegável supremacia que era reconhecida inclusive pelos imperadores. De qualquer forma, a origem do título de Papa para o bispo de Roma é muito controverso mesmo porque, muitos outros bispos de outras igrejas também reivindicaram para si esse título.

Como nem a própria igreja católica sabe exatamente quem foi o primeiro líder com assento ao trono e coroado papa, ficamos com Vitor I, que segundo se tem notícia, foi eleito no ano de 195. Apesar da eleição desse papa e de seus sucessores, as igrejas continuavam livres e independentes.

Embora a pré-existência da alma e a conseqüente reencarnação fosse ponto pacífico e plenamente aceito no cristianismo primitivo, a divindade de Cristo sempre foi objeto de dúvidas e discussões desde os primeiros cristãos e que, por sua vez, ocasionava orientações teológicas também divergentes entre as principais igrejas.

Foi exatamente a divindade de Cristo que formou duas correntes antagônicas dentro da igreja de Alexandria considerada na época a capital intelectual do mundo. A doutrina defendida pelo padre Arius e, por isso denominada ariana, negava a divindade de Jesus e a doutrina nicena defendida pelo bispo Atanásio defendia a divindade de Cristo.

Como essa divergência teológica ocasionava enorme reboliço nas altas esferas e já dividia a igreja de Alexandria. Antes que ela pudesse tomar proporções maiores o imperador, Constantino, regente do império romano, convocou um concílio das igrejas que foi realizado no ano de 325 na cidade de Nicéia com o objetivo de organizar a religião e evitar futuras contendas religiosas.

Nesse Concílio, o imperador reconheceu o cristianismo como religião, confirmou a divindade de Jesus, estabeleceu o papel dos bispos, instituiu a oração do Credo católico que é também chamado credo niceno, confirmou o dogma da santíssima trindade, os sacramentos, condenou o legado de Sócrates e todas as demais doutrinas e filosofias contrárias ao que foi decidido pelo Concílio.

Em decorrência das decisões desse Concílio, a igreja passou a ter suas bases territoriais divididas em pequenos feudos, dioceses ou paróquias, cada uma sob a responsabilidade de um religioso, denominado, pároco ou bispo e o clero começa a usar túnicas romanas, agora chamadas de hábito talar.

A igreja passa a ser organizada numa hierarquia de poder nos moldes da monarquia e dentro dos padrões jurídicos romanos, inclusive o uso do latim e a nomeação, eleição e coroação de bispos, cardeais e papas, sistema esse mantido até hoje.

Em 380 o imperador Teodosio, através do Édito de Tesalônica, decreta o cristianismo como religião oficial do império romano e começa a perseguição aos hereges, judeus, adoradores do sol e esotéricos.

A ligação íntima, entre reis e papas, fez com que a divisão do Império Romano, entre oriente e ocidente, ocorrido em 395, também dividisse a linha de comando e o poder da igreja.

O papa Inocêncio I, no ano 402, se dizendo governante das igrejas de deus, exigia que todas a controvérsias fossem levada a sua decisão. No ano 440 é eleito Leão I Magno, que para alguns historiadores foi, de fato, o primeiro papa, seguido por outros intelectuais como, Zacarias, Silvestre II, Urbano II, Leão XIII etc.

Mesmo com toda a imponência e da autonomia de recursos que dispunham os mosteiros, o isolamento pela distância dos grandes centros e a clausura penitente imposta aos seus moradores dificultava a expansão das ordens. Assim, muitas congregações transferiram suas administrações e escolas para prédios mais simples nas zonas mais próximas das cidades, os quais ficaram conhecidos como Conventos, onde se vivia com maior liberdade e dispensado de algumas penitências.

Embora submissas ao um poder maior as, agora poderosas, ordens religiosas, forçam o clero a adotar uma hierarquia eclesial de tal forma que possam elas, influírem nas decisões, inclusive na indicação de chefes.

A partir desse momento os candidatos a cargos eclesiásticos passaram a ser indicados pelas ordens religiosas e foi dessas fileiras que começaram a surgir os homens que mais tarde seriam coroados bispos, cardeais e papas.

Com a derrocada do Império Romano do ocidente em 496, o poder político foi progressivamente sendo concentrado nas mãos da igreja. Mas as reformas teológicas e novas imposições dogmáticas, como a concessão indiscriminada de indulgências, criam um clima de descontentamento e o clero oriental começa a se rebelar contra o poder central.

Em 1054 explode o grande Cisma do Oriente, com o patriarca de Constantinopla Miguel Cerulário e o papa Leão IX, se excomungando mutuamente. Aliás, é importante salientar que foi esse cisma que originou a denominação de Igreja Romana, para diferenciá-la da recém criada, Igreja Ortodoxa.

Com a decadência progressiva do império romano, seu grande aliado, a igreja vai perdendo também boa parte da sua base de sustentação. Como o dinheiro só vem do povo, se estes abandonassem a igreja, deixariam também de contribuir.

Para frear a debandada dos católicos, combater os hereges, obrigar novas conversões e principalmente para reabastecer seus cofres, a Igreja, apoiada pelo Estado, criou em 1231 o chamado o Tribunal da Inquisição ou Santo Ofício.

A par da perseguição religiosa, com torturas e assassinatos, os hereges, judeus e espiritualistas, tiveram confiscado os seus bens, terras, castelos, indústrias, jóias, fazendas e objetos de valor como obras de arte etc.

Seguindo a corrente filosófica de Santo Agostinho, bem mais tarde em 1.250, Santo Tomás de Aquino e outros teólogos, estribados no legado de Aristóteles, lançaram a doutrina aristotélica/tomista que era ministrada em conventos, catedrais e universidades européias durante a Idade Média e o Renascimento. Desde então é nessa dogmática doutrina, que se fundamentam os alicerces do pensamento oficial da igreja católica romana.

Obtendo aliados importantes, a igreja ganhou poder e prestígio principalmente em países como, França, Itália, Alemanha, Inglaterra, Portugal e Espanha. Sucedendo a dinastia Carolíngia, os soberanos germânicos dão origem ao denominado Sacro Império Romano-Germânico. A rivalidade entre as famílias e a luta pelo poder dentro do clero iniciou um novo período de sérias dificuldades para a igreja.

A eleição de Clemente V, arcebispo francês e a instalação do papado em Avignon, na França por quase setenta anos (1309 a 1378), desagradou os romanos que elegem em Roma, Clemente VII, e provoca o Grande Cisma do Ocidente. Respondendo a instâncias feitas pela Universidade de Paris, em 1409, um Concílio é convocado em Pisa, e sagra Alexandre V, elevando para três o número de papas em exercício. De 1409 a 1415 os papas se sucedem em Roma, Avignon e Pisa.

Convocado pelos laicos e apoiado pelo imperador Sigismundo, o Concílio de Constança em 1415, depôs todos os papas ficando a igreja acéfala por mais de dois anos. Somente a partir de 1417, com a eleição de Martinho V, é que o trono foi recomposto. Com a tomada de Constantinopla, pelos turcos, em 1453, cai o ultimo reduto do outrora grande e poderoso império romano.

Dos reis que surgiram depois da queda do Império Romano, poucos eram católicos, daí a necessidade de alianças e troca de favores entre papas e reis, inclusive conversões vantajosas para os dois lados. Assim, famílias reais e nobres, inteiras, como a dinastia Borgia e outras, entraram para a religião, com o fim único de tornarem-se ricas e poderosas.

Eleito em 1492, o devasso e cruel cardeal Rodrigo Borgia, assumiu o trono com o nome de papa Alexandre VI, levando para a igreja, seu sanguinário filho César Bórgia e a sua, não menos despudorada, filha Lucrécia Borgia. Daí em diante começou a se firmar a dinastia papal e o poder do Estado Pontifício.

A consolidação dos dogmas católicos originou protestos, descontentamentos, dissidências e doutrinas contrárias que ficaram conhecidas como novas heresias. As brigas pelo poder, as divergências teológicas e doutrinárias encetaram novos cismas, como a Reforma de 1517, liderada pelo frei Martinho Lutero, que fundou a primeira igreja Protestante, da qual por desmembramentos foram surgindo às outras, hoje conhecidas como evangélicas.

A partir do Concílio de Trento encerrado em 1563, a igreja passa a adotar oficialmente o nome de Igreja Católica, Apostólica, Romana, e assim diferenciá-la das demais que não reconheceram a sua autoridade. A expansão da Igreja Católica, pelo mundo, no final da Idade Média, deve-se ao fato de que, em quase todas as expedições, especialmente as de descobertas e de exploração de novas terras, os reis católicos principalmente da Espanha e de Portugal, autorizavam o embarque de missionários, a maioria oriunda da Companhia de Jesus, os “Jesuítas”. As Cruzadas, os Templários e as grandes ordens religiosas, bem demonstram a força e o poder da Igreja junto aos reis e estados na época medieval.

Podemos dizer que o Concílio Vaticano II, de 1962 a 1968, deu um grande passo na direção da abertura, modernização e atualização da Igreja Católica. A liberação para o uso das línguas locais nos cultos, o traje civil para o clero, a filosofia social menos dogmática e a tolerância religiosa facilitou aproximação com as igrejas ortodoxas, judeus, comunidades místicas, espiritualistas, esotéricas e as denominações protestantes. Mas ainda estamos longe do clima ecumênico tão desejado pelos povos.

Jhon Macker
Enviado por Jhon Macker em 21/05/2020
Reeditado em 21/05/2020
Código do texto: T6953797
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