JOÃO 2 - A PURIFICAÇÃO DO TEMPLO
JOÃO 2.12-22
A impressão que poderíamos ter, se iniciarmos a leitura dos Evangelhos por João, é que Jesus nunca tinha ido anteriormente ao templo em Jerusalém. Mas essa idéia não é válida, pois lemos em Lucas 2.41-52 o relato de Jesus no templo com a idade de 12 anos. Além disso Lucas é claro ao dizer que “Todos os anos seus pais iam a Jerusalém para a festa da Páscoa.” Lucas 2:41. Então todos os anos iam ao templo.
Entretanto, no que é considerado o inicio do ministério de Jesus publicamente, ou seja, nessa passagem, Jesus agiu com raiva, ira, revolta, com o que estava acontecendo no templo. Mas Jesus já havia visto tudo isso antes, o comércio, a corrupção, o que mudara agora? O que mudou é que Jesus tinha vindo ao templo antes do inicio do seu ministério, a visão, a revelação de Deus, a revolta de Deus em relação ao comércio ainda não era tão patente a Jesus como o era agora. A ira demonstrada por Jesus era o Espírito Santo agindo através dele, em relação ao que acontecia na casa de Deus. O que importa dizer que somos um, antes de iniciarmos o ministério, mesmo sendo nascidos no Evangelho, e mais sensíveis ao Espírito Santo quando o ministério cristão inicia.
Ainda que este não seja chamado de sinal, foi um ato mais momentoso do que o milagre em Caná, pois relacionava-se diretamente com a missão de Jesus, sendo um ato messiânico público. Jesus demonstrava com esse ato que o judaísmo era deficiente e corrupto, pois até o templo, a casa do Pai, estava sendo conspurcada (palavra que quer dizer que foi se deixando cair sujeira, foi se deixando sujar, manchar). Jesus relacionou o incidente com a sua ressurreição (vs. 19-21). Ele revelou a incredulidade dos judeus (vs. 18-20) e a fé dos discípulos (v. 22).
Como já foi dito antes, João reorganiza a narrativa do ministério de Jesus. Diferente dos outros evangelhos, o seu evangelho coloca a purificação do templo antes dos outros, praticamente no inicio. Marcos só vai falar sobre isso no cap. 11.15-19.
Jesus encontrou no templo os vendedores de bois, ovelhas e pombas, e também os cambistas, pessoas que trocavam o dinheiro de outros países para o de Israel, para que pudessem fazer seus negócios.
É preciso compreender que o comércio em si não era proibido, era até válido. Imagine que alguém viesse cultuar de muito longe, trazendo a sua ovelhainha e ela quebrasse a perna no meio do caminho. Havia uma venda de animais sacrificiais na porta do templo, que de certa maneira ajudava as pessoas, apesar de não ser exatamente correto, segundo a Lei. O animal a ser sacrificado no templo não era um animal qualquer, deveria ser um nascido em casa, conhecido e amado. Era a ovelhinha que os filhos viram nascer e até pegaram no colo, dando nome a ela. Era quase da família e era essa a que deveria ser ofertada, não um animal estranho, desconhecido. A idéia era mesmo a pessoa sentir o peso do sacrifício. O como era caro ao ofertante, o como era difícil.
Era a páscoa dos judeus. João expõe com sua narrativa as deficiências do judaísmo. O memorial sagrado da libertação da escravidão no Egito esta sendo menosprezado. Jesus passa de adorador a reformador. O Sinédrio permitia, e com certeza controlava o comércio de animais para o sacrifício e o câmbio. Não é difícil imaginarmos como funcionava. A pessoa chegava com seu animal que era examinado por um sacerdote que acabava achando algum defeito no animal. O que nos lembra os vendedores de carro. Assim como o sacerdote examinador acharia com certeza uma manchinha, o vendedor de carro acharia um risquinho no seu carro e baixaria o valor da venda. Para não perder todo o valor, o animal trazido de longe pelo adorador, era desprezado e comprado pela metade do preço. Davam-lhe uma volta com a ovelhinha por detrás do templo e daqui a pouco estava a mesma para ser vendida pelo dobro que foi vendida. Se bobeasse era o comprador era o mesmo que a tinha vendido. Era mais ou menos isso.
Outro fato a ser notado é que o comércio era no lugar chamado de Pátio dos Gentios. Quem não era judeu não poderia adentrar outros recintos do templo, ficando relegado a adorar apenas naquele local. Entretanto o comércio, imitando uma feira, com gente falando alto, animais fazendo barulho, o comércio pouco espiritual, fazia com que o único local da adoração do gentio, ficasse comprometido. Simplesmente não dava para adorar desse jeito.
Enfurecido com o que viu, Jesus fez uma espécie de chicote improvisado, lançou todos para fora do templo. A impressão que temos é que ele expulsou tanto os animais bichos como os animais humanos. Ele chutou as mesas dos cambistas e moedas voaram nos ares. Tais emdidas precisavam de uma justificativa, onde Jesus disse: “Tirai daqui estas coisas; não façais da casa de meu Pai casa de negócio” (verso16).
O Senhor do templo de repente veio visitar sua casa. “Vejam, eu enviarei o meu mensageiro, que preparará o caminho diante de mim. E então, de repente, o Senhor que vocês buscam virá para o seu templo; o mensageiro da aliança, aquele que vocês desejam, virá", diz o Senhor dos Exércitos. Mas quem suportará o dia da sua vinda? Quem ficará de pé quando ele aparecer? Porque ele será como o fogo do ourives e como o sabão do lavandeiro. Ele se sentará como um refinador e purificador de prata; purificará os levitas e os refinará como ouro e prata. Assim trarão ao Senhor ofertas com justiça.” Malaquias 3:1-3
Essa purificação nos leva a uma lição mais profunda do que a remoção da corrupção, esse fato pode ter sido a antecipação do dia em que o templo e os seus sacrifícios estariam ultrapassados e o sacrifício final do Cordeiro de Deus fosse concluído.
Imediatamente uma oposição aconteceu e os judeus, com certeza os sacerdotes encarregados do templo, lhe perguntaram com que autoridade ele fazia aquilo. Jesus falou sobre o futuro, apontando para si mesmo. Derrubem este santuário e em três dias eu o levantarei. Jesus estava falando da sua morte e ressurreição.
Barclay nos pergunta o que Jesus disse e o que João entendeu, aproximadamente setenta anos depois, depois de muito pensar com a Igreja sobre o assunto. Devemos que Jesus nunca disse que destruiria o templo físico e que logo o reconstruiria. Na verdade, Jesus esperava o fim do templo e dos seus rituais. A segunda coisa é que a purificação do templo, pode ter sido a maneira de Deus dizer, que toda adoração do templo com seus rituais e sacrificios, não podia fazer nada para conduzir os homens a Deus. Em Marcos 14.58 Jesus disse: Eu derrubarei este templo, construído por mãos de homens, e em três dias edificarei outro, não feito por mãos de homens.
Fica evidente então que sua vinda tinha posto fim a toda forma de adorar a Deus feita e arrumada pelos homens. Até aqui a adoração era externa, do lado de fora do homem. Era uma adoração religiosa, para o outro ver. Agoa Jesus trazia uma adoração de alma e coração, uma adoração interna, dentro do homem, invisivel, mas sentida e compreendida pelos outros homens. Jesus trazia uma transformação da alma.
É muito interessante notar como o que Jesus é atual. A Igreja, que é obra exclusiva de Deus, porém guiada por homens, tem a tendência de se desviar da verdade seguindo outros caminhos. De vez em quando, olhamos com bons olhos quando Deus usa algum profeta e recoloca a nossa visão onde deve estar.
Amém.
Fique na paz.