BRUXAS E FOGUEIRAS NOS SÉCULOS XV-XVII

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Embora a grandíssima maioria da população tenha ouvido falar na "Caça às Bruxas", quando se pergunta a alguém sobre essa fase horrenda da história da Humanidade, quase sempre a resposta indica que se tratou de um fenômeno típico da Idade Média. Na verdade, embora não faltem episódios importantes durante a "Idade das Trevas", a Caça propriamente dita –aquela que causou muitas dezenas de milhares de vítimas- concentrou-se basicamente nos séculos XV, XVI e XVII continuando, em algumas nações do Norte e do Leste da Europa, até o final do século XVIII. A última bruxa, Anna Goeldi, foi decapitada a Glarona, na Suíça, em 1782, apenas sete anos antes da Revolução Francesa. Outra característica da Caça, pouco conhecida, é aquela relativa ao sexo das bruxas: apesar de se tratar principalmente de mulheres (cerca 80%), geralmente com mais de 50 anos de idade, muitas vezes os perseguidos eram homens tanto que, por exemplo, na Islândia, Estônia e Rússia a grande maioria dos condenados foi de sexo masculino. Entretanto, poucos sabem que, como veremos em seguida, não foram raros os casos de crianças presas e queimadas na estaca, consequência da crendice que a bruxaria fosse hereditária.

Um dos motivos pelos quais as feiticeiras, conhecidas desde a Antiguidade e já citadas por autores clássicos como Tito Lívio, Plínio, Petrônio, etc., não foram particularmente perseguidas na Alta Idade Média é que, naquela época, ainda vigorava o processo de tipo acusatório (derivado do Direito Romano) presidido por um juiz neutral ao qual o acusador devia apresentar uma acusação pública e juramentada, suportada por provas certas e por testemunhas que podiam ser contestadas pelo acusado. Em outras palavras, o acusador desenvolvia as funções que, atualmente, são prerrogativa do Ministério Público e, caso o réu tivesse conseguido demonstrar a sua inocência, o acusador ia ser severamente punido com base na Lei do talião. Mas a partir da metade do século XIII, o processo de tipo acusatório foi gradativamente substituído pelo processo de tipo inquisitorial no qual o delator ficava totalmente isento de responsabilidade jurídica podendo, de regra, lançar as suas acusações permanecendo anônimo. Além disso, os direitos do imputado foram suprimidos e a bruxa era considerada culpada desde o início do julgamento, cabendo a ela o ônus de demonstrar a sua inocência. Para piorar as coisas, a Igreja legitimou o uso da tortura e as confissões extorquidas com os tormentos eram consideradas válidas e suficientes para decretar a condenação da mulher (ou do homem). Nesse sentido, a fantasia perversa dos inquisidores não teve limites e é pelo menos estranho -para não dizer abominável- que uma religião cujo alicerce deveria ter sido o amor e o perdão, acabou gerando uma máquina infernal que, em termos de crueldade, foi bem além daquelas adotadas pelas piores ditaduras da História. Enfim, quanto à religião, os juízes protestantes chegaram a ser até mais crueis que os seus colegas católicos.

No que diz respeito aos tribunais aptos a esse tipo de julgamento, os mais importantes eram os eclesiásticos (ou seja, a Inquisição propriamente dita) que tinham a tarefa primária de detectar e desmascarar os crimes de bruxaria, formular as acusações e, enfim, entregar os réus aos tribunais leigos (seculares) para que fosse materialmente realizado o processo, em outras palavras, o "trabalho sujo". Isso por um motivo tão simples quanto hipócrita: sendo os sacerdotes ministros de Deus na terra e, portanto, "santos e bons" por definição, eles não podiam exercer violência contra ninguém, bruxas incluídas. Os tribunais seculares –compostos por Magistrados civis- tiveram a possibilidade jurídica de localizar, prender e liderar os julgamentos dos supostos culpados (obviamente com a aprovação dos inquisidores eclesiásticos), executando qualquer tipo de tortura, seja aquela para extorquir as confissões, seja aquela que, como complemento do castigo, precedia as execuções. Quanto à bruxa (ou o bruxo), se ela era inocente, certamente teria sido protegida por Deus e, portanto, ia ter condições de suportar qualquer sofrimento, inclusive os mais brutais. Outro pressuposto importante era que, se durante o processo a acusada permanecia calada era um sinal claro de que o diabo a apoiava; se ela se atrevia a falar para negar e se defender ficava comprovada a sua cumplicidade com o maligno. Frequentemente as mulheres, devido a intensidade da dor, desmaiavam, mas os notários escreviam em seus relatos que as rés haviam adormecido pela ação de satanás que as protegia.

Diferente do que geralmente se acredita, é errado pensar que todas as perseguições dependessem diretamente da Inquisição romana que, ocasionalmente, exerceu até uma função moderadora: de regra cada estado e cada cidade dispunha da sua própria Inquisição local que tomava a iniciativa de desencadear a Caça às bruxas. Também não foram poucos os casos em que, fomentada por uma populaça supersticiosa e fanática, a perseguição acabava com o linchamento, sem processo, de pessoas tidas como feiticeiras. O número de vítimas desses linchamentos é considerado significativo pelos historiadores, embora seja quase impossível determinar o valor exato. As mulheres que mais sofreram foram aquelas que viviam nos povoados onde muitas -na total ausência de médicos- exerciam a profissão de parteiras, curandeiras e enfermeiras. A Igreja, que nos séculos anteriores, havia de regra feito vista grossa, começou a perseguir essas pessoas pobres e humildes por motivos que serão esclarecidos nos parágrafos sucessivos. A ação dos tribunais foi tão intensa que várias cidadezinhas da Alemanha ficaram sem mulheres ou com uma só como, por exemplo, Rottenburg cujos habitantes se revoltaram em 1585 pela falta de mulheres. Nas cidades, devido a presença de famílias abastadas, o esquema persecutório funcionava de forma diferente: os inquisidores mandavam prender uma velha mendiga, escolhida entre as mais feias e/ou as mais aborrecedoras, que devia servir apenas como "isca". Submetida à tortura, essa desaventurada não apenas confessava um crime inexistente mas, fato bem mais importante, entregava as suas supostas cúmplices, ou seja, mulheres ricas cujos nomes haviam-lhe sido sugeridos pelos funcionários do tribunal. Destarte, toda a corja ligada ao sistema (inquisidores, notários, carcereiros, torturadores, etc.) se beneficiava com a confisca dos bens das vítimas que, segundo a Lei da época, deviam ser entregues ao próprio tribunal. Essa corrente de delações induzidas pelas torturas continuava até que os inquisidores tivessem satisfeito a sua sede de dinheiro, de poder e de sadismo!

Voltando às causas da Caça às bruxas, outro motivo relevante para explicar a recrudescência do fenômeno persecutório se deve a fatores teológicos, em particular à importância crescente atribuída ao demônio que, até a metade do século XIII, era considerado uma figura vaga com a qual o pecador teria eventualmente se deparado depois da morte. Do ponto de vista histórico, um momento em que, pelo menos simbolicamente, o problema da relação com o diabo mudou significativamente, pode ser localizado no ano 1326 quando o então papa João XXII emanou a bula pontifícia "Super illius specula" na qual o pontífice estendeu o conceito de heresia (que já havia produzido dezenas de milhares de vítimas) às práticas de magia e bruxaria, entregando a repressão desses crimes aos inquisidores com a possibilidade de emitir sentenças capitais mediante a fogueira. Pode-se dizer que, naquela época, começou a surgir uma formidável preocupação com a função do diabo no mundo, função analisada nos grande tratados de escolástica segundo os quais a ação do demônio na sociedade se fazia cada vez mais consistente e perigosa. Sempre no mesmo período (1324) apareceu o primeiro tratado inquisitorial redigido pelo bispo de Toulouse Bernard Gui (o mesmo do romance de Umberto Eco "O Nome da Rosa"). Estamos ainda numa época em que a perseguição dos hereges prevalece sobre o problema da bruxaria e Bernard Gui, em toda a sua carreira de inquisidor emanou 930 sentenças: 42 execuções capitais, 307 de prisão perpétua, 139 absoluções e o resto penitências leves como, por exemplo, costurar uma cruz nas roupas.

A ulterior involução repressora observada durante todo o século sucessivo se completa com a emanação, por parte do papa Inocêncio VIII da bula intitulada Summis desiderantes affectibus (1484), popularmente conhecida como "Bula contra os bruxos" na qual o pontífice relatava os crimes atribuídos aos bruxos e dava plenos poderes à Inquisição para prender, torturar e punir todos aqueles que fossem suspeitos de "crime de feitiçaria", considerada uma forma particularmente perniciosa de heresia. Dois anos depois, os dominicanos Heinrich Krämer e Jakob Sprenger publicaram o famigerado Malleus Maleficarum, o primeiro manual inquisitorial dedicado exclusivamente à Caça às bruxas. Trata-se de um livro desvairado no qual, entre outras, se encontra essa afirmação alucinante: "Donzelas solteiras de 8 a 10 anos, consagradas ao diabo por suas mães, adquirem o poder de desencadear tempestades furiosas no mar e tempestades de granizo para devastar as colheitas". Consequentemente, essas mocinhas ficaram sujeitas ao rigor da Inquisição podendo, inclusive, ser submetidas aos piores tormentos e condenadas à fogueira.

Os dois fatores até aqui analisados (processo injusto e centralidade do diabo em âmbito social) não são suficientes para justificar a dimensão continental de um evento que, durante quase três séculos seguidos, deu origem à mais espantosa perda de vidas humanas na Europa até às guerras napoleônicas. Para melhor entender o fenômeno, temos ainda que levar em consideração os efeitos sobre a sociedade das grandes epidemias de peste bubônica, das guerras religiosas e das revoltas dos camponeses numa fase caracterizada pela escassez de alimentos. Essa histeria de massa (o poder do diabo desafiando cada vez mais descaradamente o poder de Deus) foi originada por um evento que somente hoje podemos compreender: uma grave e douradora mudança climática. De fato, um esfriamento geral, conhecido pelos especialistas como Pequena Era Glacial, gerou uma consistente redução na produção de alimentos que, por sua vez, acarretou um incremento na mortandade entre os recém-nascidos e ondas sucessivas de epidemias bovinas que reduziram ainda mais a disponibilidade alimentar. Os culpados estavam diante dos olhos de todos: os (poucos) judeus e as bruxas, mas como os primeiros já haviam sido exterminados ou obrigados ao exilo na segunda metade do século XIV, só restavam as feiticeiras tidas como responsáveis de infanticídios rituais e desastres naturais. Como resultado do absurdo fanatismo religioso, que tinha o seu respaldo nas Escrituras, as bruxas foram consideradas as aliadas terrenas de satanás ao qual se submetiam durante encontros noturnos denominados sabás.

A lista que segue mostra o número total de bruxas queimadas na Europa; o leitor atento irá reparar que falta o Portugal pois, nesses país, apesar de vários julgamentos, houve um número extremamante limitado de sentenças capitais. Por outro lado, na península ibérica foram muitíssimas as execuções de marranos, ou seja, judeus que, embora professando abertamente o cristianismo, continuavam supostamente fieis à sua primitiva religião. Segundo autores modernos teria se tratado de uma forma precoz de antissemitismo mas, como esse assunto foge do tema do presente artigo, essa questão não será abordada aqui. Seguem os dados oficiais deduzidos dos arquivos, mas é mister levar em conta que inúmeras atas foram perdidas, roubadas e, principalmente, destruídas pela própria Inquisição quando as tropas de Napoleão invadiram as nações europeias. Naturalmente faltam todos os dados relativos aos linchamentos e, nos cálculos, não constam as bruxas que faleciam durante as seções de tortura. Não é portanto exagerado considerar que o número total de vítimas deve ter sido pelo menos o dobro do que resulta no final da lista. É ainda oportuno salientar que nem sempre o crime de bruxaria era punido com a morte e, dependendo dos juízes, podiam ser infligidas penas "menores" como: prisão perpétua, cegamento, marcação, arrancamento da língua, mutilações e exilo.

Pessoas condenadas à fogueira:

ITÁLIA: 1.500 (das quais 300 na cidade de Como, no Norte)

ESPANHA: 1.630 (1.600 no País Basco, a metade eram meninas)

ESCANDINÁVIA: 1.700

RÚSSIA: 12

SUÍÇA: 10.000 (até 92% das bruxas processadas)

FRANÇA: 3.798 (das quais 2.700 na Lorena)

INGLATERRA: 2.500

ESCÓCIA: 1.500

HUNGRIA: 450

LUXEMBURGO: 358

ÁUSTRIA: 900

BOÉMIA: 1.000

HOLANDA: 150 (primeira nação a abolir a Caça em 1609)

LIECHTENSTEIN: 300 (com um população total de 3.000 habitantes)

ALEMANHA: 30.000 (das quais 7.000 em Treviri e 900 em Wurzburg)

TOTAL: 55.798

Chama logo a atenção da situação na Alemanha, com um número de mortes enormemente superior àquele de outras nações. As possíveis explicações viriam do fato desse País ter sido teatro da Guerra dos Trinta Anos travada entre católicos e protestantes, com acusações recíprocas de bruxaria. Outro fator importante foi a falta de um poder central moderador que permitiu aos vários inquisidores locais de aproveitar ao máximo de seu poder ilimitado e feroz. Considerações análogas valem também para a Suíça. O exemplo de Wurzburg é bastante emblemático, tanto que a ele é dedicada uma voz bem aprofundada na Wikipédia em língua inglesa e espanhola; versões mais resumidas se encontram em árabe, francês, português e sueco, enquanto nada se encontra na versão da catolicíssima Itália. A que segue é uma tradução livre, um pouco resumida, dos textos em inglês e espanhol, que apresentam apenas leves diferenças.

O julgamento das bruxas em Wurtzburg, que ocorreu na Alemanha em 1626-1631, é um dos maiores julgamentos e execuções em massa ocorridos na Europa durante a Guerra dos Trinta Anos. Na década de 1620, com a destruição do protestantismo na Boêmia e no Palatinado, foi retomada a reconquista católica da Alemanha. Em 1629, com o Édito de Restituição, esse processo parecia ter sido completado. Aqueles mesmos anos viram, pelo menos na Europa central, a pior de todas as perseguições às bruxas, o clímax da loucura europeia. Muitos dos julgamentos de bruxas da década de 1620 se multiplicaram com a reconquista católica. Em algumas áreas, o senhor ou bispo foi o instigador, em outras, os Jesuítas. Às vezes, comitês de bruxas locais foram criados para promover o trabalho. Entre os príncipes-bispos, Philipp Adolf von Ehrenberg, de Würzburg, foi particularmente ativo: em seu reinado que durou oito anos (1623-1631), ele queimou 900 pessoas, incluindo seu próprio sobrinho, dezenove padres católicos e dezessete crianças entre cinco e sete anos que teriam tido relação sexual com o demônio. [...] Também em Mainz, as fogueiras foram reativadas. Em Colônia, os "Pais da Cidade" sempre haviam sido misericordiosos, para grande aborrecimento do príncipe-arcebispo, mas em 1627 ele conseguiu pressionar a cidade e ela cedeu. Naturalmente, a perseguição se intensificou mais violentamente em Bonn, a capital. Lá, executou o chanceler e sua esposa, e a esposa do secretário do arcebispo; crianças de três e quatro anos de idade foram acusadas de ter demônios como seus amantes, e estudantes e meninos de nascimento nobre foram queimados na estaca.

Apenas um jesuíta, Friedrich Spee (1591-1635), foi radicalmente contra a perseguição. O padre ficou persuadido devido à sua experiência como confessor de "bruxas" na grande perseguição em Würzburg. Essa experiência deixou seus cabelos prematuramente brancos e o convenceu de que todas as confissões eram inúteis porque baseadas apenas na tortura, e que nenhuma pessoa que havia sido queimada era culpada de bruxaria ou de lidar com o diabo. Como ele não conseguia manifestar livremente os seus pensamentos -porque, escreveu, temia o destino de Tanner [outro padre jesuíta que faleceu enquanto fugia dos suecos]- redigiu um livro que deveria ter circulado como manuscrito, anonimamente. Todavia, um amigo entregou uma cópia à cidade protestante de Hamelin, onde foi impresso em 1631 com o título Cautio Criminalis. Da imensa maioria das vítimas não sobraram nem os nomes. A amostra que segue serve apenas para dar um exemplo da variedade de pessoas que foram queimadas na diocese de Wurzburg:

- Três atores.

- Quatro proprietários.

- Três conselheiros da prefeitura de Würzburg.

- Quatorze vigários da catedral.

- A esposa do prefeito.

- A esposa e a filha do farmacêutico.

- Dois servidores de altar do coro da catedral.

- Góbel Bábelin, dezenove anos, "a garota mais bonita da cidade".

- A esposa, os dois filhos pequenos e a filha do conselheiro Stolzenberg.

- Baunach, "o mais rico comerciante de Würzburg”.

- Steinacher, "o burguês mais rico de Würzburg".

- Um menino de rua, de doze anos.

- Quatro mulheres e homens estrangeiros que foram encontrados dormindo no mercado.

- Uma menina de nove anos.

- Uma menina com menos de nove anos.

- A irmã dela, a mãe e a tia.

- Uma jovem de 24 anos.

- Dois meninos de doze anos.

- Uma garota de quinze anos.

- O jovem herdeiro da casa de Rotenhahn, de nove anos.

- Um menino de dez anos.

- Um garoto de doze anos.

Não somente no caso que acaba de ser ilustrado, mas em toda a Europa a Inquisição podia prender, julgar e assassinar meninas a partir dos oito anos de idade. Depois da sentença, as bruxas eram deixadas sozinhas numa cela fétida onde, devastadas pelas horríveis torturas e incapacitadas a se defender, aguardavam o dia da execução que, frequentemente, era adiado até coincidir com um feriado: isso para que um grande público e as autoridade tivessem como assistir ao espetáculo macabro. Infelizmente, para as bruxas jovens ou ainda atraentes, essa espera poderia se transformar em outro pesadelo. Grupos de homens, pagando uma propina aos carcereiros, entravam nas celas para estuprar coletivamente as vítimas: a ação, não sendo tida como pecaminosa, não precisava de confissão e penitência. Pelo contrário, o estupro era considerado um suplemento ao sofrimento adicional que a bruxa merecia, tanto que, frequentemente, elas tinham suas carnes arrancadas com pinças abrasadas logo antes de serem atadas à estaca. Um famoso caçador de bruxas, o magistrado francês Nicholas Remy, decretou que as meninas com menos de dez anos de idade, filhas das bruxas condenadas, fossem duramente chicoteadas enquanto assistiam compulsoriamente ao suplício de suas mães.

Como foi possível que numa região culturalmente avançada como a Europa fosse perpetrado um hediondo genocídio que durou mais de três séculos seguidos? Tratou-se de um delírio coletivo, duma monstruosidade gerada pelo fato que a Igreja havia, mediante uma verdadeira lavagem cerebral, instilado na cabeça das pessoas o convencimento que o mundo estava sendo invadido por espíritos malignos intencionados a destruir a sociedade. De consequência, muitas mulheres, tidas pelo cristianismo como a parte mais fraca da humanidade e responsáveis pelo pecado original, haviam cedido às seduções do demônio e acabaram se unindo sexualmente com os satanás. Obviamente não faltaram mentes livres que contestavam tantas absurdidades, mas tinham que esconder os seus sentimentos sendo que quem negava a existência da bruxaria era considerado herege e queimado na estaca. Entretanto, na esmagadora maioria dos casos, as consciência foram obnubiladas por uma visão da realidade que havia sido imposta, geração após geração, por uma religião dogmática e totalizante e, portanto, potencialmente totalitária.

REFERÊNCIAS

- Marina Montesano. Caccia alle Streghe. Salerno Editrice, Roma (2012).

- Alateus. La Caccia alle Streghe – Sintesi di un Genocidio. (http://www.alateus.it/streghe.htm)

- Carlo Ginzburg. I benandanti. Ricerche sulla stregoneria e sui culti agrari tra Cinquecento e Seicento. Einaudi, Torino (1966).

- Leo Zen. L’invenzione del cristianesimo. Gruppo Editoriale L’Espresso, Roma (2013).

- Wikipédia.

NOTA: Também esse artigo foi adicionado ao meu E-livro intitulado: "Viagem ao centro do Cristianismo" que pode ser baixado na minha escrivaninha.

Richard Foxe
Enviado por Richard Foxe em 08/05/2020
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