Judas: fechado e insensível
Padre Geovane Saraiva*
Na Quinta-Feira Santa, Jesus, nosso mestre e Senhor, lavou os pés de seus discípulos, e também daquele que o traiu e que foi a causa de infidelidade e ruína para o mundo, ao abandoná-lo, covardemente. Que o Tríduo Pascal, dias grandiosos, os mais importantes do ano, seja o ponto de chegada, ápice da nossa redenção. É Deus mesmo prometendo não nos abandonar, sendo o verdadeiro foco, a luz da esperança na nossa jornada cotidiana. Que o servo de Javé nos ensine a travessia da vida pelo nosso mundo, aparentemente seguro e cheio de conforto para uma boa parte da humanidade, mas que abruptamente foi surpreendida, num não à sua veloz lógica materialista e consumista, para que reflitamos sobre lavar os pés uns dos outros, a partir do nosso próprio egoísmo e omissão, convertidos e desejosos de boas ações.
A liberdade de Jesus consiste na sua abertura, a ponto de Ele oferecer sua vida para salvar a humanidade; ao contrário de Judas, que optou pelo caminho da escuridão e das trevas, fechando-se em si mesmo, com um pensamento voltado para seus próprios lucros, bens e interesses, representados pelas 30 moedas de prata. Tão fechado que foi, não sentiu o menor constrangimento em trair o Cristo. Quanta ausência de liberdade, no estreito fechamento! Para ele, o que contava e o que valia era o seu “eu”, sem nada mais lhe importar.
Precisamos sempre mais compreender a missão do servo, Jesus de Nazaré, em sua liberdade e reinado, reinado este exercido na sua plenitude, a partir do serviço generoso, compreendido na sua coroa de espinhos. Ele é mestre, porque lavou os pés dos discípulos, convidando-nos a fazer a mesma coisa que Ele fez, a repetir seu gesto magnânimo, dizendo-nos: “Dei-vos o exemplo, para que façais a mesma coisa que eu fiz” (Jo 13, 11). Eis o que importa a todos nós: o caminho pelo qual somos convidados a percorrer, afastados da ilusória e mutável esperança, buscando o triunfo da Páscoa eterna. Amém!
*Pároco de Santo Afonso, Blogueiro, Escritor e integra a Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza (AMLEF).