A Lava Jato dos tempos de Jesus
Marcos 14:43-72 – Estudos bíblicos -
I. Cuidado com suas escolhas políticas – 14:43 -
“...quando chegou Judas, um dos Doze, e com ele, vinda da parte dos principais sacerdotes, escribas e anciãos, uma turba”
Judas, dos Doze Apóstolos, aparentemente era o único que circulava entre as principais autoridades. Alguns pastores modernos não escondem o ar de satisfação de posarem para fotos, aparecem em campanhas políticas, endossarem discursos políticos pelo conjunto da obra, ignorando programas cruéis (1 Reis 12:10). Há lideranças que conseguiram através de mandatos eletivos construir uma rede de proximidade com os mais iníquos homens do poder secular e utilizam seus mandatos para benefício próprio. Pastores atuais custam também trinta moedas de prata.
Que relação tem sua igreja, denominação, com os poderes municipais, estaduais e federais? Você já analisou a história de vida dos candidatos apoiados em sua igreja? Os programas e a vida pessoal dos políticos apoiados corresponde aos ensinamentos claros do Novo Testamento e você foi capaz de verificar isso, pessoalmente, nas Escrituras? Atos 17:11, Salmo 1:1-6.
II. Esteja alerta quanto ao conteúdo do discurso dos seus políticos. 14:43-44
“...uma turba com espadas e cacetes...prendei-o, e levai com segurança”
Já estudou na História, os grandes julgamentos, as operações “Lava Jato” levadas a cabo ao longo da existência da humanidade? Jesus Cristo enfrentou uma dessas operações, patrocinada pela república de Jerusalém, sendo ele, do nordeste da Palestina (Nazaré). Os crentes modernos devem estudar a Geografia Bíblica e surpreender-se com o preconceito que os sulistas da Palestina tinham em relação aos nordestinos da Terra Prometida. João 1:43-46; Atos 2:22. Qualquer semelhança com o Brasil é mera coincidência. Existe farta literatura produzida em nossa língua sobre os processos judiciais que culminaram na condenação de Jesus Cristo. Nossos atuais estudantes de Direito ainda podem estudar, à luz dos códigos atuais, o processo de condenação que as autoridades tradicionais e religiosas conservadoras perpetraram contra a Pessoa e a Obra de Jesus. Roberto Victor Pereira Ribeiro, O julgamento de Jesus Cristo sob à luz do Direito, Editora Jus Podvim; O artigo, Os crimes cometidos contra o Cristo á luz do Direito atual, dos autores, Jesana Gomes Soares, Leonardo Gomes de Souza, Lídia Maria Nazaré Alves e Fernanda Franklin Seixas Arakaki. Não menos importante é o texto de Rui Barbosa no qual analisa, fundado no Direito hebraico e romano, a condenação de Cristo.
Havia um discurso de ódio e vingança voltado contra Jesus desde o início do seu ministério. A razão de tanta ira se devia a um conjunto de atitudes de Jesus. Estas atitudes continuam sendo motivos de preocupações pelas elites políticas e religiosas do nosso tempo. Podemos conferí-las?
1. Jesus anunciava o reino de Deus (Marcos 1:14-15). Naqueles dias, naquelas terras, o reino que a população vivia era dos romanos e das elites religiosas judaicas, divididas em escribas, farisaicas, herodianas e saduçaicas, que sempre se uniam quando seus privilégios corriam riscos. O reino de Deus que Jesus falava é o modo de vida terreno pautado nas bem-aventuranças e nas descrições que foram dadas aos profetas do Antigo Testamento, especialmente, Isaías, Daniel, Ezequiel, Amós e Zacarias. Cuide para não espiritualizar de forma exagerada as passagens e o contexto bíblico. Jesus veio a este mundo para instaurar um reino terreno, real, moral e justo. Atos 1:4-11.
Quem eram as pessoas que escutavam o anúncio deste reino? A imensa massa de pobres agricultores da Palestina, pescadores, andarilhos, doentes e discriminados em geral, como cobradores de impostos, mulheres e galileus.
Ao anunciar esse reino, um projeto político e religioso antagônico ao modelo de vida imposto pelo Império Romano e pelas autoridades judaicas, Jesus colocava em risco a ordem social do seu tempo, podendo, na imaginação deles, provocar uma revolução social e política que desencadeasse um golpe na colônia romana da Palestina, através de uma intervenção militar, como aconteceu futuramente, sem a presença física de Jesus e não pela pregação dEle. A ideia de mudança de estrutura social e de um líder popular e forte, como se apresentava Jesus, não agradava judeus e romanos. Lucas 23:1-7. Era tarefa importante se ver livre de Jesus o quanto antes possível. Trataram de incriminá-lo na operação lava jato judaica e conduzí-lo coercitivamente, o que o próprio Jesus estranhou, Marcos 14:48-49.
Na operação lava jato de Jesus, atuou Anás, como juíz federal, Caifás, como promotor de justiça e Pilatos como o Tribunal Federal da região, Atos 4:5-6; Atos 4:15. O assunto nem precisou chegar à suprema autoridade judiciária e executiva do Império que era o Imperador.
2. Jesus constituiu um novo partido de Jesus – para fins didáticos, Jesus acabou constituindo um partido dentro do sistema religioso judaico (Mateus 16:18) e escancarou uma brecha de novo projeto social dentro do Império Romano ao incluir em suas falas e andanças, os pobres, os marginalizados, os pecadores e colonos do Oriente Médio. Marcos 14:70; Atos 11:26; Atos 24:9; Atos 26:9. O Cristianismo inicialmente foi um grupo de pregadores e de pessoas pobres e humildes, que se ajudavam umas às outras, sonhando com um mundo de maior justiça social. São numerosas as passagens do Novo Testamento que reforçam o caráter social e prático da fé cristã, como fator de mudança na má distribuição de renda dos seus membros. Atos 2:44-45; Atos 4:32-35; 1ª Coríntios 16:1-4; Tiago 2:1-6; Tiago 2:14-16; 1ª João 3:17-18. Quem podia integrar esse grupo amplo de Jesus?
2.1. Portadores de doenças crônicas e incuráveis. Nos dias de Jesus algumas doenças eram atribuídas às forças do mal, consideradas castigo divino para quem as recebia. Jesus nem sempre compactuou com essa ideia que colocava mais sofrimento às pessoas. João 9:1-3. O novo paradigma apresentado por Jesus, o programa teológico dEle, apresentava uma nova forma de enxergar Deus. Deus é amor (1ª João 4:7-13). Deus não deseja a perdição das pessoas (João 3:16; 2ª Pedro 3:9). Deus corrige, disciplina porque ama e não porque odeia (Hebreus 12:6). A geração dos dias de Jesus era conservadora, tradicional e não imaginava ter que trocar de bandeira. Aprendera por séculos determinados valores, um dos quais, a teologia do Deus vingativo, castigador do Antigo Testamento. Trata-se de um programa teológico revolucionário e esquerdista demais para a época. Contra essa mensagem, os reacionários contaram com duas principais forças políticas, a religião fundamentalista e ortodoxa da época e as instâncias administrativas e judiciárias locais.
Jesus não se preocupou em teorizar sobre a causa das doenças. Trabalhou para aliviar o sofrimento das pessoas, Lucas 6:17-19. Fez das agruras e da dor dessas pessoas a oportunidade para renovação de vida, de propósitos e de serviços a Deus e ao próximo. Ao serem curadas, saíam testemunhando, enchendo outros corações de alegria e esperança, espalhando sementes de compaixão. Cabe aos historiadores da medicina investigar as reais condições dos enfermos em terras palestinas no primeiro século. Sem recursos, abandonados por seus familiares e amigos, estigmatizados, esperando a morte chegar, encontraram em Jesus, alguém que não teve maiores cerimônias em deles se aproximar, tocá-los, ungi-los e aliviar em definitivo sua dor. Marcos 10:46. Antes de subir aos céus, Jesus deixou clara sua preocupação com os enfermos. Marcos 16:17-20.
2.2. Mulheres – O papel da mulher era subestimado nas sociedades primitivas, inclusive no tempo de Jesus. Quem tiver condições informe-se com o Manual dos tempos e costumes Bíblicos nos tempos de Jesus, de William L. Colemann, Editora Betânia, Novo Manual usos e costumes dos tempos bíblicos, de Ralph Gower, tradução de Neyd Siqueira, Editora CPAD ou A vida diária nos tempos de Jesus, Henri Daniel-Rops, Editora Betânia. Apesar dos anos 1960 terem apresentado um movimento intranquilo da presença das mulheres nas atividades religiosas também, os cristãos protestantes ou evangélicos ainda são relutantes em relação a uma compreensão mais científica, progressista da mulher. Não tem qualquer cabimento, praticarmos um anacronismo histórico e em nome de uma fé judaico-cristã, alimentarmos um tipo de comportamento que era, universalmente aceito numa época da história da humanidade que deixamos a milênios. Hoje temos Aimee Semple McPherson, fundadora da Igreja do Evangelho Quadrangular e Joyce Meyer.
Os judeus desprezavam as crianças (Marcos 10:13) e as mulheres, principalmente as estrangeiras (Marcos 7:26; João 4:1-18; 1 Coríntios 14:33-35; 1 Timóteo 2:9-15).
Naqueles tempos à mulher não era permitido orar em público, ensinar classes mistas, opinar nos assuntos domésticos, na política. Transferidos para nossos dias, não teríamos prefeitas, presidentas, governadoras, vereadoras, senadoras, pastoras, professoras, líderes de famílias, tomar a iniciativa em relacionamentos. Às mulheres não era permitido mostrar o rosto e a sensualidade. Não escolhia o marido. Ficava em casa. Quando enviuvava obrigava-se a se casar com o cunhado.
2.3. Funcionários públicos: do campo das finanças – Coletores de impostos, chamados de publicanos (Marcos 2:15)
2.4. Portadores de enfermidades incuráveis e crônicas. A doença psicológica mais comum nos dias de Jesus era a possessão demoníaca. Um distúrbio para o qual os judeus não possuíam a solução médica adequada. Basta lembrarmos que esta doença alcançou os dias de Freud, no século XIX, com o nome de histeria. As pessoas possessas ficavam tomadas por força física descomunal provocavando estragos de natureza física, emocional, familiar, social e moral, Marcos 9:18-22; Marcos 5:1-6;
A lepra, a cegueira e a paralisia eram outras doenças que transformavam as pessoas em renegadas. Os leprosos eram retirados do convívio social e atirados no caminho à espera da misericórdia da população. Marcos 8:22; Lucas 17:11-19; João 9.
2.5. Discriminados morais e religiosos. Marcos 2:15-16
Nos dias em que Jesus Cristo vivia na Terra, a sociedade era primitiva e teocrática. Quase tudo se atribuía aos poderes da natureza ou à divindade. A vida civil e a religiosa se confluíam. Os valores e as doutrina religiosas, quais fossem, eram também normas legais e jurídicas. A sociedade mundial e histórica avançou, modificou-se e novas situações apareceram, novas instituições, formas de pensar e de governar diferentes. Estamos, querendo ou não, em outro contexto. O conhecimento científico, a maturidade pessoal acumulado pelo aprendizado de valores, conceitos e preconceitos, marca novas formas de se relacionar e perceber as pessoas ao nosso redor. Os preconceitos daqueles tempos, embora ainda sejam alimentados por bom número de pessoas, graças à falta de escolarização, informação, acesso aos bons livros e bons programas de mídia, estão se indo e se tornando difíceis de serem sustentados. Mas outros vão aparecendo ou adquirindo nova roupagem e precisamos, no mesmo espírito de Jesus, enfrenta-los, sob o manto do princípio de que Deus é amor. Religiosa ou secularmente, dividimos as pessoas entre santos e pecadores. Santos seremos sempre nós e pecadores os que discordam de nós e não caminham par e par conosco, Marcos 9:38-41; Atos 15:36-40; 1º Coríntios 1:10-17. A prática do amor, evidência do discipulado continua difícil, João 13:34-35. Lembrando-nos de que o amor não é uma abstração, um discurso, uma retórica. 1ª João 3:13-18; 1º João 4:7-21. O amor tem que ser obreiro, Tiago 2:14-22. Mateus 25:31-46.
Quais são as questões de ordem moral que ainda são difíceis de lidarmos com elas? Quais são as questões éticas contemporâneas que desafiam a Igreja cristã na sua unidade e prática da solidariedade e do acolhimento?
Questões que envolvem a sexualidade humana, novas formas de relacionamento familiar, os direitos humanos, o papel da mulher na sociedade e na igreja, questão do negro, do índio, meio ambiente, distribuição da riqueza, acesso à terra e à moradia, homossexualidade e bissexualidade. Ainda continua interessante a leitura e meditação no livro Em seus passos que faria Jesus? de Charles Sheldon, JUERP.
A Bíblia é um livro cuja revelação é progressiva. Novas doutrinas vão surgindo ao longo do tempo. A visão do autor de Eclesiastes não corresponde ao entendimento de Paulo sobre a vida após a morte, (Eclesiastes 9:5 e Filipenses 1:23). Será que determinadas opiniões sobre purificação, santidade, alimentação, justiça, agricultura, já não se superaram? Precisamos incorporar novas descobertas, até porque não é propósito da Bíblia que nos cerquemos e cerceemos num período histórico em que pessoas não tinham melhorias materiais e espirituais que fomos dispondo. Há que rever um conjunto de opiniões.
3. Jesus não era um letrado à altura da cultura judaica. João 7:14-19
Como pode um homem que não seguiu a escolarização convencional ser competente, dominar temas da política romana, da teologia tradicional, de economia e de direito? Para quem se destinavam as escolas e o aprendizado nos tempos de Jesus? Como é a história do acesso à escola e a educação no Brasil, hoje? Quem estudou no Brasil de 1500 a 1888?
A avaliação dos adversários de Jesus estava equivocada. Tratava-se de um autodidata. Jesus era um Mestre por excelência (Marcos 14:45; Lucas 2:46-52; João 3:1-2), reconhecido por outros rabinos.
Os apóstolos foram homens de origem simples, humilde, mas profundos conhecedores das Escrituras judaicas. Sabiam citá-las, comentá-las, aplica-las e incentivavam os novos convertidos a conhecerem-na intimamente (Atos 2:16; Atos 3:18-24; Atos 4:13; Atos 4:25; Atos 8:34-35; Atos 17:11; 1ª Timóteo 3:14-17) e até reconheciam os limites humanos no estudo, 2ª Pedro 3:15-16.
O apóstolo Paulo foi um erudito, homem de largas letras, conhecedor de filosofia, história, arte militar, economia, poliglota, expositor, teologia, religiões comparadas e apologista. Dissertando, ousado, persuadindo, Atos 19:8-9; Instruído aos pés de Gamaliel, Atos 22:3; Atos 26:1-3; 1ª Coríntios 14:18.
Sugestões bibliográficas
A Bíblia explicada. Sir McNair. CPAD.
Manual bíblico. H. Halley. Edições Vida Nova
Novo testamento interpretado versículo por versículo. Russell Norman Champlin, Editora Hagnos;
NOTA:
Agradeço o envio de comentários com acréscimos, críticas, perguntas, recomendações bibliográficas, sugestões.