Deus se zangou (ficção deífica)
Tom Isnobel, durante a madrugada em sua cama confortável, sonhou que sua militância em "defesa das minorias" estava incompleta, pois nunca tinha feito qualquer coisa para defender o direito de Deus a querer existir – embora o próprio Tom jamais aceitasse, nem em hipótese distante, essa existência divina, que para ele próprio não passava de superstição.
Feita essa reparação teórica, Tom (naquele sonho) não achava justo que houvesse qualquer minoria que fosse atacada até no seu direito mínimo: que era o direito à existência. Enquanto dormia, essa era a essência desse estranho sonho inquietante.
Afinal, Tom já se destacava entre os 100 mais influentes defensores de minorias, do mundo! Ele até mesmo já havia sido matéria de capa da revista científica “Nature in Natura”.
Tom, por exemplo, havia liderado uma bem-sucedida campanha mundial em favor de canhotos terem suas cotas nas universidades. Defendeu também com êxito que os governos construíssem áreas de lazer com quadras para confraternização das minorias militantes do Movimento dos Intelectuais Cuspidores – o famoso MIC, cujos atletas brasileiros mais consagrados eram o José de Abreu e o Jean Wyllys (este último mais conhecido pela sua obra CUMPLICIDADE, CUSPICIDADE E ESPIRITUALIDADE).
Foi assim que Tom Isnobel decidiu, em seu sonho, que iria defender que fosse assinada uma declaração conjunta dos países-membros da ONU, a qual seria intitulada Declaração Universal do Direito de Deus à Existência.
Tudo ia bem nessa peça idílica do Tom Isnobel, até a primeira metade do sonho.
O detalhe inquietante é que Tom Isnobel teria que pedir a Deus para acompanhá-lo quando fosse para fazer a defesa da Sua existência na solenidade da ONU.
Quanto à companhia de Deus (que afinal nem existia mesmo) Tom não se importaria de suportar sua inexistente presença, pois teria que estar ao seu lado durante as formalidades desse fórum mundial.
O que realmente travou aquela missão, do velho e bom Tom, foi que o protocolo exigia que o representante daquela minoria (composta de apenas um indivíduo) teria que discursar formalmente diante de cientistas céticos e assim comprovar ser vítima daquela perseguição de ter sua existência rejeitada.
Ocorreu que a Divindade, naquele sonho, recusou tudo aquilo por um simples motivo – e isso foi explicado ao Tom numa manifestação aparentemente zangada de Deus (que o Tom chegou a ver “cara-a-cara” na glória de toda a Sua "inexistência").
Aquela Suprema figura inexistente rejeitou todo o cortejo de tentativas da retórica do Tom Isnobel, ao demonstrar que a Sua própria iniciativa (de provar que existia) se revelaria flagrantemente uma violação da Constituição Celestial – cuja cláusula pétrea determinava que o Criador não deveria violar, em hipótese alguma, o livre-arbítrio humano de crer ou deixar de crer.
Assim, naquele sonho, Tom Isnobel entendeu por qual motivo a Divindade não se utilizou da companhia de exércitos de anjos para causar uma impressão maior e assustadora.
O Tom acabou compreendendo que Deus (pelo menos o daquele sonho) não se considerava “minoria” simplesmente porque o Universo proclamava a seguinte Realidade:
- UM com DEUS, forma MAIORIA.
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Ao acordar, Tom Isnobel firmou ainda mais a sua decisão – aquela que ele tinha, já desde antes do sonho.
Tom Isnobel iria agora defender a tese de que aqueles que acreditam na existência de um Deus (ou até mais de um) formam juntos uma MAIORIA. E, assim, ele se inspirou naquele sonho para continuar defendendo com mais ênfase uma minoria conhecida como “os ateus”.