AS PROVAS DA EXISTÊNCIA DE DEUS
 
     Toda a realidade existente tinha que estar metafisicamente fundamentada como possibilidade antes de vir à existência, ou seja, as essências são anteriores aos seres. O que existia, então, era a possibilidade de existir, e as fronteiras bem definidas entre o que seria possível e o que seria impossível. Possibilidade aqui não é a probabilidade de algo acontecer ou não, mas a sustentação prévia daquilo que veio e do que ainda pode vir a ser real.
     Para Aristóteles a percepção era sempre singular e o conhecimento sempre universal, a essência era, então, um atributo da espécie. Séculos mais tarde, Duns Scot resolve o problema da individuação com o conceito de ecceidade, que é a essência do ser individual, a assinatura da alma. A partir daí, a essência não é apenas um atributo de uma espécie, mas aquilo que dá individuação a um ser, sendo, portanto, eterna.
     A essência de algo é aquilo que ele é independentemente de ele vir a existir ou não. Nesse sentido, tudo o que existe, já existia em essência e possibilidade antes de vir a ser o que é. Tudo o que acontece e existe, só acontece e existe porque antes mesmo de acontecer e existir já era possível que acontecesse e existisse, se assim não fosse, seria impossível que acontecesse e existisse e, necessariamente, jamais aconteceria e existiria. Logo, a realidade é apenas manifestação daquilo que já era possível antes mesmo de existir, de sorte que são as possibilidades latentes que sustentam aquilo que vem a ser a realidade. No entanto, a possibilidade da existência não existe como as coisas existem, mas existe em uma modalidade superior à existência das coisas, ela é, na verdade, a existência da própria existência.
     Eram as possibilidades que sustentavas todas as essências antes de elas se manifestarem em existência, são elas, também, que enxertam a existência na existência dos seres. Se todas as essências já estavam contidas na possibilidade anterior à realidade, então é essa possibilidade, essa ordem prévia, que determinava o possível e o impossível e que chamou à existência toda a realidade do cosmos que é chamada de Logos Divino. A Bíblia fala em João 1:1 que “No princípio era o Verbo, e o Verbo era Deus, e o Verbo estava com Deus”. Enquanto a expressão traduzida como “no princípio” é uma referência à palavra hebraica “Bereshit” que aparece em Gênesis 1:1 para também se referir a um começo (“No princípio criou Deus os céus e a Terra”), a palavra traduzida como “Verbo” é “Logos” no original grego. Daí, dizer-se que Deus é a mente, a razão por trás de todas as essências e o arquiteto que fundamenta toda a realidade.
     Esse é um segundo motivo porque Stephen Hawkings falhou em seu projeto de elaborar uma teoria de tudo, um discurso científico unificado que explique todo o cosmos, desde as suas origens. Hawkings reconheceu e declarou sua presunção no livro O Universo Numa Casca de Noz:
 
     "Se as histórias do universo em tempo imaginário são efetivamente superfícies fechadas, tal como Hartle e eu propusemos, isto poderia ter consequências fundamentais para a Filosofia e para nossa imagem de onde vamos. O universo estaria completamente autocontido; não necessitaria nada fora de si para lhe dar corda e pôr em marcha seus mecanismos, mas sim, nele, tudo estaria determinado pelas leis da ciência e por lançamentos de dados dentro do universo. Pode parecer presunçoso, mas é o que eu e muitos cientistas acreditamos."[1]
 
     Hawking cometeu um erro crasso: Leis não criam nada, apenas descrevem o comportamento das coisas já criadas. A presunção do autor fica estapafúrdia quando ele troca “leis da natureza” por “leis da ciência”. Não é um erro de interpretação dizer que ele confere à ciência a regência do universo, não, de forma alguma. Definitivamente, ele mesmo admite a presunção, ele teve mesmo a intenção deliberada de ser presunçoso. Hawking pode ter sido brilhante cientista e um gênio em astrofísica, mas a sua metafísica é muito parca, muito tanhesca e incipiente. Hawking sabe bem como extrapolar os limites de seu campo de atuação, o que ele tenta fazer já não pode mais ser chamado de Física,
 
     "Um nome melhor para esse gênero emergente seria 'Hiperfísica': uma Física que transgrediu suas próprias barreiras. Temos a impressão de que a própria Física, conduzida pela genialidade de seus praticantes, está evoluindo para algo novo, bem diferente da ciência 'rigorosa' que costumava ser. Isso tem levado a uma proliferação sem precedente de estruturas matemáticas inéditas, repletas de 'entidades' cuja base empírica é cada vez mais tênue, ao mesmo tempo em que os níveis de abstração e complexidade matemáticas estão atingindo proporções nunca vistas. É quase como se a Física quisesse se transformar numa espécie de metafísica matemática — nada menos que uma teologia! — em virtude de sua proeza matemática e de seus incríveis poderes abstrativos."[2]
 
     Qualquer um que se aplique na mesma empreitada falhará, pois quando se busca o início de todas as coisas, as origens do cosmos, não se deve buscar como algo que está para além da realidade. Quando Deus criou o mundo ele não o fez como se estivesse manipulando alguma matéria que estava fora dele e, portanto, já presente na estrutura física, mas ele criou tudo a partir de si mesmo, fundindo no mundo o seu próprio ser, de sorte que não há nada que exista fora de Deus, independente dele, mas é ele mesmo quem fundamenta toda a existência. Deus não só está na realidade como está para além dela do mesmo modo, sendo ao mesmo tempo transcendente e imanente! Foi nesse sentido que o apóstolo Paulo escreveu: “Deus fez isso para que os homens o buscassem e talvez, tateando, pudessem encontrá-lo, embora não esteja longe de cada um de nós. Pois nele vivemos, nos movemos e existimos.” (Atos 17:27,28). Como bem escreveu Wolfgang Smith:
 
     "Dito a modo de enunciação, Deus não é só transcendente, como também imanente. Assim, Deus transcende o cosmos: Ele mora para lá dos confins do espaço, 'em luz inacessível', como declara São Paulo; e, todavia, ao mesmo tempo, Ele reside em todos os lugares e penetra os mais íntimos recônditos de tudo quanto existe. Se Deus não habitasse o cosmos, ademais, ato contínuo o cosmos deixaria de existir."[3]
 
     Um texto bíblico que sintetiza bem a dualidade da imanência e a transcendência de Deus é o encontrado no livro do profeta Isaías, no capítulo 57 e no versículo 15: “Porque assim diz o Alto e o Sublime, que habita na eternidade, e cujo nome é Santo: Num alto e santo lugar habito; como também com o contrito e abatido de espírito...”.
 
PROVA, segundo Mário F. dos Santos, significa “qualquer processo da mente pelo qual adquirimos de alguma coisa uma certeza”.  O mesmo filósofo escreveu uma obra, aqui já citada, chamada Filosofia Concreta, onde ele sustenta sua filosofia na concretude da demonstração, postulado após postulado. Quando se é dito que não há provas da existência de Deus, o que se está dizendo, na verdade, é que não há provas cientificas, estrita e especificamente. Mas a prova científica não leva a certezas sólidas e verdadeiramente absolutas, bem ao contrário, como já visto anteriormente, leva a verdades provisórias e falseáveis. Porém, a demonstração dialética é capaz de revelar verdades tão altas quanto apodíticas, ou seja, indestrutíveis. Mário Ferreira dos Santos escreveu assim sobre a demonstração nas primeiras páginas de sua Filosofia Concreta:
 
     "A demonstração gera-se da demonstração, portanto não se poderia pedir um círculo vicioso, como o de demonstrar as premissas que serviram de ponto de partida para ela, e assim sucessivamente, porque ela não exige uma causa unívoca para ser suficiente, pois, em última análise, ela consiste na comparação que se faz entre um juízo e um juízo evidente, verificando-se quais as semelhanças e as diferenças entre ambos."[4]
 
     Por mais que sejam viáveis demonstrações filosóficas, ainda assim, apesar de várias tentativas no decorrer da história do pensamento humano, provar definitivamente a existência de Deus se mostra inviável. E há alguns motivos fundamentais para que a existência de Deus não possa ser satisfatoriamente provada, não só em função das limitações do método científico, mas por causa de alguns aspectos específicos da realidade e de algumas limitações intrínsecas ao arcabouço probante à disposição do intelecto humano. O que se segue agora é uma enumeração desses aspectos e dessas limitações:
 
1° - DEUS É UMA PESSOA. E a existência de uma pessoa só é provada pela manifestação física e presentificada dessa pessoa. Qualquer recurso material falha em oferecer prova cabal da existência de um ente: mesmo que uma foto de alguém seja mostrada, mesmo que a voz de alguém seja ouvida por telefone, que documentos sejam mostrados atestando o nascimento e o registro desse alguém em órgãos públicos, ou que notícias veiculadas em jornais mencionem o nome desse alguém, todos esses recursos não seriam suficientes para apagar todo e qualquer vestígio de dúvida e ceticismo, pois toda essa construção material poderia pertencer ou se referir a outra pessoa, diversa daquela da qual se está tentando provar a existência.
     Mas todas as dúvidas cairiam por terra com a simples manifestação da pessoa em presença. Esses mesmos aspectos, inerentes a uma existência, se aplicam quando se busca por provas da existência de Deus, porque Ele também é uma pessoa, Ele também tem em si existência. Mais ainda, sendo Deus onipresente, é inviável a busca de provas de sua existência tratando dele como um objeto, como algo que pode ser destacado da realidade, colocando-o na condição de objeto e o universo, ou o observador cético, na condição de sujeito. Deus se manifesta em toda a realidade existente e, por isso, as provas de sua existência não devem ser buscadas para além do universo, mas no próprio universo.
     É absolutamente impossível para Deus, ainda que por um milésimo de segundo, se colocar fora do universo, destacado dele, como um sujeito a observar um objeto. Se assim fosse possível, nesse exato momento Deus teria, então, criado algo maior que ele, independente dele e que se sustenta por si só. Até mesmo a consciência humana que busca por provas da existência de Deus não existe fora dEle, mas é Ele mesmo que sustenta a própria possibilidade de haver uma consciência no universo.
 
2° - O DISCURSO É LIMITADO, insuficiente e não tem capacidade probante no que tange à existência de uma determinada pessoa. Ainda que sejam descritas todas as características físicas ou psíquicas de uma pessoa ou que seja relatada toda a historicidade de sua vida, ainda que haja à disposição um vocabulário tão vasto quanto o de William Shakespeare ou uma riqueza literária tão ampla quanto a de Otto Maria Carpeaux, ou, como escreveu o apóstolo Paulo, “ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos...” (I Coríntios 13:1a), a existência dessa pessoa não ficaria provada. Todo e qualquer discurso possível que possa ser articulado com intuito de provar tal existência “seria como o metal que soa ou com um sino que tine”, e esse fracasso inevitável tem suas raízes em uma deficiência do próprio discurso.
     Nem mesmo um fato acontecido pode ser provado pelo discurso. A testemunha ocular de um fato que disponha apenas de seu testemunho e nada mais além disso, ao relatar o ocorrido por meio de um discurso, não consegue provar definitivamente de que o fato realmente aconteceu, mas, tão somente, consegue torná-lo mais provável.
     A limitação da capacidade do discurso em oferecer provas é tamanha que nem a própria Lógica Proposicional se mostra eficaz para provar que determinado alguém existe e que um fato realmente ocorreu. A Lógica serve para evidenciar o que é verdadeiro, para dar demonstrações de verdades apodíticas, podendo demonstrar, por exemplo, se um argumento ou um pensamento tem uma inconsistência lógica interna ou não, ou se há alguma contradição que o torna improvável ou mesmo impossível. Mas, em última instância, ela não se propõe e não serve para dar provas decisivas e inapeláveis acerca da existência de uma pessoa ou de fatos acontecidos. Há muitos prodígios e resultados estupendos na Lógica Analítica, mas provar terminantemente a existência de uma pessoa não é um deles:
 
     "O discurso analítico – ou lógico-formal – é aquele que parte de premissas tidas como absolutamente certas, ou universalmente aceitas, e procede num desenvolvimento rigoroso segundo as leis formais do pensamento, a lógica silogística, para lançar conclusões absolutamente certas ou universalmente obrigantes.
     ...No plano da lógica analítica, não há mais discussão: há apenas a demonstração linear de uma conclusão que, partindo de premissas admitidas como absolutamente verídicas e procedendo rigorosamente pela dedução silogística, não tem como deixar de ser certa."[5]
 
3° - DEUS É O PRINCÍPIO DE TODAS AS COISAS, o “Bereshit” (Gênesis 1:1), e o “Arche” (João 1:1): “Eu sou o Alfa e o Ômega, o Primeiro e o Último, o Princípio e o Fim.” (Apocalipse 22:13). E um princípio não pode ser provado, pois se ele precisasse estar fundamentado em outras bases, então ele, por definição, já não seria um princípio, mas uma implicação. Um princípio é um ponto arquimédico que serve de sustentação para todo o edifício do conhecimento. Uma preposição válida que resiste à crítica, que se mostra indestrutível sem carência de nenhuma justificativa fora dela mesma, não é uma preposição como qualquer outra, é um princípio. Princípio é, literalmente, aquilo que é antes de tudo mais, antes não só em sentido cronológico, mas em sentido lógico, que tem prioridade e anterioridade em relação aos demais juízos e preposições. Essa anterioridade é absoluta, o princípio é válido por si mesmo, de forma que todo o resto só adquire validade em função dele.
     Tais princípios são chamados de verdades autoevidentes, pois dispensam provas ou embasamentos para sustentação. Na Matemática e na Lógica são eles que concretam a base de complexas equações e argumentos, e é justamente nessas matérias que eles podem ser encontrados às pencas, como, por exemplo, no princípio de identidade: A=A. Esse é um princípio que dispensa provas, justamente por ser uma verdade autoevidente. Acerca dele assim escreveu a Irmã Miriam Joseph:
 
     "O princípio da contradição (ou da “não contradição”) — pelo qual uma coisa não pode, ao mesmo tempo e sob o mesmo aspecto, ser e não ser — é um axioma do pensamento, uma lei da razão, de maior certeza do que qualquer outra lei da ciência."[6]
 
     Não há necessidade nem mesmo possibilidade de se provar que uma coisa é uma coisa e não outra, tamanha a sua autoevidência. Aristóteles afirmou que é justamente o encontro com as verdades autoevidentes que cessa o retorno infinito em busca de justificações, que dita o ponto final do regresso cético, de sorte que essas verdades são as premissas maiores que sustentam todas as outras premissas menores que levam às conclusões, aos silogismos e, por fim, ao conhecimento. Se até mesmo as verdades autoevidentes fossem negadas ou se fosse exigido delas ainda outras justificações ou provas de suas validades, o regresso em busca de provas seria eterno e todo o conhecimento humano seria impossível, porque toda e qualquer afirmação que se faça está edificada no autoevidente princípio da identidade, e este não pode ser provado.
     Princípios autoevidentes podem ser encontrados também na geometria de Euclides, particularmente em sua obra Os Elementos, livro que ele alicerçou desde o início com axiomas. O mais famoso ficou conhecido como o quinto postulado de Euclides:
 
     "Se uma reta cortar duas outras retas de modo que a soma dos dois ângulos interiores, de um mesmo lado, seja menor que dois ângulos retos, então as duas outras retas se cruzam, quando suficientemente prolongadas, do lado da primeira reta em que se acham os dois ângulos."[7]
 
     Dito de outro modo, se duas retas forem cortadas por outra reta e a soma dos ângulos internos de um dos lados for igual ou maior que 180 graus, então, neste mesmo lado, essas duas retas nunca irão se cruzar, mesmo que prolongadas ilimitadamente. O mesmo vale, obviamente, para duas retas paralelas. Ora, esse axioma só poderia ser provado com o uso de uma ferramenta de extensão ilimitada capaz de aferir se realmente não há mesmo nenhum cruzamento entre essas retas. Como tal ferramenta não existe, essa empreitada é impossível. Poderia ainda o postulado das retas paralelas euclidianas ser provado se existisse alguém capaz de viver tempo suficiente a ponto de poder percorrer toda extensão ilimitada da reta em uma obstinada perseguição a essa prova. Não que seja impossível alguém ser obstinado a tal ponto, impossível é o obstinado viver tanto tempo.
     Sobre os limites daquilo que pode ser provado, Wolfgang Smith fala do que ele chama de ““teoremas-limite” do século XX, que compreendem desde a Matemática e a Física até a Biologia e a Psicologia Cognitiva”, encontrados não por meio de crenças cientificistas, mas, ironicamente, por aquela que ele chama de “Ciência Rigorosa”. Listados como evidências de verdadeiros limites para a ciência estão: o Teorema da Incompletude de Goedel, o Princípio da Incerteza de Heisenberg, a própria Teoria Quântica em si, o fenômeno do Colapso da Função de Onda, o Design Inteligente e a Teoria da Percepção Visual de James J. Gibson. Citando apenas o exemplo de Goedel, o que sua teoria implica é que nenhuma teoria matemática pode carregar junto de si completude e coerência ao mesmo tempo, nem demonstração de todos os seus princípios axiomáticos e coesão simultaneamente. Ouça-se agora o que Wolfgang Smith diz sobre o talentoso Goedel:
 
     "O Teorema da Incompletude, enunciado em 1931, por Kurt Goedel, matemático austríaco de então 25 anos de idade, que constitui talvez a mais importante descoberta lógica do século. O teorema de Goedel desqualifica, numa só tacada, as expectativas desde muito nutridas pelas principais autoridades no assunto, como David Hilbert, Gottlob Frege e Bertrand Russell, que criam na possibilidade de se descobrir um sistema formal que englobasse toda a verdade matemática."[8]
 
     A descoberta de Goedel foi tão espetacular que atraiu a atenção de outro gênio, o qual se apoiou na Teoria da Incompletude para realizar um trabalho no campo da percepção visual, Roger Penrose, matemático de Oxford e mentor de Stephen Hawking. famoso também pelo Teorema da Singularidade Hawking-Penrose. O companheiro de Hawking nos estudos sobre os buracos-negros, Penrose, se dedicou a investigar como funciona o intelecto humano,
 
     "Para isso, ele recorreu ao cerne do argumento de Goedel, que consistia em construir, por meios tremendamente artificiosos, uma proposição aritmética verdadeira P que não admitisse, porém, qualquer prova formal ou 'algorítmica'. Ao fim de um intrincado argumento que se vale de um argumento lexicográfico de todas as proposições aritméticas, chega-se a uma proposição particular P que é simultaneamente verdadeira e impossível de provar."[9]
 
     Vê-se como até em áreas rigorosas, que até bem pouco tempo não admitiam nada que não fosse passível de prova, agora reconhecem que há verdades que não se encaixam em critérios de prova!
     Por isso, Aristóteles começa sua Metafísica expondo seus axiomas, traçando a fronteira entre aquilo que necessita ser provado e o que não precisa ser provado, entre o que precisa ser demonstrado e o que não precisa ser demonstrado:
 
     "Ora, alguns consideram, por ignorância, que também esse princípio deva ser demonstrado [se referindo a demonstração do princípio de não-contradição por via de refutação][10]. Constitui ignorância o fato de não saber de que coisas se deve buscar uma demonstração e de que coisas, ao contrário, não se deve. É impossível que exista demonstração de tudo: nesse caso ir-se-ia ao infinito e, consequentemente, não haveria nenhuma demonstração. Se, portanto, de algumas coisas não se deve buscar demonstração, aqueles certamente não poderiam indicar outro princípio que, mais do que este, não tenha necessidade de demonstração."[11]
 
     Três eram os axiomas usados por Aristóteles em sua Filosofia: o Princípio Ontológico de Identidade, o Princípio da Não Contradição e o Princípio do Terceiro Excluído. De fato, há conhecimentos que implicam necessidades, ou seja, uma impossibilidade do contrário. Tais conhecimentos são apodíticos, irrefutáveis, sendo que um bom exemplo é a frase de Parmênides “O ser é e o não-ser não é”. “Porque aqui está um juízo não de realidade mas de necessidade”.
 
4º - DEUS É UM PODER, é o poder. É onipotente. O argumento de que Deus é um objeto de fé reside, na verdade, em uma distorção do que realmente é fé. A fé não é uma crença escolhida à revelia sem nenhum compasso com a razão, muito menos um mecanismo que pode ser acionado de acordo com sugestões aleatórias para se acreditar no quer que seja. A fé é a certeza absoluta de um poder. E um poder não admite prova lógica ou discursiva, eis o porquê encontrar-se aqui mais uma deficiência do discurso. Quando alguém tem certeza absoluta de que, por exemplo, sabe assobiar, não há, no mundo, discurso lógico que dê a ele condições de provar definitivamente tal poder. Mesmo que seja articulado em um discurso como deve ser a posição dos lábios, mesmo que se descreva como acontece o som quando o ar passa pela boca sutilmente aberta em uma determinada forma, mesmo que se descreva o quão agradável o som pode ser e as melodias que ele pode fazer soar, nada disso é suficiente para destruir de vez o ceticismo daquele que duvida de um poder. O inverso da situação é alguém ter a certeza de que pode assobiar e mesmo sem saber dar a mínima explicação de como se dá o som ou nem mesmo se preocupar em provar que sabe, simplesmente enrijece os lábios e sopra o ar dos pulmões fazendo-se ouvir seu assobio. Está assim provado um poder, unicamente pelo seu manifestar, não por argumentos.
     As lembranças que alguém carrega consigo são também um exemplo de um poder, afinal, onde se localizam as lembranças? Em parte alguma! Lembranças não são coisas para serem colocadas em um lugar, são um poder que o ser humano possui, um poder de acessar instantaneamente um dado que se encontra suspenso e sem uma localização que possa ser definida materialmente.
     A fé é uma certeza absoluta que o ser detém e, para ele, não é preciso nenhuma manifestação para que esta certeza seja sólida. A fé é uma conquista do espírito, não  um discurso cujos proprietários são a razão e a inteligência, a fé é uma propriedade exclusiva do eu profundo. Por isso o apóstolo Paulo assim definiu fé: “Ora, a fé é a certeza daquilo que se espera e a prova das coisas que não se veem.” (Hebreus 11:1).
     A fé não pode ser imposta, exigida, nem mesmo se pode cobrar que alguém a tenha, ela não é uma escolha que o ser impõe a si mesmo. Ela é uma conquista das profundezas da alma, uma certeza que possui o ser ao invés de ser possuída por ele. Como já dizia Paulo, “De sorte que a fé é pelo ouvir, e o ouvir da palavra de Deus.” (Romanos 10:17).
 
     "Nós estamos diante da realidade que há certas atividades que não podem ser pedidas, ordenadas ou comandadas. A razão está no fato de que elas não podem ser criadas pela vontade: acreditar não depende do querer; esperar não depende do querer; amar não depende do querer; e acima de tudo, querer não depende do querer. Tentativas de fazer isso refletem uma impostação inteiramente manipulativa de fenômenos humanos tais como  fé,  esperança, o amor e  a vontade."[12]
 
     Só uma segunda pessoa poderia pedir provas de um poder do qual alguém tem certeza de que possui, o ser em si não precisa provar nada a ninguém, nem a si mesmo.
     Diante dessa limitação da prova discursiva, é de se esperar que o cético abra mão de uma prova discursiva sem oferecer muita resistência, porque isso o faz sentir-se habilitado para intimar aquele que possui a certeza absoluta de um poder para que manifeste esse poder prontamente. O mesmo acontece quando se trata da existência de Deus. O cético pode tranquilamente dispensar os argumentos porque o que vem em seguida é bem mais excitante: desafiar Deus a manifestar imediatamente o seu dito poder para que, assim, prove de uma vez por todas sua existência.
     No entanto, Deus não se dobra à vontade do homem, é Deus quem decide a forma e os limites de sua manifestação. Foi Ele que se dispôs a ser encontrado, partiu dele a intenção de revelar-se. Se Deus não provesse os meios de revelar-se à humanidade, se Ele não tomasse a iniciativa, nada seria sabido acerca dele, afinal, Ele não é uma partícula para que possa ser observado em laboratórios que caçam descobertas. E é justamente quando se constata que há uma retenção deliberada de informações por parte de Deus nas suas manifestações e revelações, que fica explícito que Ele transcende a própria revelação que faz de si mesmo. Paulo começa sua epístola aos Romanos enumerando três maneiras pelas quais Deus se manifestou aos homens, e todas elas foram escolhidas pelo próprio Deus:
 
     "Porque o que de Deus se pode conhecer neles se manifesta, porque Deus lho manifestou. Porque as suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o seu eterno poder, como a sua divindade, se entendem, e claramente se veem pelas coisas que estão criadas, para que eles fiquem inescusáveis; Porquanto tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças, antes em seus discursos se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu."
Romanos 1:19-21
 
     A primeira manifestação divina que Paulo cita é a fé que o homem tem como faculdade de seu espírito,[13] não a fé para salvação, mas a fé natural, a fé que faz com que tribos isoladas, que nunca ouviram nenhuma menção acerca de qualquer divindade que seja, percebam dentro de si a presença de uma transcendência, a existência de um ser superior, e comecem a adorar algo, por vezes o sol ou a lua, em outras a natureza ou os animais.
 
     "Tomemos por exemplo o olho. Quando ele pode ver-se a si mesmo senão quando se olha num espelho? Um olho com uma catarata pode entrever com uma nuvenzinha que é exatamente sua catarata; um olho com um glaucoma pode entrever um alo colorido ao redor das luzes. Mas um olho são não vê nada de si — é autotranscendente."[14]
 
     Paulo lista como sendo a segunda manifestação de Deus a natureza criada, de tal monta que ele cita essa manifestação como a que deixa os homens como “inescusáveis”. Na verdade, Deus não só manifesta seu poder na criação como mantém com ela uma relação estreita e constante. A intimidade com a criação é tão grande que chega ao ponto de ele mesmo prover a alimentação dos animais, conforme está escrito:
 
     "Os céus declaram a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das suas mãos. Os olhos de todos esperam em ti, e lhes dás o seu mantimento a seu tempo. Todos esperam de ti, que lhes dês o seu sustento em tempo oportuno. Dando-lho Tu, eles o recolhem; abres a tua mão, e se enchem de bens. Os leõezinhos bramam pela presa, e de Deus buscam seu sustento. Olhai para as aves do céu, que nem semeiam, nem segam, nem ajuntam em celeiros; e vosso Pai celestial as alimenta. Quem prepara para os corvos o seu alimento, quando seus filhotes gritam a Deus e andam vagueando, por não terem o que comer? Pois Ele mesmo é quem dá a todos a vida, e a respiração, e todas as coisas. Porque nEle vivemos, e nos movemos, e existimos. Eis que todas as almas são minhas; como o é a alma do pai, assim também a alma do filho é minha."
Salmos 19: 1; 145: 15; 104: 27, 28, 21; Mateus 6: 26; Jó 38: 41; Atos 17: 25, 28; Ezequiel 18: 4
 
     A terceira e última revelação que Paulo cita é a revelação de Deus encarnado. De fato, o próprio Deus adentrou a história humana como um homem e caminhou nesta terra, sentiu as mesmas dores, as mesmas necessidades fisiológicas e foi limitado pelas mesmas limitações físicas que qualquer ser humano experimenta. Mesmo com essa manifestação e com todos os milagres operados durante o ministério de Jesus, objeções são levantadas acerca da real existência do Jesus histórico. Isso de forma alguma levaria Deus a se manifestar nos dias atuais de uma maneira que se enquadre nas exigências daquele que pede por uma prova de sua existência.
     Quando o Rico estava no Hades e Lázaro no seio de Abraão, o Rico implorou a Abraão pela oportunidade de poder voltar para casa e contar a seus irmãos o que havia visto no mundo dos mortos e quão sombrio destino poderia lhes aguardar no pós vida também. Qual não foi a resposta de Abraão: “Eles têm a lei e os profetas, ouçam-nos.” (Lucas 16:29). Mas o que Abraão estava querendo dizer com isso? A lei e os profetas eram o que constituía a Bíblia que os judeus tinham na época, por isso, era a ela que deveria ser dado crédito. A palavra revelada estava sendo colocada acima de qualquer manifestação sobrenatural e estava sendo negada a intervenção de um fenômeno sobrenatural para provar verdades espirituais a quem nelas não acreditava. Paulo chegou ao ponto de advertir os gálatas dizendo: “ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos anuncie outro evangelho além do que já vos tenho anunciado, seja anátema.” (Gálatas 1:8). A verdade sempre esteve acima tanto de milagres quanto de intervenções sobrenaturais na natureza, e nenhuma manifestação sobrenatural é condição para que uma verdade espiritual seja ou não admitida. Era isso que concluíam aqueles que conheciam Jesus depois de ter ouvido acerca dele por meio de João Batista: “Na verdade João não fez sinal algum, mas tudo quanto João disse deste era verdade.” (João 10:41).
     É um ledo engano reconhecer a manifestação de Deus somente na esfera do sobrenatural, desassociando de Deus qualquer evento natural simplesmente porque é natural. O teólogo Augustus Nicodemus Lopes alerta sobre esse equívoco.[15] Nicodemus lembra que o livro de Apocalipse foi escrito quando João recebeu uma revelação sobrenatural e extraordinária de Deus na ilha de Patmos. Durante a revelação, João teve a presença do próprio Cristo, viu anjos, arcanjos, querubins e serafins, teve visões escatológicas e a voz do próprio Deus lhe citando parte do que deveria escrever. Por outro lado, Lucas escreveu seu Evangelho da forma mais natural possível, ele não teve visão alguma, não viu nenhum ser espiritual, mas o que ele fez foi pegar seu material de escrita e sair viajando por diferentes cidades, passando dias em viagens de navio, coletando testemunhos daqueles que presenciaram os sermões e os milagres de Jesus, procurando pelos discípulos para entrevistá-los e colher seus relatos. Lucas se valeu de toda sua tecnicidade de médico para fazer uma detalhada investigação e escrever o seu Evangelho. Ora, por acaso o fato de um livro ter sido escrito movido por uma intervenção sobrenatural e outro ter sido escrito de maneira simplesmente natural torna um mais sagrado que o outro? Há, por acaso, mais verdade em Apocalipse do que no Evangelho de Lucas? Isso ajuda muito a explicar porque na maioria das vezes a manifestação de Deus passa despercebida. Todos esperam que Deus aja pelos meios exclusivamente sobrenaturais, porém, Deus não só já se manifestou como ainda intervém com seu poder usando processos puramente naturais. Deus age por meio dos mais inesperados aspectos e detalhes da natureza, justamente por meio daquilo que é desprezado e subestimado por quem só o reconhece em ações milagrosas e extraordinárias.
     Eis porque Deus não se sente contra a parede quando a ciência pede por provas de sua existência dentro do escopo dos seus métodos. Afinal, Ele já manifestou seu poder com a criação do universo, já deu ao homem um espírito transcendente que denuncia uma realidade espiritual e já veio viver entre os homens em carne e osso.
 
EXISTE, ainda, um conjunto de conhecimentos que, mesmo não pensados, são pressupostos para que o homem desenvolva suas experiências e ações diárias. O homem detém esses conhecimentos, mas não os pensa, eles são suspensos em um pano de fundo que serve como lastro para o ser pensante se mover na experiência existencial.
     É bem verdade que o ser sabe muito mais do que pensa que sabe. Bem pudera, o conhecimento extrapola em muito os limites do pensar. Pensar é uma abstração que faz um recorte da realidade, é uma tentativa de transformar a realidade em um discurso e, por isso, o pensamento é limitado pelo vocabulário do ser pensante. Todavia, não são limitadas as sensações e tampouco os conhecimentos. A todo instante o ser absorve e percebe aspectos da realidade que ele não consegue converter em discurso, assim como também sabe de coisas que não consegue exprimir.
     Conforme foi exposto, o discurso é limitado para, 1º, provar um fato acontecido, 2º, para oferecer uma prova lógica, 3º, para provar um poder e, 4º, para provar a existência de uma pessoa em particular. Mas além dessas limitações, ele ainda se mostra insuficiente para exprimir todo o conjunto de conhecimentos que um ser pensante possui e todas as percepções que esse ser tem. Esse é mais um pejo que impossibilita a formulação de uma “teoria de tudo”, de uma teoria universal de toda realidade existente (não se restringindo à definição da teoria de tudo como a unificação da Física Clássica com a Mecânica Quântica), assim como também a apreensão e o abarque toda a verdade universal em si. Como já aludido, a verdade não é um discurso lógico, nem um pensamento, um raciocínio, uma teoria, um tratado, um compêndio ou um silogismo, antes, ela tem em si mesma um caráter ontológico.
     Autoevidencialidade e capacidade probatória são inversamente proporcionais: quanto mais evidente uma verdade, mais difícil é a tarefa de prová-la. Talvez resida aí a razão pela qual Deus, sendo a Verdade por excelência manifestada em toda a realidade existente, seja, ao mesmo tempo, uma das realidades que apresenta maior dificuldade em ter sua existência provada, não obstante seja a prova mais procurada pela humanidade em todos os tempos, na maioria das vezes, desencadeando uma busca da maneira mais sincera, apaixonada e determinada possível.
     Assim, a título de exemplo e sem a pretensão de ser um rol taxativo e definitivo, ficam estabelecidas as seguintes relações entre determinados aspectos da realidade e suas possiblidades de serem provados:
 
HÁ COISAS QUE NÃO ADMITEM PROVA LÓGICA, QUE SÓ PODEM SER PROVADAS PELA MANIFESTAÇÃO MATERIAL:
 
— A existência de uma pessoa em particular
— Um fato acontecido
— A certeza de um poder
 
HÁ COISAS QUE NÃO ADMITEM PROVA MATERIAL, QUE SÓ PODEM SER PROVADAS PELA DEMONSTRAÇÃO:
 
— Os axiomas
— O infinito
— O Logos Divino
 
HÁ COISAS QUE NÃO ADMITEM PROVA LÓGICA NEM PROVA MATERIAL:
 
— A certeza absoluta e individual (fé)
— A dor sentida
— Subjetividades: emoções, pensamentos, lembranças particulares, individuais e exclusivas.
 
MESMO QUANDO DEUS É encontrado, mesmo quando é estabelecido um relacionamento, mesmo sendo sua manifestação tão real quanto o ar respirado, ainda assim, permanece o fracasso em provar sua existência. A debilidade, por certo, não reside nEle, mas nos meios de prova disponíveis às pobres criaturas pensantes existentes. Interessante, é mais fácil encontrá-lo do que provar a sua existência. E é exatamente por se tratar de uma pessoa que não é difícil encontrá-lo, como disse Paulo em Atenas, em seu discurso no Areópago:
 
     "...pois ele mesmo é quem dá a todos a vida, a respiração e todas as coisas;... para que buscassem ao Senhor, se porventura, tateando, o pudessem achar; ainda que não está longe de cada um de nós; porque nele vivemos, e nos movemos, e existimos."
Atos dos Apóstolos 17: 25c, 27, 28a
 
     A ausência de provas, no entanto, nunca levou a humanidade ao afastamento de Deus, como profetizou Nietzsche quando disse “Deus está morto”. Pelo contrário, deu mais evidências de que além de o homem ser um “zoon politikon” (um animal político), como dizia Aristóteles, o homem é também um “animal religioso”, como dizia Edmund Burke:
 
     "Sabemos, para nosso orgulho, que o homem, por sua constituição, é um animal religioso; que o ateísmo é contrário não apenas à nossa razão, mas também aos nossos instintos, não podendo prevalecer por muito tempo."[16]
 
     A ideia da existência de Deus ou mesmo a religião em si não são construções sociais como dizem algumas escolas da psicologia. Qualquer tribo de índios, por mais isolada que esteja, sem que nunca seus integrantes tenham ouvido falar de um deus nos moldes civilizacionais, reagem instintivamente à transcendência que percebem no mundo a sua volta e criam seus próprios deuses: adoram o sol, a lua, as árvores, os rios, os animais... Motivados por uma sugestiva inclinação natural, dirigem à natureza a certeza que carregam dentro de suas almas de que algo os transcende, a certeza de que existe um ser superior que sustenta toda a existência. É justamente a alma humana que acusa a existência de um ser superior. A alma resiste em abandonar a ideia da existência de Deus, ainda que nenhuma prova venha a ser oferecida, ou que a dúvida insista em sussurrar a descrença ao pé do ouvido, ainda assim, a alma humana continua clamando para que a busca, não por provas, mas por Ele mesmo, nunca se finde.
 
     "Assim como o cosmos, ele [o homem] foi aplanado, apartado das dimensões mais elevadas do seu ser. Só que, no caso do homem, a “mente” se recusa a ser exorcizada por completo. Ela fica lá, como um incompreensível concomitante da função cerebral, uma espécie de fantasma na máquina, um negócio que causa indizível embaraço aos filósofos. O fato é que o homem não se confina aos limites do universo físico. A natureza humana tem um outro lado — subjetivo que seja! — irredutível a descrições ou explicações em termos físicos. De maneira que, ao adotar a nova cosmovisão, o homem se acha um forasteiro num universo desolado e inóspito; passou a ser uma anomalia precária, uma aberração mesmo."[17]
 
     Ora, o fato de haver verdades que são autoevidenciáveis, não podendo ser provadas pela linguagem matemática, nem pelo discurso, nem pelo método científico, não depõe contra existência de Deus, mas sim a favor dele, pois se Deus pudesse ser testado e observado em laboratório, ele já não seria Deus, mas o equivalente a uma substância qualquer, seria, portanto, muito pequeno para ser Deus, seria um teorema, adequável ao potencial cognitivo humano. No entanto, ele é axiomático, ele transcende infinitamente a capacidade mental de assimilação da humanidade por ele criada. Nesse sentido, é justamente por não se poder provar a existência de Deus que fatalmente surge um argumento a favor de sua existência.
 
[1] Hawking, Stephen. O Universo Em Uma Casca de Noz. Pág. 27. Tradução de Cássio de Arantes Leite. Rio de Janeiro-RJ: Editora Intrínseca, 2016.
 
[2] Smith, Wolfgang. A Sabedoria da Antiga Cosmologia. Tradução de Adriel Teixeira, Bruno Geraidine e Cristiano Gomes. Campinas-SP: Vide Editorial, 2017. Pág. 331.
 
[3] Smith, Wolfgang. Cosmos e Transcendência: Rompendo a Barreira da Crença Cientificista. Tradução de Percival de Carvalho. Campinas-SP: VIDE Editorial, 2019. Pág.59.
 
[4] Santos, Mário Ferreira dos. Filosofia Concreta. Pág. 11. 2ª Ed. São Paulo-SP: É Realizações, 2009.
 
[5] Carvalho, Olavo de. Aristóteles em Nova Perspectiva: Introdução à Teoria dos        Quatro Discursos. Campinas-SP: VIDE Editorial, 213. Págs. 70, 34.
 
[6] Joseph, Miriam. O Trivium: As Artes Liberais da Lógica, Gramática e Retórica: Entendendo a Natureza e a Função da Linguagem. Tradução e adaptação de Henrique Paul Dmyterko. São Paulo-SP: É Realizações, 2008. Pág. 122.
 
[7] Euclides. Os elementos. Tradução de I. Bicudo. São Paulo-SP: Ed. UNESP, 2009.
 
[8] Smith, Wolfgang. A Sabedoria da Antiga Cosmologia. Tradução de Adriel Teixeira, Bruno Geraidine e Cristiano Gomes. Campinas-SP: Vide Editorial, 2017. Pág. 360.
 
[9] Ibidem. Pág. 365.
 
[10] Introduzido pelo autor.
 
[11] Aristóteles. Opus Citatum. Livro IV (Gama), capítulo 3, 1006 a 6-12.
 
[12] Frankl, Viktor E. Um Sentido Para a Vida: Psicoterapia e Humanismo. Tradução de Victor Hugo Silveira Lapenta. Aparecida-SP: Ideias e Letras, 2005.Pág. 80.
 
[13] Teologicamente, o espírito possui duas faculdades, a fé — já mencionada — e a consciência. Esta acusa o homem da certeza de um juízo vindouro, ela é o tribunal secreto da alma.
 
[14] Ibidem. Pág. 36.
 
[15] Augustus Nicodemus trata desse assunto nas partes finais do sermão “Por que acreditar na Bíblia?”. O sermão pode ser consultado na íntegra no Youtube pelo seguinte endereço: https://www.youtube.com/watch?v=F5ygicKxbwI.
 
[16] Burke, Edmund. Reflexões sobre a revolução na França. Tradução José Miguel Nanni Soares. São Paulo-SP: Editora Edipro, 2014. Pág. 110.
 
[17] Smith, Wolfgang. Cosmos e Transcendência: Rompendo a Barreira da Crença Cientificista. Tradução de Percival de Carvalho. Campinas-SP: VIDE Editorial, 2019. Pág. 201.
Diogo Mateus Garmatz
Enviado por Diogo Mateus Garmatz em 28/12/2019
Reeditado em 14/02/2021
Código do texto: T6828984
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