A BONDADE (27)

Judas Tadeu era um homem viajado, conhecia muitas cidades ao longo do rio Jordão, várias línguas, costumes, comércio. Quando jovem, 14-15 anos, se distraia pelas ruas de Jope, quando um velho, uma espécie de mago, o levou para sua cabana. Falou que seu nome era Basílio, tinha 98 anos, e que era seu dever revelar algo que a vida reservava para o jovem. O velho usou um cristal muito polido e brilhante e falou:

- Vi em volta de tua cabeça uma promessa para o futuro.

Tadeu via no cristal o nascimento de uma criança numa estrebaria, até a sua morte na cruz.

- Estás vendo? Diz o mago, tu és um que vai acompanhar esse Mestre, que é a luz do mundo.

O rapaz chorou e o velho advertiu para que essa imagem não saísse da sua mente, que acompanhasse esse personagem divino, que era o homem do Amor.

-Não digas nada do que vistes e ouvistes de mim, reforçou o mago, porque a vida tem segredos dispensados a poucos e que exigem silêncio aos ouvidos de muitos.

Passaram-se os anos. No dia em que encontrou Jesus, Tadeu reconheceu o mesmo personagem da bola de cristal.

Tadeu pensava muito na Bondade. Achava essa virtude uma segurança para os sofredores. Nos caminhos da verdade, ele já havia encontrado muita gente possuidora desse clima de Deus no coração.

Na reunião da noite, sentiu a inspiração de indagar:

- Mestre! Pelo pouco que faço não cabe a mim tomar o teu precioso tempo com perguntas que podem não ser ideais. Mas, o que é a Bondade? Qual sua ação benfeitora na Terra?

O Nazareno, tranquilo, respondeu com alegria:

-Judas Tadeu, a Bondade é uma marca de Deus em nossos corações. O homem bom sempre sabe de onde veio a sua Bondade e o que fazer para conservá-la. Essa virtude é uma das cordas do grande instrumento da vida, e uma das cordas do amor. Se queres irradiar uma melodia perfeita da vida que levas, deves afinar todas as cordas sonoras da alma, para que os dedos de Deus toquem em teu favor.

‘A Bondade é, sem dúvida, um princípio da escrita divina em nós, que nos leva à procura de outras da mesma linha. Contudo, o senso de equilíbrio nos leva a disciplinar essa disposição inspirada pela caridade. A Bondade não pode querer suprir as deficiências que somente o trabalho pode fazer, ou a dor que desperta, ou a corrigenda que conscientiza as pessoas.

‘Quem chega ao ponto de conciliar a Bondade com a justiça faz muitos prodígios na arte de educar as criaturas e, ao invés, como pensas, de afastar as pessoas, elas sentirão, mais tarde, a eficiência de mestre daqueles que andam sempre no fio da balança divina, dando o que devem dar, na hora certa; tirando o que devem tirar, no momento exato.

Houve silêncio. Muitos discípulos andavam exagerando no serviço de assistência. A Bondade estava virando fanatismo, que logo pode passar a ser conivência com certo tipo de vida contrária à moralidade e avessa à lei do trabalho.

Jesus voltou a dissertar:

- Nós, temos muitas coisas que poderemos destinar aos outros, sem envernizá-las com mesquinhos interesses. Todavia, mesmo que o desprendimento acompanhe as dádivas, a sabedoria e o amor nos asseguram que deveremos vigiar o que vamos entregar aos nossos semelhantes a quem vamos dar. A Bondade no lugar certo, é luz que se acende nas trevas, mas onde não chegou a hora pode ser incentivo para a miséria da alma. Já pensastes em se condoer dos insetos de todas de todas as espécies que vivem ao léu, nos campos, e leva-los para dentro de casa? Dos animais, que por vezes, estão enfermos? Dos mendigos que encontrais pelas ruas e estradas, leva-los para vosso convívio, dos doentes, ou dos assassinos ou leprosos, ou dos inconscientes às leis do país? Pois essa seria uma Bondade que se tornaria um distúrbio muito grande, de modo a impedir que alcanceis a vossa paz no lar e na consciência.

‘É muito grandioso ser bom, mas é muito melhor saber ser bom pelas linhas da fraternidade e da razão objetiva. Não estou querendo que esmoreçais na aquisição dessa virtude iluminada por excelência, porém que aprendais a dignificar a Deus pela inteligência que Ele vos deu, amparada pelos sentimentos. É bom que não passeis para nenhum dos extremos da sabedoria e do amor, porque nas margens encontrareis desequilíbrios. No centro das correntezas dos rios, as águas são mais puras.

‘Tadeu, se encontrastes muita Bondade nos teus caminhos, e estas facilitaram o teu bom desempenho, sê grato aos teus benfeitores, não com palavras, pois nem sempre eles podem ouvir, mas sendo bom na mesma temperatura da Bondade que recebeste. Fica sabendo que toda virtude desordenada é ninho de serpentes para o futuro.

‘Por isso é que meu Pai que está nos céus me enviou a vós, para que fundásseis na Terra um educandário onde podereis, com a ajuda da Boa Nova que vos trago da parte dEle, equilibrar as vossas emoções e enobrecer as vossas ideias. Controlar os pensamentos é iluminar a fala.

‘Todas as virtudes que ensinamos já são conhecidas na Terra, pois os profetas e os sábios as espalharam por toda a parte. Mas a Boa Nova de Deus é o educador comum que propicia, com mais amplitude, disciplina para todas as virtudes. Havereis de dar graças a Deus, mesmo que entregueis a vida como semente de luz para esplender nos corações, pelo sangue que derramastes, o interesse maior, de viver, mas de viver bem.

Quero e espero que todos vivais pela Bondade. Não obstante, que essa Bondade não ultrapasse as divisas do seu município, evitando perturbar a capital do coração e o comando da inteligência.