A PRIMEIRA TRADUÇÃO DA BÍBLIA

Desde a sua origem até os dias atuais, a Bíblia tem sido traduzida em muitos idiomas a partir dos textos originais (hebraico – AT e grego – NT).

A primeira tradução da Bíblia hebraica – o Antigo Testamento, para o grego foi a (Septuaginta). O termo “Septuaginta”, vem do latim e significa literalmente “septuagésimo”. Na história Eclesiástica, a primeira pessoa a usar esse termo foi o bispo Eusébio de Cesareia. Nos primeiros séculos do cristianismo, o filósofo e teólogo Agostinho de Hipona foi o primeiro a chamá-la de “Versão dos Setenta” em (A cidade de Deus), obra de sua autoria publicada pela primeira vez em 426 d.C.

 

A origem histórica da Septuaginta é contada por fontes judaicas antigas, como a Carta de Aristeias, a obra De Vita Mosis – sobre a Vida de Moisés, do filósofo judeu-helenista Fílon de Alexandria, as Antiguidades Judaicas do historiador Flávio Josefo, e alguns fragmentos de Aristóbolo.

No latim o termo “Septuaginta” é uma forma abreviada da expressão “interpretatio Septuaginta virorum”, (a tradução pelos setenta homens), similar à forma grega κατὰ τοῦ  ἑβδομήκοντα “conforme os setenta”. Esses termos foram usados por escritores cristãos do II século d.C., para se referir ao Antigo Testamento Grego. Hoje é conhecido também como a “Versão dos Setenta, Versão de Alexandria”, e identificada pelos algarismos romanos (LXX).

De acordo com o historiador Flávio Josefo, a tradução do Pentateuco do hebraico para o grego aconteceu na metade do III século a.C., por 72 eruditos judeus enviados de Jerusalém para Alexandria e, nos séculos seguintes, os outros livros do Antigo Testamento foram traduzidos em etapas para o grego koinê – a língua franca do Mediterrâneo Oriental no tempo de Alexandre, o Grande. A tradução completa é fruto de um processo de tradução que levou quase dois séculos. Foi um empreendimento cultural sem precedentes na história da civilização ocidental, pois a revelação divina saía do confinamento judaico para se tornar universal, era o pensamento religioso semita à disposição do Ocidente numa língua indo-europeia.

A Bíblia de Alexandria representava muito mais que uma simples tradução. Segundo A. Deissmann, “encarnava fundamentalmente a helenização do monoteísmo judaico”. Rudolf Kittel, editor da Bíblia Hebraica que leva o seu nome, (Bíblia Hebraica Stuttgartensia – BHS), afirmou não se tratar de uma tradução, mas de um “comentário teológico”. Sua influência nos escritores no Novo Testamento foi determinante, servindo de ponte linguística e teológica entre o hebraico do Antigo Testamento e o grego do Novo Testamento. Tanto os apóstolos como os antigos escritores cristãos encontraram nela uma fonte de conceitos e termos teológicos para expressar o conteúdo e o pensamento cristão. Ela foi usada pelas gerações de judeus helenistas por todas as partes do mundo antigo. Foi a Bíblia adotada pelos cristãos de língua grega: “A Igreja recebeu a Versão dos Setenta como se fora única e dela servem os gregos cristãos, cuja maioria ignora se há alguma outra. Dessa Versão dos Setenta fez-se a versão para o latim, usada nas igrejas latinas. Serve, ainda como fonte importante para o estudo da história da Bíblia Hebraica”. Agostinho, século V, (A Cidade de Deus, livro 18.43).

 

A LXX foi o Antigo Testamento dos cristãos até que o Ocidente impôs a Vulgata Latina, sendo que a Peshita versão da Bíblia siríaca passou a exercer influência no Oriente e a Versão dos Setenta ficou no esquecimento, tornando-se a Bíblia oficial da Igreja Ortodoxa Grega. Foi a base das principais versões antigas da Bíblia, a começar pela Vetus Latina, seguida das gótica e eslava, sendo as seguintes versões orientais filhas: Cóptica, Armênia, Gregoriana e Etiópica. A língua cóptica era falada no Egito no período helenista e se dividia em vários dialetos, existem traduções em todos eles, mas apenas em sahídico foi traduzido o Antigo Testamento completo. A Vulgata Latina e a versão siríaca Peshita vieram do hebraico.
 

Com o renascimento cultural do século XVI, recomeça a busca do texto hebraico, a língua original do Antigo Testamento, e do texto grego koinê do Novo Testamento. Com a retomada do estudo das línguas clássicas, como o grego e o hebraico, por leigos, novamente as Escrituras estavam acessíveis a uma camada de pessoas importantes e influentes. Nesse contexto, a LXX volta a ser lembrada e, nessa época, o cardeal Francisco Ximenes de Cisneros preparou entre 1514 a 1517 a Poliglota Complutense, conhecida também como “Poliglota de Alcalá”. Ela contém a LXX completa, a (Editio Princeps), tendo a Vulgata Latina no centro da página. Entre 1798 e 1827, foi publicada a edição crítica de Holmes-Parsons com variantes textuais e, em 1850, Tischendorf lançou a sua edição da LXX.
 

Assim, o interesse pelo estudo da LXX aumentou no século XX, ganhando novo fôlego com as descobertas de Qumran. Diversas edições gregas já foram publicadas e muitas traduções já estão disponíveis para várias línguas modernas como o inglês, o francês, o italiano, o espanhol, o alemão, o japonês, o coreano e até para a língua hebraica. Essas traduções modernas falam por si só sobre a importância da Bíblia de Alexandria.
 

Estamos falando de uma tradução feita numa época em que o Cânon Sagrado ainda estava se desenvolvendo, o que explica as diferenças entre o Texto Massorético e a LXX, abreviações e expansões, inversão na ordem de capítulos e, às vezes, de versículos. Não é possível saber como os livros do Antigo Testamento foram produzidos, as informações disponíveis são tardias e escassas, mas as evidências indicam que na época de Jesus o Cânon estava definido. O que aconteceu antes não invalidará o valor nem a autoridade das Escrituras Hebraicas e não comprometerá a sua inspiração divina.
 

A Versão dos Setenta lança luz sobre a história do texto hebraico nos últimos 250 anos que precederam o nascimento de Jesus, mostrando alguns vislumbres sobre o que teria acontecido com os livros do Antigo Testamento na sua redenção final. Com isso, ela se constituiu uma fonte importante para o estudo da história da Bíblia Hebraica.

As descobertas do mar Morto são a confirmação de que os tradutores da LXX não inventaram nada, tudo o que está no texto grego estava na essência do texto hebraico usado como base na tradução. Muitos estudos foram feitos e publicados no século XX sobre a LXX, artigos e monografias em escala mundial, edições críticas de livros individuais e de toda a coleção. A Bíblia do judaísmo helenístico e da igreja dos primeiros cinco séculos de sua história é um texto de especial importância na ajuda para interpretar tanto a Bíblia Hebraica como o Novo Testamento. Fonte: (Guia Histórico e Literário – Ed. Hagnos).

“Examinai as Escrituras”.

JESUS FAZ A DIFERENÇA.

 

Editora Hagnos
Enviado por Pastor Jose Junior em 07/10/2019
Reeditado em 16/08/2024
Código do texto: T6763378
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