IDE E PREGAI (23)
Simão Pedro, ao raiar da madrugada, conversava com André e se preparava para a pesca. Estava impressionado com o que Jesus falara: QUANDO EU FOR PARA O MEU PAI E VOSSO PAI, PARA MEU DEUS E VOSSO DEUS, E QUE ESTIVERDES PREPARADOS, VOS DIVIDIREI E VOS MANDAREI PREGAR O EVANGELHO EM TODA PARTE E A TODAS AS CRIATURAS. Era o “Ide e Pregai” conhecido em todo mundo.
Não sabia o que significava, na prática, o que seria pregar a Boa Nova do Reino de Deus. Recordava do drama de Judas Iscariotes e queria ajuda-lo, mas como? Estava decidido a apelar a Jesus em benefício do Iscariotes, e era o que devia fazer no tempo oportuno.
Tentava pegar os peixes, mas parece que eles se escondiam. Não desanimava, com sua experiência compreendia que todo trabalho tem suas deficiências. Descansou um pouco e voltou ao trabalho, quando sentiu que alguém se aproximou dele, olhou com rapidez e não viu nenhum barco próximo. Tornou a olhar com atenção e viu, com espanto, dois pés descalços andando sobre as ondas. Sentou-se novamente e ouviu uma voz tão sua conhecida: “SOU EU PEDRO, NÃO TEMAS PORQUE BEM SABES QUE NÃO FAÇO MAL A NINGUEM. ”
Ficou tranquilo e lembrou de Judas: “Senhor, queria te pedir por Judas. Noto no seu semblante o que deve passar por seu coração. Tenhas compaixão e o ensine a viver com os outros, na alegria, e como desfrutar a vida do modo que o Pai nos permite.
Dos lados do barco, sem Pedro conseguir compreender o fenômeno, fervilhavam peixes à flor do lago, parecendo querer ouvir e ver a conversa do Mestre. Pedro olhava e tornava a olhar, com desejo de jogar a rede, pois nunca vira tanto peixe junto. No entanto, respeitou o momento e entendeu a causa dos filhos das águas.
- Simão - respondeu Jesus - Deus te abençoe, meu filho. O teu coração te fez esquecer de ti mesmo para atender aquele que sofre, mas, na verdade te digo que já fizemos por ele o que nossas mãos puderam alcançar em seu favor. Ele está se enveredando por caminhos proféticos a que ele mesmo por dentro se compraz. A tempestade, Pedro, não deixa de fazer estragos nos campos e na lavoura. No entanto, os benefícios são maiores; as trovoadas e os raios espantam e trazem algum prejuízo, mas limpam a atmosfera, frutificando a vida em todas as direções. É bom que lembres desse irmão, e não te esqueça de orar sempre por ele, porque a prece aliviará o seu coração e a sua inteligência, tisnados em auras provas.
A noite, em Betsaida, quando Pedro chegou para a limpeza costumeira, Judas já havia arrumado tudo. Pedro saúda-o com benevolência e fala aos seus ouvidos com alegria: Judas, meu irmão, eu pedi ao Mestre hoje por ti. O companheiro estampou no rosto certo contentamento e diz: Obrigado, Pedro.
Naquela noite o próprio Judas fez a oração inicial. E Simão Pedro achou que era chegada a hora oportuna para sua pergunta. Levantando-se formulou sua dúvida: Mestre! Queria, se não fosse demais para mim, que respondesses o que quer dizer o “Ide e Pregai”, a divisão que farás com teus discípulos para que eles possam anunciar o teu Evangelho a todas as criaturas de todo o mundo.
O Cristo, rosto iluminado de contentamento, ponderou com precisão.
- Simão, a galinha tem todo o cuidado quando seus pintinhos requerem maiores zelos, mas, quando eles crescem, ela mesma se encarrega de fazer que eles sejam eles mesmos, para que eles assumam, na feição de aves, o posto que devem na rede do “crescei e multiplicai-vos”. Vós, quando preparados, havereis de ser divididos, não pelo ódio, mas pelo amor, para que possais ser o que deveis e fazerdes o que prometestes a Deus na consciência. Para isso, estou aqui a vós preparar como ovelhas que serão perseguidas por lobos, mas sabendo que só lobos caem em armadilhas de lobos.
‘O “Ide e Pregai” que se aproxima tem variados meios na iluminação das criaturas.
Compreende a disseminação da Boa Nova por toda a parte e a todas as criaturas. Porém nunca deveis esquecer o respeito aos homens no modo pelo qual entendeis a vida. Tenho certeza de que multiplicareis milhares e milhares de companheiros na propagação dos preceitos ouvidos de mim. Todavia, muitos deles, invigilantes, usarão a violência, a agressão, impondo ideias e forçando consciências, o que não é nossa meta.
‘O fanatismo, Pedro, é, por sua estrutura, companheiro da incompreensão. O fanático é assim, por não ter entendido a mensagem na sua profundidade. Não espero que aqueles que me cercam e que me ouvem tencionem pregar a Boa Nova por métodos que o amor desaprova. Cada pessoa é um mundo de Deus, para quem devemos ter atenção e respeito. Não precisamos perder tempo com quem não se interessa, pois existem quantidades imensas de almas sedentas de consolo e paz.
‘Meus filhos! Se o “Ide e Pregai” tem variadas modalidades para que possais escolher, a que mais me agrada é a pregação pelo exemplo. A palavra bem orientada é um sopro de luz na consciência de quem ouve. Mas o exemplo é a caridade de Deus que nunca se desfaz. O interesse em mostrar aos outros os prodígios nas pregações pode despertar muitas pessoas para o reino da esperança. No entanto, a vivência dia a dia dos preceitos divinos garante a tranquilidade nos corações.
‘O entusiasmo que pode se apossar de vós na comprovação das escrituras, sobre a verdadeira identidade do Messias que haveria de vir, pode trazer para o nosso rebanho muitas ovelhas. Porém, a autoeducação em nome de Deus e deste Cristo, para que ele viva eternamente nas criaturas, vale mais por ser força de libertação daqueles amarrados pela ignorância. Desenvolver os dons de curar os enfermos, de dar vistas aos cegos, de fazer andar aos paralíticos e de expulsar os demônios das criaturas é muito nobre, por cicatrizar feridas das almas sofredoras. Mas, desenvolver o dom da bondade, do perdão, da caridade e do amor leva muitos a fazer o mesmo, o que não só cicatriza as chagas do corpo, como também cura a alma. Eis que, em linhas rápidas, está aí o “Ide e Pregai”, que havereis de ouvir em breve.
Pedro paralisou os pensamentos por não precisar de raciocínio diante de tão clara exposição. Refletiu que diante de tanta luz, não como ficar nas trevas.
Judas viu naquelas lições barreiras enormes, mas, pela inteligência, certificou-se que era o melhor caminho para espalhar o Evangelho do Senhor.
João encheu o coração de alegria, porque já encontrava no amor a maior certeza da vida. Viver os preceitos do Mestre, para ele, era o maior prazer, mesmo que lutasse com algumas dificuldades.
As portas abriram e do lado de fora muitos esperavam...