Monstro verde à espreita
A inveja é um dos sete pecados capitais. Estes arquétipos da religião judaico-cristã foram implantados pelo Ocidente através de assimilação sociocultural, uma construção histórica por assim dizer. Mas que seria a inveja? Um sentimento? Uma emoção? Um anelo? Digo, pois, que se a preguiça é a inércia física, a inveja é a inércia do espírito. Uma advém da forma e outra da essência, mesmo que essa seja mefítica.
A inveja não é apenas a vontade intrínseca de assumir o lugar do “outro”, mas também o seu status, é a aceitação que o invejoso tem da sua própria imperfeição. Entretanto, essa imperfeição não é transvalorada. De nada serve essa interiorização, pois o indivíduo(a) ou indivíduos olham para um poço sem fundo, que não possui nenhuma água para saciar sua sede. A inveja é a maior forma de autodepreciação existente.
Diferentemente da ganância, que insinua o desejo de possuir algo mais e/ou o desnecessário, a inveja deseja possuir o que o “outro” possui, tudo movido a agressividade e ressentimentos alimentados por objetivos mesquinhos e ignóbeis. “Se não consigo, o ‘outro’ não há de conseguir”, assim pensa o invejoso. Em seu coração habita o monstrinho verde, gosmento e pegajoso, não se dê ao trabalho caro(a) leitor de buscar referências shakespearianas que não possui em vosso repertório!
A inveja manipula, dissuade e distorce a visão de mundo do ser humano. Em seus ouvidos, as vozes agourentas crocitam e sibilam abominações indizíveis. O Invejoso é tão oco quanto um tronco de árvore putrefato e tão opaco quanto uma estrela morta, isso é gastar muito da minha poética à toa senhoras e senhores!
O invejoso, insaciavelmente, busca nos que os rodeia, as qualidades e virtudes que não possui. Como reflete o “outro” como um negativo, ou uma imagem espelhada, as qualidades externas a si transformam-se em defeitos no “outro”, e nem as necessidades imanentes dessas qualificações conseguem retirar as escamas dos olhos do invejoso. Talvez seja por isso que quando adentram o inferno tem os olhos queimados e as pálpebras costuradas a fios de prata. É incrível como o ser invejoso sente prazer na desgraça alheia e lança olhar malicioso para o sucesso dos “outros”.
O símbolo da inveja é o cão, animal destinado a ser a vida toda domesticado, ou seja, impotente, servil e condenado a ser coadjuvante. Sua cor é representada pelo verde, o que me lembra vômito, fungos e claro, insetos, coisas desagradáveis e insignificantes, muitas das quais matamos com o pé.