A GUARDA DO SÁBADO E O ESPIRITISMO

Todos os seres vivos necessitam de descanso. O ser humano descansa principalmente durante a noite para refazer suas forças físicas e psicológicas. Todavia, somente o sono noturno não é suficiente para a reposição total, existe tanto em humanos como em outros organismos um biorritmo semanal denominado circaceptano, responsável por determinadas funções orgânicas e que ocorre num ciclo de sete dias, independente se é no sábado ou em qualquer outro dia da semana.

Isso acontece, porque as criaturas do planeta Terra evoluíram sob a influência do período de rotação diária do Orbe, que alternando entre a luz solar e a noite, forma os dias em um conjunto de sete.

Sendo assim, intuitivamente muitas sociedades antigas determinavam um dia para suas festas religiosas e pausa dos afazeres diários. Os mesopotâmicos [1] usavam o sábado mesmo antes do surgimento dos hebreus, pois já dividam a semana em sete dias e também empregavam palavras muito semelhantes ao vocábulo hebraico Shabat, como por exemplo, o acadiano [2] Chappatu.

Desse modo, inspirando a inclusão do dia sabático na Torá (Deuteronômio 5:14-15), os Espíritos do Senhor se serviram de uma data que já era utilizada tradicionalmente por outras nações conhecidas dos hebreus. Assim como ocorreu com a circuncisão, prática corrente em algumas regiões daquela época.

Obrigando o povo, seus escravos e animais a um descanso semanal, evitou desmandos relacionados ao trabalho exaustivo que dificilmente aqueles homens rudes e indisciplinados cumpririam sem uma imposição divina. Até as áreas de cultivo descansavam de sete em sete anos para repor os nutrientes perdidos (Êxodo 23:10-11).

Outro benefício proporcionado pelo Shabat era o de reunir os hebreus em torno da adoração monoteísta semanalmente, dificultando a influência dos cultos pagãos sob o povo [3]

Então, o sábado foi abençoado por Deus para um momento especifico relacionado ao povo hebreu atendendo às necessidades de refazimento material e espiritual. Por isso Jesus falou: “O sábado foi feito para o homem e não o homem para o sábado” [4]

Entretanto, muitas ramificações cristãs que guardam o sábado [5] também argumentam que o Shabat é um memorial que remonta ao descanso de Deus ou a cessação da sua obra criadora. (Êxodo 20:8-11 e Deuteronômio 5:12)

Então, qual das duas justificativas realmente faz parte da ordem natural das coisas: o descanso de Deus ou dos homens? É óbvio que Deus não descansou e muito menos cessou de trabalhar como sugere a descrição mitológica do Gênesis.

A ciência já estimou, até o momento, através da análise de rochas muito antigas que a idade do nosso planeta é de aproximadamente 4,54 bilhões de anos, contrariando o relato mosaico. Ao passo que o homem precisa de um repouso semanal.

Nesse sentido, o mandamento de um descanso simbolizado no sábado em sendo uma necessidade evolutiva, nunca foi abolido [6]. Porém, o Shabat hebraico levado ao pé da letra não faz mais nenhum sentido para os dias atuais. Visto que, o que o senhor da vida mais preza é o amor e a pureza de coração todos os dias da semana e não a guarda imposta de dias e sábados que muitas vezes não torna o homem melhor [7].

O Espiritismo, apesar de ser uma doutrina eminentemente Cristã não observa nenhum dia de descanso e oração em especial. Todavia, respeita o posicionamento e a liberdade de crença das demais religiões Cristãs.

Para a Doutrina Espírita, todos os dias são do Senhor. Deixando a cada pessoa a escolha do dia ou do horário que lhe for mais adequado para a adoração ao Criador e ao repouso [8].

[1] A região da Mesopotâmia é o local de origem dos hebreus, Gênesis 11: 28 – 31; Josué 24: 2. Durante o exilio na Babilônia os judeus retornaram ao território.

[2] Os Acádios foram um povo semita, assim como os hebreus.

[3] Levítico 23:3; 26:1-3; Números 28:9.

[4] Marcos 2: 27-28, 3:1-6.

[5] Sabatistas.

[6] Ver na primeira parte, biorritmo circaceptano.

[7] Atos 15:19-20; Colossenses 2:16-17.

[8] KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos perguntas 653 – 656 e 682 – 685.