IRMÃO CORVINO
            As vozes do além, do mundo espiritual, chegam até nós para orientar a nossa caminhada, conforme nossa boa vontade em seguir as lições do Cristo. Assim é que Emmanuel nos traz através da mediunidade de Chico Xavier, no livro “Ave Cristo”, a fala do irmão Corvino, defendendo a causa dos enfermos abandonados e infelizes, que muito nos serve em nossas reflexões.
            - Se desprezamos o próximo – comentava ele, inflamado de confiança -, como atender ao nosso mandato de caridade? Cristianismo é viver o espírito do Cristo em nós. Vemos no estudo das narrativas apostólicas que as legiões do Céu se apossam da Terra, em companhia do Senhor, transformando os homens em instrumentos da infinita bondade. Desde o primeiro contato de Jesus com a humanidade, observamos a manifestação do mundo espiritual, que busca nas criaturas pontos vivos de apoio para a obra de regeneração. Zacarias é procurado pelo anjo Gabriel que lhe comunica a vinda de João Batista. Maria santíssima é visitada pelo mesmo anjo, que lhe anuncia a chegada do Salvador. Um enviado celeste procura José da Galileia, em sonhos, para tranquiliza-lo, quanto o nascimento do Redentor. E, erguendo-se o Mestre divino, entre os homens, não se limita a cumprir a Lei Antiga, repetindo-lhe os preceitos com os lábios. Sai de si mesmo e coloca-se ao encontro das angústias do povo. Limpa os leprosos da estrada. Estende mãos amigas aos paralíticos e levanta-os. Restitui a visão aos cegos. Reergue Lázaro do sepulcro. Restaura doentes. Reintegra as mulheres transviadas na dignidade pessoal. Infunde aos homens novos princípios de fraternidade e perdão. Ainda na cruz, conversa amorosamente com dois malfeitores, procurando encaminhar-lhes as almas para o Mais Alto. E, depois dele, os apóstolos abnegados continuam-lhe a gloriosa tarefa do reerguimento humano, prosseguindo no ministério do esclarecimento da alma e da cura do corpo, devotando-se ao Evangelho até o derradeiro sacrifício.
            ‘Como conseguiremos, porém, ajudar a humanidade, simplesmente orando? – Ajuntou Corvino, seguro de si -. Temos companheiros admiráveis estacionados no deserto. Organizam pousos solitários, desfiguram-se, atormentam-se e creem auxiliar, por esse modo, a obra de redenção humana. Se devêssemos, porém, procurar a tranquilidade própria, a fim de servir ao Criador, por que motivo teria Jesus vindo até nós, partilhando conosco o pão da vida? Em que luta condecorar-se-á o soldado que desiste do combate? Em que país haverá colheita valiosa para o lavrador que nada mais faz que contemplar a terra, a pretexto de amá-la? Como semear o trigo, sem contato com o solo? Como plantar o bem, entre as criaturas, sem suportar o assédio da miséria e da ignorância? Não podemos admitir a salvação sem a intimidade daquele que salva com aquele que se encontra desviado ou perdido.
            ‘Veneráveis irmãos, admito não nos caiba o direito de interferir na resolução do que buscam a solidão, contudo, creio não devamos incentivar o movimento que podemos classificar por deserção. Estamos numa guerra de ideias. O primeiro legionário que tombou, em holocausto à libertação do espírito humano, foi o próprio Mestre, nosso Comandante divino. Desde a cruz do Calvário, nossos companheiros, em vasta frente de valorosos testemunhos, sofrem o martirológio da fé viva. Há quase 200 anos somos pasto das feras e objeto desprezível nos divertimentos públicos. Homens e mulheres, velhos e crianças, têm sido levados a arenas e cárceres, postes e fogueiras, revelando o heroísmo da nossa confiança em um mundo melhor. Não seria lícito trair-lhes a memória. Os adversários de nossa causa têm-nos como amargurados portadores da indiferença pela vida, mas é que ignoram a lição do Benfeitor celeste que nos indicou no serviço da fraternidade a fonte do verdadeiro bem e da perfeita alegria. Urge, assim, não nos afastemos do trabalho e da luta. Há construções no plano do espírito, como existem no campo da matéria. A vitória do Cristianismo, com a livre manifestação do nosso pensamento, é obra que nos compete concretizar.
            ‘Sim, temos o direito de esmolar. Esse, contudo, é também o direito do mendigo. Não nos cabe, segundo nos parece, olvidar a produção de benefícios para o mundo. Temos terra disponível, sob a responsabilidade de vários irmãos. O arado não mente. Os grãos respondem com fidelidade ao nosso esforço. Podemos trabalhar. Não devemos recorrer ao concurso alheio, senão em circunstâncias especiais. Não seria aconselhável manter a comunidade improdutiva. Cabeça vaga é furna de tentações. Creio em nossa possibilidade de auxiliar a todos, por meio do esforço bem dirigido. O serviço de cada dia é o recurso de que dispomos para testemunhar o desempenho dos nossos deveres, diante dos que nos acompanham de perto, e o trabalho espontâneo no bem é o meio que o Senhor colocou ao nosso alcance, a fim de que sirvamos à humanidade, com ela crescendo para a Glória divina.
            Boa lembrança para que deixemos o serviço de ajuda ao próximo sempre em primeiro plano, que o trabalho seja a base sólida da nossa caminhada evolutiva, amparado por todos amigos do plano espiritual que vibram na mesma sintonia do amor incondicional.
            Os trechos sublinhados são aqueles que dou maior importância, como tentar viver o espírito do Cristo na prática, de se aproximar daquele que sofre, sem medo de tombar pela ignorância que ainda cobre a maioria dos nossos irmãos.
            Destaquei também as mulheres transviadas em sua dignidade, por ser um trabalho que está em gestação no meu repertório de ações, e que encontrei argumentos interessantes que logo colocarei neste espaço, como forma de introduzir o que precisa ser feito.