O Prego

Em uma certa cidade, em alguma parte do mundo, morava uma família muito parecida com a maioria das famílias que conhecemos: um homem, uma mulher e um casal de filhos. Tanto o marido quanto a esposa, trabalhavam muito para proporcionar o sustento da família e a educação dos filhos.

O homem era um sonhador; sonhava em ter uma vida melhor junto com a sua família. E sonhava alto, afinal, sonhar não custa nada...

Ele costumava imaginar como seria maravilhosa a sua vida, se fosse milionário e pudesse morar em um daqueles luxuosos palacetes, à beira de lindíssimas praias, como aquelas que costumam aparecer nos filmes de Holywood; pensava em quantas BMW poderiam estar na sua garagem e na quantidade de empregados que estariam à disposição da família para atender aos seus mínimos desejos...

E de tanto sonhar acordado, certa noite teve um sonho que iria mudar radicalmente a sua vida. No sonho,o diabo lhe apareceu e disse: - Escute meu amigo, eu sei de tudo o que você mais deseja neste mundo e posso realizar todos os seus desejos; dou-lhe tudo o que você quer, basta você acreditar em mim e querer. O homem, meio desconfiado perguntou: -Mas você não é de dar nada de graça para ninguém, deve ter um preço para isso, o que e que você quer em troca? O diabo apenas sorriu e disse: -Não se preocupe, eu cobro pouco, amanhã eu lhe digo o que eu quero...

No dia seguinte, ao acordar, o homem viu que tudo não passara apenas de um sonho. Não deu muita importância e acabou se esquecendo do sonho durante o dia...

Mas chegou a noite, e aí o sonho se repetiu. Desta vez o diabo lhe disse: -Ontem você me perguntou qual era o preço que eu cobraria para realizar os seus sonhos, pois agora eu lhe digo; quero apenas um prego; um prego grande e forte no meio da parede da sala principal da sua casa. É só o que eu quero de você...

O homem ficou radiante, pois havia pensado que talvez o diabo fosse querer a sua alma; quem sabe? Então disse: -É só isso? Apenas um prego? Negócio fechado, eu aceito!

Ótimo, disse o diabo, então amanhã mesmo você já pode começar a procurar a casa dos seus sonhos; pode ser a mais linda e mais cara que existir; ela já é sua!

E o homem acreditou. Afinal o sonho era muito real e se repetiu por duas noites. Assim mesmo, logo no dia seguinte resolveu confirmar. Aprontou-se e saiu para procurar a mansão dos seus sonhos. Achou aquela com que tanto sonhara; era lindíssima, com uma enorme piscina, tinha um jardim florido e um vasto pomar com várias árvores frutíferas e ainda por cima, ficava em uma quadra frente ao mar. Procurou então o corretor e disse: -Quero comprar esta casa, qual é o preço? O corretor olhou-o de cima a baixo, abriu a gaveta e pegou uma folha de papel; olhando o que ali estava escrito, perguntou-lhe qual era o seu nome. Quando o homem disse o seu nome, ele falou: -Olhe, na verdade eu já o estava esperando; tenho em mãos um cheque passado em seu nome, que está em branco e o senhor está autorizado a colocar o valor que quiser.

O homem ficou felicíssimo e logo efetuou a compra. Passou logo em uma grande revendedora de automóveis e comprou também os carros de luxo com que tanto sonhara; mobiliou a mansão do jeito que havia imaginado e preparou a festa para a inauguração, convidando todos os parentes e dezenas de amigos.

No dia da festa tudo estava perfeito; havia muita luz, música e glamour; no salão principal tinha sido posta uma mesa farta com comidas diversas e bebidas finas.

À beira da enorme piscina, toda enfeitada com bolas multicoloridas, muita gente bonita se aglomerava, embelezando ainda mais aquele ambiente.

Era no salão principal que estava toda a família reunida: O casal anfitrião, seus pais, seus irmãos, tios, primos, enfim tudo estava perfeito...

Até que, de repente estacionou bem em frente à porta principal, uma bela, luxuosa e reluzente limousine preta. Dela desce um homem, todo de preto, com um capuz da mesma cor que lhe cobria todo o rosto; ele vai até o porta-malas, abre-o, e dali retira, presa por um gancho (daqueles de açougue) uma enorme peça de carne e a coloca às costas, dirigindo-se em passos firmes à entrada principal.

Ao se aproximar um pouco mais das pessoas que ali se encontravam, percebeu-se que aquela peça de carne que ele carregava estava putrefata, pois dela se desprendiam pequenos pedaços que iam caindo pelo caminho, desmanchando-se ao tocar o chão. A podridão era então visível e o mau cheiro da carniça era tão insuportável que empestava todo o ar fazendo com que as pessoas mais próximas até vomitassem. Com passos lentos, porém firmes, o homem adentrava ao salão, que àquela altura estava repleto de convidados. O Anfitrião foi chamado e, colocando-se na frente do intruso lhe disse: -Quem lhe autorizou a entrar com isso aqui? Por acaso alguém lhe convidou? Mostre-me o convite ou saia daqui imediatamente!

Àquela altura, o ambiente até então tão gostoso, saudável e acolhedor já havia se transformado num lugar macabro e insuportável. O que se via era as pessoas irritadas e passando mal com tudo o que estava acontecendo. Mas o “invasor” não respondia nada, simplesmente ia caminhando mansão adentro, até que parou diante da parede principal do salão; puxou uma cadeira, subiu nela e, erguendo o seu fétido e pesado fardo, o pendurou naquele prego... Virou-se então para o anfitrião, tirou o capuz para que este lhe reconhecesse, e lhe lançando um olhar de triunfo, sorriu...

E você, meu amigo, minha amiga?... Será que tem algum prego na sua sala?

Procure bem. Certifique-se de que não exista nenhum prego. Mesmo que seja um bem pequenino, martelo nele! Não deixe que ele cresça na sua vida. Elimine-o imediatamente...

E lembre-se; se ao invés de um pequeno martelo, você precisar de uma enorme e pesada marreta e sentir que os seus braços não são suficientes fortes para erguê-la e a manusear, jamais se esqueça que existe um Amigo; um Alguém que está sempre junto de você; sempre conosco pronto a nos ajudar; é Aquele com quem sempre podemos contar e buscar, principalmente naqueles momentos em que sentimos fraquejar; seja física ou espiritualmente... Afinal: “Tudo Posso Naquele Que Me Fortalece!”

(Paráfrase desenvolvida a partir de uma estória contada, para reflexão, pelo Diácono Melquisedec durante a Homilia da Missa das 18hs, do dia 29.01.12, na Paróquia São Rafael Arcanjo)