O Cético e o Lúcido ( Na visão de um parafrasta...)

Em certa parte deste nosso mundo havia uma mulher que estava grávida de gêmeos. Era uma gravidez saudável. No seu ventre, lá pelo seu oitavo mês de gestação, os dois bebês conversavam animadamente, quando um deles perguntou ao outro:

-Você acredita que existe vida após o nascimento?

-Certamente. Creio que deve acontecer alguma coisa após o nosso nascimento. Acredito até que talvez o principal motivo de estarmos aqui é porque nós precisamos nos preparar para o que veremos e seremos mais tarde.

-Isto é bobagem, respondeu. Não existe nada após o nascimento. Como poderia ser verdadeiramente essa vida?

-Eu não sei exatamente como seria, mas acredito que haverá mais luz do que aqui. Talvez até possamos caminhar com as nossas próprias pernas e comermos com a boca.

-Mas o que você está dizendo é um absurdo! Onde já se viu? Caminhar é impossível. E comer com a boca? É totalmente impensável. É ridículo! O cordão umbilical já nos dá todo o alimento de que necessitamos, por isso eu posso lhe afirmar categóricamente que a hipótese de existir vida após o nascimento está totalmente descartada – o cordão umbilical é muito curto.

O outro ponderou: -Certamente existe algo depois do nascimento. Talvez seja apenas um pouco diferente do que estamos habituados a ter aqui...

-Mas ninguém jamais voltou de lá. Ninguém volta depois do nascimento. O parto apenas encerra a vida aqui no ventre. E afinal de contas, a vida nada mais é do que a angustia prolongada na escuridão. Retrucou.

-Bom, eu não sei exatamente como será depois do nascimento, mas com certeza veremos a mamãe e ela cuidará de nós.

-Mamãe? Você acredita na mamãe? E onde você acredita que ela supostamente possa estar? Por acaso você já a viu? Eu ainda não!

-Eu também ainda não a vi, mas posso senti-la em tudo o que existe à nossa volta! É nela, e através dela que nós vivemos. Sem ela tudo isso que nos cerca, simplesmente não existiria.

-Eu não acredito! Eu nunca vi nenhuma mamãe, por isso é que digo que é claro que não existe nenhuma. Reiterou.

-Bem, como já disse, eu também ainda não a vi. Mas às vezes quando estamos em silencio, podemos ouví-la cantando suavemente, ou sentimos como ela afaga carinhosamente o nosso mundo... Sabe, eu penso que só a vida real nos espera e acredito que agora estamos apenas nos preparando para ela.

E você? No que acredita? Ou não acredita...