BATISMO NAS ÁGUAS, POR IMERSÃO OU ASPERSÃO?
A forma de administrar o batismo nas águas é um assunto bastante debatido entre as igrejas evangélicas. A maioria defende o batismo por imersão e acreditam que não existe base bíblica para outra forma de batismo. Apesar do tema em questão tratar de um assunto bastante controverso no meio (cristão protestante), acredito que se nós pretendemos dar uma resposta mais clara possível ao nosso público, devemos considerar que a forma de batizar tem sim sua importância, porém apenas relativa porque, a validade desta ordenança de Cristo não depende do modo como o batismo é realizado, mas sim da sua essência e significado. Penso que se entendermos isso, torna-se mais claro a questão!
Diferente do Antigo Testamento que apresenta várias ordenanças, como as leis cerimoniais, as festas, os rituais, o derramamento de sangue de animais, as ofertas pelo pecado etc., o Novo Testamento fala de “apenas duas” ordenanças ou sacramentos – (o batismo nas águas e Santa Ceia do Senhor).
Se compararmos o batismo com a Santa Ceia na forma como as igrejas administram estas ordenanças nos cultos, nós podemos propor a seguinte questão: “Se a validade do batismo depende da forma como ele é realizado, o que dizer da Ceia”?
Será que existe no mundo alguma igreja cristã que celebre a Ceia do Senhor exatamente da forma que o Senhor Jesus a instituiu? Com certeza não. Existem igrejas que questionam o uso de pão com fermento, ou seja, o pão comum que encontramos nas padarias. Eles argumentam que o correto é usar pão sem fermento. Outras igrejas argumentam que o correto é usar um único pão, e não vários pães. E a controversa não para por aí, pois, enquanto alguns dizem que apenas um cálice enorme deve ser servido para todos, outros defendem que vários cálices sejam servidos. Se estas teorias estão certas, então, porque a maioria dessas mesmas igrejas, senão todas, usa suco de uva se (a Bíblia) diz claramente que é vinho? Sim, a Escritura não mente! Era vinho mesmo que embriagava se consumido em excesso (1Co 11.21).
Se aceitamos em nossos cultos que podemos celebrar a Ceia fazendo o uso do pão com fermento, bebendo suco de uva no lugar do vinho, participando em pé ou ajoelhados, ao invés de assentados conforme o Senhor estava com os discípulos; e se podemos usar mais ou menos pão com ou sem fermento, ou mais ou menos suco de uva – porque, então a forma do batismo é tão importante?
A Ceia do Senhor e o batismo nas águas são duas ordenanças igualmente importantes, uma não é maior que a outra, porque foram instituídas pelo Senhor Jesus Cristo. No entanto, o valor espiritual que elas possuem, vai muito além da forma como elas são realizadas porque, devemos enxergar que a importância dessas ordenanças está na essência e significado que elas têm para os cristãos. Por exemplo, quando Paulo fala aos Efésios, capítulo 4, verso 5 que “há um só batismo”, será que ele estava falando da forma como deveria ser feito – se por imersão ou aspersão? É óbvio que não.
Qual seria a forma correta de administrar o batismo?
A maioria das igrejas evangélicas acreditam que a forma correta de administrar o batismo é por meio da imersão. Aqueles que defendem esse pensamento dizem que o batismo administrado por aspersão é antibíblico e que, essa forma de batizar foi criada pelos católicos e as igrejas que adotam o sistema de batismo por aspersão estão aderindo às práticas do catolicismo! Será mesmo?
Particularmente acredito que antes de tirarmos conclusões sobre qualquer doutrina bíblica, devemos examinar cuidadosamente as Escrituras, a fim de se evitar erros de interpretação. Partindo do pressuposto de que as Escrituras são a nossa única regra de fé e prática de vida cristã, eu gostaria de examinar alguns textos da Palavra de Deus com o objetivo de tentarmos chegar a uma conclusão mais bíblica possível sobre o assunto.
Alguns argumentos em defesa do batismo por imersão.
O principal argumento para os crentes que defendem o batismo por imersão, está no significado da palavra batismo no (texto original grego koinê). Nos dicionários gregos o verbo βαπτίζω “batismo” expressa a ideia de imergir. É muito comum os que defendem a ideia do batismo por imersão, apelarem para o significado nos originais da palavra batismo a fim de sustentarem a sua teoria. Porém, é importante dizer que a aplicação de significados convenientes aos termos gregos não é o que determina real sentido aquela palavra, porque nós não podemos isolar uma palavra, no caso específico, o verbo grego βαπτίζω do contexto geral que ela se encontra.
Dar um significado a uma palavra não significa apenas pesquisá-la no dicionário grego, mas sim observá-la no contexto bíblico em que ela foi inserida. Usar o significado isolado de uma palavra, ou usar um texto isolado para querer fundamentar uma doutrina é um erro grave que deve ser evitado. O que nós precisamos fazer é observar atentamente o contexto de cada passagem que os termos gregos foram inseridos, para extrair da passagem uma interpretação honesta, mais próximo possível da verdade e sem querer puxar a sardinha para o nosso lado!
Sabemos pelas Escrituras que o batismo de João Batista está registrado nos evangelhos. Em Mateus, por exemplo, está dito que as pessoas vinham até João Batista para serem batizadas no rio Jordão (Mt 3.5,6). Sabemos também pela Bíblia que o rio Jordão tinha grande quantidade de água. Talvez seja por isso também que muitas igrejas defendem a teoria do batismo por imersão. Porém, o fato de o rio Jordão possuir abundância de água, não serve como base bíblica para afirmar que o batismo de João era por imersão.
Um texto muito usado por aqueles que defendem o batismo por imersão, é (Rm 6.4). Lá está escrito que “fomos sepultados com Cristo na morte pelo batismo”. A grande maioria dos crentes tratam esse versículo, como se Paulo estivesse aqui fixando uma norma sobre a forma de batismo. Mas, não é este o ensino do apóstolo.
O batismo significa a união do crente com Cristo em sua morte, dessa forma, “os crentes morreram, com Cristo quando Ele morreu”. É o sinal visível da graça invisível. “Quando Cristo morreu, nós morremos com Ele”. Quando Ele foi sepultado fomos sepultados com Ele. Sua morte foi a nossa morte. E quando Ele ressurgiu dos mortos, nós também ressurgimos dos mortos com Ele. Tudo isso porque Cristo é o nosso representante. Essa ideia está registrada por Paulo no capítulo 5, de Romanos, quando ele diz que da mesma forma que Adão é o cabeça da humanidade; Cristo é o cabeça do seu povo eleito. Assim como nós estávamos unidos em Adão, e as consequências do pecado de Adão chegaram até nós; igualmente nós estamos unidos a Cristo e, portanto, os efeitos da sua morte, sepultamento e ressurreição também chegaram a nós.
É disso que Paulo está tratando aqui em (Rm 6.4), da doutrina da união do crente com Cristo, sendo Ele o nosso cabeça, o nosso representante. É importante dizer que essa inclusão nossa na morte e na ressurreição de Cristo, aconteceu a mais de 2.000 anos atrás, quando Ele foi crucificado em nosso lugar, portanto, nós não havíamos nem nascido ainda. Trata-se então, de um ato de Deus. Ele nos incluiu em Cristo, quando nem nascido nós éramos ainda. Veja que não se trata de uma questão de experiência no batismo, ainda que depois acontecerá, mas sim de um ato de Deus que incluiu os seus eleitos na morte e na ressurreição de Cristo Jesus. É por isso que Paulo diz: “todos nós que fomos batizados em Cristo Jesus fomos batizados na sua morte. E, fomos sepultados com Ele na sua morte pelo batismo” (Rm 6.3,4). O batismo é apenas o símbolo externo da nossa união com Cristo na sua morte e ressurreição, ou seja, é apenas uma forma de nós expressarmos publicamente, exteriormente, do milagre que Cristo fez em nós interiormente, ou seja, Ele nos redimiu, Ele nos justificou diante do Pai. Paulo, portanto, não se refere aqui à forma do batismo, mas a seu significado, que é a nossa identificação com Cristo em sua morte.
Alguns argumentos em defesa do batismo por aspersão.
Conforme já disse anteriormente é comum ouvirmos dizer que não há base bíblica para a realização do batismo por aspersão porque, essa prática é uma “influência do catolicismo romano”. Vejamos, então o que diz a Escritura a respeito!
Todos os "batismos cerimoniais" do Antigo Testamento foram realizados por "aspersão" ou "efusão", nunca por imersão. Isso é muito claro a partir do texto de (Hb 9.10), onde a palavra grega βαπτισμός é traduzida nas versões da bíblia em português por: “abluções” que tem o sentido de “purificação com água”. A mesma coisa está registrada nos (vs. 13,19 e 21 deste mesmo capítulo da carta aos Hebreus).
O batismo do Espírito Santo, simbolizado pelo batismo com água, é sempre descrito na Escritura em termos de aspersão ou efusão (Is 44.3; Ez 36.25; Jl 2.28,29; At 2.17,18; 10.44,45).
Da mesma forma, a aplicação do sangue de Cristo em nós, simbolizada pela água do batismo, é sempre de maneira aspergida, conforme diz a Escritura (Is 52.15; Hb 10.22; 12.24; 1Pe 1.2).
Nenhum batismo tipológico do Antigo Testamento, chamados de batismos no Novo Testamento (1Co 10.2; 1Pe 3.20,21) foram por imersão, mas sim por aspersão ou efusão. “Assim lhes farás para os purificar: asperge sobre eles água da purificação...” (Nm 8.7).
Observe que todo batismo realizado no AT, era um tipo do que seria administrado no NT. Com base nisso eu gostaria de fazer a seguinte consideração! Veja o que a Bíblia diz em (At 1.15): “Porque João, na verdade, batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo”. No capítulo seguinte a promessa se cumpre e Pedro explica este acontecimento usando as palavras da profecia de Joel: “e acontecerá nos últimos dias, diz o Senhor, que derramarei do meu Espírito sobre toda a carne... até sobre os meus servos e sobre as minhas servas derramarei do meu Espírito”. Note bem que o Espírito Santo foi derramado, ou seja, o batismo do Espírito Santo foi por efusão, um batismo no mais elevado sentido da palavra. Sendo assim, se o próprio Espírito Santo batizou os crentes como um derramamento, como é chamado nas Escrituras que Ele mesmo inspirou, por que, então, querer impor um batismo por imersão? Por que afirmar, contra as evidências, que a imersão é a única forma correta?
Se o batismo do Espírito Santo – do qual o batismo com água é um tipo que segundo a Bíblia é administrado por efusão, então, por que muitas igrejas administram o batismo por imersão? Não seria o caso de nós consideramos que o batismo com água seja administrado do mesmo modo como foi o do Espírito – por efusão? Penso que sim!
Mas, antes de encerrarmos o assunto, gostaria ainda de considerar um texto no livro de Atos dos apóstolos, onde fala que três mil almas foram convertidas, ou seja, receberam o batismo com o Espírito Santo em seguida foram batizadas com água e tronaram-se membros da Igreja (At 2.37-41). Pergunto: Foram batizados por imersão estes quase 3.000 convertidos? Para responder que sim, só se pode dar como prova o pretendido significado da palavra batismo porque, não há nada no texto que possa sugerir a imersão. Porém, se olharmos para as circunstâncias desse acontecimento, não havia lugar para realizar o batismo por imersão, nem no templo onde eles estavam, nem aos arredores. Acredito que pelo fato de o batismo do Espírito Santo ter sido descrito como um derramamento, aqueles convertidos foram batizados por aspersão ou efusão, porque se harmoniza melhor com a Escritura. Não há, portanto, contradição entre o batismo do Espírito e o batismo com água. O Espírito foi derramado sobre aqueles crentes quando eles foram batizados e muito provavelmente os apóstolos tenham administrado o batismo com água da mesma forma – derramando água sobre aquelas pessoas.
Considerações finais!
Fiquei sabendo de um caso em que um filho crente estava pregando o evangelho a sua mãe enquanto ela estava enferma em um leito de hospital. Após ela ter crido e se entregado ao Senhor Jesus Cristo, aquele filho todo entusiasmado decidiu batizá-la com a finalidade de obedecer ao mandamento divino. Um crente de outra igreja, que era amigo daquele filho, ficou sabendo do caso e propôs a seguinte questão: “Olha, por que não chamamos o pastor aqui no hospital para batizar sua mãe agora mesmo”? É óbvio que a sugestão daquele crente era o batismo por aspersão! Porém, aquele filho era de uma igreja que só admitia o batismo por imersão e tinha que ser dentro de um rio. Não podia ser em piscina ou em tanque batismal como muitas igrejas fazem hoje em dia. Resultado! Levaram aquela senhora fraca e doente para ser submersa nas águas de um rio.
Pergunto: Você não acha isso uma tremenda ignorância? Na minha sincera opinião, sim. Nós temos que entender que o batismo nas águas, apesar de ser uma ordenança do Senhor Jesus para aqueles que nele crê, por si só, ele não tem efeito algum para salvação. O batismo não pode salvar o pecador, o batismo não pode redimi-lo, o batismo não pode dar nova vida, não pode santificar o pecador, mas Cristo sim, pode realizar todas essas coisas.
Penso que não importa o local do batismo, ou até mesmo a forma como ele será administrado – se por aspersão, ou por imersão. Também não importa – se num rio, ou em uma piscina, se no mar ou em uma cachoeira, ou até mesmo dentro de um templo cristão. Não importa a quantidade de água, porque o batismo é apenas um sinal externo para testemunharmos diante das pessoas do milagre extraordinário que Cristo já operou de uma vez por todas em nossos corações – a redenção. Foi Ele que nos fez novas criaturas, não o batismo. Fomos redimidos por Cristo, fomos justificados por Ele, somos santificados nele não pelo batismo. Ele nos chamou para adorá-lo e servi-lo e, em breve também nos glorificará e só Ele é capaz de realizar essas coisas. A Ele a glória para sempre. Amém.
JESUS FAZ A DIFERENÇA