Eu, Zaratustra e o padre preto
Em Bernardino de Campos, cidade em que vivi de meus 8 ou 9 anos até o despontar do homem, aos 17 anos, convivi com muitas pessoas, umas boas e outras nem tanto.
Em meus pequenos serviços na comunidade católica da cidadezinha, coisas como ajudar o sacerdote na missa, transportar lanternas a vela nas procissões, ajudar em batismos, enfim, no dia a dia cristão, convivi com um padre, entre diversos sacerdotes que passaram pela minha vidinha, conhecido como o “Padre preto”.
De fato como São Benedito, negro luzidio, herança de ancestrais africanos. Chamava-se também Benedito, por acaso tinha no seu nome e sobrenome a identificação de família de meus pais, Santos, da mamãe e Pereira do papai, ou seja, era o padre Benedito Pereira dos Santos. Eu vivia enchendo ele com perguntas e ele então criou a mania de me chamar de “Zaratustra”. Vim entender depois de muitos anos. Afinal, quem foi Zaratustra?
Pois bem:
Zaratustra, ou Zoroastro na versão grega, nascido no atual Irã (Pérsia antiga) foi um poeta, nascido a cerca de 700 anos antes de Cristo, mais conhecido na história por ser um “profeta” que, muito antes do cristianismo fundou a primeira religião monoteísta conhecida na história, o Zoroastrismo, a crença em um só princípio da criação de tudo.
Este personagem da história tem uma origem que desperta o interesse. Conta-se que ao invés de chorar como todo recém-nascido, Zoroastro, ou Zaratustra riu. Sim, ele riu ao nascer! Onde já se viu isto? Só pode ser coisa do...
E na vila onde moravam os pais de Zaratustra havia um sacerdote que, como todos aqueles que dirigem as mentes ignorantes teme por perder a posição de condutor, tratou de convencer os pais do menino a matá-lo. Este sacerdote percebeu, pelo sorriso do menino ao nascer, que ele seria um revolucionário do pensamento humano. Pregou então que o menino tinha um demônio enviado pelos deuses que destruiria tudo. Conseguiu seu intento, mas, Zaratustra estava de fato protegido. Foi levado à fogueira e não se queimou, foi colocado na passagem de uma boiada enfurecida, mas o primeiro boi parou sobre ele, a boiada passou e ele não foi pisoteado. Ainda foi colocado em um covil de lobos, mas, uma loba cuidou dele até que sua mãe o encontrasse.
Lendas maravilhosas da história do mundo.
Já adulto Zaratustra questionava o princípio das coisas. Do sol, estrelas, lua, águas e plantas. Quem fez tudo? Quem traz a chuva? Quem divide o dia e a noite?
E um dia, envolto nestes pensamentos, Zaratustra recebeu a visita de um ser brilhante, de indescritível beleza, que se apresentou como a “Boa mente” e levou o pensador onde outros seres o esperavam.
E a Boa mente participou a Zaratustra que ele fora escolhido par partilhar da divindade do Criador de tudo o que sua ânsia de saber buscava. Porque tinha em si bons pensamentos, boas palavras e boas ações.
Chegando em casa, Zaratustra contou o que aconteceu. Sua família o aceitou, mas, os sacerdotes voltaram a tramar sua morte por medo de nada mais valerem...
Bem. A história deste personagem da nossa história vai muito longe e não daria para colocar aqui. O fato é que Suas atitudes e seus feitos, seus pensamentos e sua crença muito se assemelhavam à religião que surgiria 700 anos depois, com o nascimento de um menino em Belém.
Gostaria de colocar mais e mais da biografia deste homem, mas, corro o risco de tornar esta leitura um tanto enfadonha. Vale a pena conhecer e talvez cheguem à mesma conclusão que eu, que Zaratustra foi a base da cultura e da religião monoteísta que hoje professamos, a crença em um só Deus, Criador de todas as coisas.
É, o padre preto foi muito bondoso comigo.