A Prática Cohen e a Teurgia Martinista
por Chrystian Revelles Gatti, um Simples Irmão
(Lectorium Rosicrucianum e Fraternidade Martinista)
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Visão do Teósofo (Valentine Weigel)
Mundo Luminoso e Mundo Tenebroso, intermediados pelo Mundo dos Astros e dos Elementos para a Reintegração Universal de Todos os Seres.
Toda vez que a civilização se encaminha para o nadir do materialismo e da mais estreita racionalidade, o Mysterium Magnum golpeia-nos com vultos históricos que, mesmo não nos deixando quaisquer pistas e informações de si mesmos, de seu passado ou paradeiro, não obstante nos arrancam o senso de conhecimento e controle da realidade, impondo um rastro de mistério que obriga a confessarmos quão pouco sabemos dos mistérios entre o Céu e a Terra.
Joachim delaTour Martinez de Pasqually é um destes vultos da História. Português, Espanhol? Judeu, Católico, Cátaro? Pouco se sabe de sua origem, ou das correntes das quais recebeu suas práticas. Seu legado, contudo, permanece uma das maiores marcas e enigmas da Tradição Ocidental. Por ele, um teólogo católico (Franz Von Baader) encontrou a profunda confirmação de sua fé. O mais reacionário conservador ultramontano (Joseph de Maistre) iniciou-se na maçonaria apesar da excomunhão. Através dele, um abade abandonou a igreja para tornar-se o mais radical defensor de seu sistema (Abbé Fournié). E também o contrário – convenceu um mero escritor de ficções fantásticas da absoluta realidade da Metafísica (Jacques Cazotte). Por M.Pasqually caíram fascinados: Balzac, Guaita, Josephin, Lévi, Papus, entre outros gigantes da Tradição. Por isso, escrevo este artigo para compartilhar convosco algo de sua doutrina e práticas, e da forma como foram transformadas por Saint-Martin. Nosso artigo de maneira alguma resume a doutrina do martinismo-martinezismo, e muito menos representa a pluralidade de interpretações e considerações acerca do mesmo. Tendo isto claro, declaramos que nossa intenção não é de forma alguma dar o assunto por encerrado, mas levantá-lo para aprofundar o debate.
MARTINEZ DE PASQUALLY
Apesar de geralmente tomarmos a maçonaria atual por uma ordem tradicional com um sistema coerente, nem sempre foi assim. Desde a medievalidade, as guildas de artesãos vinham recebendo e auxiliando refugiados das mais diversas naturezas – pensadores, alquimistas, templários – e, ao longo do tempo, as corporações operativas absorveram a bagagem e tradição de diversas correntes culturais e filosóficas, de forma que as antigas associações de artistas e pedreiros foram lentamente se transformando em algo completamente novo, abandonando o antigo ofício pela prática especulativa e filosófica que culminaria em focos da Renascença, do Humanismo, da Alquimia, do Iluminismo e do Livre-Pensamento.
Se, por um lado, enxergamos nisso uma riquíssima bagagem cultural coletivamente construída, por outro, foram as posteriores reuniões, como o Convento de Wilhelmsbad e a Convenção de Lyon que deram (de maneira anacrônica) à Tradição Maçônica uma coerência e integridade que os próprios maçons, em sua época, não conheceram. Ser um maçom em pleno séc.XVIII, por exemplo, significava estar simultaneamente cercado de ideais libertários (Rousseau) e conservadores (Burke), céticos (Voltaire) e místicos (Cagliostro), onde o culto à Razão e ao Espírito se entrelaçava de maneira por vezes conflituosa, e forças de interesse político se misturavam com a simbologia dos pedreiros e a filosofia alquímica – tudo isso meio a referências herméticas, ritos de cavalaria e juramentos de vingança templária contra o Antigo Regime.
Podemos dizer, de certa forma, que pairava uma sombra sobre a verdadeira essência ou finalidade original da Ordem, que em alguns países já começava a ser infiltrada e manipulada por grupos conspiratórios de interesse político e econômico. É neste cenário que Joachim delaTour, vulgo Martinez de Pasqually, apresenta-se às Lojas francesas com um sistema filosófico e metafísico envolto em aspectos pitagóricos e operativos que desencadeia um alvoroço nas potências francesas. Suas práticas, teúrgicas e ritualísticas, restauravam o significado perdido da simbologia e dividiam opiniões. Conquistou, dos que presenciaram os resultados de suas operações, a lealdade e fidelidade para o início de um complexo trabalho cerimonial de uma das mais sérias e reservadas fraternidades iniciáticas da História – a Ordem dos Cavaleiros Maçons Elus Cohen. Atraiu igualmente o ódio dos materialistas conspiradores e revolucionários, que colocaram em cheque sua iniciação e foram rebatidos com uma patente maçônica emitida pelo próprio Charles Stuart – Rei da Escócia, Irlanda e Inglaterra – no nome de seu pai. Diante disso, recebeu o reconhecimento do Oriente da França para abrir Templos e dar início aos trabalhos de sua Maçonaria Espiritual.
O SISTEMA
O que Martinez de Pasqually realmente estava fazendo era desvelar aos maçons a filosofia teúrgica propagada por suas próprias simbologias e alegorias, aos poucos perdida pelos membros da instituição. Para Pasqually, a instituição maçônica não é senão a face externa de uma gnose universal que a transcende e engloba. Por isso, o legado Martinezista é também interpretado como uma espécie de Restauração – porque estes ensinamentos não deixavam de ser essencialmente os mesmos da Escola Pitagórica e da Tradição Cátara (como bem coloca o historiador maçônico Robert Ambelain em "História e Doutrina") que haviam se tornado alheios aos irmãos que, sem profundidade filosófica e inclinação espiritual (como infelizmente ainda ocorre), tinham sua simbologia e ritualística transmitida adiante por mero costume e hábito, como se sua mera perpetuação fosse um fim em si, em vez de buscarem o entendimento profundo daqueles códigos velados do Renascimento Espiritual.
Pasqually falava da Queda, da Reintegração e do caminho a ser percorrido pelo homem para a Restauração de seu Estatuto – a plena posse de suas faculdades, virtudes e direitos originais – que consiste em Ser um Mago. Para este mestre, a porta para a Prevaricação ou para a Regeneração era uma única e mesma – a Magia – e não temos escolha. O destino do homem, quer queira ou não, é estar em relação com o Mundo dos Espíritos, porque estamos sempre seguindo uma de suas duas únicas vias – agravando nossa queda ou engendrando nossa reintegração. Não cogitemos aqui o significado tão deturpado que o termo “Magia” evoca em uma primeira vista, como a barganha com entidades e as simpatias da Baixa Magia. Ser um Mago, para Pasqually, não é impor seu desejo egoico ao mundo natural mas, pelo contrário, agir como Causa Segunda mediante a mais ardente submissão à Causa Primeira: o Verdadeiro Mago é aquele que governa o inferior servindo à Causalidade do Plano Superior – ele vence o Astral e coloca os demônios em seus devidos lugares. Para Martinez, o Arquétipo do Homem, o Adão Primordial, é ser um reflexo do Logos, emanado para conduzir a astralidade conforme a Vontade do Verbo.
Para vosso esclarecimento, esboçamos algo de sua cosmogonia.
A Causa Primeira é o Deus Puro Incognoscível, o Fogo Incriado que emana, a partir de si, Causas Segundas à sua imagem e semelhança (como rios que partem da mesma nascente, ou chispas que se desprendem de um fogaréu). Estas essências permanecem livres para se apartarem, individualizando-se, ou permanecerem absortas na grande orquestra da Harmonia Universal. A hierarquia angélica, observada por este ponto, não é senão uma comunhão de Vontades voltadas para o Alto – a grande orquestra de espíritos virginais (que não caíram) recebendo e transmitindo abaixo e adiante a Luz do Uno de acordo com suas próprias gradações e postos, agindo como um só Corpo da mesma maneira que o oceano, apesar de uno, é composto de inúmeras gotículas. Quaisquer semelhanças com a Cabala Cristã não é mera coincidência.
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A Hierarquia – Visão de Santa Hildegarda
Deus é bom porque é Deus ou o é por ser bom? Nem uma coisa e nem a outra. Deus e a Lei Divina são uma única e mesma coisa, a Fonte Una de todo o Amor, Vontade, Sabedoria e Atividade. As almas que não se entregam como Causa Segunda (como músicos da orquestra regida pelo Uno) tornam-se, elas mesmas, Causas Primeiras (como se abandonassem o maestro para criar suas próprias melodias) e assim ingressam no caminho amargo da Individuação. Este conjunto de seres no caminho da Individualização obrigatoriamente se apartam da comunhão divina, como que por uma consequência fatal de Leis rígidas e imutáveis (daí a Queda dos Espíritos Lucíferos, a qual pretendemos ainda esclarecer).
Da mesma forma que um músico que contrariasse a harmonia de sua sinfonia veria seu instrumento soando de maneira dissonante e desafinada, a emanação do Ego como Causa Primeira (em vez de como Causa Segunda guiada pela Sabedoria Celeste) aparta imediatamente da realidade divina como uma Lei Inexorável. Isso se dá porque a Vida Angélica é um eterno receber e doar movendo-se em uníssono em torno do Eixo Central (o Fogo do Uno com sua infinita Luz-Vida-Amor).
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O Céu de Dante – Coros Angélicos (Pintura de Gustave Doré)
Não há como emanar sua própria melodia, ou ousar mover-se em seu próprio ritmo, sem com isso dissonar e distanciar-se fundamentalmente da Música das Esferas. Talvez você pergunte – mas e se o indivíduo, ainda que separado, aprender a abrir-se voluntariamente para a Orientação Superior, unindo Ego e Mônada em uma Verdadeira Vontade guiada pela Sabedoria Celeste, para colocar-se deliberadamente em marcha com a Sinfonia Una? Este insight maravilhoso antecede algo do caminho a ser percorrido pelo Novo Homem para sua Regeneração, assunto que retomaremos após tratarmos devidamente das implicações da Queda. Por hora, voltemos à individualização das centelhas.
Estes seres precisam ser de alguma forma religados, reintegrados ao Seio da Divindade – mas não podem fazê-lo pois, por terem modificado profundamente sua natureza (antes um puro doar, uma Força Centrífuga agora interiorizada como Ego Centrípeto), o mesmo e único Fogo Divino que é, nos Anjos, fonte Doce de Luz e Amor, neles atuaria de maneira corretora e purificadora, como um remédio amargo, tornando-se um Fogo Ímpio de Angústia e Cólera. Inferno e o Paraíso não seriam senão o mesmo e único Seio da Divindade, experimentado de acordo com o estado daquele que o adentra. Poderíamos exemplificar isto com a situação de alguém que, isolado em um quarto escuro, subitamente fitasse uma chama de vela – sua visão será ofuscada e, sua retina, queimada – só que esta agressiva reação não se deve à natureza própria da luz, senão à condição daquele que com ela entra em contato.
Como a própria comunhão com a divindade se tornaria, para estes seres, um Mundo Tenebroso de Angústia e Cólera, fez-se necessário que fossem levados à mais profunda separação da Vida Divina. Para isso, o Universo não-divino, material, regido pela Astralidade e pelos Elementos, foi delimitado para dar livre-manifestação aos entes individuados, servindo-lhes de escola de experiências para seu aperfeiçoamento moral e espiritual, bem como lançando entre eles e o Mundo Luminoso um “fio de ariadne”, uma “escada de Jacó” – ponte para a Religação e Reintegração dos Seres. Para o Martinismo, bem como para o Catarismo e para a Gnose Cristã, este é o entendimento espiritual acerca da origem do Mundo Criado, a relação desta Região Dialética com a trajetória da alma, seu encarceramento, suas lutas e sofrimentos para o aperfeiçoamento e sua final vitória sobre as paixões e retorno à Luz – o Drama da Vida, representado nos Arcanos e nos Mistérios.
AS OPERAÇÕES COHEN
Dentro deste esboço de esquema teogônico, o homem cumpre um duplo-papel fundamental. Se o Verbo comunica sua Vontade, Amor, Sabedoria e Atividade diretamente à Hierarquia, aos Serafins, Arcanjos, Anjos, e assim sucessivamente de séfira em séfira, então a Reintegração dos Espíritos Lucíferos (separados e individualizados) também demandaria, por sua vez, a emanação de uma nova hierarquia, situada entre os anjos e os entes caídos apartados, capaz de entrar em comunhão com os primeiros para reestabelecer e religar estes últimos. Assim diz-se que o Arquétipo do Homem é colocado espiritualmente no Centro da Criação, como Ponte entre estes mundos cingidos. O Adão Primordial, em seu envolvimento com os espíritos lucíferos, passa também sua própria queda, de forma que o homem individual traz consigo uma constituição Tripla, por ser ligado, por Três Princípios, a estas Três Realidades – ligado às estrelas e aos elementos, segundo o corpo; ligado à Sophia Celeste (A Sabedoria Divina) e ao Mundo da Luz, segundo à fagulha divina em si; e, por fim, ligado à região das trevas, ao Mundo Tenebroso e ao Astral através de seu Desejo e Imaginação. Por isso, o homem sempre é um mago, quer queira ou não, porque está em relação permanente com estes três mundos e realidades, quer o faça responsável e conscientemente, quer simplesmente siga sendo inconscientemente dirigido pelo Invisível, influenciando-o e sendo por este influenciado.
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Visão de Jacob Boehme – Os Três Princípios
(Mundo da Luz e Mundo Tenebroso, intermediados pelo Mundo dos Astros e dos Elementos)
Em sua obra Tratado de Reintegração dos Seres, nosso mestre diz, com suas próprias palavras, que “O mau pensamento se chama espiritualmente mau intelecto, assim como o engendramento do bom pensamento se chama bom intelecto. É por estas espécies de intelectos que os espíritos bons e maus se comunicam com o homem e lhe fazem reter uma impressão qualquer, conforme ele usa do seu livre-arbítrio para rejeitar ou aceitar o mal ou o bem, à sua vontade. Os maus pensamentos são engendrados pelo mau espírito, assim como os bons pensamentos são engendrados pelo bom espírito; cabe ao homem rejeitar uns e aceitar outros.”
Levando isso em consideração, entendemos que a Teurgia Operativa de Pasqually consistia em entrar em relação consciente com a Hierarquia, pois que já estamos, todo o tempo, em relação semiconsciente com o Mundo dos Espíritos através de nossos pensamentos, intenções e afinidades. Sobre isso, seu discípulo Cohen Louis-Claude de Saint-Martin diz: “As faculdades da alma podem estender-se para fora da pessoa e comunicar-se. Abrimos e fechamos as portas de nossa alma segundo nossa vontade, através de nossos desejos, nossa imaginação, o trabalho interno mais ou menos negligenciado, nossa boa ou má conduta etc.”.
Tendo entendido isso, podemos tratar da grande confusão que permeia o uso do termo “Martinismo”, que é por vezes utilizado como referência ao ensinamento de Pasqually, por vezes ao de seu discípulo Saint-Martin e, de fato, os ensinamentos de Martinez de Pasqually e Louis-Claude de Saint-Martin não diferem essencialmente em sua metafísica, cosmogonia e objetivo final, senão nos métodos para a realização da Grande Obra.
Martinez de Pasqually orientava seus discípulos a práticas de natureza ritualística e cerimonial que evocavam ativamente a influência celeste, exorcizavam a influência demoníaca e, principalmente, se destinavam a abrir um canal para o Invisível, que tomava a forma de comunicações, fagulhas, chispas, sigilos, entre outras manifestações sensíveis e aparições luminosas que reafirmavam no adepto sua fé e confirmavam seu progresso na senda da Reintegração. Os discípulos de Pasqually eram orientados a uma vida rigorosamente disciplinada, se abstendo de todos os vícios e paixões, com orações regulares e uma devoção incessante às operações.
Os Elus Cohen entravam limpos e banhados em seus oratórios; removiam todos os objetos metálicos; traçavam com giz círculos concêntricos com os nomes divinos e angélicos; posicionavam as velas de cera nos pontos cardeais; incensavam o ambiente e realizavam suas complexas prostrações e invocações ao Alto, bem como o exorcismo ritualístico da influência astral inferior. Com o tempo, Louis-Claude de Saint-Martin, um dos principais discípulos de Pasqually, percebia a grande dificuldade que muitos iniciados tinham em provocar as manifestações visíveis, e que, movidos tão fortemente pelas aparições e práticas externas, deixavam de atentar para o principal: cultivar em si a pureza e a regeneração interior necessária para a comunhão com a Vida Angélica – o que era justamente a meta principal e original.
Isso levou Louis-Claude a criticar sua antiga escola por estar “mais preocupada com a Ciência dos Espíritos do que com a da Alma”. Com o tempo, Saint-Martin sustentou a posição de que as manifestações astrais, o psiquismo e os transes alterados de consciência seriam contraprodutivos, levando o candidato à fascinação pela experiência e a desviar-se da Via Interior. Para Louis-Claude, se pudermos unir-nos à Vida Angélica em Amor, Vontade, Sabedoria e Atividade, hemos de receber dela, em seu próprio tempo, as intuições, inspirações e comunicações que sejam propícias à nossa Regeneração.
Saint-Martin encontrou, na obra de GICHTEL e BOEHME uma Via Interior para o mesmo objetivo de seu antigo mestre. Seu novo método substitui a magia operativa exterior pela alquimia cardíaca da teurgia interior – através da Leitura, da Meditação, da Oração e da Contemplação, abrimos nossos canais espirituais longe do perigo da fascinação astral e das manifestações sensíveis. Se o que mais importava, desde o início, era a purificação e regeneração individual do adepto, então isto explicava a cada vez maior dificuldade dos discípulos de Pasqually em obter os resultados do mestre por conta própria. Em uma carta para seu amigo Barão de Kircheberger (disponível no site da SCA), Saint-Martin diz que seu antigo mestre “possuía a chave ativa de tudo o que nosso caro Boehme expõe em suas teorias, mas não nos acreditava em condições de sermos portadores dessas altas verdades”. Dito de outra forma, não considerando seus discípulos prontos para ingressar no conhecimento de primeira mão, Martinez havia lhes legado um sistema para que, não podendo ascender às regiões divinas, pudessem ao menos fazê-la descer sobre eles em manifestações, comunicações e influências por meio de uma rígida disciplina sacerdotal. Entretanto, quando deixados por conta própria, os Elus Cohen dificilmente obtinham o mesmo sucesso do que quando acompanhados de seu líder em suas operações. Louis-Claude percebeu, então, que de nada adiantavam as práticas externas se não estivermos interiormente em comunhão íntima com a influência do Alto. E, pelo contrário, se pudermos abrir, em nosso íntimo, os canais diretos para a livre transmissão destes dons e comunicações, então as operações cerimoniais já se fazem desnecessárias – será que realmente precisávamos de tudo aquilo para chegar a Deus? Em suas palavras: “A Unidade não se encontra nas associações; ela só se encontra em nossa junção individual com Deus.”. Para o Filósofo Desconhecido, com suas próprias palavras em O NOVO HOMEM, devemos desejar ardentemente o conhecimento e comunicação de nosso anjo particular, porque só então “a atividade divina poderá se comunicar com o nosso interior”. “O coração do homem é o amor; o anjo é o recipiente da Luz Divina”. Para nossa Regeneração, devemos selar em nós um “casamento real com o nosso ser divino”, e “nenhum casamento é comparável à esse” - estabelecer esta conexão é a mais simples e importante meta da Verdadeira Magia Divina. Conhecê-la-eis pelos seus frutos.
Para se aprofundar e entender efetivamente o caminho proposto e percorrido por S.Martin e Jacob Boehme, recomendamos a leitura do livro A SENDA DO HOMEM CELESTE, pela Editora Polar, no qual um dos maiores discípulos de Jacob Boehme (e primeiro editor de suas obras), Georg Gichtel – chamado “Nosso General Gichtel” por Louis-Claude – relata as etapas e experiências de seu próprio processo de Regeneração, das Trevas à união com a Divina Sophia, passando do Fogo da Cólera divina à Luz Doce da Vida Angélica.
Quanto à história da Ordem dos Cohen, recomendamos o livro ENSINAMENTOS SECRETOS DE MARTINEZ DE PASQUALLY, de Franz von Baader, publicado pela Editora Madras. Após suas poucas décadas de atividade, a situação da Ordem Interna tornou-se cada vez mais difícil pois, constantemente ocupado com assuntos de família, Martinez instruía seus alunos à distância por cartas, não mais podendo acompanhar pessoalmente seu progresso, e após seu falecimento em Santo Domingo houve cada vez maior dificuldade dos adeptos em realizar rigorosamente os procedimentos e disciplinas das operações martinezistas. Para piorar, os ânimos sociais se exaltavam no ambiente político, e a perseguição revolucionária levou à dissolução da Ordem, que teve poucos documentos preservados por membros individuais e isolados.
Para os que desejam conhecer os testemunhos e relatos em primeira pessoa de um membro da Elus Cohen original de Martinez, recomendamos o livro “Ce que nous avons été, ce que nous sommes et ce que nous deviendrons” do abade Fournié, que com muita felicidade encontramos disponível gratuitamente no Google Books.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FOURNIÉ, Pierre. Ce que nous avons été, ce que nous sommes et ce que nous deviendrons.
GICHTEL. J. G. Theosophia Practica
WAITE. Edward. The Unknown Philosopher.
BAADER, Franz Von. Ensinamentos Secretos de Martinez de Pasqually.
SAINT-MARTIN, Louis-Claude de. NOVO HOMEM.
SCA. Cartas de Louis-Claude de Saint-Martin.
BÖHME, Jakob. AURORA.
http://www.rosacruzaurea.org.br/
https://fraternidademartinista.wordpress.com/