OS 5 SOLAS DA REFORMA PROTESTANTE
No dia 31 de outubro, de 2021, a Igreja Protestante irá comemorar um dos eventos mais importantes de toda a sua história! (504 anos da Reforma). Em 1517 o monge agostiniano Martinho Lutero pregou nas portas da Igreja de Wittenberg as 95 teses contra as indulgências, dando início a um dos movimentos que marcou positivamente a história da igreja: “A volta ao cristianismo apostólico”.
O objetivo principal da Reforma, era exatamente isso, “reformar”, ou seja, (voltar as Escrituras e rejeitar completamente qualquer doutrina sem base na Palavra de Deus). Só a Escritura é inerrante e nossa única regra de fé e prática na vida da igreja, mas infelizmente a igreja evangélica por muitas vezes, tem sido guiada pela cultura, não pela Escritura.
Estratégias de marketing, as técnicas terapêuticas, e o ritmo do mundo de entretenimento cada vez mais tem ganhado voz naquilo que a igreja quer, em como funciona, e no que oferece, do que a Palavra de Deus. Os pastores negligenciam a supervisão do culto, que lhes compete, inclusive o conteúdo doutrinário da música. À medida que a autoridade bíblica foi abandonada na prática, que suas verdades se enfraqueceram na consciência cristã, e que suas doutrinas perderam sua proeminência, a igreja foi cada vez mais esvaziada de sua integridade, autoridade moral e discernimento. “Pequeno trecho, extraído da Declaração de Cambridge”.
Vivemos em um mundo cheio de opiniões de verdades concorrentes. Declarações do tipo: “Isso está certo, mas aquilo está errado” tronou-se algo comum em nosso dia a dia. Querem empurrar goela abaixo o que devemos crer e o que devemos desacreditar. Exigem que nos comportemos de um jeito ao invés de outro. Isso não é outra coisa, senão aquilo que na teologia costumamos chamar de “pragmatismo religioso” que tem sido implantado sorrateiramente nas igrejas evangélicas por falsos mestres e falsos pastores. Para os adeptos desse pensamento “a Verdade, ou seja, a Palavra não interessa, mas aquilo que funciona; pouco importa o Conteúdo, ou seja, a Palavra; o que interessa mesmo são os resultados”.
São tantos rudimentos de homens que nos leva a fazer a seguinte pergunta: “Quem está dizendo a verdade”? Infelizmente, quando comparamos os 5 Solas da Reforma Protestante, com as ideias das igrejas evangélicas atuais, percebemos o quão distante elas estão do cristianismo apostólico, das bases da Reforma e consequentemente das Escrituras. Todavia, nós que defendemos a inspiração, autoridade, suficiência, infalibilidade e inerrância das Escrituras, entendemos que a Bíblia deve ser ensinada e pregada na igreja. Nossos sermões precisam ser preferencialmente expositivos – a luz da verdade do Evangelho de Cristo, não baseado nas ideias, ou opiniões dos homens.
Os 5 Solas, sua origem e para que servem
Os 5 Solas da Reforma Protestante são (preposições teológicas) que abreviam os principais pensamentos dos reformadores. São cinco frases latinas que expressam as convicções da Teologia Reformada em oposição aos ensinos da Igreja Católica. O termo “Sola” significa: (somente). Dessa forma os 5 Solas significam: “Somente a Escritura, Somente Cristo, Somente a Graça, Somente a Fé e Somente a Deus a Glória”.
Apesar de serem os grandes pilares na teologia da Reforma Protestante, os 5 Solas surgiram tempos depois quando teólogos reformados analisaram de forma sistemática as diretrizes da Reforma. Acredita-se que isso se deu a partir do período em que foram formulados os catecismos e as confissões de fé da Igreja Protestante.
Os 5 Solas da Reforma Protestante são de grande importância para a estruturação de uma teologia fundamentada exclusivamente na Palavra de Deus, servindo como instrumento de orientação às igrejas, no retorno para os verdadeiros ensinamentos das Escrituras, livrando o homem do senhorio do clero e voltando para o senhorio de Cristo.
Os reformadores lutaram contra o sistema católico com base na Sagrada Escritura. Embora a igreja Católica “crê” que a Escritura é a Palavra de Deus, ela também acredita que as decisões nos concílios e o papado falam oficialmente em matéria de fé e moral, ou seja, a Escritura não é autoridade máxima na igreja católica, mas a tradição e o Papa “têm a mesma autoridade”.
Porém, para na igreja Protestante os 5 Solas identificam as distintas posições teológicas mantidas pelos reformadores e mesmo após séculos elas continuam servindo como características distintivas da Teologia Reformada, conforme veremos nas próximas linhas o que cada um desses Solas significa.
Sola Scriptura (Somente a Escritura)
“Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra” (2Tm 3.16,17).
Para os reformadores a Escritura é a nossa autoridade máxima para entender a Deus, a salvação e como devemos viver nossas vidas, ou seja, somente a Escritura tem a voz definitiva no que concerne à moralidade e fé. Sola Scriptura (Somente a Escritura) foi a doutrina fundamental da Reforma Protestante. Os reformadores tomaram como base a verdade de que a Bíblia, e somente a Bíblia é a única revelação especial e redentiva de Deus, e, portanto, apenas a Escritura é a única regra infalível para a fé, prática e vida cristã. Isso estava em contraste com a posição da Igreja Católica Romana, que ensinava que a Escritura e a Tradição eram as fontes infalíveis da Revelação Divina especial.
A forma como os reformadores creem na Escritura, foi expressa na “Confissão de Fé de Westminster”:
Todo o conselho de Deus concernente a todas as coisas necessárias para a glória dele e para a salvação, fé e vida do homem, ou é expressamente declarado na Escritura ou pode ser lógica e claramente deduzido dela. À Escritura nada se acrescentará em tempo algum, nem por novas revelações do Espírito, nem por tradições dos homens; reconhecemos, entretanto, ser necessária a íntima iluminação do Espírito de Deus para a salvadora compreensão das coisas reveladas na Palavra,...
Sob o nome de Escritura Sagrada, ou Palavra de Deus escrita, incluem-se agora todos os livros do Antigo e Novo Testamento,... todos dados por inspiração de Deus para serem a regra de fé e de prática... A autoridade da Escritura Sagrada, razão pela qual deve ser crida e obedecida, não depende do testemunho de qualquer homem ou igreja, mas depende somente de Deus (a mesma verdade) que é o seu autor; tem, portanto, de ser recebida, porque é a Palavra de Deus... O Antigo Testamento em Hebraico... e o Novo Testamento em Grego..., sendo inspirados imediatamente por Deus e pelo seu singular cuidado e providência conservados puros em todos os séculos, são por isso autênticos e assim em todas as controvérsias religiosas a Igreja deve apelar para eles como para um supremo tribunal... O Juiz Supremo, pelo qual todas as controvérsias religiosas têm de ser determinadas e por quem serão examinados todos os decretos de concílios, todas as opiniões dos antigos escritores, todas as doutrinas de homens e opiniões particulares, o Juiz Supremo em cuja sentença nos devemos firmar não pode ser outro senão o Espírito Santo falando na Escritura. Resumo dos capítulos (I, II, IV, XIII e X).
Solus Christus (Somente Cristo)
A teologia reformada afirma que a Escritura e sua doutrina sobre a graça e fé enfatizam que a salvação é “Solus Christus” (Somente por Cristo), isto é, Cristo é o único Salvador. B.B. Warfield escreveu: “O poder salvador da fé reside, portanto, não em si mesma, mas repousa no Cristo Salvador Todo Poderoso”. A centralidade de Cristo é o fundamento da fé protestante. Martinho Lutero disse que Jesus Cristo é o “centro e a circunferência da Bíblia”. Isso significa que quem Ele é e o que Ele fez em sua morte e ressurreição são o conteúdo fundamental da Escritura. Ulrich Zwingli disse: “Cristo é o Cabeça de todos os crentes, os quais são o seu corpo e, sem Ele, o corpo está morto”. Isso significa que Cristo é o Senhor da Igreja e que fora dele não há vida eterna.
A nossa salvação é realizada (unicamente) pela obra mediatória do Cristo histórico. Sua vida sem pecado e sua expiação por si só são suficientes para nossa justificação e reconciliação com o Pai. Somente Cristo é o único mediador entre Deus e o homem (1Tm 2.5). Sem Ele, nada podemos fazer; porém, nele podemos fazer todas as coisas (Jo 15.5; Fp 4.13). Não há perdão de pecados e salvação fora de Cristo, mas somente por Cristo e em Cristo (Jo 14.6; At 4.11,12). Seu sacrifício substitutivo em nosso lugar é suficiente para o perdão de nossos pecados satisfazendo completamente a justiça de Deus. Cristo é o único caminho da salvação.
Sola Gratia (Somente a Graça)
Os reformadores entenderam a importância da graça de Deus para o ensino bíblico sobre a salvação. Ninguém é salvo pelas obras, mas “Somente pela Graça”. Contudo, a Igreja Católica Romana ensinava que a justificação do pecador ocorria como uma espécie de trabalho sinérgico e cooperativo entre Deus e o pecador. Porém, isso é uma distorção do ensino bíblico, pois, a Escritura afirma que a salvação é somente pela graça e de modo nenhum pode ser obtida através do esforço humano (Ef 1.7).
A salvação não pode ser conquistada, ouro e prata não a podem comprar. O preço já foi pago por Cristo na cruz – somos salvos, pela graça (favor divino imerecido). “Assim, pois, isto não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus, que se compadece... Mas, se é por graça, já não é pelas obras; de outra maneira, a graça já não é graça. Se, porém, é pelas obras, já não é mais graça; de outra maneira a obra já não é obra”. (Rm 9.16 e 11.6). A Escritura diz de maneira muito clara que homem já nasce morto em seus delitos e pecados (Ef 2.1), e éramos, por natureza, filhos da ira (Ef 2.3). Portanto, o homem é incapaz de obter a salvação por si mesmo, porque, pela graça somos salvos, não vem de nós mesmos; é dom de Deus; não é mediante as nossas obras, para que ninguém se glorie (Ef 2.8,9). “Somente pela graça”, somente por causa de Cristo, não por mérito.
Sola Fide (Somente a Fé)
A doutrina da justificação Sola Fide (Somente pela Fé) foi um ponto chave do debate entre os reformadores protestantes e a Igreja Católica Romana no século XVI, e permaneceu um ponto de desacordo desde então. Porém, no início do século XVII, quando Martinho Lutero teve seu entendimento iluminado pelo Espírito Santo, ele pôde compreender a verdade das Escrituras que “o justo viverá pela fé” (Rm 1.17). Então, algum tempo depois Lutero pregou suas Noventa e Cinco Teses na porta Igreja do Castelo em Wittenberg, em 1517, e o fruto de seu trabalho começou a repercutir ao longo da história em algumas confissões luteranas e reformadas, as quais afirmaram que os pecadores são declarados justos aos olhos de Deus, não pelas suas obras, mas Sola Fide “Somente pela Fé”, somente em Cristo e pela graça de Deus somente.
Não demorou muito para a Igreja Católica responder, e o fez no famoso Concílio de Trento em 13 de janeiro, de 1547. Segundo a doutrina católica romana os seres humanos caídos são “feitos justos”: pelo seu batismo, não somente pela fé em Cristo, mas também pelas boas obras. Além disso, de acordo com esse decreto os pecadores não são justificados unicamente pela justiça imputada em Jesus Cristo, e mesmo depois de justificado a pessoa ainda pode perder sua posição de justificação. Isso significa que embora a Igreja Católica Romana acreditasse que a fé é necessária para a justificação do pecador, ao mesmo tempo a fé não é suficiente. Os reformadores, porém, argumentam, ao contrário, que o único instrumento de justificação é a fé, e essa mesma fé não tem origem no homem, mas é um dom de Deus pela graça (Rm 3.28). Não há nada que possamos fazer diante de Deus para nos justificar, pois, somente pela fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo (Rm 5.1).
A doutrina da justificação (Somente pela Fé) é claramente expressa nas confissões e catecismos reformados dos séculos XVI e XVII. O Catecismo Maior de Westminster, por exemplo, fornece uma declaração concisa da doutrina bíblica:
Pergunta 70: O que é justificação?
Resposta: “A justificação é um ato da graça gratuita de Deus aos pecadores, no qual ele perdoa todos os seus pecados, aceita e considera suas pessoas justas aos seus olhos; não por qualquer coisa realizada neles ou por eles, mas apenas para a perfeita obediência e plena satisfação de Cristo, por Deus imputada a eles e recebida pela fé somente”.
O Breve Catecismo, também resume um dos principais pilares da teologia reformada:
Pergunta 33: O que é justificação?
Resposta: “Justificação é um ato da livre graça de Deus, através da qual ele perdoa todos os nossos pecados e nos aceita como justos diante de si, somente pela justiça de Cristo a nós imputada e recebida pela fé somente”.
Soli Deo Glória (Somente a Deus a Glória)
Dar glória a Deus é entender e confessar que não há nada neste mundo que possa ocupar o lugar que pertence a Deus. O Espírito Santo inspirou as Escrituras unicamente para glória de Deus. Cristo se humilhou até a morte na cruz e foi ressuscitado e exaltado à destra do Pai, somente para a glória de Deus. Graça e misericórdia são oferecidas aos pecadores rebeldes somente para glória de Deus. A justificação é pela fé unicamente para a glória de Deus. Portanto, Soli Deo Glória (Somente a Deus a Glória), é o início e o fim dos outros quatro.
Dessa maneira, quando a Igreja Católica Romana colocava santos, papas, tradição e sacerdotes no lugar de Deus, desobedecia ao princípio bíblico que Deus não divide sua glória com ninguém (Is 42.8). No entanto, o apóstolo Paulo revelou em sua primeira carta aos Coríntios capitulo 2, verso 8, disse que a glória de Deus se manifesta nas obras da criação, redenção e na pessoa e obra de Jesus Cristo, o Senhor da glória. O Catecismo Maior de Westminster, explica que “o fim supremo e principal do homem é glorificar a Deus e alegrar-se nele para sempre”, ratificando assim a ênfase reformadora de que o sentido da vida não se resume à existência humana. Deus criou o homem de tal maneira que seu propósito principal convirja à adoração e o louvor a Ele.
Deus também se glorifica na igreja e por meio dela. Nós, como crentes, somos chamados a fazer tudo o que fazemos para a glória de Deus (1Co 10.31). Devemos usar os dons que Deus nos deu para servir uns aos outros “a fim de que em tudo Deus seja glorificado por Jesus Cristo” (1Pe 4.10,11). Os Salmos estão repletos de louvor a glória de Deus, e isso demonstra onde deve estar o foco da adoração da igreja. Assim, os reformadores partiram de uma visão Teocêntrica, ou seja, (Deus no centro) para falar da salvação do pecador: “Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis os seus caminhos! Por que quem compreendeu a mente do Senhor? Ou quem foi seu conselheiro? Ou quem lhe deu primeiro a ele, para que lhe seja recompensado? Porque dele e por ele, e para ele, são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente. Amém”. (Rm 11.33-36)
JESUS FAZ A DIFERENÇA