A SALVAÇÃO PELAS OBRAS SEGUNDO O N.T. E O ESPIRITISMO

No meio cristão tradicional, mais especificamente no ambiente protestante, o termo “graça” significa a disposição de Deus em conceder a salvação incondicionalmente, sem exigir do fiel nenhum ato meritório a não ser a atitude de crer. Assim, o único pré-requisito para a salvação e a santidade, na visão protestante, é a fé.

Entretanto, não era bem assim que Jesus e os Apóstolos ensinavam sobre a salvação, pois ambos colocavam as obras como recurso principal de remição dos pecados.

Porém, para se compreender o verdadeiro ensino bíblico sobre a salvação pelas obras é necessário distinguir os três tipos de obras de que falam os evangelhos:

- as obras da Lei (o judaísmo);

- as obras da carne (as promiscuidades);

- e as obras do bem (a caridade).

As obras da Lei e da carne foram amplamente admoestadas no Novo Testamento enquanto que toda a escritura Neotestamentária é uma exaltação às boas obras.

Jesus instruiu

“Portanto, tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lo também vós, porque esta é a lei e os profetas.” (Mateus 7:12) – “Amai, pois, a vossos inimigos, e fazei bem, e emprestai, sem nada esperardes, e será grande o vosso galardão, e sereis filhos do Altíssimo; porque ele é benigno até para com os ingratos e maus. Sede, pois, misericordiosos, como também vosso Pai é misericordioso.” (Lucas 6:35,36) – “Qual, pois, destes três te parece que foi o próximo daquele que caiu nas mãos dos salteadores? E ele disse: O que usou de misericórdia para com ele. Disse, pois, Jesus: Vai, e fazei da mesma maneira.” (Lucas 10:36,37)

Vemos pelas passagens acima que o padrão de vida exemplificado por Jesus se resume na prática da caridade e do amor ao próximo. Isso são obras do bem e essas ações é que determinarão a vida futura: “Porque o Filho do homem virá na glória de seu Pai, com os seus anjos; e então dará a cada um segundo as suas obras.” (Mateus 16:27) Crer em Deus e em Jesus é seguir essa referência, uma fé inativa, sem a reforma íntima e boas atitudes é uma fé morta.

O Apóstolo Pedro afirmou

“Se invocais por Pai aquele que, sem acepção de pessoas, julga segundo a obra de cada um, andai em temor durante o tempo da vossa peregrinação.” (1Pedro 1:17) – “Tendo o vosso viver honesto entre os gentios para que, naquilo em que falam mal de vós, como de malfeitores, glorifiquem a Deus no dia da visitação, pelas boas obras que em vós observem” (1 Pedro 2:12) -“Mas, sobretudo, tende ardente amor uns para com os outros, porque o amor cobrirá a multidão de pecados.” (1 Pedro 4:8)

Pedro não via o crer e a salvação independente das boas obras e no primeiro versículo derruba a salvação como certa, colocando-a na dependência das obras do bem.

O evangelista João disse

“Nisto são manifestos os filhos de Deus, e os filhos do diabo. Qualquer que não pratica a justiça, e não ama a seu irmão, não é de Deus.” (1 João 3:10) - “Se alguém diz: Eu amo a Deus, e odeia a seu irmão, é mentiroso. Pois quem não ama a seu irmão, ao qual viu, como pode amar a Deus, a quem não viu?” (1 João 4:20) - “Filhinhos, não amemos de palavra nem de boca, mas em ação e em verdade.” (1 João 3:18).

Então, segundo João não é somente a fé, única e exclusiva, que transforma o crente em filho de Deus, existem também condições meritórias, pré-requisitos: a prática da justiça e o amor ao próximo. Por isso está escrito no Apocalipse: “E deu o mar os mortos que nele havia; e a morte e o inferno deram os mortos que neles havia; e foram julgados cada um segundo as suas obras.” (Apocalipse 20:13)

O Apóstolo Paulo ensinou

“O qual recompensará cada um segundo as suas obras; a saber: A vida eterna aos que, com perseverança em fazer bem, procuram glória, honra e incorrupção;” (Romanos 2:6-7) – “Porque todos devemos comparecer ante o tribunal de Cristo, para que cada um receba segundo o que tiver feito por meio do corpo, ou bem, ou mal.” (2 Coríntios 5, 10) – “E não nos cansemos de fazer o bem, porque a seu tempo ceifaremos, se não houvermos desfalecido.”(Gálatas 6:9) – “Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas” (Efésios 2: 10) - “Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três, mas o maior destes é o amor.” (1 Coríntios 13:13) – “Não erreis: Deus não se deixa escarnecer; porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará.”(Gálatas 6:7)

Paulo cujos textos são os mais utilizados e errôneamente interpretados para sancionar a exclusividade da fé, nunca foi contra as obras do bem para a salvação. Em seus escritos ele falava exaustivamente contra as obras da Lei judaica, isto é, os seus ritos e muitas ordenanças que já não eram mais necessários em virtude da Boa Nova trazida por Jesus: Romanos 3:28 ;Gálatas 2: 16, 2: 21, 3:5, 3:10, 3:24 e 5: 4-5; Efésios 2:8-9.

Do mesmo modo que Pedro ele coloca em xeque a salvação exclusivamente pela fé onde a vida eterna é alcançada pela perseverança no bem e no amor ao próximo que ele situa acima da fé.

Tiago concordando com os demais asseverou

“Aquele, pois, que sabe fazer o bem e não o faz, comete pecado” (Tiago 4:17) - “Meus irmãos, que aproveita se alguém disser que tem fé, e não tiver as obras? Porventura a fé pode salvá-lo?” (Tiago 2:14) - “Vedes então que o homem é justificado pelas obras, e não somente pela fé” (Tiago 2:24) - “A religião pura e imaculada para com Deus e Pai, é esta: Visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações, e guardar-se da corrupção do mundo.” (Tiago 1:27) – “Mas dirá alguém: Tu tens a fé, e eu tenho as obras; mostra-me a tua fé sem as tuas obras, e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras” (Tiago 2:18

Dessa forma, O Senhor e seus apóstolos simplesmente não ensinaram a graça e a fé da maneira como é ensinada no protestantismo. Eles não descartavam absolutamente as obras do bem, como condição fundamental de salvação. Uma crença inativa não era uma fé verdadeira. Esse posicionamento apostólico está totalmente concorde com o Espiritismo: “Fora da Caridade não há Salvação”.

Para a Doutrina Espírita [1] quanto mais o indivíduo estiver sintonizado com as obras do bem, mas ele está em sintonia com Jesus, pois, mesmo não acreditando Nele age como se acreditasse (Romanos 2:14 -15).

[1] Recomendo também a leitura do capítulo 15 de “O evangelho Segundo o Espiritismo” e de “O Livros dos Espíritos” questão 886 – 889.